Após uns dias ausente, em função de uma cirurgia a que fui submetida, retorno ao meu Blog, meu refúgio , que sem sombra de dúvidas, é o meu divisor de águas, a minha válvula de escape de tantos sentimentos.
A cada dia, não canso de registrar, estou perdendo a minha amada mãe para o Alzheimer. Apesar de toda a evolução da doença, o nosso amor, a nossa cumplicidade é cada vez maior. Sempre quando chego em sua casa, sou recebida com um largo sorriso estampado em seu rosto, estende os braços para um abraço e muitos beijos e carinhos são trocados, transformando estes momentos em uma plenitude total de AMOR.
A rotina de minha amada mãe é composta de idas frequentes aos vários profissionais de saúde, onde é realizado exames para o acompanhamento da evolução da doença, taxas de colesterol, triglicerídeos, glicemia, dentre outros.
Em função do uso constante de fraldas e absorventes geriátricas , suspeitamos de uma infecção urinária, o que nos causou uma preocupação inicial, uma vez que atualmente em decorrência da evolução da doença , não é mais possível colher a sua urina nos métodos normais, sendo necessário para tanto, a utilização de sonda. Procurei de imediato os laboratórios para coleta domiciliar, o que nos foi negado. Como sempre conto com um Deus maior na minha vida, obtive uma "luz divina", a qual me levou a recorrer a uma prima, que é médica e nos atendeu com maior carinho e amor com a minha amada mãe. Mais uma etapa superada, e no final o exame demonstrou a ausência de infecção urinária.
Tenho observado uma frequência maior de depressão em minha amada mãe . Em uma de suas sessões de Terapia, obtive um feedback um pouco desanimador, " conforme transcrito na íntegra :
"Virginia, ontem a sua mãe estava completamente letárgica. Durante a realização da atividade não conseguia elaborar nem frases simples e com uma acentuada dificuldade de percepção. Ela necessita ser estimulada na minha ausência com revistas de caça-palavras, leituras e jogos; pois todo o meu trabalho será em desperdiçado. Relatei que seria um momento de avaliação devido as dificuldades enfrentadas pelos problemas visuais, as quais limitaram os estímulos necessários. Ela deve ser estimulada a encarar essas atividades como um possibilidade de qualidade de vida e se caso ela manter essa conduta teremos que falar com o Dr. (neurologista) para substituir o seu antidepressivo ou prescrever outra medicação. É comum essa mudança de comportamento! Só não podemos deixar que essa conduta de entrega se faça presente na vida dela, pois a evolução virá em cascata. Optei por falar em particular, pois ela tem a crítica preservada. O cotidiano dela está sendo patológico e destruindo aos poucos o seu empenho. Um forte abraço".
Mais um desafio a ser enfrentado. Após uma conversa com a terapeuta, que por sinal uma excelente profissional, analisamos as alternativas necessárias para viabilizar ações para minimizar os efeitos da depressão. Passeios mais frequentes, idas ao shopping que ela tanto adora, visitas mais sistemáticas dos netos, que proporcionam uma imensa alegria e ações que estimulem o seu cognitivo.
Em relação ao problema de visão, foi solucionado através de exames junto ao oculista que identificou um pequeno derrame, que felizmente não causou danos maiores. Após o tratamento, o grau foi alterado, melhorando por conseguinte, a sua visão.
Cada dia, e um novo desafio a ser superado. Consegui com muita paciência e persistência o seu retorno nas fisioterapias , o que com certeza irá melhorar o seu quadro depressivo. Foi recebida com muito carinho pela Fisioterapeuta , que logo tratou de engaja-la nas atividades. Não conseguiu fazer todos os exercícios devido ao tempo em que ficou parada, mais observei o seu sorriso de satisfação.
Quanto ao cotidiano citado pela Terapeuta, refere-se às relações familiares. Total ausência de manifestação de amor e carinho por parte da filha que mora com ela. Intrigas, invejas e sentimentos negativos constantes. Hoje a minha ida à casa de minha amada mãe é somente é em função dela. Como isto é triste!!!
Esta é a minha amada mãe, que através de sua "involuçao" em decorrência da DA, tornou-se o meu "bebê", com toda a sua fragilidade e dependência. É uma missão muito sofrida, mas sei que terei a serenidade para conduzir com muito amor todas as etapas que ainda virão com a evolução da DA.
Encontrei em algum lugar na internet , o texto abaixo, que descreve tão fielmente as relações com um portador de Alzheimer:
"Você sabe o que me faz sentir seguro, confiante e feliz? Um sorriso.
Quando você está tenso e nervoso faz me sentir tenso e nervoso também? Você já pensou nisso?
Em lugar de ficar me corrigindo tudo que faço, de um jeito que para mim é perfeitamente normal, mas que para você é completamente amalucado, porque não sorri para mim? Isto vai me ajudar a perceber que fiz algo errado. Eu fico inseguro quando tenho que fazer algo que sai da minha rotina.
Por favor, tente entender e lembrar que minha memória imediata, minha memória momentânea, que está se apagando – e não fale tão depressa, fale pausadamente e use frases curtas.
Sabe o que vou dizer se você entrar em longas explanações sobre porque eu deveria fazer algo? Eu vou lhe dizer “Não”, porque não consigo saber ao certo se você quer que eu faça alguma coisa de que eu gosto, ou que eu beba um remédio amargo. Assim, por segurança, eu acabarei dizendo “Não”
Desacelere. E não se precipite para cima de mim, falando e falando. Já disse antes que gosto de sorrisos?
Antes de derramar sua "verborragia" procure se certificar de que estou prestando atenção em você. Sabe o que acontece se você começa a despejar essa "verborragia" para cima de mim? Vai me confundir. E eu vou dizer “Não” - esteja certo disso.
Minha concentração e capacidade de prestar atenção não são tão boas quanto já foram um dia. Por favor, primeiro faça um contato olho no olho antes de começar a falar. Um sorriso simpático sempre prende minha atenção. Já disse isso antes?
Às vezes você fala comigo como se eu fosse uma criança ou um idiota. Como você se sentiria se eu fizesse isso com você? Pare, pense nisso e dê uma volta. E quando voltar, não precisa se desculpar, eu não vou mais me lembrar do que você está falando. Assim nos daremos bem por muito tempo, e provavelmente muito melhor do que pensa.
Acho que você fala demais – que tal, em lugar disso, me tomar pela mão e me conduzir. Eu preciso de um guia. de alguém que me transmita segurança e não de uma pessoa a me importunar o tempo todo. Eu não sou maluco. Eu tenho Alzheimer.. (autor desconhecido).
Como te amo minha amada mãe.