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segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

REALIDADE - NOSTALGIA

Mãe,
Hoje bateu uma nostalgia ....
Como a vida nos surpreende!!!!
Sinto tanta falta de seu colo, de suas palavras... do seu aconchego....do seu carinho...do meu Porto Seguro...
Vivenciar a doença de Alzheimer em minha amada mãe está sendo uma das experiências mais sofridas, dolorosas de minha trajetória de vida.
Não existe uma “receita pronta”, não existe “uma pílula mágica “, não existe  absolutamente nada, que nos prepare para conviver com a evolução do Alzheimer!
Jamais imaginaria ser a “protetora” de quem sempre me protegeu. Assumir “a tutela” de quem sempre me amparou”.  É uma perda diária e gradual de sua lucidez.  É como uma página em branco escrita todos os dias e vivenciada. É todo um script que tem que ser refeito, todo um roteiro de vida a ser recriado!
O Alzheimer cada dia mais implacável, destruindo a “identidade “, “sua essência”, “seu existir “... 
No entanto, uma certeza, não conseguirá “destruir “, o nosso “AMOR”.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

REALIDADE - ADEUS 2017 - TENHO MUITO A AGRADECER ...

Adeus 2017 - 

Tenho sim, muitos motivos para agradecer ...

Nestes 365 dias decorridos, tenho muito a agradecer! Mentalmente faço uma retrospectiva de tudo que ocorreu nestes doze meses e vejo que tudo foi um aprendizado.

Vivenciei uma avalanche de sentimentos: alegria, tristeza, raiva, dor, revolta, impotência, desenganos, decepções.....

Descobri que resiliência é imprescindível, não se nasce forte, torna-se! Acreditei que poderia ser forte o tempo todo, mas não deu!!!!

Tenho sim, muitos motivos para agradecer ...
Pois, se caí durante o percurso, também me levantei...se chorei, também sorri, se perdi , muito mais ganhei, porque tive a oportunidade abençoada de recomeçar a cada amanhecer!

Tenho sim, muitos motivos para agradecer ...
Conheci pessoas maravilhosas, descobri amizades onde julgava não existir, descobri também que não havia tanta amizade onde eu acreditava que deveria haver ...

Tenho sim, muitos motivos para agradecer ....
O convívio com a família e em especial com minha amada mãe! Quantos beijos, quantos abraços, quantos afagos, quantas manifestações de carinho, quanta CUMPLICIDADE! Obrigada meu bom DEUS!

Tenho sim, muitos motivos para agradecer...
Aprendi que nosso caminho é feito pelos nossos próprios passos, mas a beleza da caminhada depende dos que vão conosco!

Tenho sim, muitos motivos para agradecer...
Pela descoberta de um ingrediente a mais no tratamento de minha amada mãe: o Amor, com os componentes adicionais de carinho, dedicação, paciência, bom humor, respeito, tolerância e prudência, todos em dosagens máximas, com uso contínuo e permanente. Isto se chama, a Terapia do Amor!

Tenho sim, muitos motivos para agradecer ...

A cada um e a todos que fizeram, fazem e farão sempre parte de minha história!

Tenho sim, muitos motivos para agradecer...

Obrigada a cada um que embelezou minha vida ao longo da minha trajetória!

Tenho sim, muitos motivos para agradecer ....

Ao ter a certeza que Deus está olhando por cada um de nós.

Que a esperança e o amor estejam dentro de cada um de nós, para um Ano Novo muito melhor... Que tenhamos nossos corações sempre aquecidos pelo mistério do amor, da admiração ao outro, dos sonhos que vislumbramos, pois quando queremos muito alguma coisa, "até o universo conspira a favor "....
FELIZ 2018

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

REALIDAE - AVANÇO IMPLACÁVEL DO ALZHEIMER

A minha ausência justifica-se devido ao avanço implacável do Alzheimer em minha amada mãe. Em função do seu estado de apatia e prostração, fez-se necessário providenciar a aquisição de cama hospitalar, bem como acionar assistência médica domiciliar – Home Care composta por uma equipe multidisciplinar (médico, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudióloga e enfermeira). 

Sua personalidade mostra-se totalmente desorganizada, a comunicação prejudicada, com as alterações de linguagem agravando-se progressivamente, estando reduzida a simples frases ou até palavras isoladas, de difícil compreensão. 

Devido a perda gradativa da capacidade de pronunciar palavras e/ou formar frases corretamente, apresentando dificuldades para se expressar oralmente e por escrito, perdendo por consequência a capacidade de falar (Afasia) e escrever, não mais conta com o suporte da Terapeuta Ocupacional, uma profissional maravilhosa, que acompanhou a minha amada mãe desde o inicio da nossa trajetória por ocasião do diagnóstico de Alzheimer, ou seja, em março de 2013. 

A comunicação está deteriorada com ecolalias, perseveração e mutismo. Completamente dependente de cuidados. Com incontinência urinária e fecal. 

Eliminada a ingestão de alimentos sólidos, uma vez que não mais consegue processar os alimentos através da “mastigação” e da deglutição. Com dificuldade no processo de deglutir (disfagia). A alimentação agora, sob a orientação de  Nutricionista, somente liquida e/ou pastosa com elaboração de cardápio equilibrado na composição, quantidade e qualidade de nutrientes essenciais, bem como uso de suplementos nutricionais para aumentar o valor calórico e proteico como medidas de prevenção para complicações maiores, dentre as quais, o emagrecimento progressivo. 

Em função da disfagia, passou a ser acompanhada também por Fonoaudióloga, com a realização de 02 sessões por semana, que serão acrescidas mediante necessidade. 

Quanto aos medicamentos, estão sendo “triturados, macerados” e dissolvidos junto à alimentação.

Sabemos que logo mais, devido o agravamento do Alzheimer, será necessária a indicação de uma via alternativa para a digestão dos alimentos. Tal decisão será conjunta com a equipe multiprofissional e familiar.

A massa muscular e a mobilidade de minha amada mãe, degeneram-se de tal forma, que a condiciona permanecer direto acamada, sendo utilizada a cadeira de rodas, muito raramente, em função da saturação do oxigênio e pressão arterial (PA). O acompanhamento é realizado através de verificação da PA e utilização do aparelho portátil - Oxímetro de Dedo Portátil – Medidor de Pulsação e Saturação. Este monitoramento faz-se necessário devido aos problemas identificados de Bradicardia Sinusial e Síncope do Vaso Vagal. 
 
Eventualmente, conseguimos conduzi-la ao banheiro, onde realizamos os cuidados pessoais necessários. No final de todo este processo, ela fica muito “cansada”, devido a dificuldade de retirá-la da cama para a cadeira de rodas e em seguida para a cadeira de banho, por conta da sua incapacidade de deambular. Maior parte, asseio realizado na própria cama. 
 
Apresenta rigidez na região dos quadris e dos membros inferiores, sendo necessário aumento das sessões de fisioterapia, atualmente 05 dias na semana.

Em relação ao suporte médico, contamos com uma médica clínica da equipe do Home Care, que realiza visitas domiciliares e atende através de contato telefone via plantão 24 horas, para as intercorrências apresentadas. Em caso de emergência, a UTI Móvel.

Em decorrência de sua deambulação, todos os exames são coletados em casa. Apresentou recentemente uma infecção urinária, detectada através da presença de secreção e urina mais escura. Fez-se necessário a utilização de sonda para coletar material, realizado pela enfermeira, o que após a análise foi confirmada, dando início ao tratamento medicamentoso (antibióticos), por um período de 07 dias. 

Para completar o quadro, passou 06 dias sem “evacuar”, sendo providenciada uma “lavagem intestinal”, feita em casa por uma enfermeira. Procedimento muito incômodo, no entanto, necessário. 

Destaca-se que em função da debilidade exacerbada de minha amada mãe, não foi possível realizar os exames de imagens conclusivos para o diagnóstico da CA. (PetScan), sugestivo de CA Colo Retal. 

Devido a perda de peso e a anemia persistente, foi realizada coleta de sangue, (hemograma, ureia, creatinina, sódio, potássio, marcação tumoral, dentre outros) em aguardo dos resultados, para definição de novos procedimentos.
Como está sendo sofrido e doloroso acompanhar este processo que caminha para uma finitude.

Como te amo, minha mãe!



A doença parece se desenvolver de diferentes formas em cada um deles. Seria o fechamento em seu envelope corporal? Eles são conscientes de seu estado? Sabem onde estão e quem são?
E se isso nos acontecesse ? Esse mal estranho nos causa medo porque atinge nosso fundamento e nosso indivíduo: nosso espírito, nosso discernimento, nossa identidade. A doença se nutre de tudo, engolindo com ela as lembranças de uma vida. Tudo se torna diáfano: um esquecimento de si, uma dissolução existencial.”
(Toda uma vida que se apaga) - 
https://www.swissinfo.ch

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

REALIDADE - "CORAÇÃO SANGRANDO"

 
Depois de um tempo sem registro em função de muitas ocorrências e tribulações, retomo com o “coração sangrando”, após o resultado de um exame que comprovou a presença de tumor cancerígeno em minha amada mãe.

No mês de maio, ela foi acometida de “Chikungunya “ , o que a levou a uma grande debilidade acompanhada de febre, apatia, cansaço e acometimento das articulações: o vírus avança nas juntas dos pacientes e causa inflamações com fortes dores acompanhadas de inchaço, vermelhidão e calor local, ocasionando inclusive redução quase que total de sua mobilidade, sendo necessário a contratação de cuidadoras extras e compra de cadeira de rodas. Recuperação bastante lenta, o que nos causou grande preocupação devido o seu estado de debilidade.

Passado esta fase aguda, correspondente a quase 02 meses, observamos que o Alzheimer, como uma doença “traiçoeira e oportunista”, evoluiu de uma forma bastante acelerada, sendo necessário inclusive após consulta com o Neurologista, o início de uma nova medicação para evitar delírios e/ou alucinações, bem como irritabilidade.

Os meses passando e a minha amada mãe apesar de melhora nas dores articulares, passou a perder peso e apresentar uma anemia profunda, identificada através de exames rotineiros realizados a pedido do Endocrinologista e da Gastroenterologista. Ela estava tendo uma hemorragia, que tinha que ser identificada. 
 
Deu-se inicio a partir de então a uma verdadeira maratona de exames e consulta a novos profissionais: Hematologista para tratar da anemia apresentada, iniciando o tratamento medicamentoso a base de zinco, ferro e complexo. 

Foi solicitado vários exames de sangue, diferenciado dos que ela comumente realizava. Fez exame de fezes para identificar presença de “sangue oculto”. Em uma consulta ao Hepatologista, mediante a realização dos exames solicitados, foi diagnosticada com Cirrose Hepática, na fase inicial. Ocasionada segunda a hepatologista, devido a diabete. 

Submeteu-se a uma Endoscopia Digestiva. E nesta avalanche de exames, foi solicitado um exame chamado de CEA – exame de sangue feito para identificar a presença do Antígeno Carcinoembrionário (CEA em inglês). É um marcador tumoral. Ele serve para monitorar o tratamento de câncer, em especial, o câncer de cólon. O resultado apresentado foi confirmado a presença de tumor cancerígeno. Valor de referência até 6.5 ng/mL. Resultado apresentado 12.7 ng/mL.

Mediante este resultado, foi marcada uma consulta urgente com um Proctologista, que deverá dar um direcionamento quanto ao tratamento recomendado, inclusive com a indicação de um Oncologista. Sei que diante do estado de fragilidade em que minha amada mãe se encontra e das doenças identificadas, bem como a doença de Alzheimer em estágio avançado, acredito ser inviável a realização de cirurgia ou mesmo tratamento de quimioterapia e/ou radioterapia. Isto será confirmado após consulta com o Proctologista e Oncologista.
 
Tenho agora mais do que nunca que buscar forças para enfrentar as incertezas que se apoderam em meus pensamentos, fazendo com que tenha que lidar com a angústia de não saber como serão os próximos dias de minha amada mãe, as transformações em que passará diante da progressão e degeneração física e mental e do sofrimento a que será submetida em função da evolução do CA. 

A sensação é de viver um pesadelo, mesmo estando acordada. Sinto-me em uma “montanha russa” de emoções, sem saber quando será a próxima subida ou quando durará a próxima queda.
Dói, como doí. Coração sangrando. Além do Alzheimer, agora o CA.
COMO TE AMO AMADA MÃE!

domingo, 12 de fevereiro de 2017

FELIZ ANIVERSÁRIO MINHA MÃE

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Mais 01 aniversário com a minha amada mãe. Obrigada meu bom Deus! 86 anos.

Minha amada mãe na semana anterior ao seu aniversário, passou um susto em todos nós.

Dia 04/02, após dar o seu banho e levá-la para a higienização dos dentes, sentiu-se mal, perdendo os sentidos, não respondendo a nenhum estímulo. Foi um caos total, meu clamor solicitando ajuda para segurá-la e conduzi-la para uma cadeira. Após o seu retorno, totalmente aturdida, com crises de vômitos, levamos para a emergência hospitalar.

Ao chegar foi atendida por um Clínico Geral, que após o relato do ocorrido, suspeitou de um infarto. De imediato segui para sala de observação e a partir de então, submetida a uma bateria de exames. Como medida de precaução, o médico solicitou a sua internação para a UTI, onde seria monitorada.

Passou o final de semana realizando vários exames: tomografia, elétron, exames de sangue para identificar as enzimas e outros adicionais.  Visitas apenas em horários definidos pelo hospital, com um tempo muito curto. 

Após a permanência de 02 dias na UTI, foi conduzida para uma enfermaria, onde ficou por 04 dias, submetendo-se a exames diarios. Neste período estabelecemos um sistema de rodízio para os plantões no hospital.

Vários exames comparativos concluíram que não se tratava de um infarto. No final o médico mediante os exames realizados,  considerou que o que ocorreu com mãe, foi um “mal súbito”, tipo uma “síncope”. Recebeu alta, no entanto, contraiu uma “alergia de contato" na pele, sendo necessário tomar medicação específica para tanto. Sem contar com os hematomas e manchas nos braços em decorrência da medicação via soro e os exames de sangue a que foi submetida.

Ao receber alta, uma alegria incontida, tanto para ela como para todos nós. Um "Mimo só ". Passou a ter uma melhor alimentação, noites dormidas e muito carinho!

Como ela estava em processo de recuperação e ainda debilitada por conta do ocorrido, combinamos que a comemoração de seu aniversário seria em sua própria casa, e com a presença de poucos amigos e familiares realizamos um churrasco e cantamos o “parabéns” no final da tarde. Parecia uma criança, batia palmas e tentava cantar com todos!

Como te amo minha mãe!

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

REALIDADE - "TORMENTAS EMOCIONAIS"

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Mais um Natal com a minha amada mãe. Celebração realizada na casa da filha mais nova, contando com a presença do filho com a esposa, os netos e demais amigos. (a irmã mais velha, decidiu viajar 01 dia antes do Natal). Tudo simples, no entanto, com uma harmonia e uma áurea de amor reinando no ambiente. Troca de presentes e um sorriso constante em seu rosto.

Como sempre, preservando o seu lado “vaidoso”, estava linda com um semblante sereno e sempre a perguntar: “já é natal? Para onde iremos?, comprou os presentes? ...

Neste final de ano, estou passando por muitas tormentas emocionais. O Alzheimer em processo acelerado, destruindo impiedosamente as células, os neurônios, causando implicações cognitivas significativas, levando a uma total dependência em todos os aspectos , física e principalmente psíquica em minha amada mãe.

Como consequência, fez-se necessário a contratação de um advogado, para tratarmos do processo de interdição, uma vez que a procuração atual não mais atende os seus objetivos, devido o seu “efeito limitante e temporário”. Era algo que considerava “longínquo”, impossível até de acontecer! Lerdo engano! É a constatação da “Alienação Mental”.

Como era representante legal, e com a anuência dos outros filhos, habilitei-me para ser curadora/tutora, dando prosseguimento ao pedido. Neste espaço de tempo, a minha irmã mais velha, foi bastante resistente, assinando o documento após a constatação da concordância dos outros irmãos. As palavras dela: “não confio nela”, “vou ficar a mercê dela”, “ela é traiçoeira”, e tantos predicativos maldosos.

Uma outra tormenta que passei foi quando tiramos 01 dia para passearmos no shopping acompanhado dos netos. Pediu para entrar em uma loja de brinquedos e simplesmente falou: “eu quero esta boneca”, que estava exposta na vitrine. Senti no momento uma tristeza profunda e pedi forças para aceitar tal situação. 

Comprei a boneca desejada e hoje fica na cama com ela, juntamente com uma outra. Batizou a boneca de “Lere”, que para ela era o seu nome em francês. A outra nominei de Anita, que ela aceitou. São suas netas em seu “imaginário”.

Vejo a minha amada mãe alegre ao falar das “netinhas”, é uma sensação de sentir-se útil por cuidar de alguém. Sinto docilidade em suas palavras. Não estou “infantilizando”, apenas atendendo o seu desejo, pois se existe alguma possibilidade terapêutica a mais para oferecer alívio e conforto, para a minha amada mãe, o preconceito deve ser deixado de lado.

Hoje estou a “mergulhar em seu novo mundo” para compreender seus sentimentos e interagir melhor com ela.
Como te amo minha mãe!

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

REALIDADE - MEMÓRIA

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Guardar o passado, decifrar o presente e esboçar o futuro: é graças a uma função cognitiva denominada MEMÓRIA que construímos nossa história. Sem ela, não conseguiríamos ler, escrever, conversar. Nossa memória é valiosa a cada minuto de nossa existência e ainda é um segredo a ser desvendado pela ciência a melhor forma de conservá-la para que tenhamos uma existência saudável. 
 
Memória é nosso senso histórico e nosso senso de identidade pessoal (sou quem sou porque me lembro quem sou). Há algo em comum entre todas essas memórias: a conservação do passado através de imagens ou representações que podem ser evocadas. 
 
No entanto, uma ameaça, trazida pelo envelhecimento, é capaz de corroer nossa capacidade de memorizar coisas e lembrar-nos de todos os momentos vividos, chama-se doença de Alzheimer. Sem memória, a intenção socialmente imposta de se proceder e pensar em determinado sentido, é dizimada. A pessoa deixa de o ser para se “transferir para outro”. A “desmemória” não só o isola da realidade objetiva como o destitui de sentimentos, “tornando-se frio, terrivelmente frio”. “(…) Como um animal a planar dentro duma redoma de vidro (…) e onde as palavras chegam cegas”.


A DA tem sido chamada de doença da morte, epidemia silenciosa, e é descrita como perda da função intelectual, conhecida como uma doença cruel, porque vai destruindo a mente do indivíduo e com isso também sua memória e raciocínio. Constitui-se em uma patologia neurológica degenerativa progressiva e irreversível, que tem início insidioso e é marcada por perdas graduais da função cognitiva e distúrbios do comportamento e afeto. 

 
É muito difícil para qualquer pessoa conviver com a evolução da doença degenerativa de uma pessoa querida, pois a impressão que se tem é de que ela está gradativamente deixando de existir.

Ao falar da realidade vivenciada com a minha amada mãe, tenho me deparado com a evolução da doença em ritmo acelerado. O nosso diálogo cada vez mais dificultado, devido não lembrar das palavras. As habilidades da fala se deterioram para sílabas sem sentido. A capacidade de formular conceitos e de pensar abstratamente desaparece, havendo também o comprometimento da habilidade de tomar decisões. A progressão da doença intensifica os sintomas. 

Em sua última consulta com o neurologista, foi constatada uma evolução acelerada do Alzheimer, conforme os resultados obtidos dos exames solicitados. Não há medicamentos capazes de conter o seu avanço e evitar o comprometimento progressivo de funções neuro cognitivas. Os fármacos disponíveis para tratamento da DA , possuem efeito limitado e apenas aliviam os sintomas clínicos, retardando o declínio cognitivo por um curto período de tempo, que varia de 6 a 12 meses, aproximadamente.

O progresso da doença de minha amada mãe, segundo o neuro, está seguindo para uma fase mais crítica, a conhecida “fase do desaprender”. Significa a involução de toda uma história de vida. 

É o tempo passando com uma rapidez incrível…

O tempo flui, como um rio. Existem duas maneiras de conceber o fluxo do tempo: “desde o passado em direção ao futuro, ou desde o futuro em direção ao passado” (BORGES, 1960). Em qualquer um dos casos, o fluxo nos atravessa num ponto, que denominamos presente. Um ponto não tem superfície nem volume; é intangível e fugaz. É curioso que, em ambas concepções do tempo, o futuro (ou o passado) sejam consequências de algo quase imaterial como é o presente; de um simples ponto. Esse ponto,porém, é nossa única posse real: o futuro não existe ainda (e a palavra ainda é uma petição de princípio) e o passado não mais existe, salvo sob a forma de memórias. Não há tempo sem um conceito de memória; não há presente sem um conceito do tempo; não há realidade sem memória e sem uma noção de presente, passado e futuro. 
 
O tempo tem sido meu fiel parceiro e algoz. Parceiro porque sinaliza para a relação da vida na vida possível, mas sempre vida! Algoz, porque impõe limitações e, dentre elas, sinaliza as muitas mudanças que acontecem.
Como te amo, minha mãe.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

REALIDADE: DESCONSTRUÇÃO DE UMA HISTÓRIA DE VIDA


As emoções são tudo na vida e no universo dos cuidadores. Vivemos em um mundo de emoções e cuidar de uma pessoa que amamos e que sofre de uma doença neuro degenerativa, força-nos a movermos por uma terra atormentada com todos os tipos de emoções e sentimentos (positivos e negativos).
Sabemos que a solidão do cuidador é uma realidade de muitos. E isso dói, isso dói muito. Mas como “heróis” que somos, como “guerreiros de amor e luz” que nos tornamos, continuaremos até o fim desta guerra, mesmo sabendo quem é o vencedor.
Imagino os cuidadores como que jogados em uma pista de circo chamada doença de Alzheimer, onde temos de aprender a dominar as situações em que a doença nos confronta. Somos acrobatas, malabaristas, contorcionistas, domadores, palhaços e muitos outros atores para lidar com “as metamorfoses” que o Alzheimer nos obriga passar em todo o seu processo de evolução.
Como cuidador(a) devemos ter a nítida compreensão que na pessoa demenciada, se destrói a linha do tempo que garante a sua continuidade. Esquecendo do presente, dos vínculos atuais, do cotidiano, corta-se o elo entre passado e futuro. Não há como incluir o passado no projeto de futuro, simplesmente porque não há futuro.
Desta maneira, qualquer sentimento, qualquer ligação, qualquer vínculo será excessivo. A pessoa deixará de pensar, não poderá criar um saber sobre sua experiência, nem poderá registrá-lo em sua memória, renunciará a construção de sua história. A perda de memória, qualquer que seja a causa, provoca a perda de fragmentos consideráveis da identidade.
É a desconstrução de uma história de vida na repetição de gestos dos quais, o sujeito que os protagonizou, agora está ausente. É a falta de precisão e lucidez das ideias e do juízo, lacunas de memória e fadiga. A amnésia afeta em primeiro lugar as lembranças mais recentes e depois, progressivamente, as mais antigas, menos aderidas. Esquece-se o nome das coisas e a linha discursiva, ficando entretido nos detalhes e perdendo-se do resto da história.
Aos poucos, as pessoas, das mais distantes as mais próximas, deixam de ser reconhecidas e a desorientação temporo-espacial se instala. Começa então uma "errância" incontinente, como uma estéril procura do espaço e do tempo perdidos. Chegados neste ponto, não haverá mais manifestação de um pensamento coerente e todos os atos mais elementares da vida se tornam impossíveis realizar, comprometendo a autonomia levando ao caminho da deterioração do sujeito.
É a constatação de que seu tempo acabou. 
É o sequestro de toda esperança.
Como te amo, minha mãe

domingo, 5 de junho de 2016

REALIDADE - ALZHEIMER : TEMPESTADE, AREIA MOVEDIÇA, CICLONE ...


Os avanços da medicina conferem aos seres humanos uma expectativa de vida cada vez maior. Todos querem viver mais, viver bem, viver com integridade. Todos querem chegar a idades avançadas com suas capacidades de pensar, sentir e agir preservadas e íntegras.

São os momentos mais simples e inesperados que queremos guardar para sempre. São as imagens de rara beleza ou emoção aquelas que instantaneamente o nosso cérebro registra fotograficamente, e arquiva no infinito “disco rígido” da memória humana. Recordações que, no final de uma vida, constituem a história de cada um de nós. E sem as quais perderíamos o sentido da vida. Instantes em que queremos guardar para sempre, quase sempre ligados à infância e à família. Ao amor. Aos outros em nós.

A memória pode ser manipulada e expandida. Recordar é, em grande parte, reinventar, reorganizar nosso passado e inseri-lo em uma narrativa que compõe nossa subjetividade. Não há ninguém de nós que esteja preparado para apagar suas memórias, suas conquistas afetivas e cognitivas como se fossem um texto provisório traçado a lápis. 

Queremos nossa história alicerçada e protegida em solo firme e seguro. Queremos nosso passado bem guardado, a salvo de ser tragado pela areia movediça do esquecimento, ou seja, pelo Alzheimer.

E quando isso acontece... Esse mal estranho nos causa medo porque atinge nosso fundamento e nosso indivíduo: nosso espírito, nosso discernimento, nossa identidade. A doença se nutre de tudo, engolindo com ela as lembranças de uma vida. Tudo se torna diáfano: um esquecimento de si, uma dissolução existencial.

É nesse sentido que o Alzheimer se torna muito mais devastador do que a doença do esquecimento. Ele compromete a coerência necessária para que tenhamos um “self” e, com isso, faz que a própria subjetividade entre em colapso.

Minha amada mãe está sendo cada dia mais tragada pela areia movediça do esquecimento. O fluxo de suas memórias está cada vez mais acelerado para um vazio total. Elipses temporais, já não consegue diferenciar entre o passado, presente e futuro. O tempo começou a se fundir em uma única peça. 

O Alzheimer vem para ficar, permanece com as famílias, marcando suas vidas e tomando cuidado para que você nunca se esqueça o caos que esta doença faz ao nosso amado (a) e em nossos corações. É como a chegada de um ciclone (tempestade, vendaval, areia movediça, ….), mudando totalmente a rotina dos familiares: seu cotidiano, seus projetos e sonhos, se os tem, são mexidos e remexidos não deixando pedra sobre pedra. Modifica o espaço físico e temporal e tonteia fortemente o psiquismo. Os afetos são “bulidos e remexidos”.

Há uma frase que eu admiro e amo: “Deus nos deu memórias para que pudéssemos crescer flores no inverno de nossas vidas”. Para um doente de Alzheimer é sempre inverno, por isso temos de tentar ser um pequeno raio de luz, regando aquelas flores que não podem crescer”.
Como te amo amada mãe.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

REALIDADE : EVOLUÇÃO DO ALZHEIMER

 


Quando vivenciamos o fascínio do amor... Fazemos da pessoa amada uma divindade, transformamos a dureza do trabalho numa prazerosa ocupação.”
(Leonardo Boff)

Algumas das descobertas mais incríveis do ser humano, como andar e falar, acontecem na infância, quando a cada dia algo novo é apresentado a alguém que está em processo de formação. Mas, ao longo da vida, surgem várias outras descobertas e redescobertas. Algumas pessoas até dizem que, quando o ser humano vai ficando velho, ele volta a ser criança, precisando de atenção e cuidado especial de indivíduos que estejam dispostos a ensiná-los, por mais difícil que seja, a lição. Contudo a idade, além de novas experiências, traz consigo consequências do tempo e, muitas vezes, da falta de cuidado com a saúde. Exemplo disso são as demências, com destaque o ALZHEIMER. 
 
O Alzheimer é uma doença silenciosa que compromete o desenvolvimento cognitivo e afeta os processos de raciocínio, percepção, memória, linguagem e atenção causando a perda da autonomia da pessoa. Sem memória, uma pessoa não se reconhece. Ela se despedaça … Deixa de existir. Neste sentido, toda pessoa é memória, embora, não seja, apenas memória. As lembranças que podemos invocar à vontade ou os restos registrados de nossas experiências vividas são a matéria-prima da memória humana. Tudo isto, é devastado pelo ALZHEIMER. 
 
Com a evolução do Alzheimer, faz-se necessário adaptações e modificações no ambiente de maneira a facilitar o cotidiano, como: o banho, o erguer, o alimentar, o vestir, entre outras, no entanto, a maior de todas as adaptações é a emocional. Manter o equilíbrio psicológico, quando você vê a sua mãe, aquela mulher, que foi o teu norte, que te ensinou a viver, que te ensinou os valores da vida, precisando ser amparada, não tendo mais controle de si mesma. É perder diariamente a consciência de quem foi, de quem é, de quem ama … é perder referências. 
 
Além destas adaptações, o tratamento do Alzheimer requer intervenções farmacológicas (medicamentosas) e não farmacológicas. É importante ressaltar que as medicações têm efeito sintomático e eficácia modesta, embora beneficiando uma parcela significativa dos pacientes. A participação de outros profissionais de saúde, particularmente aqueles que trabalham no campo da reabilitação, como Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, é de grande importância. 
 
Se houver estimulação motora, haverá como consequência, uma melhora do quadro intelectual , mesmo que seja pouca a resposta é fundamental o estímulo continuado, realizado por um terapeuta ocupacional. O exercício físico é importante para esses pacientes, pois com a melhora da parte física, o psiquismo do doente também melhora, já que ele evita o recolhimento em si e continua a executar as atividades do mundo externo.

Em relação ao tratamento de minha amada mãe, conto com excelentes profissionais, Terapeuta Ocupacional e Fisioterapeuta. Referidos profissionais já fazem parte do nosso cotidiano familiar. 

Em função dos problemas familiares, em especial com a irmã que mora com a minha amada mãe, tive que contratar uma cuidadora, que após uma rejeição inicial, está em processo de adaptação, estando sob supervisão e acompanhamento de minha parte.
 
A solidariedade e o convívio da família são de fundamental importância para que o tratamento do paciente tenha um melhor efeito ajudando-o a ter uma melhor qualidade de vida. Acima de tudo, não esquecer também do fundamental : o AMOR, mesmo que o paciente em alguma fase da doença não reconheça algumas coisas ou pessoas, mas ele saberá diferenciar onde existe carinho e amor.

Enfim, é renovar o amor, a paciência, a tolerância a cada dia, a cada momento.