As emoções são tudo na vida
e no universo dos cuidadores. Vivemos em um mundo de emoções e
cuidar de uma pessoa que amamos e que sofre de uma doença neuro
degenerativa, força-nos a movermos por uma terra atormentada com
todos os tipos de emoções e sentimentos (positivos e negativos).
Sabemos
que a solidão do cuidador é uma realidade de muitos. E isso dói,
isso dói muito. Mas como “heróis” que somos, como
“guerreiros de amor e luz” que nos tornamos, continuaremos
até o fim desta guerra, mesmo sabendo quem é o vencedor.
Imagino
os cuidadores como que jogados em uma pista de circo chamada doença
de Alzheimer, onde temos de aprender a dominar as situações em
que a doença nos confronta. Somos acrobatas, malabaristas,
contorcionistas, domadores, palhaços e muitos outros atores para
lidar com “as metamorfoses” que o Alzheimer nos
obriga passar em todo o seu processo de evolução.
Como
cuidador(a) devemos ter a nítida compreensão que na pessoa
demenciada, se destrói a linha do tempo que garante a sua
continuidade. Esquecendo do presente, dos vínculos atuais, do
cotidiano, corta-se o elo entre passado e futuro. Não há como
incluir o passado no projeto de futuro, simplesmente porque não há
futuro.
Desta
maneira, qualquer sentimento, qualquer ligação, qualquer vínculo
será excessivo. A pessoa deixará de pensar, não poderá criar um
saber sobre sua experiência, nem poderá registrá-lo em sua
memória, renunciará a construção de sua história. A perda de
memória, qualquer que seja a causa, provoca a perda de fragmentos
consideráveis da identidade.
É
a desconstrução de uma história de vida na repetição de gestos dos
quais, o sujeito que os protagonizou, agora está ausente. É a falta
de precisão e lucidez das ideias e do juízo, lacunas de memória e
fadiga. A amnésia afeta em primeiro lugar as lembranças mais
recentes e depois, progressivamente, as mais antigas, menos aderidas.
Esquece-se o nome das coisas e a linha discursiva, ficando entretido
nos detalhes e perdendo-se do resto da história.
Aos
poucos, as pessoas, das mais distantes as mais próximas, deixam de
ser reconhecidas e a desorientação temporo-espacial se instala.
Começa então uma "errância" incontinente, como uma estéril procura
do espaço e do tempo perdidos. Chegados neste ponto, não haverá
mais manifestação de um pensamento coerente e todos os atos mais
elementares da vida se tornam impossíveis realizar, comprometendo a
autonomia levando ao caminho da deterioração do sujeito.
É
a constatação de que seu tempo acabou.
É o sequestro de toda esperança.
Como te amo, minha mãe
É o sequestro de toda esperança.
Como te amo, minha mãe
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