sexta-feira, 22 de maio de 2015

CARTA DE UM DOENTE DE ALZHEIMER PARA SUA MULHER

 Leninha, 

"Escrevo-te esta carta, mas a única viagem que ela fará, será da minha mão para a tua. Escrevo-te porque vais precisar de a ler muitas vezes, e eu também vou precisar que a leias. Não é à toa que me esqueço constantemente das coisas, não é à toa que de um momento para o outro a minha personalidade muda, não é à toa que por vezes o meu discurso não faz sentido. Mas que Deus me ajude a terminar esta carta, pelo menos esta carta, sem que a memória se vá embora e me deixe perdido a olhar para esta folha. Hoje sei que em breve não saberei quem sou, disseram-me os médicos. Tenho alzheimer.
 
Deixarei de viver antes do dia da minha morte, a vida escolheu-me para ter este fim, mas antes disso, escolheu-me para ser o marido mais feliz do mundo, o pai mais feliz do mundo, e por isso não consigo ficar desiludido com ela. Aceito, só posso aceitar.


Não fiques triste por mim, meu amor, pois eu não irei sofrer, não me irei lembrar sequer da dor. Os nossos filhos estão bem e tu és forte o suficiente para superares isto, não sintas pena de mim, por favor, sinta amor, só, e toma conta de mim se puderes. Mas eu não quero atrapalhar a tua vida, não te quero prender em casa para não me deixares fazer asneiras, não te quero prender ao lado da cama para saberes se está tudo bem comigo, nem te quero prender a mim quando já não for mais a pessoa que amaste tantos anos. Não quero nada disto mas também sei que, por menos que queira ou por mais que te peça, tu nunca me irias abandonar, nunca irias desistir de mim. 

Tantas vezes me perguntaste porque é que eu te tinha escolhido para viver ao meu lado, porque é que eu te amava se tu não eras bonita nem tinhas nada de especial. Nunca desistirias de mim, nunca me abandonarias, queres maior beleza que isto? Queres maior motivo para te amar e querer viver contigo para sempre? Sei que nunca os pequenos-almoços que te levei à cama poderão compensar os dias a fio em que me darás o comer à boca, sei que nunca os momentos em que te confortei poderão compensar as preocupações que terás comigo, mas lembra-te, já que eu não irei conseguir, que eu serei o homem mais sortudo do mundo por te ter a tomar conta de mim.

Só eu posso sentir tristeza por não me lembrar de tantas coisas bonitas que vivemos, só eu posso sentir tristeza por não reconhecer mais o teu lindo sorriso, só eu posso sentir tristeza por não poder sentir mais nada. Lembra-te de tudo isto por mim, sorri por mim, sê feliz por mim, por favor! E lá no fundo, mesmo sem saber, eu também serei, prometo.

Estou-me a ir embora mas ainda aqui estou, perco-me lentamente numa memória que o tempo desvanece, caio no vazio do esquecimento e não posso fazer nada, dói amor, claro que dói, mas enquanto me dói, sei que vivo, e sei que deixarei de o saber.

Esta doença levar-me-á daqui e deixará apenas o meu corpo a estorvar e a dar trabalho. É triste, muito triste. Por isso peço-te que me perdoes Leninha. Perdoa-me quando não te reconhecer a ti e aos nossos filhos, perdoa-me quando estiveres mal e eu ficar indiferente, perdoa-me quando disseres que me amas e eu não retribuir, perdoa-me quando não sentir mais a tua falta, perdoa-me quando me olhares nos olhos e não vires nada, perdoa-me quando eu me for embora e não disser adeus.

Mas prometo-te, meu amor, que vou amar-te para sempre, vou amar-te sem fim, vou amar-te para sempre num cantinho de mim. Vou amar-te para sempre, prometo… só não me vou lembrar.”

MITOS E VERDADES SOBRE ALZHEIMER


 
O primeiro sintoma do alzheimer é a perda da memória MITO: não é apenas a perda da memória que sinaliza o alzheimer. A doença atinge inicialmente a parte do cérebro que controla a linguagem, a memória e o raciocínio, outros sintomas podem indicar sua chegada. "Esquecimentos persistentes de fatos recentes, recados, compromissos, dificuldades com planejamento de atividades, cálculos, controle das finanças, desorientação no tempo e no espaço, dificuldade de executar tarefas rotineiras e alterações de comportamento (como comportamentos inesperados, inadequados, incomuns para aquela pessoa) são os primeiros sinais da doença de alzheimer", explica o psiquiatra Cássio Bottino, professor do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). 
 
 

Quem tem este mal esquece coisas que acabaram de acontecer, mas lembra fatos antigos. VERDADE: as primeiras alterações sofridas pelos pacientes é na memória recente, ou seja, a pessoa tem dificuldade de recordar eventos que acabaram de acontecer, mas consegue se lembrar sem problemas de algo que aconteceu na infância, por exemplo. "A doença afeta primeiramente o hipocampo, por isso as pessoas experimentam dificuldade em recordar fatos recentes, mas se lembra do que aconteceu muitos anos atrás", explica o psiquiatra Orestes Forlenza, professor pesquisador do Laboratório de Neurociências da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
 
 
Quem tem alzheimer não consegue compreender o que se passa ao seu redor. MITO: a pessoa com a doença, apesar das dificuldades de memória e dos outros sintomas, se mantém consciente do que acontece ao seu redor. Apenas nos estágios avançados isso pode mudar. "Há que se ressaltar que, embora precise de cuidados, o idoso com alzheimer não passa a ser uma criança. Ele continua sendo fonte de sabedoria e experiência e merece o respeito antes dispensado a ele e tem que ter garantido seu papel e espaço nas relações familiares", enfatiza a psicóloga Fernanda Gouveia Paulino, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).
 
 
Doenças cardiovasculares aumentam o risco de desenvolver a doença. VERDADE: doenças cardiovasculares e cerebrovasculares podem aumentar o risco de vários tipos de demência e também da doença de alzheimer. "Assim, é importante o diagnóstico e seguir as orientações do profissional de saúde, tratando qualquer tipo de doença, e principalmente mudando em qualquer idade a maneira de viver", afirma o geriatra Paulo Canineu, professor da Faculdade de Medicina da PUC São Paulo e diretor do Instituto Paulo Canineu.

 
Alimentos que contêm ômega 3 ajudam a prevenir o mal de Alzheimer. PARCIALMENTE VERDADE: a alimentação não evita a doença, mas se for saudável, pobre em gorduras e bem balanceada certamente contribui para menos problemas cardiovasculares que podem agravar o quadro de demência. "Alimentos ricos em vitamina B12, cálcio e flavonoides contribuem para retardar o quadro ao menos em estudos de grandes populações", aponta o psiquiatra Jerson Laks, coordenador do Centro para Doença de Alzheimer e outros transtornos relacionados ao idoso e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
 
Esquecer as coisas significa ter o mal de Alzheimer. MITO: problemas de memória podem estar relacionados a diversos fatores, como outras demências, ou até mesmo estresse e depressão. Além disso, a doença de alzheimer vai atingir as memórias recentes, enquanto memória de fatos acontecidos há mais tempo (como na infância) são preservadas. "A pessoa com alzheimer tem sua memória de curto prazo comprometida, demonstrando dificuldade cada vez maior de memorizar, de registrar novas informações, de aprender coisas novas. No entanto, sua memória episódica, ou seja, de longo prazo, está preservada", aponta o psiquiatra Orestes Forlenza, professor pesquisador do Laboratório de Neurociências da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
 
 
Receber um diagnóstico de alzheimer significa que a vida acabou. MITO: receber um diagnóstico de alzheimer é chocante e assustador, tanto para a pessoa quanto para a família. Mas não significa que a vida acabou. Atualmente, com o tratamento adequado, uma pessoa com a doença pode te ruma sobrevida de até 20 anos. "Muitos pacientes, se bem estimulados, têm excelente qualidade de vida, divertem-se, relacionam-se de maneira prazerosa e agradável e levam uma vida bem organizada", afirma a psicóloga Fernanda Gouveia Paulino, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).
 
 
A prática de exercícios físicos é importante para pessoas com alzheimer. VERDADE: exercitar-se pode retardar a manifestação da doença, assim como amenizar seus sintomas. "O exercício físico ao longo da vida retarda o aparecimento da doença. Também ajuda - e muito - os pacientes e seus cuidadores a terem uma melhor qualidade de vida", ressalta Jerson Laks, coordenador do Centro para Doença de Alzheimer e Outros Transtornos Relacionados ao Idoso e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
 
 
É possível evitar o mal de Alzheimer. PARCIALMENTE VERDADE: é possível tentar prevenir, mas ainda não existem evidências científicas mostrando que é possível evitar a doença. "Atividades cognitivas, boa alimentação e exercícios físicos podem contribuir para retardar o início, porque aumentam a reserva cognitiva e podem ajudar a pessoa a desenvolver estratégias para lidar com os deficits, mas não impedem o desenvolvimento da doença", aponta Cássio Bottino, professor do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). Especialistas também concordam que prevenir as doenças cardiovasculares pode colaborar para prevenir o alzheimer.
 
 
É possível evitar o mal de Alzheimer. PARCIALMENTE VERDADE: é possível tentar prevenir, mas ainda não existem evidências científicas mostrando que é possível evitar a doença. "Atividades cognitivas, boa alimentação e exercícios físicos podem contribuir para retardar o início, porque aumentam a reserva cognitiva e podem ajudar a pessoa a desenvolver estratégias para lidar com os deficits, mas não impedem o desenvolvimento da doença", aponta Cássio Bottino, professor do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e diretor científico da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz). Especialistas também concordam que prevenir as doenças cardiovasculares pode colaborar para prevenir o alzheimer .

 
O alzheimer atinge apenas idosos. MITO: apesar de a doença atingir mais os idosos, ela também pode se desenvolver em pessoas com menos de 65 anos. "A Doença de Alzheimer de Início Precoce (Daip), que atinge pessoas com menos de 65 anos, é mais rara (cerca de 10% do total) e é caracterizada por um declínio mais rápido das funções cognitivas", explica o psiquiatra Orestes Forlenza, professor pesquisador do Laboratório de Neurociências da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
 
 
Se alguém na minha família tem ou teve alzheimer, eu também terei. MITO: não há evidências científicas que comprovem com segurança a hereditariedade da doença. "Ainda não sabemos todos os mecanismos genéticos envolvidos na doença de alzheimer. Alguns genes já estão reconhecidos, mas ainda há um bom caminho a andar nesse sentido para sabermos exatamente quais os principais responsáveis", aponta Jerson Laks, coordenador do Centro para Doença de Alzheimer e outros transtornos relacionados ao idoso e professor do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) .

 
Mal de Alzheimer não tem cura. VERDADE: infelizmente não há cura. Porém, existem tratamentos que retardam a evolução da doença e outros que minimizam os distúrbios no humor e comportamento. "Existem medicamentos que podem retardar a progressão da doença e que possibilitam uma melhora expressiva. Nas fases mais avançadas, também é possível contar com terapias não medicamentosas, como terapia ocupacional, fonoaudiologia, fisioterapia etc, que ajudam muito a amenizar os sintomas e a melhorar qualidade de vida", explica o psiquiatra Orestes Forlenza, professor pesquisador do Laboratório de Neurociências da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
 
 
Pancadas na cabeça podem acarretar o mal de Alzheimer. VERDADE: estudo da Universidade da Pensilvânia (EUA) realizado pelo neurologista Tracy McIntosh e publicado no "Journal of Neuroscience" relacionou pancadas e ferimentos na cabeça com o desenvolvimento do alzheimer. De acordo com a pesquisa, a concentração cerebral de proteínas que contribuem para a formação das placas senis (um dos fatores por trás da doença) aumenta após um traumatismo craniano. Outra pesquisa, feita pela Universidade de Rochester (EUA), afirma que receber pancadas repetidas na cabeça criam lesões permanentes, mas imperceptíveis, que podem desencadear doenças neurológicas. Isso poderia explicar o caso de boxeadores como o brasileiro Maguila, recentemente diagnosticado com alzheimer.

 
Mulheres têm mais chances de desenvolver alzheimer. VERDADE: o mal de Alzheimer afeta duas vezes mais as mulheres que os homens, segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2012. Para quem chegou aos 65 anos, o risco futuro de surgir alzheimer é de 12% a 19% no sexo feminino; e de 6% a 10% nos homens. Como a doença está relacionada com a idade, parte da explicação está no fato de que as mulheres tendem a viver mais. Porém os mecanismos biológicos por trás dessa diferença tão grande ainda não foram completamente compreendidos.
 http://noticias.uol.com.br/saude/

quarta-feira, 20 de maio de 2015

PARA SEMPRE ALICE - DESTAQUE

 

“A poetisa Elisabeth Bishop escreveu: ‘A arte de perder não é nenhum mistério; tantas coisas contêm em si o acidente de perdê-las, que perder não é nada sério’. Eu não sou uma poetisa. Sou uma pessoa vivendo no estágio inicial de Alzheimer. E assim sendo, estou aprendendo a arte de perder todos os dias. Perdendo meus modos, perdendo objetos, perdendo sono e, acima de tudo, perdendo memórias. 
Toda a minha vida eu acumulei lembranças. Elas se tornaram meus bens mais preciosos. A noite que conheci meu marido, a primeira vez que segurei meu livro em minhas mãos, ter filhos, fazer amigos, viajar pelo mundo. Tudo que acumulei na vida, tudo que trabalhei tanto para conquistar, agora tudo isso está sendo levado embora. Como podem imaginar, ou como vocês sabem, isso é o inferno. Mas fica pior. 
Quem nos leva a sério quando estamos tão diferentes do que éramos? Nosso comportamento estranho e fala confusa mudam a percepção que os outros têm de nós e a nossa percepção de nós mesmos. Tornamo-nos ridículos. Incapazes. Cômicos. Mas isso não é quem nós somos. Isso é a nossa doença. E como qualquer doença, tem uma causa, uma progressão, e pode ter uma cura. Meu maior desejo é que meus filhos, nossos filhos, a próxima geração não tenha que enfrentar o que estou enfrentando.

Mas, por enquanto, ainda estou viva. Eu sei que estou viva. Tenho pessoas que amo profundamente, tenho coisas que quero fazer com a minha vida. Eu fui dura comigo mesma por não ser capaz de lembrar das coisas. Mas ainda tenho momentos de pura felicidade. E, por favor, não pensem que estou sofrendo. Não estou sofrendo. Estou lutando. Lutando para fazer parte das coisas, para continuar conectada com quem eu fui um dia.  
‘Então, viva o momento’, é o que digo para mim mesma. É tudo que posso fazer. Viver o momento. E me culpar tanto por dominar a arte de perder. Uma coisa que vou tentar guardar é a memória de falar aqui hoje. Irá embora, sei que irá. Talvez possa desaparecer amanhã. Mas significa muito estar falando aqui hoje. Como meu antigo eu, ambicioso, que era tão fascinado em comunicação. Obrigada por essa oportunidade. Significa muito para mim.”  Alice

ALZHEIMER

A criatura vivia escondida num canto muito escuro, muito ermo, muito esquecido. Já há tanto tempo morava ali, abandonada, sozinha, sem voz, sem expressão, que não se lembrava sequer de outra realidade. Devia ter nascido naquele lugar, pois nem ao menos sonhava com uma mudança, não morria de tristeza pela sua condição, não era desejosa de uma existência diferente. Se algum dia já teve um nome, não se lembrava. Aceitava naturalmente as coisas como elas eram porque desconhecia outras possibilidades. 
Até que um dia uma porta se abriu. Uma porta que estava ali o tempo todo, mas nunca havia sido notada, já que a criatura não imaginava para que serviam as portas. E com a abertura da porta surgiu um mundo novo. E a criatura sentiu curiosidade pela primeira vez na vida e, movida por esse sentimento, atravessou a porta e explorou o novo mundo, tão mais interessante que o seu canto habitual. E por um tempo ela foi feliz. E com a felicidade surgiu a esperança de encontrar uma outra porta, outra passagem, outra possibilidade. E ela veio. 
Num momento, numa hora qualquer, eis que outra porta se abriu. O novo mundo que se mostrava era muito maior, mais bonito, mais aconchegante, mais interessante. E a criatura explorou seus domínios, já ansiosa de encontrar outra saída. Existiriam outras criaturas? Existiriam outras possibilidades? Começou a se lembrar de um outro ser, muito vagamente, e percebeu que aquele ambiente não era totalmente desconhecido. Um sentimento de vitória explodiu dentro de si quando percebeu que, de alguma maneira, sabia onde estava a saída daquela prisão. 
Não foi difícil encontrar a outra porta. Ela estava muito bem escondida, mas achou-a com tanta facilidade que é como se o caminho estivesse gravado em sua memória desde tempos remotos. O novo ambiente era ainda mais familiar. E foi ali que uma lembrança surgiu em sua mente. Ela se lembrou de uma casa. Uma casa onde morava uma família. Uma casa que era verdadeiramente um lar. Como tinha se esquecido disso? Como podia ter perdido essa imagem tão valiosa? Com passos rápidos seguiu diretamente para a próxima porta, já tão mais visível que suas antecessoras. 
Entrar no próximo cômodo foi como despertar para a vida. Mil memórias invadiram seu ser. Como pôde esquecer da sua família? Como pôde esquecer do seu próprio nome. Como pôde esquecer das únicas coisas que importavam? 
O caminho agora era claro. Ainda existiam muitas portas para serem cruzadas, mas sabia exatamente para onde direcionar seus passos. Desatou a correr e a abrir passagens... inúmeras... e a cada caminho aberto, uma nova revelação. Seu marido, seus filhos, seus netos, seus bisnetos... as imagens de todos eles surgiam à sua frente. (Mais uma porta). Seus amigos mais queridos, uma fazenda, uma música tão familiar. (Mais uma porta). O dia do seu casamento, a primeira gravidez e tantas outras que vieram depois, as viagens num carro antigo verde-e-branco, uma casa com jardim numa cidade do interior. (Mais uma porta). Sua mãe, que morreu tão velhinha, tão lúcida. Uma filha, que morreu de meningite. Rosas num quintal, missa de domingo, rancho no jardim. (Muitas portas). 
Até que soube que o caminho estava quase no fim. Só restava mais uma porta. Enquanto se dirigia a ela, tentava se lembrar porque estava ali. Porque abandonaria uma vida tão completa. Porque desistiria de tudo e de todos para viver esquecida, num canto, sem consciência, oca por dentro. Mas a resposta com certeza estaria lá, do outro lado da porta que estava tão próxima. E então ela estaria ciente de tudo. E então ela estaria de volta à vida. E então ela saberia o que aconteceu. 
Atravessou a porta com um misto de ansiedade e medo. Piscou algumas vezes. Percebeu que não estava mais naquele labirinto. Reconheceu o quarto. Seu quarto! Sua casa! Seu lar! Sua vida! A explosão de sentimentos encheu seu coração. Mas algo estava muito, muito errado. Percebeu o soro pingando, a cama de hospital, o corpo dolorido, tão magro, inerte. Conseguiu balbuciar uma frase. Então, compreendeu que não estava sozinha. Nunca esteve. Na caverna da sua mente algo espreitava. Lembrou-se da doença no momento em que a coisa escura tão odiada estendia os seus braços e a empurrava, vertiginosamente, de volta para aquele canto muito escuro, muito ermo, muito esquecido. 
Ao seu lado, a enfermeira percebeu quando os olhos daquela senhora, há tantos anos doente, recuperou um brilho momentâneo, como se tomando ciência do mundo. Ouviu-a murmurar “Onde está Ele?” e então voltaram ao mesmo torpor de sempre.
 http://alcampanha.blogspot.com.br

segunda-feira, 18 de maio de 2015

REALIDADE - ANIVERSÁRIO DA NETINHA





O enigma da mente perdida

Sábado, dia de comemoração do aniversário de sua netinha, 12 anos. A comemoração aconteceu em um clube, com direito a muito banho de piscina, churrasco e bebida a vontade. Muitas crianças, pais e amigos e como atração especial, a minha amada mãe. 

Logo que acordou falei que iriamos a uma festinha da neta, o que a deixou muito feliz. Passou a manhã toda a perguntar de quem era o aniversário, e como sempre respondo como se fosse a primeira dentre muitas repetições. Tomou o banho com a maior alegria, vestiu uma roupa esportiva e fomos para a festinha. Ao chegarmos já tinha muita gente, crianças tomando banho de piscina, correndo, alegria geral. Destaque para a minha irmã, mãe da aniversariante, que preparou tudo, desde a decoração, como todas as guloseimas. Tudo muito bonito.

Ficamos juntos a minha querida mãe, com os filhos. Era um dengo só. Beijos e abraços de todos os presentes. Após cantar os parabéns, ela pediu para ir para casa, pois sentia-se cansada, pedido de imediato atendido. Retornei com ela e ficamos juntas até a noite.

No dia seguinte, não lembrava de mais nada …. Na sessão de Terapia Ocupacional, não lembrou absolutamente de nada, ao ser indagada pela Terapeuta. 

É um lento caminhar a um estado semiprimitivo de aprendizado.  A perda da memória faz com que se desaprenda uma série de coisas. Aos poucos, os registros de toda uma existência vão se apagando, como anotações feitas a lápis. E tudo aquilo que se tem é exatamente o instante-agora ao qual está submetido. Sem a chance de recorrer a um histórico que lhe permita tomar a decisão x ou y, ou dar andamento a um processo já iniciado.

Que doença devastadora. Rouba não somente a memória, como as expressões, o olhar, o tom da voz, o caminhar, tudo isto é afetado. É acompanhar a cada dia a minha amada mãe, desaparecendo ou, quem sabe, abrigando-se em algum universo ainda não explorado de sua mente que se torna um labirinto e as palavras deixam de formar frases, ou até mesmo meras sentenças, quando não há como resgatar lembranças da memoria.

É a vida que se segue, e nesta caminhada peço ao meu bom Deus, força, aceitação e muito amor para acompanahr a minha amada mãe em seu mundo caótico, perdido, sem vida, sem nada … apenas um grande vazio..., embora perceba o esforço , a luta de continuar conectada a quem foi um dia. E, mesmo que não consiga, isso não se perde por completo, ainda que exista apenas por um breve momento. Ou não seria vida aquilo a que chamamos a existencia de uma borboleta?

O bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas, e assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.

A ARTE DE PERDER - ELIZABETH BISHOP


quinta-feira, 14 de maio de 2015

PEDIDO ...

VIVER É ...

  Resultado de imagem para VIVER
 
"Viver é uma peripécia. Um dever, um afazer, um prazer, um susto, uma cambalhota. Entre o ânimo e o desânimo, um entusiasmo ora doce, ora dinâmico e agressivo. 
 
Viver não é cumprir nenhum destino, não é ser empurrado ou rasteirado pela sorte. Ou pelo azar. Ou por Deus, que também tem a sua vida. Viver é ter fome. Fome de tudo. De aventura e de amor, de sucesso e de comemoração de cada um dos dias que se podem partilhar com os outros. Viver é não estar quieto, nem conformado, nem ficar ansiosamente à espera. 
 
Viver é romper, rasgar, repetir com criatividade. A vida não é fácil, nem justa, e não dá para a comparar a nossa com a de ninguém. De um dia para o outro ela muda, muda-nos, faz-nos ver e sentir o que não víamos nem sentíamos antes e, possivelmente, o que não veremos nem sentiremos mais tarde. 
 
Viver é observar, fixar, transformar. Experimentar mudanças. E ensinar, acompanhar, aprendendo sempre. A vida é uma sala de aula onde todos somos professores, onde todos somos alunos. Viver é sempre uma ocasião especial. Uma dádiva de nós para nós mesmos. Os milagres que nos acontecem têm sempre uma impressão digital. A vida é um espaço e um tempo maravilhosos mas não se contenta com a contemplação. Ela exige reflexão. E exige soluções. 
 
A vida é exigente porque é generosa. É dura porque é terna. É amarga porque é doce. É ela que nos coloca as perguntas, cabendo-nos a nós encontrar as respostas. Mas nada disso é um jogo. A vida é a mais séria das coisas divertidas. " (Joaquim Pessoa)

domingo, 10 de maio de 2015

REALIDADE - MEU PORTO SEGURO


Mãe, eu te amo muito! - Recados e Imagens para orkut, facebook, tumblr e hi5

Minha amada mãe, que dia maravilhoso passei ao seu lado. Conseguimos apesar dos conflitos familiares reunir os filhos para um almoço especial.Os filhos, genro e netos juntos para aproveitar cada momento de amor sublime.

Ao retornar para o meu apartamento, bateu de repente uma paz na alma e ao mesmo tempo um incerteza quanto ao proximo dia das mães. Será que ainda estarei com a minha amada mãe,  será que ainda serei reconhecida por ela... perguntas sem respostas. É assim que eu me sinto, é assim que eu estou. 

Tenho passado por muitas experiencias, por muitos sentimentos desde a descoberta da Doença de Alzheimer em minha amada mãe. Dentre estes, o mais forte, sem dúvida é o Amor. Como eu te amo minha mãe e como sei que sou amada. 

Tenho tanto a te agradecer, obrigada, pela pessoa que sou, obrigada pelos seus ensinamentos, suas broncas, obrigada por me presentear com tantos momentos felizes, obrigada por ser o meu porto seguro, a minha força e minha coragem. Obrigada pelo "não" dito tantas vezes na minha infância. Obrigada mãe que esteve sempre ao meu lado, que me deu vida, que sempre cuidou de mim. Obrigada por tudo!

Apesar da evolução da DA, a nossa cumplicidade é muito grande. Olhares carinhosos, abraços, beijos e frases diárias de "como eu te amo", fazem parte do nosso cotidiano. 

Sinto mais do que nunca, que é necessário amar hoje, que é necessário ser feliz agora, sinto que o tempo presente é mais do que nunca, o mais importante. O passado já passou , não podemos modificá-lo e que o futuro é um grande vazio diante de nós. Vou de amar para todo sempre, minha amada mãe.

Vou parar por aqui ..., já sinto as lágrimas caindo ....

Obrigada, acima de tudo, por me oferecer seu ombro, mesmo em silêncio, em meus momentos de angustias.

sábado, 9 de maio de 2015

REALIDADE - DIA DAS MÃES

 

MÃE, UM PRESENTE DE DEUS

“A palavra Mãe dispensa significados escritos, pois o maior significado da palavra mãe é vida, amor, doação, origem, completude, diligência, proteção, carinho, afeto, singeleza, força, coragem... Adjetivos? Não caberiam em uma página apenas. Explicar o que é ser mãe? Ser mãe é inexplicável, está para além do entendimento humano.

Na verdade, a palavra Mãe é tão pequena, mas ao mesmo tempo é tão complexa, porque é muito significativa. Meu Deus, como é possível, uma única palavra reunir tantos significados, sentimentos, razões, que, por mais simples ou complexos, não conseguimos explicar, pelo menos, não em toda a sua essência, totalidade e potencialidade! Ser mãe é mais do que ser mulher, é um presente de Deus. Deus confia à mulher o prazer de gerar, de dar origem a uma vida, porque tudo começa dentro dela. É através do amor de mãe que chegamos a compreender como Deus nos ama.

Ninguém tem mais amor, dedicação e cuidado do que uma mãe quando carrega seu filho no colo, quando passa noites a fio acordada para suprir a fome daquele que acorda de três em três horas... Desde o dia em que nascemos, o primeiro contato que temos é com o colo da mãe, recebendo-nos em seus braços, acolhendo-nos de uma forma que nos aquietamos e sentimos o amor que palavras não conseguem dimensionar, porque é imensurável.

Neste dia, o que podemos é reconhecer e expressar uma vez mais o nosso amor, respeito, carinho, gratidão, a você, Mãe, que recebeu a maior responsabilidade do céu e a maior missão da terra, gerar, amar e educar os filhos, mas não gerar, amar e educar de qualquer jeito, mas gerar, amar e educar a herança do Senhor.

Sua vida nos ensinou e ensina muito mais do que suas palavras. Uma mãe fala mais fortemente com ações, com simples e fortes gestos de amor. Cada situação do dia a dia que vivemos ao seu lado, com certeza foi um aprendizado. As características de Mãe, impressas em você, são as marcas que carregamos e que vamos perpetuar em nossos filhos.

Não se preocupe com os seus erros, hoje eles não têm relevância. Hoje eles nos advertem que devemos fazer o certo e nos impulsionam a ser filhos melhores. Dos erros, temos a lembrança de que você não sabia fazer melhor, porque tudo que você pôde fazer e até o que não pôde, você também fez. Se hoje estamos vivos é porque você não abriu mão de nós, antes abriu mão de você mesma para que chegássemos onde estamos.

Dizer obrigado é tão pouco, mas diante do seu tudo, Mãe, é só o que podemos dizer. Você transformou as dificuldades da vida em aprendizado para nós, e hoje somos frutos responsáveis em gerar como você gerou. Mãe, palavras nos faltam, mas amor nos sobra. Sua vida, amor, ternura, carinho, deixam qualquer palavra a mais inexpressível.

E mais uma vez, percebemos que só agradecer por tanta renúncia é muito pouco, mas é só o que nos resta. Vamos nos esforçar, então, para que, não apenas hoje, mas todos os dias, possamos, de alguma forma, dizer o quanto você é preciosa. Você é uma pérola de valor inestimável!”

Obrigado meu bom Deus, estarei com a minha amada mãe, nesta data tão especial. 

Amada mãe : "Eu sei que vou te amar por toda a minha vida, eu vou te amar .... Em cada verso será pra te dizer, eu sei que vou te amar por toda a minha vida .....