Sábado, dia de comemoração do aniversário de
sua netinha, 12 anos. A comemoração aconteceu em um clube, com
direito a muito banho de piscina, churrasco e bebida a vontade.
Muitas crianças, pais e amigos e como atração especial, a minha
amada mãe.
Logo que acordou falei que iriamos a uma festinha da
neta, o que a deixou muito feliz. Passou a manhã toda a perguntar de
quem era o aniversário, e como sempre respondo como se fosse a
primeira dentre muitas repetições. Tomou o banho com a maior
alegria, vestiu uma roupa esportiva e fomos para a festinha. Ao
chegarmos já tinha muita gente, crianças tomando banho de piscina,
correndo, alegria geral. Destaque para a minha irmã, mãe da
aniversariante, que preparou tudo, desde a decoração, como todas as guloseimas. Tudo muito bonito.
Ficamos juntos a minha querida mãe, com os filhos.
Era um dengo só. Beijos e abraços de todos os presentes. Após
cantar os parabéns, ela pediu para ir para casa, pois sentia-se
cansada, pedido de imediato atendido. Retornei com ela e ficamos juntas até a noite.
No dia seguinte, não lembrava de mais nada …. Na
sessão de Terapia Ocupacional, não lembrou absolutamente de nada,
ao ser indagada pela Terapeuta.
É um lento caminhar a um estado
semiprimitivo de aprendizado. A perda da memória faz com que se
desaprenda uma série de coisas. Aos poucos, os registros de toda uma
existência vão se apagando, como anotações feitas a lápis. E
tudo aquilo que se tem é exatamente o instante-agora ao qual está
submetido. Sem a chance de recorrer a um histórico que lhe permita
tomar a decisão x ou y, ou dar andamento a um processo já iniciado.
Que doença devastadora. Rouba não somente a
memória, como as expressões, o olhar, o tom da voz, o caminhar,
tudo isto é afetado. É acompanhar a cada dia a minha amada mãe,
desaparecendo ou, quem sabe, abrigando-se em algum universo ainda não
explorado de sua mente que se torna um labirinto e as palavras deixam
de formar frases, ou até mesmo meras sentenças, quando não há
como resgatar lembranças da memoria.
É a vida que se segue, e nesta caminhada peço ao
meu bom Deus, força, aceitação e muito amor para acompanahr a
minha amada mãe em seu mundo caótico, perdido, sem vida, sem nada …
apenas um grande vazio..., embora perceba o esforço , a luta de
continuar conectada a quem foi um dia. E, mesmo que não consiga,
isso não se perde por completo, ainda que exista apenas por um breve
momento. Ou não seria vida aquilo a que chamamos a existencia de uma borboleta?
O bater de asas de uma
simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas, e
assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.
É exatamente isso! Uma perda gradual que vai tirando de nós o ente querido em vida, e deles, a essência. O mais cruel dessa doença é acompanhar impotentes, a morte da consciência de alguém a quem tanto amamos. Força e fé para vc!!
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ExcluirObrigada . O que mais peço , força e fé . Bjs