segunda-feira, 18 de maio de 2015

REALIDADE - ANIVERSÁRIO DA NETINHA





O enigma da mente perdida

Sábado, dia de comemoração do aniversário de sua netinha, 12 anos. A comemoração aconteceu em um clube, com direito a muito banho de piscina, churrasco e bebida a vontade. Muitas crianças, pais e amigos e como atração especial, a minha amada mãe. 

Logo que acordou falei que iriamos a uma festinha da neta, o que a deixou muito feliz. Passou a manhã toda a perguntar de quem era o aniversário, e como sempre respondo como se fosse a primeira dentre muitas repetições. Tomou o banho com a maior alegria, vestiu uma roupa esportiva e fomos para a festinha. Ao chegarmos já tinha muita gente, crianças tomando banho de piscina, correndo, alegria geral. Destaque para a minha irmã, mãe da aniversariante, que preparou tudo, desde a decoração, como todas as guloseimas. Tudo muito bonito.

Ficamos juntos a minha querida mãe, com os filhos. Era um dengo só. Beijos e abraços de todos os presentes. Após cantar os parabéns, ela pediu para ir para casa, pois sentia-se cansada, pedido de imediato atendido. Retornei com ela e ficamos juntas até a noite.

No dia seguinte, não lembrava de mais nada …. Na sessão de Terapia Ocupacional, não lembrou absolutamente de nada, ao ser indagada pela Terapeuta. 

É um lento caminhar a um estado semiprimitivo de aprendizado.  A perda da memória faz com que se desaprenda uma série de coisas. Aos poucos, os registros de toda uma existência vão se apagando, como anotações feitas a lápis. E tudo aquilo que se tem é exatamente o instante-agora ao qual está submetido. Sem a chance de recorrer a um histórico que lhe permita tomar a decisão x ou y, ou dar andamento a um processo já iniciado.

Que doença devastadora. Rouba não somente a memória, como as expressões, o olhar, o tom da voz, o caminhar, tudo isto é afetado. É acompanhar a cada dia a minha amada mãe, desaparecendo ou, quem sabe, abrigando-se em algum universo ainda não explorado de sua mente que se torna um labirinto e as palavras deixam de formar frases, ou até mesmo meras sentenças, quando não há como resgatar lembranças da memoria.

É a vida que se segue, e nesta caminhada peço ao meu bom Deus, força, aceitação e muito amor para acompanahr a minha amada mãe em seu mundo caótico, perdido, sem vida, sem nada … apenas um grande vazio..., embora perceba o esforço , a luta de continuar conectada a quem foi um dia. E, mesmo que não consiga, isso não se perde por completo, ainda que exista apenas por um breve momento. Ou não seria vida aquilo a que chamamos a existencia de uma borboleta?

O bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas, e assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.

2 comentários:

  1. É exatamente isso! Uma perda gradual que vai tirando de nós o ente querido em vida, e deles, a essência. O mais cruel dessa doença é acompanhar impotentes, a morte da consciência de alguém a quem tanto amamos. Força e fé para vc!!

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