terça-feira, 29 de julho de 2014

ASPECTOS EMOCIONAIS DO ENVELHECIMENTO



Ao nascer o ser humano está completamente indefeso e desamparado. Necessita completamente dos cuidados de um outro ser, da mãe para cuidá-lo, alimentá-lo e ir aos poucos apresentando-lhe o mundo.  Podemos dizer que é através do amor que recebe da mãe, de seu investimento e de sua dedicação que a criança vai descobrindo as possibilidades de interagir com o mundo, e vai aprendendo e desenvolvendo habilidades. A infância é o período em que o ser humano mais se desenvolve, mais aprende e a etapa responsável pelos modelos de relacionamento que o adulto vai experimentar. 

Na infância a criança experimenta nas brincadeiras, nos jogos sua relação com o mundo, suas dúvidas e questões fundamentais que acompanham o ser humano por toda vida: quem sou eu? O que sou para o outro? De onde vim? Para onde vou? A infância permanece o paraíso perdido para onde sempre se volta nos momentos difíceis, nos momentos de perda e que fica cada vez mais perto com o avançar da idade, como nos mostra de maneira tocante o poema de Manuel Bandeira.


"Espelho, amigo verdadeiro, 

Tu refletes as minhas rugas
Os meus cabelos brancos
Os meus olhos míopes e cansados. 
Espelho, amigo verdadeiro, 
Mestre do realismo exato e minucioso, 
Obrigado, obrigado! 
Mas se fosses mágico, 
Penetrarias até ao fundo desse homem triste,
descobririas o menino que sustenta esse homem, 
O menino que não quer morrer, 
Que não morrerá senão comigo, 
O menino que todos os anos na véspera do Natal,
pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta". 

Manuel Bandeira

Depois vem a adolescência, a vida adulta, a maturidade, a velhice e por fim a morte. Falar da velhice suscita sempre um certo desconforto. Talvez decorra da conjunção entre idade cronológica e a exposição à morte. Quanto mais se vive mais se aproxima da morte. Com o passar do tempo a vivência de fragilidade do corpo se acentua bem como aumentam na velhice as experiências de perdas. Quem viveu muito experimentou também muitos lutos: pais, parentes queridos, amigos, trabalho, bens materiais. Falar da velhice incomoda porque expõe o limite ao qual todos nós somos submetidos. Nossa vida é transitória e tem um tempo para existir. 

Velhice e longevidade 
A questão do envelhecimento e da longevidade humana é algo que já se fazia presente na mais remota história. Seja na busca pela fórmula da eterna juventude associada à felicidade plena, ou como preocupação constante do homem em todos os tempos. A imortalidade e a eterna juventude são sonhos míticos da espécie humana. A procura da fonte da juventude é assunto desde os mais antigos escritos. Por isso falar da velhice incomoda.
E também desacomoda muitos restos. Quantos projetos e sonhos foram relegados, deixados à espera de um tempo propício e de repente se percebe que talvez não possam mais ser retomados. Falar da velhice desacomoda a ideia de imutabilidade, desacomoda os ideais e as certezas nas quais todo sujeito se reconhece. A velhice é um momento marcado pela vivência da finitude, em que a fantasia de eternidade encontra um limite. Na juventude e idade adulta, tem-se a ilusão de um tempo indefinido para se obter o que se deseja.

Tal ilusão altera-se com a velhice. É interessante apontar na velhice os futuros sonhados e não cumpridos e que nessa etapa perderam a possibilidade de realização. Essa constatação surge diante do encontro com o irremediável: menopausa, mudança no desempenho corporal, aposentadoria e esclarecem muitos casos de depressão na velhice. 

A condenação à morte está lá, presente, desde o nascimento. Acaba-se por esquecê-la. A velhice nada tem a ver com a idade cronológica. É um estado de espírito. Existem velhos de 20 anos, jovens de 90. É uma questão de generosidade de coração, mas também de guardar em si uma certa dose de cumplicidade com a criança que se foi.” No nosso inconsciente temos dificuldade de lidar com a velhice. O velho é sempre o outro no qual nós não nos reconhecemos. 

O sujeito vê o seu envelhecimento pelo olhar do Outro, ou ele se vê velho pelo olhar que o Outro lhe devolve. Não existe para o sujeito algo palpável sinalizando sua velhice, pois “velho” é sempre o Outro (Outro com maiúscula, simbolizando a cultura, o conjunto dos outros semelhantes). É possível justapor a tese de um sujeito que não envelhece e desconhece o tempo – o atemporal do inconsciente - com aquilo que envelhece e se modifica no decurso do tempo e que impõe ao sujeito a criação de novas formas de atualizar seu passado, e enlaçá-lo ao futuro sempre possível de ser preparado e antecipado ainda que a relação do idoso com o tempo se caracterize por um encurtamento do futuro. Ao contrário dos jovens, o sujeito idoso tem uma longa vida às suas costas e esperanças limitadas à sua frente. 

Daí se percebe em alguns a atenção mais concentrada no passado e uma notável desesperança nos projetos futuros. Vemos muitos idosos atualizarem seu passado pelas lembranças: contam e recontam passagens nas quais se sentem escrevendo a sua história. Reviver o passado é uma via importante pela qual sustentam os investimentos na vida. O problema é quando se torna a única via de realização, cortando os investimentos no presente. O equilíbrio psíquico do idoso depende da capacidade de conjunção de sua existência passada com o presente considerando as condições e possibilidades que o cercam.

Envelhecimento 
O envelhecimento, em termos gerais, é definido como um processo que acompanha o organismo do nascimento até a morte. A velhice é um momento específico dentro desse processo marcado pelo modificação do funcionamento de diversas funções, bem como intensificando algumas dificuldades, não implicando no entanto, em acréscimo de doenças. A gerontologia distingue senescência e senilidade. Senescência é um processo fisiológico inelutável do organismo que acarreta modificações precisas associadas a uma redução de todas as funções sem provocar doenças. Senilidade refere-se a patologias do envelhecimento.

Há modificações que se aceleram a partir de determinada idade e que podem se expressar sob diferentes maneiras nas funções do organismo ( respiratória, circulatória, etc) bem como na imagem: rugas, cabelos brancos, flacidez, etc. Convém ressaltar que muitas doenças tidas como próprias da velhice como Alzheimer, não são efetivamente doenças que prevaleçam em idosos. Alguns autores assinalam que a dificuldade encontrada em realizar o luto das perdas, a dificuldade com a imagem na qual não se reconhece, o isolamento e a restrição dos laços sociais, a falta de investimento libidinal podem ser fatores importantes na constituição do Alzheimer.

O sujeito precipita-se numa espécie de autodestruição que toma, paulatinamente, a forma de uma morte por meio de infindáveis doenças. O sujeito escolhe, ainda que sem o saber, uma morte em vida, paradoxalmente por temor da morte. Velhice e cultura A velhice é determinada em cada época e em cada cultura de forma diferenciada. As palavras que usamos para referi-la provocam efeitos sobre os sujeitos. A velhice é portanto um efeito de nossa fala. A velhice enquanto categoria social não diz nada a respeito de cada sujeito. Quando começamos a envelhecer? Há consenso de que a idade cronológica é muito imprecisa para se determinar a velhice.

Em algumas categorias esportivas, por exemplo, se fala de velhice aos 30 anos. Não se pode, todavia desconsiderar o tempo que passa. As possibilidades de investir em projetos, em objetos, não são as mesmas com o passar do tempo. Muitos dos projetos tornam-se inviáveis a partir de determinada idade e o luto do que poderia ter sido ou do que se foi tem de ser realizado, impondo novas respostas ao sujeito. Entra-se na velhice, idéia compartilhada por muitos autores, quando se perde o desejo.Se a idade cronológica, as marcas corporais, as doenças são demasiadas imprecisas para se definir a velhice, não se pode desconhecer que o tempo impõe seus efeitos. 

A velhice provoca uma alteração importante no narcisismo, na auto-estima e portanto, um sentimento de desvalorização. Algumas sociedades segregam os idosos, aumentando o sentimento de desvalorização. Há, entretanto outras culturas em que os idosos têm um lugar social importante. Nas sociedades pré-modernas os idosos gozavam de prestígio e eram respeitados pelos demais em sua autoridade e sabedoria. Eram responsáveis pela transmissão da experiência acumulada, das tradições culturais. A sabedoria crescia com o passar dos anos e os mais velhos exerciam ainda o papel religioso, pois faziam a mediação entre o mundo dos vivos e dos mortos.

Com o processo de modernização, a industrialização trouxe o afastamento dos velhos do mundo produtivo cujo saber não eram mais adequado às exigências do mundo industrial que se voltava para o jovem escolarizado. Onde existe, porém uma suposição de saber do idoso, existe um tratamento respeitoso do mesmo. O Papa João Paulo II, no ano de 1999 (Ano Internacional do Idoso), escreveu uma carta aos anciãos, afirmando que estes ajudam a contemplar os acontecimentos terrenos com mais sabedoria, porque as vicissitudes os tornaram mais experientes e amadurecidos. Eles são guardiões da memória coletiva e, por isso, intérpretes privilegiados daquele conjunto de ideais e valores humanos que mantêm e guiam a convivência social. 

Lidando com o envelhecimento 
Cada sujeito envelhece a seu modo, com as singularidades que carrega e que acabam ficando mais marcantes com o transcurso do tempo. Se os acontecimentos existenciais eram sentidos com dificuldade ou sofrimento na idade adulta ou jovem, quando as condições de vida eram mais satisfatórias e atraentes e a própria fisiologia era mais favorável, no envelhecimento, quando as circunstâncias concorrem naturalmente para um decréscimo na qualidade geral de vida, a existência será mais conflituosa. Quando a velhice vem acompanhada de doenças, de limitações, É o momento em que aparece o grave problema de comprometimento de uma existência autônoma.

O sujeito já não se pode cuidar, não pode portanto ter uma vida independente. O idoso doente, ainda que não fale, percebe nos cuidados, a realidade que lhe é propiciada, e que faz surgir nele uma dimensão tranquilizadora ou de desamparo. Todos os “pequenos nadas” que dão à vida seu sal constituem uma dimensão essencial: um olhar, uma palavra amiga, um gesto de carinho, uma pequena atenção. O que mantém vivo, “com vida”, um idoso fragilizado é a afeição, a ternura, o aconchego no qual possa haver a presença de alguém que o reconheça, que o escute, que o acolha. 

O cuidar vai além do atendimento às necessidades básicas do sujeito no momento em que ele está fragilizado, é um exercício de respeito, de amor e compaixão Dalai Lama, líder espiritual dos budistas, ganhador do Premio Nobel da Paz, define a compaixão como uma atitude mental baseada no desejo de que os outros se livrem do sofrimento, e que está associada a uma sensação de compromisso, responsabilidade e respeito com o outro.  

O medo de envelhecer está presente para todos, como a dor de existir. Mas podemos lidar melhor com ele, podemos aprender. Experimentando a serenidade interior com o que temos, a gratidão pelas coisas que nos cercam e nos propiciam alegria e bem-estar, valorizando as emoções positivas que são benéficas. Em suma, vivenciando a atitude infantil de contentamento, de desejo, que traz um sabor novo à vida. (Helena Maria Galvão Albino, psicóloga clínica)
http://amigosdofreud.blogspot.com.br/

domingo, 27 de julho de 2014

MAIS UM NA MULTIDÃO - ERASMO CARLOS E MARISA MONTE


Guarde segredo

Que te quero
E conte
Os seus prá mim
Faça de mim
O seu brinquedo
Você é meu enrêdo
Vem prá cá...


Te quero

Hum! Te espero
Não, não vai passar
O amor não tarda
Está...


Você pensa em mim

Eu penso em você
Eu tento dormir
Você tenta esquecer
Longe do seu ninho
Meu andar caminho
Deixo onde passo
Os meus pés no chão
Sou mais um na multidão...


O mar de sol

No leito do lar
E nem um rio
Pode apagar
O amor é fogo
E ferve queimando
Estou ferido agora
E sigo te amando
Você pode acreditar...


A mesma carta

O mesmo verbo
Em sonho só viver
Prá ti
Quem tem a chave
Do mistério
Não teme tanto o mêdo
De amar...


Me cego

Te enxergo
Não vai passar
O amor não tarda
Está...


Te quero

Hum! Hum! Te espero
Não vai passar
O amor não tarda
Está...


Você pensa em mim

Eu penso em você
Eu tento dormir
Você tenta esquecer
Longe do seu ninho
Meu andar caminho
Deixo o óbvio e faço
Os meus pés no chão...


Sou mais um na multidão

Sou mais um na multidão
Sou mais um na multidão
Sou mais um na multidão
Sou mais um
Eu sou mais um na multidão
Sou mais um na multidão
Sou mais um na multidão...

DOENÇA DE ALZHEIMER : EVOLUÇÃO CLÍNICA E OS DIFERENTES ESTÁGIOS DA PINTURA DO ARTISTA CAROLUS HORN

Doença de Alzheimer e seus aspectos neuropsicológicos

Carolus Horn-pintor  que  desenvolveu a demência demência do tipo Alzheimer: sua pintura se modifica com a evolução da doença
Carolus Horn-pintor que desenvolveu a demência do tipo Alzheimer: sua pintura se modifica com a evolução da doença

O que é a Doença de Alzheimer?
A Doença de Alzheimer (DA) é a principal causa de demência, e é responsável por mais de 80% dos casos de demência após os 65 anos de idade. Descrita por Alois Alzheimer em 1906, representa atualmente a sétima causa de morte nos Estados Unidos. Era considerada uma forma rara de demência até o início da década de 1970, por ser diagnosticada apenas em casos de demência pré-senis (antes dos 65 anos de idade). Atualmente sabemos que essa doença é mais freqüente após os 65 anos e que o principal fator de risco é a idade.

Em cerca de 5% dos casos, a doença tem herança autossômica dominante, sendo na maioria das vezes de ocorrência esporádica. Além da idade, outros fatores de risco para a DA são sexo feminino, história familiar de DA em parentes de primeiro grau, história de traumatismo cranioencefálico e presença do alelo E4 da apolipoproteína E.

A DA é uma doença degenerativa, sem fator etiológico determinado. Os principais achados anatomopatológicos são as placas amilóides, depósitos insolúveis de proteína beta-amilóide, e os emaranhados neurofibrilares, constituídos por proteína tau fosforilada. O diagnóstico pós-mortem é determinado pela distribuição e densidade desses achados. Outras características patológicas são perda neuronal, diminuição da densidade sináptica e gliose.

Existem várias teorias que procuram explicar a causa da doença de Alzheimer, mas os fatores de risco de maior evidência são a idade e fatores hereditários. Isto não significa que se trata de uma doença genética, ou familiar num sentido restrito, mas que fatores genéticos podem aumentar a predisposição em relação à população geral.

As alterações mais precoces ocorrem em estruturas do sistema límbico, como hipocampo, córtex entorrinal e transentorrinal, núcleo basal de Meynert, amígdala e o córtex têmporo-polar. Posteriormente há acometimento dos córtex associativos parietal e frontal, e, no estágios avançados da doença, comprometimento de áreas sensitivo-motoras primárias.

Ocorre perda de neurônios colinérgicos do núcleo basal de Meynert precocemente na DA, que é responsável pela perda de inervação colinérgica cortical. Esse é um dos mecanismos fisiopatológicos da doença, e o principal alvo terapêutico até o momento. Outros mecanismos fisiopatológicos envolvidos na DA são inflamação e estresse oxidativo.

aferências colinérgicas do núcleo basal de Meynert para
aferências colinérgicas do núcleo basal de Meynert para o córtex frontal, córtex de associação e para o hipocampo


A DA ocorre de forma insidiosa e com progressão lenta dos sintomas. A sobrevida de doença pode chegar a 20 anos, mas é em média de oito anos. A principal e mais precoce característica clínica da DA é o déficit de memória. O paciente tem dificuldade em memorizar novas informações, experiências e eventos recentes. Dificuldade em nomear é comum e o paciente torna-se repetitivo. Os sintomas podem flutuar em intensidade, e a presença de anosognosia (incapacidade de reconhecimento da doença pelo paciente) é comum. No início do quadro, como o déficit de memória é leve, as atividades do dia-a-dia ainda podem ser realizadas com relativa independência. O paciente realiza atividades como dirigir, cuidar da casa, fazer compras e participar de eventos sociais, porém de forma mais ineficiente e com menos interesse.

Nos estágios intermediários, associam-se ao déficit de memória déficits mais intensos nos outros domínios cognitivos, como linguagem, praxia, atenção, funções executivas e orientação espacial. A afasia na DA geralmente é fluente. O paciente torna-se mais dependente para suas atividades, necessitando de ajuda para dirigir, cuidar da casa, pagar contas, e pode apresentar também dificuldade nas atividades de cuidado pessoal.

Nesta fase, as alterações do ciclo sono-vigília são comuns, podendo haver piora dos sintomas cognitivos e comportamentais ao entardecer (fenômeno do pôr-do-sol). Os sintomas psiquiátricos são comuns, e é freqüente a presença de delírios. Os mais comuns são delírios de ciúmes (do cônjuge) e de roubo (ao tentar encontrar objeto guardado em local não usual). O paciente também pode apresentar alucinações, agitação, apatia e sintomas depressivos. A necessidade de cuidados de terceiros é crescente.

No estágio final da doença, o indivíduo é totalmente dependente. Há incontinência vesical e fecal, incapacidade de reconhecer os familiares, dificuldade em alimentar-se e locomover-se. Todas as funções cognitivas e comportamentais são afetadas com a evolução da doença. Mais tardiamente, há comprometimento extrapiramidal, com ocorrência de mioclonias, rigidez, e instabilidade à marcha. Progressivamente, o indivíduo perde a capacidade de andar e fica restrito ao leito nas fases mais avançadas. A morte ocorre por complicações cardiopulmonares ou por infecção.

O exame neurológico é normal no início da doença; pode haver apraxia leve (perda da habilidade para executar movimentos e gestos precisos). Com a evolução do quadro, sinais extrapiramidais podem ser encontrados e o quadro apráxico se intensifica.

O diagnóstico da DA é feito a partir de história clínica e exame neurológico sugestivos. O diagnóstico clínico tem acurácia de 90%. Exames complementares devem ser solicitados conforme sugerido previamente, de forma a afastar causas de demência secundária a outras doenças clínicas ou neurológicas.

RMN-craniana-corte-coronal-mostrando-atrofia-cortical-generalizada-estágio avançado da demência do tipo Alzheimer
RMN-craniana-corte-coronal-mostrando-atrofia-cortical-generalizada-estágio avançado da demência do tipo Alzheimer

Os exames de neuroimagem estrutural (TC e RM) freqüentemente são normais em estágios iniciais da doença. A atrofia hipocampal evidente ao exame de RM pode estar presente já em fase inicial. Com a evolução da doença, a atrofia hipocampal torna-se mais evidente, e associa-se atrofia cortical com a evolução do quadro.

RMN craniana corte axial, mostrnado atrofia de predomínio temporal medial no decorrer da evolução da doença
RMN craniana corte axial, mostrando atrofia de predomínio temporal medial no decorrer da evolução da doença

Os exames funcionais (SPECT e PET) não são solicitados rotineiramente para o diagnóstico de DA, estando seu uso restrito a casos em que há dúvida diagnóstica após a investigação inicial. Nos casos de DA, a alteração mais freqüentemente encontrada é o hipometabolismo ou hipofluxo em região têmporo-parietal bilateral.

corte coronal do cérebro
corte coronal do cérebro

 As dosagens de proteína tau fosforilada e de proteína beta-amilóide no LCR têm sido estudadas para o diagnóstico de DA e podem ter utilidade clínica para o diagnóstico de DA inicial no futuro.

emaranhados neurofibrilares
emaranhados neurofibrilares

Acúmulo extra-celular de proteína beta-amilóide
Acúmulo extra-celular de proteína beta-amilóide

A DA não tem tratamento específico. Os sintomas cognitivos são tratados com inibidores da acetilcolinesterase e memantina. Os inibidores da acetilcolinesterase (donepezil, galantamina e rivastigmina) constituem o tratamento inicial da doença. Representam a primeira linha terapêutica nos casos leves e moderados da doença. Nos casos moderados, a memantina deve ser associada ao tratamento inicial, e nos casos graves deve ser utilizada como monoterapia, embora estudos recentes apontem para a continuidade do uso dos inibidores da acetilcolinesterase nessa fase.

Os sintomas neuropsiquiátricos são tratados inicialmente com medidas não farmacológicas. As medicações utilizadas para o tratamento desses sintomas são inibidores da acetilcolinesterase, antidepressivos, estabilizadores de humor ou neurolépticos, a depender da qualidade e gravidade. Todos os estudos publicados até o momento mostram eficácia mínima ou duvidosa para o tratamento desses sintomas.

Aspectos neuropsicológicos:

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Perda de memória
A perda de memória pode ter consequências na vida diária, de muitas maneiras, conduzindo a problemas de comunicação, riscos de segurança e problemas de comportamento. É importante considerar os diferentes tipos de memória para compreender como a memória é afetada pela demência.

Memória Episódica
É a memória que as pessoas têm de episódios da sua vida, passando do mais mundano ao mais pessoalmente significativo. Dentro da memória episódica, existem memórias classificadas de curto termo (as que ocorreram na última hora), e as classificadas de longo termo (as que ocorreram há mais de uma hora). As pessoas com a doença de Alzheimer, no princípio da doença, parecem não ter dificuldades em lembrar acontecimentos distantes, mas podem esquecer, por exemplo, o que fizeram cinco minutos antes. As lembranças de acontecimentos antigos, apesar de não serem muito afetadas,tendem a interferir com atividades atuais. Isto pode resultar em que a pessoa execute rotinas do passado, que já não têm mais importância.

Memória semântica
Esta categoria abrange a memória do significado das palavras, como por ex. uma flor ou um cão. Diferentemente da memória episódica, não é pessoal, mas bastante comum a todos os que falam a mesma língua. É a partilha do significado de uma palavra que possibilita às pessoas manterem conversas com significado. Uma vez que as memórias episódica e semântica não estão localizadas no mesmo sítio do cérebro, uma pode ser afetada e a outra não.

Memória de procedimento
Esta é a memória de como conduzir os nossos actos, quer física como mentalmente, por exemplo,como usar uma faca e um garfo, ou jogar xadrez. A perda da memória de procedimento pode resultar em dificuldades em efectuar rotinas, tais como vestir, lavar e cozinhar. Isto inclui coisas que se tornaram automáticas. Por esta razão, alguns pacientes que têm dificuldades em lembrar-se das suas palavras, ainda conseguem cantar razoavelmente bem. A sua memória de procedimento ainda se encontra intacta, enquanto a sua memória semântica (o significado das palavras) se deteriorou.

A Síndrome Apraxico/Afasico/Agnosica
Conceitos prévios:

1.Apraxia: É o termo usado para descrever a incapacidade para efetuar movimentos voluntários e propositados, apesar do fato da força muscular, da sensibilidade e da coordenação estarem intactas. Em termos correntes, isto pode implicar a incapacidade abrir uma torneira, abotoar botões ou ligar o rádio.

2.Afasia: O termo utilizado para descrever a dificuldade ou perda de capacidade para falar, ou compreender a linguagem falada, escrita ou gestual, em resultado duma lesão do respectivo centro nervoso. Isto pode revelar-se de várias formas. Pode implicar a substituição de uma palavra que esteja associada pelo significado (por exemplo, tempo, em vez de relógio), empregando a palavra errada, mas que soe de modo familiar (por exemplo, barco em vez de marco), ou usar uma palavra completamente diferente, sem relação aparente. O resultado, quando acompanhado de ecolalia (a repetição involuntária de palavras ou frases ditas por outra pessoa), e pela repetição constante de uma palavra ou frase, pode ser uma forma de discurso que é difícil, aos outros, de compreender ou uma espécie de calão.

3.Agnosia: É o termo utilizado para descrever a perda de capacidade para reconhecer o que são os objetos,e para que servem. Por exemplo, uma pessoa com agnosia pode tentar usar um garfo em vez de uma colher, um sapato em vez de uma chávena, ou uma faca em vez de um lápis. No que diz respeito às pessoas, pode implicar não as reconhecer, sem que isso se deva à perda de memória, mas como resultado do cérebro que não funciona para identificar uma pessoa com base na informação veiculada pelos olhos.

Comunicação

As pessoas com a doença de Alzheimer têm dificuldades na emissão e na compreensão da linguagem, o que, por sua vez, leva a outros problemas. Muitos pacientes também perdem a capacidade para ler e a capacidade de interpretar sinais.

Mudança de personalidade
As pessoas com a doença de Alzheimer podem comportar-se totalmente sem caráter. Uma pessoa que tenha sido sempre calma, educada e afável pode comportar-se de uma forma agressiva e doentia. São comuns as mudanças bruscas e frequentes de humor.

Comportamento
Um sintoma comum da doença de Alzheimer é a deambulação, tanto de dia como de noite. Existe um número de possíveis razões para este facto, mas devido a problemas de comunicação, é muitas vezes impossível descobrir quais são. Outros sintomas que afetam o comportamento são: a incontinência, o comportamento agressivo, e desorientação no tempo e no espaço.

Mudanças físicas
A perda de peso pode ocorrer mesmo quando se mantém a ingestão da quantidade usual de alimentos. Também pode acontecer por se esquecerem de mastigar ou de engolir, em particular nos últimos estádios da doença. Uma outra consequência da doença de Alzheimer é a redução da massa muscular, e uma vez acamados, surge o problema das escaras de decúbito. À medida que as pessoas

Mudança de personalidade
As pessoas com a doença de Alzheimer podem comportar-se totalmente sem caráter. Uma pessoa que tenha sido sempre calma, educada e afável pode comportar-se de uma forma agressiva e doentia. São comuns as mudanças bruscas e frequentes de humor.


Comportamento
Um sintoma comum da doença de Alzheimer é a deambulação, tanto de dia como de noite. Existe um número de possíveis razões para este fato, mas devido a problemas de comunicação, é muitas vezes impossível descobrir quais são. Outros sintomas que afetam o comportamento são: a incontinência, o comportamento agressivo, e desorientação no tempo e no espaço.

Mudanças físicas
A perda de peso pode ocorrer mesmo quando se mantém a ingestão da quantidade usual de alimentos. Também pode acontecer por se esquecerem de mastigar ou de engolir, em particular nos últimos estágios da doença. Uma outra consequência da doença de Alzheimer é a redução da massa muscular, e uma vez acamados, surge o problema das escaras de decúbito. À medida que as pessoas envelhecem, a sua vulnerabilidade para infecções aumenta. Em consequência disso, muitas pessoas
com a doença de Alzheimer morrem com pneumonia.

Reconhecemos três fases na evolução da doença de Alzheimer, onde os idosos manifestam determinadas características comuns:

Fase inicial:
Sem dúvida, é a mais crítica das fases, uma vez que determinados sintomas iniciais são indulgentemente suportados e explicados pelos familiares como “parte  do processo natural do envelhecimento” e dessa forma subvalorizados, protelando-se a investigação diagnóstica. É consenso que, se bem que não haja tratamento curativo para a doença de Alzheimer, o diagnóstico precoce é fundamental no  retardamento do aparecimento de complicações e na instituição imediata da terapêutica farmacológica disponível.

É, portanto, de vital importância que os sintomas iniciais sejam valorizados, na tentativa de se estabelecer um diagnóstico de probabilidade o mais precocemente possível, o que infelizmente não é o observado na prática diária. O começo das alterações é lento e o paciente, especialmente os de bom nível intelectual e social, adaptam-se a determinadas deficiências com alguma facilidade fazendo com que não se perceba ou não se valorizem demais determinadas alterações. A intimidade do dia-a-dia, a vida atribulada das grandes cidades, entre outros fatores, especialmente as de origem sócio-cultural, colaboram com a aceitação pelos familiares de determinadas perdas e alterações comportamentais, especialmente quando se trata de pacientes idosos.

A primeira e mais característica marca do início da doença está relacionada com o comprometimento da memória recente ou de fixação.  Essas alterações não são constantes e se apresentam como falhas esporádicas de memória que se repetem com freqüência variável, sem constância. Nesta fase, também iniciam-se os episódios de desorientação espacial, especialmente em lugares desconhecidos podendo também ocorrer alterações na orientação temporal. Todas essas alterações, no entanto, como não se repetem com freqüência preocupante, são entendidas como fato natural, em virtude do avanço da idade, nervosismo e outras desculpas relacionadas com o cotidiano. As alterações comportamentais costumam acompanhar essa evolução e, lenta e gradualmente, vai havendo uma mudança no padrão habitual de comportamento.

Dois grupos de comportamento são bastante conhecidos, um pela apatia, passividade e desinteresse e outro onde a irritabilidade, egoísmo, intolerância e agressividade são características. Indivíduos gentis tornam-se rudes e agressivos, egoístas e obstinados, desagradáveis e inflexíveis. Nos casos onde a apatia é predominante, é imprescindível que se faça um diagnóstico diferencial com depressão (pseudodemência) e com a doença de Pick.

Costuma-se dizer que a doença de Alzheimer enfatiza as características da personalidade prévia, especialmente as negativas. A associação freqüente de sintomas depressivos com a doença de Alzheimer está comprovada. As alterações da memória e da orientação espacial causam estados depressivos que se manifestam por apatia e desinteresse pelas tarefas e atividades até então normalmente desempenhadas e inseridas no cotidiano recente. Essa alteração do estado de ânimo tem sido associada com a percepção que o indivíduo tem de suas dificuldades, que tendem a se agravar, nunca apresentando melhora.

O tratamento medicamentoso da depressão melhora substancialmente o quadro demencial. Os sintomas mais marcantes dos estados depressivos são a apatia ou agitação, alteração do sono com insônia e inapetência. A hipocondria também se agrava. Passam a valorizar mais o seu próprio corpo e fazem uma verdadeira peregrinação pelos consultórios, com queixas vagas e inconsistentes.

As alterações de comportamento e conduta costumam ser desencadeadas por algum fato concreto. Esse fato pode estar ligado ao ambiente, mudanças bruscas de costumes e situações estressantes. Como resposta a esses estímulos, os pacientes reagem desproporcionadamente com relação ao fato em si, tornam-se irrequietos, xingam, chegando até à agressão física. Essa fase é muito difícil para quem convive com o paciente pois, em virtude dos períodos de bom convívio, bom desempenho social e intelectual e aparente boa saúde física, as explosões de ânimo ou as mudanças bruscas e inexplicáveis de comportamento são altamente angustiantes. A dificuldade de comunicação também pode estar presente, com dificuldades em encontrar as palavras adequadas. A duração das frases se altera e apresentam dificuldades com a gramática. Os distúrbios do sono, com inversão de horários e as alterações com o pensamento abstrato podem se manifestar já na fase inicial, marcando uma fronteira na passagem para a fase intermediária.

Fase intermediária:  
Caracteriza-se fundamentalmente pelo agravamento dos sintomas apresentados na fase inicial. Esta fase está correlacionada com o comprometimento cortical do lobo parietal afetando as atividades instrumentais e operativas. Instala-se nesta fase as afasias (perda do poder de expressão pela fala, pela escrita ou pela sinalização ou da capacidade de compreensão da palavra escrita ou falada e sem alteração dos órgãos vocais), asapraxias (incapacidade de executar os movimentos apropriados para um determinado fim, contanto que não haja paralisia) e as agnosias (perda do poder de reconhecimento perceptivo sensorial, auditivo, visual, táctil etc.) Outra característica que marca a fase intermediária tardia  é o início das dificuldades motoras.

A marcha pode estar prejudicada, com lentificação global dos movimentos, aumento do tônus muscular, diminuição da massa muscular e conseqüentes reflexos na aparência física pelo emagrecimento. As diminuições dos movimentos dos membros superiores ao andar e instabilidade postural são as  alterações mais encontradas. As queixas de roubo de objetos e de dinheiro, total desorientação têmporo-espacial, dificuldades para reconhecer cuidadores e familiares, suspeita de conspiração para ser enviado a um asilo e o desenvolvimento de atividades totalmente desprovidas de objetivos (abulia cognitiva) são características da fase intermediária.

É comum apresentarem-se quadros de agitação e alucinações, que acometem praticamente a metade dos pacientes demenciados.A agitação psicomotora, ilusões e as alucinações relacionam-se  diretamente com o grau de severidade da demência. A repetição de frases e palavras, sem interrupção e sem nexo também costuma estar presente. As frases, via de regra, são curtas, incompreensíveis e mal construídas. Perdem nessa fase a capacidade de ler e de entender o que lhes é dito ou pedido, especialmente se recebem ordens complexas ou perguntas com opção de respostas. O paciente pode responder afirmativamente a uma pergunta do tipo: “Você quer uma maçã?”, porém encontrará dificuldade de se decidir, se for perguntado se quer uma maçã ou uma laranja. Ao invés de responder ou tentar decifrar o enigma que se apresenta para ele, costuma ignorar e continuar da mesma maneira que se comportava imediatamente antes de ser questionado.

A iniciativa está abolida ou seriamente prejudicada. O paciente não costuma perguntar ou solicitar objetos e/ou ações. O vocabulário estará na maioria das vezes limitado a poucas palavras e à medida que evolui para a fase final fica ainda mais restrito, passando a utilizar apenas as palavras básicas. Desenvolvem nessa fase grande sentimento de possessividade. A dificuldade em aceitar novas idéias ou mudanças traduz-se por agitação psicomotora e agressividade. Perdem nessa fase a capacidade de cálculo, pensamento abstrato e de julgamento. A apatia e inafetividade também se manifestam ou se agravam. A memória anterógrada também estará prejudicada, a vagância geralmente associada à confabulação (falar só) se instala.

O fato de falar só é teorizado por alguns autores como uma tentativa de manter um elo com a realidade através de algumas recordações antigas. Pode se perder, mesmo dentro de casa, uma vez que sua concentração e sua orientação no tempo e no espaço estão já a essa altura bastante prejudicadas. As tarefas solicitadas verbalmente dificilmente são atendidas. Os tremores e movimentos involuntários costumam ser observados, especialmente os tremores de extremidades e movimentos bucolinguais.
Nesta fase o paciente já se encontra em total estado de dependência, necessitando de  supervisão e cuidados diuturnos. Podem, em alguns casos, realizar determinadas tarefas extremamente simples, porém são incapazes de sobreviver sem ajuda.


Fase final:
Nesta fase a memória antiga estará bastante prejudicada e às vezes totalmente comprometida. A capacidade intelectual e a iniciativa estarão seriamente prejudicadas ou totalmente deterioradas. O estado de apatia e prostração, o confinamento ao leito ou à poltrona, a incapacidade de se expressar, quer por fala ou mímica e especialmente a incapacidade de sorrir são características desta fase. As alterações neurológicas se agravam: a rigidez aumenta consideravelmente e os movimentos estarão lentificados e por vezes estereotipados. As convulsões, assim como o aparecimento de tremores e de movimentos involuntários, também são mais freqüentes nesta fase.


A indiferença ao ambiente e a tudo que o cerca, alternadas com alto grau de agitação psicomotora e o aparecimento de incontinência urinária e fecal trazem, nesta fase, grande carga de cuidados. O paciente torna-se totalmente dependente, podendo chegar à manipulação de fezes e a coprofagia. Quando os indivíduos ainda possuem alguma reserva motora, as quedas acidentais com fraturas ocorrem com maior freqüência. Passam a não reconhecer as pessoas mais próximas e podem até mesmo não se reconhecerem quando colocados em frente ao espelho. Podem apresentar hiperfagia, aparecem as úlceras por pressão, devido a permanências no leito ou poltrona, por longos períodos de tempo, mesmo adequadamente cuidados. Invariavelmente, caminham para um estado de acamamento com suas previsíveis e temíveis complicações, marcando assim a transição para a fase terminal.

Fase Terminal:
         
Esta fase caracteriza-se por restrição ao leito/poltrona, praticamente durante todo o tempo. Acabam por adotar a posição fetal. As contraturas dos membros inferiores tornam-se inextensíveis e irrecuperáveis. Os membros superiores adotam posição fletida junto ao tórax e a cabeça pende em direção ao peito. A coluna também se flexiona e o paciente adota uma posição conhecida como paraplegia em flexão ou posição fetal. Podem surgir lesões nas palmas das mãos, por compressão destas pelos dedos flexionados; grandes úlceras por pressão, preferencialmente localizadas nas regiões trocantéricas, maléolos externos, região sacra, cotovelos, calcanhares e até mesmo nos pavilhões auriculares; incontinência urinária e fecal, total indiferença ao meio externo (só respondendo a estímulos dolorosos); mutismo e estado vegetativo.

Alimentam-se por sucção, sendo muitas vezes necessário o uso alternativo de alimentação enteral. Na metade dos casos a morte sobrevém em um ano, devido a processos infecciosos, cujos focos preferenciais são o pulmonar e o urinário. É importante ressaltar que, mesmo com os cuidados adequados, alguns pacientes acabam por atingir essa triste condição, porém é certo também que se os cuidados forem adequados isso deverá ocorrer mais tardiamente. 

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 Pintura do artista Carolus Horn (1921-1992) antes da doença de Alzheimer (Veneza)


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Pintura do artista Carolus Horn (1921-1992) na fase inicial da
doença-simplificação e mais contraste, preservação da complexidade espacial e da perspectiva.



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Pintura do artista no início da fase intermediária

Percebe-se claramente a mudança da percepção entre o real e o imaginário.As mudanças do padrão das cores, com ênfase para cores vivas, amarelo e vermelho, a despersonificação dos personagens, as nuvens agora são representdas apenas como simples desenhos ovais. Nota-se ainda há uma certa coerência na simetria do desenho da ponte.Existe uma evidente redução dos movimentos da pintura e evidente desproporção na representação dos arcos e janelas.As figuras tornam-se infantis e simples.


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Pinturas feita em estágio adiantado da fase intermediária

Nota-se um exagero de simbolismos, cores muito vivas e vibrantes, o encarceramento das figuras marcadamente infantilizadas com molduras duplas, e a representação de imagens com padrão repetido e estereotipado. É interessante registrar que o artista colecionava ícones russos e estudava arte bizantina, claramente representadas nesses símbolos arquivados em sua memória de longo prazo. Pode-se constatar a perda acentuada de todas as qualidades do artista.Desenhos infantis,cores vivas e sem nuances, praticamente não há movimento.Existe uma total desproporcionalidade demonstrando a perda da noção de espaço.A figura humana sem nenhuma expressão e os animais com faces humanóides


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Pintura feita em fase final :Usa apenas uma cor.Total desintegração viso-espacial.Regressão e simplificação extremas
(Débora Rigo: médica-VIIIa turma FCS-UFGD)
http://cienciasecognicao.org

sexta-feira, 25 de julho de 2014

ESQUECENDO DE MIM


A memória é o que há. Quem já conheceu uma pessoa que teve perda de massa encefálica, com danos na memória, sabe do que estou falando. Ou mesmo quem convive com um idoso com demência. Pois é. Sentimentos à parte, é impossível ignorar a sensação de que o que sobra, sem a memória, é uma semi-pessoa, uma prova viva da inconsistência da alma, do espírito ou do que quer que seja a nossa construção da essência do verdadeiramente humano. 


Há, claro, a possibilidade de essa essência humana sem memória ser reconstruída, mesmo que precariamente, e desta forma voltar a fazer sentido, quando tudo o que se quer é crer. Nada mais poderoso e incontestável do que a crença. Então, para esta mãe que cuida do filho sobrevivente do desastre de carro, ou para esse filho que se dedica a captar os lapsos de lucidez da mãe com Alzheimer, existe o humano sem memória. E apenas para eles.


Isso tudo me vem à mente - sempre ela - quando me pergunto por que andamos tão preocupados com a memória. Talvez, nestes tempos sem deuses nem ideologias, ela seja mesmo o que nos resta. 


Queremos escrever a nossa biografia na linha do Tempo e deixar o álbum de fotografias da nossa vida na posteridade da internet. Sentimos a urgência de lembrar e ser lembrados. E que desespero quando perdemos a memória - do computador. A ironia é que, como a memória também é feita de esquecimento e fabulações, temos tanto controle sobre ela quanto sobre a nuvem que abriga o nosso back-up.

A memória física parece ser o que nos restou, o que ainda nos faz humanos - "ainda" porque já se fala por aí no pós-humano. Esquecer é como morrer sem deixar vestígios. Por isso haja café com coca zero, alertas no Smartphone, listinhas de papel na bolsa - e que desespero não saber onde estão as chaves de casa...

Cultuamos a memória como nunca, a nossa e a dos outros. Biografias e casos reais nos ensinam a viver quando não há mais de onde tirar motivos ou esperanças: alma, deus, natureza, o novo iPhone... tudo parece tão provisório!

Precisamos desse grande arquivo da vida para nos basear, um arquivo no qual se possa acessar informações e histórias de outras vidas aos borbotões. Uma dose diária de Google e outra de Facebook para nos alimentar e também nos inserir no mundo, deixando o nosso rastro de imagem cool e conectada. 

Só que existe um problema: um belo dia, acordamos querendo esquecer. Há algo de insuportável em colecionar memórias. Principalmente nossas próprias memórias. Por mais que tenhamos inventado cuidadosamente a nossa autobiografia e recebido treinamentos intensivos nos últimos anos para deixar a modéstia e a discrição de lado, ser nós mesmos, com tanta intensidade, cansa. 

Mesmo quem lapidou um bom personagem para esta encenação narcísica atual um dia para de se divertir. Talvez porque até os borrões da auto ficção são criados por nós mesmos - este "eu" que nos persegue - a partir de experiências e expectativas que tentamos corresponder. 

É nessa hora de cansaço que dá vontade de usar aquele aparelho do filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças, que simplesmente apaga recordações. Ou de sair para comprar cigarros na esquina e nunca mais voltar. Ou de tornar-se o personagem anônimo na multidão dos livros de João Gilberto Noll.

Muita calma. Contra a saturação da memória de nós mesmos, não é preciso radicalizar tanto. Recomendam-se coisas menos irreversíveis do que caminhar a esmo na ponte Rio-Niterói à noite. 

Pode-se, por exemplo, viajar temporariamente para um lugar estrangeiro - de verdade ou por meio de um bom livro. Mas, atenção: um romance. Nunca recorra a um livro de auto-ajuda ou a qualquer produto e serviço que envolva os prefixos "auto" ou "personal". O tiro sairá pela culatra. Outra recomendação é ajudar alguém, com a expressa condição de não contar a ninguém. Tem inspiração religiosa, mas funciona. 

É bastante indicado também expor-se ao máximo a obras de arte, de preferência aquelas absolutamente resistentes a "interpretações pessoais". As melhores são as que "apenas" arrepiam a gente. 

Há quem relate bons resultados com a meditação. No entanto, pela quantidade de celebridades (celebridade = pessoa que vive do próprio narcisismo) adeptas, tenho minhas dúvidas. Nunca tentei de verdade.

De qualquer forma, penso que, na falta de drogas eficientes, deveríamos nos prescrever estas doses diárias de esquecimento de nós mesmos entre amigos e familiares. Quando minha filha era pequena, lembro de meu esforço para representar, em casa, uma propaganda de frutas tão eficiente quanto à do McDonald's: "Hummm... Nossa... Que delícia de abacaxi! Tão doce e ainda por cima é cheio de vitamina C, que ajuda a dar cambalhotas!"

Talvez, para contrabalançar tanta pressão de sermos garotos-propaganda de nós mesmos, aumentando nosso capital de convencimento na internet ou nas relações de trabalho, deveríamos trocar dicas e experiências sobre práticas de auto-esquecimento. Algo como: "Hummm... Que máximo... Foi como entrar num filme ou ser personagem de um livro. Melhor que spa! Fiquei três dias longe do Facebook e do Twitter enquanto caminhava como um estrangeiro nas ruas do centro do Rio. E sem tirar nem uma foto! Você tem que experimentar!"

Para finalizar, e antes que eu me esqueça (ops), há outra prática bem boa que descobri recentemente: escrever ficção. O único efeito colateral é a possibilidade de ser assombrado pela memória de um personagem....
(Marta Barcellos)

DEPRESSÃO - COMO LIDAR COM ELA E CAMINHAR PARA A SUPERAÇÃO?


Acredito que as pessoas que já viveram mais adquiriram uma maneira bem particular de superar as dificuldades. Quando converso com elas, vejo que suas histórias são repletas de superação. Às vezes nem elas se dão conta dos pequenos atos heroicos que tiveram para chegar até aquela idade. Recordar da sua própria força interior é um caminho bonito para afastar a tristeza. Penso que todos deveriam escrever um pouco sobre a sua vida e deixar estes escritos para serem encontrados por um tataraneto lá na frente (ele pode precisar disto um dia).

A depressão pode acontecer nesta fase? Sim. O novo pode ser assustador e gerar tristezas profundas. Buscar uma pessoa para conversar, reaproximar-se dos amigos e familiares, integrar-se na igreja, aprender algo novo e tomar uma medicação são alternativas possíveis. Isto sem contar com um exercício físico tranquilo e leituras agradáveis. Conheço pessoas que buscaram se reaproximar de Deus e conversar com Ele de forma mais madura e amistosa

A depressão gosta de nos retirar a fé. Um ser humano que perdeu a esperança é uma presa fácil para este quadro mental. Então, o que fazer? Pedir ajuda, resgatar o contato com a família, exercitar a gentileza e cuidar para que a sua presença seja luz e sabedoria para os mais jovens. Os idosos têm um papel fundamental na vida da sociedade. Eles podem ser o seio acolhedor que tanto falta para nós. O corpo até pode estar mais vagaroso, menos funcional, mas a mente não envelhece. Ela está no auge da sabedoria. Basta querer acessá-la.

Renovar a vida e criar novos objetivos tira qualquer ser humano da tristeza. É um novo desafio, afinal o show ainda não acabou. Somos preparados para a juventude e não para a velhice. Este é um erro que precisa ser corrigido. Portanto, busquemos a mágica da maturidade e a aceitação do papel a ser cumprido agora. Existem trabalhos voluntários à procura de pessoas maduras. Não podemos deixar de existir ainda existindo.

Um idoso é um guerreiro e um peregrino cheio de histórias. Mas se ele acreditar que não tem mais função no mundo, é assim que será. É preciso buscar forças e retomar a vida. Ainda há tempo para ser feliz. A depressão não é “privilégio” de nenhuma idade, ela é apenas uma condição a ser tratada e levada a sério. A família deve reintegrar o idoso, aumentar sua auto estima e cuidar dele com gratidão. O amor diário aconchega e traz sentido para a vida de qualquer deprimido.

O passado não existe mais e o futuro é apenas uma possibilidade. Viver o presente, tratando de entendê-lo como a única coisa real que temos nas mãos, é uma ótima maneira de enfrentarmos a tristeza. A morte é real para qualquer um de nós que estamos por aqui. Ficar preso a ela é perder tempo. Precisamos estar vivos neste momento. Que tal ser grato e plantar pequenas gentilezas ao longo do caminho? Acredito que os mais velhos ainda são nossos melhores exemplos. Portanto eu digo: mexam-se, assumam o controle e nos ensinem! (Fernanda Pelosi é Psicóloga Clínica, Coach e Consultora em Brasília).

segunda-feira, 21 de julho de 2014

SUTILMENTE - SKANK


E quando eu estiver triste

Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe
Ah ahn

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce...
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate (não)
Dentro de ti
Dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

Mesmo que o mundo acabe enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

sexta-feira, 18 de julho de 2014

AFASIA PROGRESSIVA PRIMÁRIA - (PPA)



Afasia Progressiva Primária (PPA) é uma forma de comprometimento cognitivo que envolve uma perda progressiva da função da linguagem. A linguagem é uma faculdade exclusivamente humana que nos permite comunicar uns com os outros através do uso de palavras. Nossas funções de linguagem incluem falar, compreender o que os outros estão dizendo, repetindo as coisas que ouvimos, nomeando objetos comuns, leitura e escrita. "Afasia" é um termo geral usado para se referir aos déficits em funções da linguagem. PPA é causada pela degeneração das partes do cérebro, que são responsáveis ​​pela fala e da linguagem.

PPA começa muito gradualmente e, inicialmente, é experimentada como dificuldade de pensar em palavras comuns ao falar ou escrever. PPA piora progressivamente para o ponto onde a comunicação verbal por qualquer meio é muito difícil. A capacidade de compreender o que os outros estão dizendo ou o que está sendo lido também declina. Nos estágios iniciais, a memória, o raciocínio ea percepção visual não são afetados pela doença e assim por indivíduos com PPA são capazes de funcionar normalmente em muitos rotina atividades de vida diária, apesar da afasia. No entanto, como a doença progride, outras habilidades mentais também podem declinar.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

UM ALEMÃO DOENTE E DEVASTADOR


Não, eu não estou me referindo a Hitler e ao nazismo durante a Segunda Guerra Mundial, quando países foram invadidos e destruídos, milhões de pessoas foram assassinadas, e o horror do Holocausto, onde judeus foram mortos por carrascos nazistas, autores do maior crime já cometido contra a humanidade.  

Estou me referindo a um “ alemão”  degenerativo,  de nome Alzheimer que toma conta das pessoas tirando delas as suas lembranças do presente, “ roubando sua mente e partindo o coração da família” .

 Essa doença recebeu esse nome devido ao neuropatologista alemão, Alois Alzheimer, descobridor de lesões no cérebro de uma mulher.

  No mês de setembro, mas precisamente no dia 21, a Lei n° 11.736 instituiu o  Dia Mundial da Doença de Alzheimer, com o objetivo de conscientização , união e busca de estratégias para lidar com a demência.

 Cuidei de minha mãe portadora dessa doença, durante 15 anos e venho oferecer uma palavra amiga e um pouco da minha experiência para quem ama seus familiares ou amigos portadores de DA ( Doença de Alzheimer).

 Minha mãe  era uma mulher dinâmica, comunicativa, caridosa e apesar de sua pouca escolaridade, era sábia como todas as mães, tinha fome de informação e um sorriso espontâneo, sincero e bondoso.

 Quando esse “ alemão” invadiu sua vida , fui surpreendida pelas mudanças em seu comportamento e na rotina diária. Antes de procurar ajuda médica, eu era uma alegre ignorante no assunto, até brincava quando ela esquecia o meu nome e passava a me chamar de “ coisinha” .

 Até que o diagnóstico médico caiu como uma bomba: demência. E pelos sintomas seria a demência de Alzheimer. Só lembrava das pessoas e acontecimentos do passado. Tinha delírios, descuidava da higiene, ficou um tanto agressiva, chorava muito, não reconhecia as pessoas da família, etc. Como se não bastasse, ela ainda foi acometida mais tarde por um AVC.

  À princípio fiquei à deriva, minha vida entrou num caos. O que fazer? Como lidar com essa situação?

 Através de explicações dos médicos, de manuais e matérias disponíveis pela imprensa, como também da experiência de outras pessoas, aprendi que a DA tem vários estágios que podem durar anos e que “conquista” aos poucos seus pacientes. Assim, fui encontrando os meios e os instrumentos necessários para lidar com esse desafio.

 Com o passar do tempo, percebi que cuidar de uma pessoa, com esse tipo de demência é física e mentalmente esgotante. Nada pode ser programado além da necessidade de estar presente, à sua mão e ir assistindo impotente o Alzheimer ir afastando lentamente uma pessoa tão querida do mundo real. É como se a pessoa fosse morrendo a “ conta-gotas”.

Não sei o que foi mais doloroso, triste e complicado: a minha incapacidade de cuidar de minha mãe devido aos seus altos e baixos nos primeiros estágios ou depois , assistindo a degradação de um ser humano nessa fase de quase vegetação.Foi uma sensação de impotência e até de revolta que senti no início, ao perceber que estava perdendo a minha mãe tal como sempre a conheci.

 Foram momentos difíceis e marcantes. Como tirá-la de sua casa para trazer para a minha e separá-la de meu pai, já idoso, doente, mas consciente, sem condições de arcar com a responsabilidade e o peso de conviver com tal doença?

  Sempre foram muito unidos e, lembro-me emocionada do seu olhar de dor e ao mesmo tempo de compreensão. Mesmo sofrendo, apoiou minha decisão, pois sabia que era o melhor a fazer.

No entanto, enquanto viveu, nunca deixou  minha mãe um só dia, e de mãos dadas, recitava poesias, cantava uma música antiga  ou então fazia um silêncio de apoio e cumplicidade sempre confiante numa melhora. Um grande exemplo de companheirismo, amor e união.

 Tive que realizar uma série de mudanças, primeiramente em mim, nos meus familiares, na minha casa para adaptá-la melhor, proporcionando pelo menos a dignidade a que todos tem direito no fim da vida.

Foi preciso saber como minha mãe se sentia, buscar informações de como se processam as dificuldades na comunicação para que ela não ficasse agitada , ansiosa.Procurei criar um ambiente calmo, pessoas com sintonia com ela, evitando pessoas reativas, de baixa auto-estima, que são fontes de problemas para esses doentes. Sem contar a preocupação com a violência cometida contra idosos com DA ou outras doenças que vemos no noticiário do dia-a-dia.

  Devido à longa duração da DA, torna-se difícil lidar com o afastamento de familiares e amigos ( com pequenas exceções) que não podiam, não aguentavam, não queriam ou não tinham  tempo, muitas vezes de sequer dar um telefonema, quanto mais uma visita.. E coube a mim assumir a luta de cuidadora...

 Nessa batalha, encontrei em Deus a sabedoria para cuidar de minha mãe. Jesus disse que das crianças é o reino do céu. E minha mãe virou criança de novo com essa doença de regressão. Isso, de certa forma aliviou o meu coração. Deus sabe o que faz....

Tive também pessoas maravilhosas e especiais (marido, filhos, profissionais da área de saúde, cuidadoras), que me deram um ombro amigo para que eu pudesse dividir meus medos e inseguranças e que me permitiram na medida do possível  ter vida própria

  Às vezes , batia um desâmino e com ele, a vontade de desistir de lutar.Em seu livro “ Saber Cuidar” , Leonardo Boff diz: “ tudo o que existe e vive precisa ser cuidado para continuar a existir e a viver: uma planta, um animal, uma criança, um idoso, o planeta Terra”. O cuidado faz parte da essência do ser humano.

  Aí, percebi que o cuidado deve vir acima da vontade, pois é ele que resgata a dignidade dos pacientes de DA, muitas vezes condenados à exclusão.

 Procurei também me cuidar para que eu pudesse tratar a minha mãe com mais  carinho e todo cuidado que são subjacentes a essa doença.

 Para quem passa por uma situação semelhante: não desista. Apesar de ser complicado lidar com um problema desses, temos que ser fortes e lutar, pois não existe nada mais bonito que o amor incondicional de um pai ou uma mãe por seus filhos. E, se eles fariam tudo por nós , porque não fazer por eles?

 Acho até que a DA não mata. O que mata são as doenças oportunistas, os maus tratos, o desamor.

E o melhor remédio para esse mal é sem dúvida, o amor, a dedicação e a compreensão, porque hoje são eles, amanhã poderemos ser nós.

 Quero também dizer uma palavra para aquelas pessoas que por algum motivo justo ( trabalho, finanças, família, etc), não podem cuidar de seus doentes, precisando institucionalizá-los. Não se culpem por essa atitude, sei que gostariam de fazer o melhor, mas não têm como conseguir. Então, a instituição é a melhor solução, mas o carinho, a atenção e o amor dos familiares são imprescindíveis. Se não puderem estar ao lado, procurem estar presentes de alguma forma.

 Nessa minha experiência ,  aprendi muito sobre a vida e tirei uma mensagem dessa doença: ao se lidar com o Alzheimer, o mais importante é valorizar o dia de hoje e curtir cada momento como se fora o último e o único a ser vivido.  Se minha mãe foi se retirando aos pouquinhos, restou-me mergulhar em nosso relacionamento do passado, para ter a sensação de que continuávamos juntas.

Deixo um trecho do livro Para sempre Alice, da escritora Lisa Genova: “ Meus ontens estão desaparecendo e meus amanhãs são incertos. Então, para que vivo? Vivo para cada dia. Vivo o presente. Num amanhã próximo, esquecerei que estive aqui diante de vocês e que fiz esse discurso. Mas o simples fato de eu vir a esquecê-lo num amanhã qualquer não significa que hoje eu não tenha vivido cada segundo dele. Esquecerei o hoje, mas isso não significa que o hoje não tem importância.” ( Dilene Germano)
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