domingo, 27 de julho de 2014

DOENÇA DE ALZHEIMER : EVOLUÇÃO CLÍNICA E OS DIFERENTES ESTÁGIOS DA PINTURA DO ARTISTA CAROLUS HORN

Doença de Alzheimer e seus aspectos neuropsicológicos

Carolus Horn-pintor  que  desenvolveu a demência demência do tipo Alzheimer: sua pintura se modifica com a evolução da doença
Carolus Horn-pintor que desenvolveu a demência do tipo Alzheimer: sua pintura se modifica com a evolução da doença

O que é a Doença de Alzheimer?
A Doença de Alzheimer (DA) é a principal causa de demência, e é responsável por mais de 80% dos casos de demência após os 65 anos de idade. Descrita por Alois Alzheimer em 1906, representa atualmente a sétima causa de morte nos Estados Unidos. Era considerada uma forma rara de demência até o início da década de 1970, por ser diagnosticada apenas em casos de demência pré-senis (antes dos 65 anos de idade). Atualmente sabemos que essa doença é mais freqüente após os 65 anos e que o principal fator de risco é a idade.

Em cerca de 5% dos casos, a doença tem herança autossômica dominante, sendo na maioria das vezes de ocorrência esporádica. Além da idade, outros fatores de risco para a DA são sexo feminino, história familiar de DA em parentes de primeiro grau, história de traumatismo cranioencefálico e presença do alelo E4 da apolipoproteína E.

A DA é uma doença degenerativa, sem fator etiológico determinado. Os principais achados anatomopatológicos são as placas amilóides, depósitos insolúveis de proteína beta-amilóide, e os emaranhados neurofibrilares, constituídos por proteína tau fosforilada. O diagnóstico pós-mortem é determinado pela distribuição e densidade desses achados. Outras características patológicas são perda neuronal, diminuição da densidade sináptica e gliose.

Existem várias teorias que procuram explicar a causa da doença de Alzheimer, mas os fatores de risco de maior evidência são a idade e fatores hereditários. Isto não significa que se trata de uma doença genética, ou familiar num sentido restrito, mas que fatores genéticos podem aumentar a predisposição em relação à população geral.

As alterações mais precoces ocorrem em estruturas do sistema límbico, como hipocampo, córtex entorrinal e transentorrinal, núcleo basal de Meynert, amígdala e o córtex têmporo-polar. Posteriormente há acometimento dos córtex associativos parietal e frontal, e, no estágios avançados da doença, comprometimento de áreas sensitivo-motoras primárias.

Ocorre perda de neurônios colinérgicos do núcleo basal de Meynert precocemente na DA, que é responsável pela perda de inervação colinérgica cortical. Esse é um dos mecanismos fisiopatológicos da doença, e o principal alvo terapêutico até o momento. Outros mecanismos fisiopatológicos envolvidos na DA são inflamação e estresse oxidativo.

aferências colinérgicas do núcleo basal de Meynert para
aferências colinérgicas do núcleo basal de Meynert para o córtex frontal, córtex de associação e para o hipocampo


A DA ocorre de forma insidiosa e com progressão lenta dos sintomas. A sobrevida de doença pode chegar a 20 anos, mas é em média de oito anos. A principal e mais precoce característica clínica da DA é o déficit de memória. O paciente tem dificuldade em memorizar novas informações, experiências e eventos recentes. Dificuldade em nomear é comum e o paciente torna-se repetitivo. Os sintomas podem flutuar em intensidade, e a presença de anosognosia (incapacidade de reconhecimento da doença pelo paciente) é comum. No início do quadro, como o déficit de memória é leve, as atividades do dia-a-dia ainda podem ser realizadas com relativa independência. O paciente realiza atividades como dirigir, cuidar da casa, fazer compras e participar de eventos sociais, porém de forma mais ineficiente e com menos interesse.

Nos estágios intermediários, associam-se ao déficit de memória déficits mais intensos nos outros domínios cognitivos, como linguagem, praxia, atenção, funções executivas e orientação espacial. A afasia na DA geralmente é fluente. O paciente torna-se mais dependente para suas atividades, necessitando de ajuda para dirigir, cuidar da casa, pagar contas, e pode apresentar também dificuldade nas atividades de cuidado pessoal.

Nesta fase, as alterações do ciclo sono-vigília são comuns, podendo haver piora dos sintomas cognitivos e comportamentais ao entardecer (fenômeno do pôr-do-sol). Os sintomas psiquiátricos são comuns, e é freqüente a presença de delírios. Os mais comuns são delírios de ciúmes (do cônjuge) e de roubo (ao tentar encontrar objeto guardado em local não usual). O paciente também pode apresentar alucinações, agitação, apatia e sintomas depressivos. A necessidade de cuidados de terceiros é crescente.

No estágio final da doença, o indivíduo é totalmente dependente. Há incontinência vesical e fecal, incapacidade de reconhecer os familiares, dificuldade em alimentar-se e locomover-se. Todas as funções cognitivas e comportamentais são afetadas com a evolução da doença. Mais tardiamente, há comprometimento extrapiramidal, com ocorrência de mioclonias, rigidez, e instabilidade à marcha. Progressivamente, o indivíduo perde a capacidade de andar e fica restrito ao leito nas fases mais avançadas. A morte ocorre por complicações cardiopulmonares ou por infecção.

O exame neurológico é normal no início da doença; pode haver apraxia leve (perda da habilidade para executar movimentos e gestos precisos). Com a evolução do quadro, sinais extrapiramidais podem ser encontrados e o quadro apráxico se intensifica.

O diagnóstico da DA é feito a partir de história clínica e exame neurológico sugestivos. O diagnóstico clínico tem acurácia de 90%. Exames complementares devem ser solicitados conforme sugerido previamente, de forma a afastar causas de demência secundária a outras doenças clínicas ou neurológicas.

RMN-craniana-corte-coronal-mostrando-atrofia-cortical-generalizada-estágio avançado da demência do tipo Alzheimer
RMN-craniana-corte-coronal-mostrando-atrofia-cortical-generalizada-estágio avançado da demência do tipo Alzheimer

Os exames de neuroimagem estrutural (TC e RM) freqüentemente são normais em estágios iniciais da doença. A atrofia hipocampal evidente ao exame de RM pode estar presente já em fase inicial. Com a evolução da doença, a atrofia hipocampal torna-se mais evidente, e associa-se atrofia cortical com a evolução do quadro.

RMN craniana corte axial, mostrnado atrofia de predomínio temporal medial no decorrer da evolução da doença
RMN craniana corte axial, mostrando atrofia de predomínio temporal medial no decorrer da evolução da doença

Os exames funcionais (SPECT e PET) não são solicitados rotineiramente para o diagnóstico de DA, estando seu uso restrito a casos em que há dúvida diagnóstica após a investigação inicial. Nos casos de DA, a alteração mais freqüentemente encontrada é o hipometabolismo ou hipofluxo em região têmporo-parietal bilateral.

corte coronal do cérebro
corte coronal do cérebro

 As dosagens de proteína tau fosforilada e de proteína beta-amilóide no LCR têm sido estudadas para o diagnóstico de DA e podem ter utilidade clínica para o diagnóstico de DA inicial no futuro.

emaranhados neurofibrilares
emaranhados neurofibrilares

Acúmulo extra-celular de proteína beta-amilóide
Acúmulo extra-celular de proteína beta-amilóide

A DA não tem tratamento específico. Os sintomas cognitivos são tratados com inibidores da acetilcolinesterase e memantina. Os inibidores da acetilcolinesterase (donepezil, galantamina e rivastigmina) constituem o tratamento inicial da doença. Representam a primeira linha terapêutica nos casos leves e moderados da doença. Nos casos moderados, a memantina deve ser associada ao tratamento inicial, e nos casos graves deve ser utilizada como monoterapia, embora estudos recentes apontem para a continuidade do uso dos inibidores da acetilcolinesterase nessa fase.

Os sintomas neuropsiquiátricos são tratados inicialmente com medidas não farmacológicas. As medicações utilizadas para o tratamento desses sintomas são inibidores da acetilcolinesterase, antidepressivos, estabilizadores de humor ou neurolépticos, a depender da qualidade e gravidade. Todos os estudos publicados até o momento mostram eficácia mínima ou duvidosa para o tratamento desses sintomas.

Aspectos neuropsicológicos:

PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS

Perda de memória
A perda de memória pode ter consequências na vida diária, de muitas maneiras, conduzindo a problemas de comunicação, riscos de segurança e problemas de comportamento. É importante considerar os diferentes tipos de memória para compreender como a memória é afetada pela demência.

Memória Episódica
É a memória que as pessoas têm de episódios da sua vida, passando do mais mundano ao mais pessoalmente significativo. Dentro da memória episódica, existem memórias classificadas de curto termo (as que ocorreram na última hora), e as classificadas de longo termo (as que ocorreram há mais de uma hora). As pessoas com a doença de Alzheimer, no princípio da doença, parecem não ter dificuldades em lembrar acontecimentos distantes, mas podem esquecer, por exemplo, o que fizeram cinco minutos antes. As lembranças de acontecimentos antigos, apesar de não serem muito afetadas,tendem a interferir com atividades atuais. Isto pode resultar em que a pessoa execute rotinas do passado, que já não têm mais importância.

Memória semântica
Esta categoria abrange a memória do significado das palavras, como por ex. uma flor ou um cão. Diferentemente da memória episódica, não é pessoal, mas bastante comum a todos os que falam a mesma língua. É a partilha do significado de uma palavra que possibilita às pessoas manterem conversas com significado. Uma vez que as memórias episódica e semântica não estão localizadas no mesmo sítio do cérebro, uma pode ser afetada e a outra não.

Memória de procedimento
Esta é a memória de como conduzir os nossos actos, quer física como mentalmente, por exemplo,como usar uma faca e um garfo, ou jogar xadrez. A perda da memória de procedimento pode resultar em dificuldades em efectuar rotinas, tais como vestir, lavar e cozinhar. Isto inclui coisas que se tornaram automáticas. Por esta razão, alguns pacientes que têm dificuldades em lembrar-se das suas palavras, ainda conseguem cantar razoavelmente bem. A sua memória de procedimento ainda se encontra intacta, enquanto a sua memória semântica (o significado das palavras) se deteriorou.

A Síndrome Apraxico/Afasico/Agnosica
Conceitos prévios:

1.Apraxia: É o termo usado para descrever a incapacidade para efetuar movimentos voluntários e propositados, apesar do fato da força muscular, da sensibilidade e da coordenação estarem intactas. Em termos correntes, isto pode implicar a incapacidade abrir uma torneira, abotoar botões ou ligar o rádio.

2.Afasia: O termo utilizado para descrever a dificuldade ou perda de capacidade para falar, ou compreender a linguagem falada, escrita ou gestual, em resultado duma lesão do respectivo centro nervoso. Isto pode revelar-se de várias formas. Pode implicar a substituição de uma palavra que esteja associada pelo significado (por exemplo, tempo, em vez de relógio), empregando a palavra errada, mas que soe de modo familiar (por exemplo, barco em vez de marco), ou usar uma palavra completamente diferente, sem relação aparente. O resultado, quando acompanhado de ecolalia (a repetição involuntária de palavras ou frases ditas por outra pessoa), e pela repetição constante de uma palavra ou frase, pode ser uma forma de discurso que é difícil, aos outros, de compreender ou uma espécie de calão.

3.Agnosia: É o termo utilizado para descrever a perda de capacidade para reconhecer o que são os objetos,e para que servem. Por exemplo, uma pessoa com agnosia pode tentar usar um garfo em vez de uma colher, um sapato em vez de uma chávena, ou uma faca em vez de um lápis. No que diz respeito às pessoas, pode implicar não as reconhecer, sem que isso se deva à perda de memória, mas como resultado do cérebro que não funciona para identificar uma pessoa com base na informação veiculada pelos olhos.

Comunicação

As pessoas com a doença de Alzheimer têm dificuldades na emissão e na compreensão da linguagem, o que, por sua vez, leva a outros problemas. Muitos pacientes também perdem a capacidade para ler e a capacidade de interpretar sinais.

Mudança de personalidade
As pessoas com a doença de Alzheimer podem comportar-se totalmente sem caráter. Uma pessoa que tenha sido sempre calma, educada e afável pode comportar-se de uma forma agressiva e doentia. São comuns as mudanças bruscas e frequentes de humor.

Comportamento
Um sintoma comum da doença de Alzheimer é a deambulação, tanto de dia como de noite. Existe um número de possíveis razões para este facto, mas devido a problemas de comunicação, é muitas vezes impossível descobrir quais são. Outros sintomas que afetam o comportamento são: a incontinência, o comportamento agressivo, e desorientação no tempo e no espaço.

Mudanças físicas
A perda de peso pode ocorrer mesmo quando se mantém a ingestão da quantidade usual de alimentos. Também pode acontecer por se esquecerem de mastigar ou de engolir, em particular nos últimos estádios da doença. Uma outra consequência da doença de Alzheimer é a redução da massa muscular, e uma vez acamados, surge o problema das escaras de decúbito. À medida que as pessoas

Mudança de personalidade
As pessoas com a doença de Alzheimer podem comportar-se totalmente sem caráter. Uma pessoa que tenha sido sempre calma, educada e afável pode comportar-se de uma forma agressiva e doentia. São comuns as mudanças bruscas e frequentes de humor.


Comportamento
Um sintoma comum da doença de Alzheimer é a deambulação, tanto de dia como de noite. Existe um número de possíveis razões para este fato, mas devido a problemas de comunicação, é muitas vezes impossível descobrir quais são. Outros sintomas que afetam o comportamento são: a incontinência, o comportamento agressivo, e desorientação no tempo e no espaço.

Mudanças físicas
A perda de peso pode ocorrer mesmo quando se mantém a ingestão da quantidade usual de alimentos. Também pode acontecer por se esquecerem de mastigar ou de engolir, em particular nos últimos estágios da doença. Uma outra consequência da doença de Alzheimer é a redução da massa muscular, e uma vez acamados, surge o problema das escaras de decúbito. À medida que as pessoas envelhecem, a sua vulnerabilidade para infecções aumenta. Em consequência disso, muitas pessoas
com a doença de Alzheimer morrem com pneumonia.

Reconhecemos três fases na evolução da doença de Alzheimer, onde os idosos manifestam determinadas características comuns:

Fase inicial:
Sem dúvida, é a mais crítica das fases, uma vez que determinados sintomas iniciais são indulgentemente suportados e explicados pelos familiares como “parte  do processo natural do envelhecimento” e dessa forma subvalorizados, protelando-se a investigação diagnóstica. É consenso que, se bem que não haja tratamento curativo para a doença de Alzheimer, o diagnóstico precoce é fundamental no  retardamento do aparecimento de complicações e na instituição imediata da terapêutica farmacológica disponível.

É, portanto, de vital importância que os sintomas iniciais sejam valorizados, na tentativa de se estabelecer um diagnóstico de probabilidade o mais precocemente possível, o que infelizmente não é o observado na prática diária. O começo das alterações é lento e o paciente, especialmente os de bom nível intelectual e social, adaptam-se a determinadas deficiências com alguma facilidade fazendo com que não se perceba ou não se valorizem demais determinadas alterações. A intimidade do dia-a-dia, a vida atribulada das grandes cidades, entre outros fatores, especialmente as de origem sócio-cultural, colaboram com a aceitação pelos familiares de determinadas perdas e alterações comportamentais, especialmente quando se trata de pacientes idosos.

A primeira e mais característica marca do início da doença está relacionada com o comprometimento da memória recente ou de fixação.  Essas alterações não são constantes e se apresentam como falhas esporádicas de memória que se repetem com freqüência variável, sem constância. Nesta fase, também iniciam-se os episódios de desorientação espacial, especialmente em lugares desconhecidos podendo também ocorrer alterações na orientação temporal. Todas essas alterações, no entanto, como não se repetem com freqüência preocupante, são entendidas como fato natural, em virtude do avanço da idade, nervosismo e outras desculpas relacionadas com o cotidiano. As alterações comportamentais costumam acompanhar essa evolução e, lenta e gradualmente, vai havendo uma mudança no padrão habitual de comportamento.

Dois grupos de comportamento são bastante conhecidos, um pela apatia, passividade e desinteresse e outro onde a irritabilidade, egoísmo, intolerância e agressividade são características. Indivíduos gentis tornam-se rudes e agressivos, egoístas e obstinados, desagradáveis e inflexíveis. Nos casos onde a apatia é predominante, é imprescindível que se faça um diagnóstico diferencial com depressão (pseudodemência) e com a doença de Pick.

Costuma-se dizer que a doença de Alzheimer enfatiza as características da personalidade prévia, especialmente as negativas. A associação freqüente de sintomas depressivos com a doença de Alzheimer está comprovada. As alterações da memória e da orientação espacial causam estados depressivos que se manifestam por apatia e desinteresse pelas tarefas e atividades até então normalmente desempenhadas e inseridas no cotidiano recente. Essa alteração do estado de ânimo tem sido associada com a percepção que o indivíduo tem de suas dificuldades, que tendem a se agravar, nunca apresentando melhora.

O tratamento medicamentoso da depressão melhora substancialmente o quadro demencial. Os sintomas mais marcantes dos estados depressivos são a apatia ou agitação, alteração do sono com insônia e inapetência. A hipocondria também se agrava. Passam a valorizar mais o seu próprio corpo e fazem uma verdadeira peregrinação pelos consultórios, com queixas vagas e inconsistentes.

As alterações de comportamento e conduta costumam ser desencadeadas por algum fato concreto. Esse fato pode estar ligado ao ambiente, mudanças bruscas de costumes e situações estressantes. Como resposta a esses estímulos, os pacientes reagem desproporcionadamente com relação ao fato em si, tornam-se irrequietos, xingam, chegando até à agressão física. Essa fase é muito difícil para quem convive com o paciente pois, em virtude dos períodos de bom convívio, bom desempenho social e intelectual e aparente boa saúde física, as explosões de ânimo ou as mudanças bruscas e inexplicáveis de comportamento são altamente angustiantes. A dificuldade de comunicação também pode estar presente, com dificuldades em encontrar as palavras adequadas. A duração das frases se altera e apresentam dificuldades com a gramática. Os distúrbios do sono, com inversão de horários e as alterações com o pensamento abstrato podem se manifestar já na fase inicial, marcando uma fronteira na passagem para a fase intermediária.

Fase intermediária:  
Caracteriza-se fundamentalmente pelo agravamento dos sintomas apresentados na fase inicial. Esta fase está correlacionada com o comprometimento cortical do lobo parietal afetando as atividades instrumentais e operativas. Instala-se nesta fase as afasias (perda do poder de expressão pela fala, pela escrita ou pela sinalização ou da capacidade de compreensão da palavra escrita ou falada e sem alteração dos órgãos vocais), asapraxias (incapacidade de executar os movimentos apropriados para um determinado fim, contanto que não haja paralisia) e as agnosias (perda do poder de reconhecimento perceptivo sensorial, auditivo, visual, táctil etc.) Outra característica que marca a fase intermediária tardia  é o início das dificuldades motoras.

A marcha pode estar prejudicada, com lentificação global dos movimentos, aumento do tônus muscular, diminuição da massa muscular e conseqüentes reflexos na aparência física pelo emagrecimento. As diminuições dos movimentos dos membros superiores ao andar e instabilidade postural são as  alterações mais encontradas. As queixas de roubo de objetos e de dinheiro, total desorientação têmporo-espacial, dificuldades para reconhecer cuidadores e familiares, suspeita de conspiração para ser enviado a um asilo e o desenvolvimento de atividades totalmente desprovidas de objetivos (abulia cognitiva) são características da fase intermediária.

É comum apresentarem-se quadros de agitação e alucinações, que acometem praticamente a metade dos pacientes demenciados.A agitação psicomotora, ilusões e as alucinações relacionam-se  diretamente com o grau de severidade da demência. A repetição de frases e palavras, sem interrupção e sem nexo também costuma estar presente. As frases, via de regra, são curtas, incompreensíveis e mal construídas. Perdem nessa fase a capacidade de ler e de entender o que lhes é dito ou pedido, especialmente se recebem ordens complexas ou perguntas com opção de respostas. O paciente pode responder afirmativamente a uma pergunta do tipo: “Você quer uma maçã?”, porém encontrará dificuldade de se decidir, se for perguntado se quer uma maçã ou uma laranja. Ao invés de responder ou tentar decifrar o enigma que se apresenta para ele, costuma ignorar e continuar da mesma maneira que se comportava imediatamente antes de ser questionado.

A iniciativa está abolida ou seriamente prejudicada. O paciente não costuma perguntar ou solicitar objetos e/ou ações. O vocabulário estará na maioria das vezes limitado a poucas palavras e à medida que evolui para a fase final fica ainda mais restrito, passando a utilizar apenas as palavras básicas. Desenvolvem nessa fase grande sentimento de possessividade. A dificuldade em aceitar novas idéias ou mudanças traduz-se por agitação psicomotora e agressividade. Perdem nessa fase a capacidade de cálculo, pensamento abstrato e de julgamento. A apatia e inafetividade também se manifestam ou se agravam. A memória anterógrada também estará prejudicada, a vagância geralmente associada à confabulação (falar só) se instala.

O fato de falar só é teorizado por alguns autores como uma tentativa de manter um elo com a realidade através de algumas recordações antigas. Pode se perder, mesmo dentro de casa, uma vez que sua concentração e sua orientação no tempo e no espaço estão já a essa altura bastante prejudicadas. As tarefas solicitadas verbalmente dificilmente são atendidas. Os tremores e movimentos involuntários costumam ser observados, especialmente os tremores de extremidades e movimentos bucolinguais.
Nesta fase o paciente já se encontra em total estado de dependência, necessitando de  supervisão e cuidados diuturnos. Podem, em alguns casos, realizar determinadas tarefas extremamente simples, porém são incapazes de sobreviver sem ajuda.


Fase final:
Nesta fase a memória antiga estará bastante prejudicada e às vezes totalmente comprometida. A capacidade intelectual e a iniciativa estarão seriamente prejudicadas ou totalmente deterioradas. O estado de apatia e prostração, o confinamento ao leito ou à poltrona, a incapacidade de se expressar, quer por fala ou mímica e especialmente a incapacidade de sorrir são características desta fase. As alterações neurológicas se agravam: a rigidez aumenta consideravelmente e os movimentos estarão lentificados e por vezes estereotipados. As convulsões, assim como o aparecimento de tremores e de movimentos involuntários, também são mais freqüentes nesta fase.


A indiferença ao ambiente e a tudo que o cerca, alternadas com alto grau de agitação psicomotora e o aparecimento de incontinência urinária e fecal trazem, nesta fase, grande carga de cuidados. O paciente torna-se totalmente dependente, podendo chegar à manipulação de fezes e a coprofagia. Quando os indivíduos ainda possuem alguma reserva motora, as quedas acidentais com fraturas ocorrem com maior freqüência. Passam a não reconhecer as pessoas mais próximas e podem até mesmo não se reconhecerem quando colocados em frente ao espelho. Podem apresentar hiperfagia, aparecem as úlceras por pressão, devido a permanências no leito ou poltrona, por longos períodos de tempo, mesmo adequadamente cuidados. Invariavelmente, caminham para um estado de acamamento com suas previsíveis e temíveis complicações, marcando assim a transição para a fase terminal.

Fase Terminal:
         
Esta fase caracteriza-se por restrição ao leito/poltrona, praticamente durante todo o tempo. Acabam por adotar a posição fetal. As contraturas dos membros inferiores tornam-se inextensíveis e irrecuperáveis. Os membros superiores adotam posição fletida junto ao tórax e a cabeça pende em direção ao peito. A coluna também se flexiona e o paciente adota uma posição conhecida como paraplegia em flexão ou posição fetal. Podem surgir lesões nas palmas das mãos, por compressão destas pelos dedos flexionados; grandes úlceras por pressão, preferencialmente localizadas nas regiões trocantéricas, maléolos externos, região sacra, cotovelos, calcanhares e até mesmo nos pavilhões auriculares; incontinência urinária e fecal, total indiferença ao meio externo (só respondendo a estímulos dolorosos); mutismo e estado vegetativo.

Alimentam-se por sucção, sendo muitas vezes necessário o uso alternativo de alimentação enteral. Na metade dos casos a morte sobrevém em um ano, devido a processos infecciosos, cujos focos preferenciais são o pulmonar e o urinário. É importante ressaltar que, mesmo com os cuidados adequados, alguns pacientes acabam por atingir essa triste condição, porém é certo também que se os cuidados forem adequados isso deverá ocorrer mais tardiamente. 

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 Pintura do artista Carolus Horn (1921-1992) antes da doença de Alzheimer (Veneza)


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Pintura do artista Carolus Horn (1921-1992) na fase inicial da
doença-simplificação e mais contraste, preservação da complexidade espacial e da perspectiva.



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Pintura do artista no início da fase intermediária

Percebe-se claramente a mudança da percepção entre o real e o imaginário.As mudanças do padrão das cores, com ênfase para cores vivas, amarelo e vermelho, a despersonificação dos personagens, as nuvens agora são representdas apenas como simples desenhos ovais. Nota-se ainda há uma certa coerência na simetria do desenho da ponte.Existe uma evidente redução dos movimentos da pintura e evidente desproporção na representação dos arcos e janelas.As figuras tornam-se infantis e simples.


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Pinturas feita em estágio adiantado da fase intermediária

Nota-se um exagero de simbolismos, cores muito vivas e vibrantes, o encarceramento das figuras marcadamente infantilizadas com molduras duplas, e a representação de imagens com padrão repetido e estereotipado. É interessante registrar que o artista colecionava ícones russos e estudava arte bizantina, claramente representadas nesses símbolos arquivados em sua memória de longo prazo. Pode-se constatar a perda acentuada de todas as qualidades do artista.Desenhos infantis,cores vivas e sem nuances, praticamente não há movimento.Existe uma total desproporcionalidade demonstrando a perda da noção de espaço.A figura humana sem nenhuma expressão e os animais com faces humanóides


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Pintura feita em fase final :Usa apenas uma cor.Total desintegração viso-espacial.Regressão e simplificação extremas
(Débora Rigo: médica-VIIIa turma FCS-UFGD)
http://cienciasecognicao.org

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