“Existem duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existe milagre e a outra é que tudo é milagre”, dizia Albert Einsten. Como sabemos, a doença de Alzheimer é progressiva e como tal nos coloca diante de desafios diários.
Considero que no estágio em que minha mãe se encontra fazer uso de uma sonda nasoenteral constitui-se numa imposição necessária. A sua qualidade de vida
tem sido precária e o momento é de preocupação. Há limitações e riscos.
Tentamos minimizar esse quadro de fragilidade com os recursos
disponíveis e adequados ao seu estado.
Nesse contexto, ouvir opiniões acerca da fase vivida por minha mãe tem sido uma constante. Opiniões estas que muitas vezes esbarram no desconhecimento de quem as emite. Ouvi-las com gentileza e posterior seleção,
tem sido o meu procedimento. Incrível notar como vêm permeadas de um
poder abusivo acerca do ato de viver e morrer; como se controlassem
facilmente os calendários!
Elucubrações existenciais e questionamentos filosóficos em que evito me envolver
a fim de potencializar minhas forças para outros movimentos. Inclusive,
o que essas pessoas demonstram tem sido uma dificuldade de lidar e
conviver com essa situação, que nem sempre nos oferece uma fotografia bonita. Mas a vida segue e nos impulsiona a viver e encontrar atalhos no trajeto que se descortina inexoravelmente!
Assim, entendo que cuidar, aproveitar e desfrutar do tempo que temos pela frente é primordial! Ações
e sentimentos devem se estender àqueles que se relacionam direta e
indiretamente com minha mãe. No caso, os funcionários do local onde ela
reside e as cuidadoras que, com uma participação mais direta e efetiva atuam como mediadoras entre os grupos envolvidos e responsáveis pelos cuidados dos idosos do lugar.
Encarar
os desafios de maneira criativa e amorosa tem sido minha proposta, sem,
contudo deixar de me entristecer com as sequelas que esse comportamento
imprime ao portador. Quando tudo ocorre de modo inverso, recomeço a
trajetória que precisa ser percorrida, ainda que marcada pelas
frustrações e desencantos impressos no mapa da minha dor.
Assistir às sessões de fisioterapia e às manobras realizadas pela fonoaudióloga
desperta em mim emoções de ternura e admiração sobre todos os
integrantes da atividade realizada. Conversar o diálogo possível,
receber um sorriso singelo e puro, entoar trechos pequenos das músicas e
poesias que permanecem na memória da minha mãe são motivos de uma
alegria indescritível, a qual nenhuma linguagem abrange e penetra! Soma-se a isso, o calor dos beijos que, quando consentidos, me fortalecem em demasia. Ternura pura!
Assim, em contraposição a muitos prognósticos, seguimos na e pela vida
agarrando-nos às possibilidades que a mesma nos oferece. Não há fardo
nem cegueira nessa realidade, ora fria, noutras mais morna e em muitas
delas, bem calorosa. Sorver “o que temos para hoje” significa obter o
oxigênio e a força necessários para cada instante em que me vejo desafiada a trilhar o caminho de trevas e de luz que caracteriza a doença de Alzheimer.
(*) Vera Helena Zaitune - Graduada em História, Mestre em Educação, Cuidadora da mãe, portadora de Alzheimer. Membro da Rede de Colaboradores do Portal do Envelhecimento.
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