sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

SOBRE A VELHICE

     

Por oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um processo biológico, eu estou interessado na velhice como um acontecimento estético. A velhice tem a sua beleza, que é a beleza do crepúsculo. A juventude eterna, que é o padrão estético dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As manhãs têm uma beleza unica que lhes é própria. Mas o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa - talvez solitária.
 
No crepúsculo, tomamos consciência do tempo. Nas manhãs, o céu é como um mar azul, imóvel. Nos crepúsculos, as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o verde vira amarelo, o amarelo vira abóbora, o abóbora vira vermelho, o vermelho vira roxo - tudo rapidamente.
 
Ao sentir a passagem do tempo, nós percebemos que é preciso viver o momento intensamente. "Tempus fugit" - o tempo foge -, portanto, "carpe diem" - colha o dia. No crepúsculo, sabemos que a noite está chegando. Na velhice, sabemos que a morte está chegando. E isso nos torna mais sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria unica. Quem sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais ternos . . .
(Rubem Alves)

AS 4 ESTAÇÕES DA VIDA



" Você já notou a perfeição que existe na natureza? Uma prova incontestável da harmonia que rege a Criação. Como num poema cósmico, Deus rima a vida humana com o ritmo dos mundos.

Ao nascermos, é a primavera que eclode em seus perfumes e cores. Tudo é festa. A pele é viçosa. Cabelos e olhos brilham, o sorriso é fácil. Tudo traduz esperança e alegria. Delicada primavera, como as crianças que encantam os nossos olhos com sua graça. Nessa época, tudo parece sorrir. Nenhuma preocupação perturba a alma.

A juventude corresponde ao auge do verão. Estação de calor e beleza, abençoada pelas chuvas ocasionais. O sol aquece as almas, renovam-se as promessas. Os jovens acreditam que podem todas as coisas, que farão revoluções no mundo, que corrigirão todos os erros. Trazem a alma aquecida pelo entusiasmo.  São impetuosos, vibrantes. Seus impulsos fortes também podem ser passageiros ... Como as tempestades de verão. Mas a vida corre célere. E um dia - que surpresa - a força do verão já se foi.

Uma olhada ao espelho nos mostra rugas, os cabelos que começam a embranquecer, mas também aponta a mente trabalhada pela maturidade, a conquista de uma visão mais completa sobre a existência. É a chegada do outono. Nessa estação, a palavra é plenitude. Outono remete a uma época de reflexão e de profunda beleza. Suas paisagens inspiradoras - de folhas douradas e céus de cores incrivéis - traduzem bem esse momento de nossa vida. No outono da existência já não há a ingenuidade infantil ou o ímpeto incontido da juventude, mas há sabedoria acumulada, experiência e muita disposição para viver cada momento, aproveitando cada segundo.

Enfim, um dia chega o inverno. A mais inquietante das estações. Muitos temem o inverno, como temem o velhice. É que esquecem a beleza misteriosa das paisagens cobertas de neve.

Época de recolhimento? Em parte. O inverno é também a época do compartilhamento de experiências. Quem disse que a velhice é triste? Ela pode ser calorosa e feliz, como uma noite de inverno diante da lareira, na companhia das pessoas amadas. Velhice também pode ser chocolate quente, sorrisos gentis, leitura sossegada, generosidade com filhos e netos. Basta que não se deixe que o frio enregele a alma.

Felizes seremos nós se aproveitarmos a beleza da cada estação. Da primavera levarmos para a vida inteira a espontaneidade e a alegria. Do verão, a leveza e a força de vontade. Do outono, a reflexão. Do inverno, a experiência que se compartilha com as pessoas amadas.

A mensagem das estações em nossa vida, vai além. Quando pensar com tristeza na velhice, afaste de imediato essa idéia.  Lembre-se que após o inverno surge novamente a primavera. E tudo recomeça. 

Nós também recomeçaremos. Nossa trajetória não se resume ao fim do inverno. Há outras vidas, com novas estações. E todas iniciam pela primavera da idade. Após a morte, ressurgimos em outros planos da vida. E seremos plenos, seremos belos. Basta para isso amar. Amar muito.

Amar as pessoas, as flores, os bichos, os mundos que giram serenos. Amar, enfim, a Criação Divina. Amar tanto que a vida se transforme numa eterna primavera."

domingo, 14 de fevereiro de 2016

O MAL DE ALZHEIMER NOS FAZENDO REPENSAR A VIDA

 

O Mal de Alzheimer atinge aproximadamente 36 milhões de pessoas no mundo, sendo que muitas das pessoas que sofrem com o Alzheimer ainda não receberam o diagnóstico. É uma doença que se agrava progressivamente até levar à morte, pois o corpo perde funções essenciais. Após o diagnóstico, o tempo médio de vida é cerca de 7 anos. Em média, apenas 3% das pessoas diagnosticadas sobrevivem mais do que 14 anos.
 
A família da pessoa com o Mal de Alzheimer sofre socialmente e psicologicamente, assistindo de mãos atadas a degradação diária de uma pessoa tão importante e fundamental. Quantas dessas famílias não fariam qualquer coisa para voltar no tempo e doar mais amor, carinho e palavras a quem hoje se esqueceu até de sua própria identidade? É uma realidade real e possível para qualquer pessoa.

Ninguém está imune ao Alzheimer. Não há vacina, não há comportamento de risco a ser evitado, não há prevenção. A única prevenção possível para o Alzheimer, e para tantas outras doenças e perdas na vida, é o cuidado e a dedicação às pessoas no presente. 

O Mal de Alzheimer faz com que até nossos mais profundos sentimentos por alguém sejam esquecidos e deletados de nossa lembrança. Porém, o que nossa mente – mesmo saudável - está ‘esquecendo de lembrar’? Pare e pense por 5 minutos nas palavras que deixamos de dizer às pessoas que amamos e o quanto calamos sobre as sensações boas que algumas presenças nos causam.

Imagine-se vivendo uma vida plena e se deparando – de um momento para outro, com rostos desconhecidos e locais estranhos aos olhos. Imagine-se do outro lado também, sendo o rosto desconhecido diante de sua mãe, pai, irmão, tia ou amigo. O Alzheimer apavora, não?

É dilacerante a  dor de quem tem a doença e a dor da família que vive a impotência diante do inevitável: o esquecimento, a dependência, o vazio e – por fim, o nada! E diante do nada, cada um tem que seguir a sua vida. É uma dor latejante na alma, se é que isto é possível ...

Devemos repensar e analisar nossas próprias ações, falas e movimentos. Pedir  menos e orarmos mais por saúde. Pouca coisa importa mais do que isso: saúde, cuidado, dedicação, respeito e carinho. Saudáveis, não damos importância à saúde. Assim, praticamos o nosso dia-a-dia com as pessoas que: não damos importância, não damos atenção. Não o suficiente. Não faz parte de nossos pensamentos a possibilidade de acordar em um dia qualquer e não mais reconhecermos os rostos que nos rodeiam, tão pouco a possibilidade de não sermos reconhecidos. 

O ser humano vive como se houvesse sempre o outro dia. Vivemos como se houvesse tempo suficiente para tudo o que é fundamental e, nesta utopia do “tempo suficiente”, vamos adiando o que é importante. Partimos pela manhã, retornamos à noite, enfrentamos o trânsito dentro de ônibus, metrôs ou automóveis, almoçamos em meio ao caos, trabalhamos oito horas ou mais, assistimos à novela, vamos ao cinema, compramos roupas, vamos ao supermercado, pagamos contas e impostos, nos exercitamos, buscamos uma alimentação cada vez mais saudável, bebemos suco verde, meditamos e tentamos ter um contato maior com a natureza em meio à selva de pedra. Mas, de fato, o que é importante? 

Será que cuidamos o suficiente do outro e damos atenção aos detalhes? Amamos o suficiente e nos deixamos ser amados? O quanto dizemos que nos orgulhamos de alguém ou salientamos a importância de nossos amigos, irmãos, pais e tantos outros amores em nossas vidas? O quanto contamos sobre o nosso bem-querer por alguém? Estamos esquecendo muita coisa importante neste mundo moderno. Passamos mais tempo acariciando tablets e smartphones do que as pessoas que amamos. Vivemos em um estado de ‘Alzheimer’ permanente. Estamos ignorando o fato de que amar não é somente sentir. 

Demonstrar carinho faz parte de absolutamente todas as relações humanas. Mas não, não nos doamos além do limite do que achamos seguro. Não temos como prever quem brevemente vai partir para sempre ou quem vai se ausentar mesmo estando presente, mas podemos ser mais humanos com todos – principalmente com os nossos. No final – somente os bons instantes permanecem no peito e o momento de amar é agora – nunca é depois. Sentimentos são prioridades. Quem garante a vida amanhã? Quem garante a sanidade amanhã?

Dedicar-se é uma das maiores urgências da vida. Poucos praticam a dedicação, mas quem pratica nunca terá do que se arrepender diante do final da existência. Nunca estaremos preparados para perdas ou doenças que tiram o nosso melhor e o melhor das pessoas. Que comecemos hoje a doar mais tempo e atenção aos que carregamos no peito. Façamos as pessoas mais leves. Sejamos mais leves também.

Quando não há mais certezas possíveis, só o amor sabe o que é verdade.“ (Do livro “Para Sempre Alice” - de Liza Genova)”
(http://obviousmag.org/cotidiano)

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

papa vert      

"Você pode ter defeitos, ser ansioso, e viver alguma vez irritado, mas não esqueça que a sua vida é a maior empresa do mundo.
 
Só você pode impedir que vá em declínio. Muitos lhe apreciam, lhe admiram e o amam. Gostaria que lembrasse que ser feliz não é ter um céu sem tempestade, uma estrada sem acidentes, trabalho sem cansaço, relações sem decepções.

Ser feliz é achar a força no perdão, esperança nas batalhas, segurança no palco do medo, amor na discórdia.

Ser feliz não é só apreciar o sorriso, mas também refletir sobre a tristeza. Não é só celebrar os sucessos, mas aprender lições dos fracassos. Não é só sentir-se feliz com os aplausos, mas ser feliz no anonimato.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver a vida, apesar de todos os desafios, incompreensões, períodos de crise.

Ser feliz não é uma fatalidade do destino, mas uma conquista para aqueles que conseguem viajar para dentro de si mesmo.

Ser feliz é parar de sentir-se vítima dos problemas e se tornar autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas conseguir achar um oásis no fundo da nossa alma. É agradecer a Deus por cada manhã, pelo milagre da vida.

Ser feliz, não é ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si. É ter coragem de ouvir um “não”. É sentir-se seguro ao receber uma crítica, mesmo que injusta. É beijar os filhos, mimar os pais, viver momentos poéticos com os amigos, mesmo quando nos magoam.

Ser feliz é deixar viver a criatura que vive em cada um de nós, livre, alegre e simples. É ter maturidade para poder dizer: “errei”. É ter a coragem de dizer:”perdão”. É ter a sensibilidade para dizer: “eu preciso de você”. É ter a capacidade de dizer: “te amo”.

Que a tua vida se torne um jardim de oportunidades para ser feliz… Que nas suas primaveras seja amante da alegria. Que nos seus invernos seja amante da sabedoria.

E que quando errar, recomece tudo do início. Pois somente assim será apaixonado pela vida. Descobrirá que ser feliz não é ter uma vida perfeita. Mas usar as lágrimas para irrigar a tolerância. Utilizar as perdas para treinar a paciência. Usar os erros para esculpir a serenidade. Utilizar a dor para lapidar o prazer. Utilizar os obstáculos para abrir janelas de inteligência.

Nunca desista… Nunca renuncie às pessoas que lhes ama. Nunca renuncie à felicidade, pois a vida é um espetáculo incrível”.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

REALIDADE - 85 ANOS

 

Hoje é um dia especial. Agradeço inicialmente ao meu bom Deus por mais uma data comemorativa em que estamos juntas. O que desejar neste  dia? Vou desejar algo diferente. Muito amor, muita cumplicidade entre nós e que o Alzheimer nos dê uma trégua para vivermos este universo de amor.

Logo ao acordar, foi logo perguntando "quantos anos faço hoje", tornando-se repetitiva no decorrer de todo o dia. Com um lindo sorriso esperou o meu abraço e meu beijo. Cantando os parabéns, passei a abraça-la e beijá-la, com todo o meu sentimento. O rosto dela demonstrava uma alegria incontida. Durante o dia recebendo várias ligações de amigas e familiares para parabenizá-la.

No período da tarde, foi o momento de princesa: ida ao salão de beleza para fazer as unhas, corte e escova nos cabelos, afinal era o seu dia, e a noite teríamos um jantar em família para comemorar os seus 85 anos, o que aconteceu de forma muito alegre, junto as filhas, genro e netos. Só felicidade. De retorno para casa, ao deita-la, foi logo dizendo: "filha, que dia maravilhoso, obrigada por proporcionar tanta alegria".

Como isto é reconfortante, afinal,  apesar da evolução sem tréguas do Alzheimer roubando toda a sua essência, ainda consigo desfrutar de momentos como este. Obrigada meu bom DEUS.

Mãe com a senhora aprendi  que o amor tem que ser incondicional. Foi a tua mão que encontrei estendida quando realmente precisei e em teus olhos que fixei quando me senti sozinha.  Tuas palavras me orientaram, mostrando o caminho correto que eu não encontrava. Teu sorriso me consolou e tua força interior era tudo que eu precisava. Foi o meu norte na caminhada da vida. Obrigado minha amada mãe por tanto amor que recebo.

Navegando pela internet, encontrei um texto muito interresante, no qual tem uma conexão muito forte em nossas trajetórias de vida.

 O TREM DA VIDA

"Quando sua vida começa, você tem apenas uma mala pequenina na mão. À medida que os anos vão passando, a bagagem vai aumentando. Porque existem muitas coisas que você recolhe pelo caminho. Porque pensa que não é importante.

A um determinado ponto do caminho começa a ficar insuportável carregar tantas coisas. Pesa demais. Então você pode escolher: ficar sentado à beira do caminho, esperando que alguém o ajude, o que é difícil, pois todos os que passarem por ali já terão sua própria bagagem. Ou você pode aliviar o peso, esvaziando a mala. Mas o que tirar?

Você começa tirando tudo para fora, e vendo o que tem dentro. Amizade, nossa! Tem bastante, e curioso, não pesa nada. Mas tem algo pesado, você faz força para tirar. É a raiva, e como ela pesa! Aí você começa a tirar, tirar, e aparecem a incompreensão, o medo, o pessimismo...

Nesse momento o desânimo quase leva você para dentro da mala. Mas você o puxa para fora com toda a força, e aparece um sorriso, que estava sufocado no fundo de sua bagagem. Pula para fora outro sorriso e mais outro e aí, sai a felicidade.

Você coloca as mãos dentro da mala de novo e tira para fora a tristeza. Agora você vai ter que procurar a paciência dentro da mala, pois você vai precisar bastante. Procure então o resto: força, esperança, coragem, entusiasmo, equilíbrio, responsabilidade, tolerância, bom humor...

Tire a preocupação também, e a deixe de lado. Depois você pensa o que fazer com ela? Bem, sua bagagem está pronta para ser arrumada de novo! Mas pensa: o que você vou colocar lá dentro? Agora é com você, e não se esqueça de fazer isso mais vezes. pois o caminho é muito, muito longo!"

COMO TE AMO AMADA MÃE