Lembranças, que lembrais meu bem passado
para que sinta mais o mal presente:
deixai-me, se quereis, viver contente,
não me deixeis morrer em tal estado.
Mas se também de tudo está ordenado
viver, como se vê, tão descontente,
venha, se vier, o bem por acidente,
e dê a morte fim a meu cuidado.
Que muito melhor é perder a vida,
perdendo-se as lembranças da memória,
pois tanto dano faz o pensamento.
Assim que nada perde quem perdida
a esperança traz de sua glória,
se esta vida há-de ser sempre em tormento.
para que sinta mais o mal presente:
deixai-me, se quereis, viver contente,
não me deixeis morrer em tal estado.
Mas se também de tudo está ordenado
viver, como se vê, tão descontente,
venha, se vier, o bem por acidente,
e dê a morte fim a meu cuidado.
Que muito melhor é perder a vida,
perdendo-se as lembranças da memória,
pois tanto dano faz o pensamento.
Assim que nada perde quem perdida
a esperança traz de sua glória,
se esta vida há-de ser sempre em tormento.
(Luis de Camões)
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