Pode parecer um devaneio, uma defesa da consciência, uma
exacerbada forma de viver sempre procurando enxergar o lado bom das
coisas que nos acontecem (e é dessa forma mesma que eu vivo)… o
fato é que tenho observado, agora ainda mais, já que ela se
aproxima da sua fase final, algo importante, que chama atenção na
doença de Alzheimer inicialmente apresentada por minha mãe há
quase 10 anos atrás.
É fato que começamos a morrer logo quando nascemos. E se não
morremos de morte “matada” morremos de morte “morrida”. A
probabilidade de morrermos de uma doença é muito maior. É a
máquina humana que perece, diante das suas limitações e do tempo.
Entre tantos tipos de mortes comuns da velhice, a morte pela
doença do Alzheimer parece ser sui generis…
1 ) Começa com um simples esquecimento…natural…
Um processo que faz fugir aos poucos das preocupações da vida.
Sim. Essas mesmas preocupações que nos exigem drogas (álcool e
tantas outras) para fazê-las esquecê-las, nem que seja por curtos
falsos momentos, sabendo que elas virão à tona depois da mais cruel
ressaca física e moral…
2 )Lembrando sempre e cada vez mais apenas do passado…
Como se andasse à contravento dessa modernidade que não valoriza
as coisas antigas, despreza aqueles já se foram e trata de valorizar
voraz e cegamente tudo que é novo, o paciente de Alzheimer chama a
todo tempo seus pais, seus irmãos que já se foram, como se os
fizesse uma homenagem diária…pedem diariamente para ir para a
casa, como se tivesse criado um cordão umbilical com a sua história…
3) Retorna seu comportamento ao de uma criança e parece ao ventre
retornar…
Quanto mais a doença avança, o paciente evolui como se tivesse
retornando da velhice ao ventre da mãe. Em algumas das fases da
doença as evidências dessa trajetória ficam muito claras ainda.
Passa pela rebeldia da adolescência, pela teimosia infantil, a
dificuldade de falar, balbuciando como uma criança e exerce
diariamente as incontinências de um bebê, o que lhe devolve as
fraldas. Rejeita comidas. Deixa de andar e assume sobre a cama uma
postura fetal, com a coluna curvada, como se realmente tivesse
completamente voltando a ser um feto.
Trata-se de um processo muito exato, recheado de sinais!!!! É como se devolvesse aos filhos, que com muito amor foram criados
quando criança, a oportunidade de criá-los como criança também, e
de retribuir todo aquele amor.
Vivemos cercados por respostas que estão por aí…
Basta perceber!
(http://pedrobrazil.com/)
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