quarta-feira, 25 de maio de 2016

POR QUE SINTO UM VAZIO INSUPORTÁVEL?

 

O drama da nossa atualidade vai se revelando na medida em que percebemos as nossas identidades em colapso. Não existem fronteiras delineando o território individual. O self está ameaçado em sua veracidade e muitos de nós temos a nítida impressão de que é apenas uma farsa e, pior, que lá dentro é vazio... Será? Por outro lado, outros se encontram em pânico, receando fragmentar o próprio eu e a noção que tem de si mesmos.

A necessidade do imediatismo para praticamente tudo na vida, somada à busca de performances perfeitas, são os principais responsáveis disparadores desse tipo de ansiedade, estresse e da cada vez mais conhecida insuportável sensação de vazio em nossa atualidade.

Reprocessar instantaneamente tudo o que acontece fora e dentro de nós, num tempo onde tudo se passa de modo tão inevitavelmente dinâmico, dificulta o encontro de caminhos para que possamos nos entender e nos aprofundarmos em conhecimentos mais significativos acerca de nós mesmos. Como consequência dessa rapidez, toda sorte de desestabilização emocional emerge. Estamos na era dos supérfluos, onde acontecimentos e mais acontecimentos se sobrepõem uns aos outros em meio à urgência incontrolável. 

O mal-estar do vazio existencial explode quando notamos que o nosso eu não está mais em seu reinado absoluto e sim dividido e subdividido em suas extensões com pessoas e com coisas de significados mundanos. E o paradoxo maior ocorre quando se percebe a autonomia do próprio eu perdendo-se de si mesmo, muito embora o marketing atual seja o da apologia do eu. 

Enquanto que o nosso eu real, ou ser essencial, prima por se transformar e por se criar constantemente num diálogo contínuo com o mundo exterior e com as possibilidades oferecidas por este, o confronto exaustivo com as rápidas dinâmicas da realidade, gradativamente, vão minando a validade do eu real, gerando angústia inominável e a falta de sentido na vida. 

Neste árido espaço de manifestação dos reais propósitos da alma, em meio às folhas secas, crescem sentimentos de inadequação, posto que as importantes etapas, que se referem à construção de toda possibilidade de altivez humana, ficam impedidas de serem experienciadas.

Na era do vazio, o norte passa a ser a competição, a conquista e o culto a si mesmo (narcisismo). Ao mesmo tempo em que existe respeito às diferenças, sinceridade esfuziante, comunicação em demasia, há uma tendência do humano de não mais conversar consigo mesmo. 

Parece que a situação se repete em diferentes etapas históricas de nossa civilização, mas não é bem assim. Primeiro existe um processo de personalização e de interação com o meio ambiente. Depois a busca do si mesmo. Seria bom se os dois caminhassem sempre juntos e não dissociados, a ponto de levar a crises existenciais avassaladoras como as de identidade, que são a evidência dessa era. Esta crise tem a ver exatamente com o nosso século e com todas as vicissitudes implicadas, tem a ver com as nossas origens não vistas, não visitadas, tem a ver com a impaciência que temos com nós mesmos em relação ao cumprimento das etapas, em relação a tudo que leva algum período de tempo, enfim, a tudo que significa processo. 
Historicidade e compreensão aquecem, preenchem e oferecem sentido à própria vida. Somente a partir disso que se torna possível se reinventar. 

O vazio grita nos ouvidos e perturba profundamente, mas funciona como um alerta para a alma mostrar o quanto estamos distantes de nós mesmos vivendo como autômatos. Sensação muitas vezes enlouquecedora.

Estamos na era do jogo da aparência, do que se vende ao outro e do que fica bonito. Por mais incrível que possa parecer, o culto à felicidade também pode levar ao vazio; corremos o risco de nos tornarmos apenas e tão-somente figuras sem fundo, totalmente previsíveis. Autômatos em massa facilmente manipuláveis.

Nas origens do passado, existem símbolos que compõem nosso psiquismo e que jamais deveriam ser esquecidos ou negados. Neles constam a nossa história, a experiência de gerações, a sensação de segurança na estruturação linear que envolve o passado, o presente e que cria possibilidades de futuro. Não partimos do nada e o que inventamos sempre é baseado em algo anterior.

Vejo muitos dos meus pacientes virem ao meu consultório com terríveis angústias, sobrevivendo em meio a grandes dificuldades, atolados na sensação do vazio, da falta de sentido da vida. Por estarmos na era do narcisismo, fica difícil nomear sentimentos, portanto, a queixa maior fica por conta dessas sensações de vazio interior, de absurdo da vida, de desconexão de tudo com tudo num mundo repleto de conexão, virtual.

Estamos na época do espetáculo, tudo tem que ser fantástico e se não for, não nos toca. Ao mesmo tempo em que não há mais espaço para sentimentalismos ou para se perceber, parece que o palco agora é outro e a busca é de se experimentar algo cada vez mais forte para, quem sabe, a vida real ser finalmente sentida. E para fugir deste imenso naufrágio, muitos vivem no risco. Dentro deste cenário de busca frenética, da sensação de se sentir vivo e distante do insuportável sentimento do vazio, fica valendo o sexo pelo sexo, o culto à violência e a busca das sensações alucinadas provocadas por drogas, álcool etc..

Neste sentido referido, embora ainda se queira relacionamentos afetivos, a informação de comando é a do terror de se ter uma relação estável em que algo se constrói. O continuísmo da relação pode oferecer a sensação de que tudo está parado e que a velocidade, acostumada e identificada como aspecto de si mesmo, fica ameaçada de se perder como referência. O medo se instala, a solidão e o desespero novamente imperam e mesmo que acompanhado, sente-se o vazio.

E você? Já notou se está programado para não sentir e, sim, para agir? O problema é que o nosso sistema é imensamente mais complexo e profundo do que isso. Se você se encontra permeado pelos sentimentos de vazio, mal-estar e falta de sentido, leve-se a sério, pare e reveja-se. Se for tocado, busque ajuda, reconheça-se e exista naquilo que de verdade o preenche.
(Silvia Malamud)

terça-feira, 24 de maio de 2016

ABENÇOADOS


 

Abençoados são aqueles que parecem saber que meus olhos são embaçados, e meu espírito, vagaroso.

Abençoados os que olharam para o outro lado, quando hoje derramei o café na mesa.

Abençoados aqueles que com um alegre sorriso param para conversar um pouco.

Abençoados aqueles que nunca dizem: “Você contou esta história duas vezes hoje.”

Abençoados aqueles que sabem como trazer de volta lembranças de ontem.

Abençoados os que percebem o meu desalento em forças encontrar para a cruz carregar.

Abençoados aqueles que com bondade suavizam minha jornada à última morada."
(Autor desconhecido)

A GAVETA DA IDENTIDADE

 Resultado de imagem para a gaveta da identidade


Hoje, pela manhã, exatamente como um raio de sol, você entrou em meu quarto. Seu "olá" teve o som de uma sinfonia imortal para os meus ouvidos.

Esperei que você se aproximasse de mim, porque minhas pernas já não são tão firmes e tenho dificuldades para me manter em pé.

Você ficou à distância. Reclamou do cheiro de mofo e abriu amplamente a janela. Fiquei feliz porque sempre dependo de que alguém chegue e faça isso por mim.

Amo os dias de sol. Eles me recordam os dias felizes em que a memória não me traía tanto e eu podia me sentir útil, realizando pequenas tarefas no lar.

Com a voz fraca, tentei conversar. Mas acho que você deve estar com muitos problemas, porque traz a face enrugada e parece muito contrariado. Suas respostas foram curtas e secas e resolvi me calar, respeitando as suas preocupações.

Foi aí que você abriu a minha gaveta, aquela pequena da minha cômoda. "Quanto lixo!", foi o que você disse.

Meu coração começou a saltar. Você estava mexendo no meu tesouro. Alegrei-me porque agora, pensei, poderia lhe falar do significado de cada uma daquelas pequenas joias.

A foto amarelada de seu avô e eu. Foi tirada durante nossa lua de mel. É em preto e branco. Mas eu recordo que o cravo na lapela do seu avô era vermelho e o meu vestido era estampado com flores miúdas coloridas.

"Mas, o que você está fazendo? Não revire deste jeito as coisas da gaveta. Você poderá amassar a fita azul que eu usava nos meus longos cabelos. Ou então o papel de bombom que está aí. São tantas preciosidades.

Não, não é lixo! É minha vida. Não jogue fora."

Como não tenho com quem trocar ideias, nem quem me ajude a relembrar os dias vividos, que teimam em escapar da memória, sirvo-me dessas coisas antigas para avivar as recordações.

Elas são o diário da minha vida. A flor seca me foi dada por sua mãe, em criança, num feliz dia do meu aniversário. Ela perdeu o viço, o perfume mas encerra lembranças dos dias venturosos em que aguardava as crianças virem da escola, esperava meu eterno noivo retornar da fábrica.

Você estabelece o horário para eu comer, dormir, acordar. Não posso ter vontades, nem desejos atendidos.

Os meus sonhos, as minhas melhores realizações estão encerradas nesta gaveta. Os objetos que guardo me ajudam a lembrar que eu existo.

Não jogue fora minha identidade. Ela é feita de todas essas pequenas coisas que você chama de lixo e eu chamo "Meu tesouro." 
( http://www.reflexao.com.br)

LOVE OF MY LIFE - (QUENN)



Love Of My Life
Love of my life, you've hurt me
You've broken my heart and now you leave me
Love of my life, can't you see?
Bring it back, bring it back, don't take it away from me
Because you don't know what it means to me


Love of my life don't leave me
You've stolen my love and now desert me
Love of my life, can't you see?
Bring it back, bring it back, don't take it away from me
Because you don't know what it means to me


You'll remember when this is blown over
And everything's all by the way
When I grow older, I will be there at your side to remind you
How I still love you, I still love you


Hurry back, hurry back, don't take it away from me, because
You don't know what it means to me


Love of my life
Love of my life
Uhh... Yeah

Tradução:
Amor da Minha Vida
Amor da minha vida, você me magoou
Você partiu o meu coração e me abandonou
Amor da minha vida, será que você não vê?
Traga-o de volta, traga-o de volta, não o tire de mim
Porque você não sabe o quanto ele é importante para mim


Amor da minha vida, não me deixe
Você roubou o meu amor e agora me deixou só
Amor da minha vida, será que você não vê?
Traga-o de volta, traga-o de volta, não o tire de mim
Porque você não sabe o quanto ele é importante para mim


Você se lembrará quando tudo acabar
E todas as coisas estão pelo caminho
Quando eu envelhecer, eu estarei ao seu lado para lembrar-lhe
De como eu continuo te amando, como eu continuo te amando


Volte depressa! Volte depressa! Não o leve de mim, porque
Você não sabe o quanto ele é importante para mim


Amor da minha vida
Amor da minha vida
Uhh... Yeah

quinta-feira, 19 de maio de 2016

OFICIALMENTE VELHO



 Neste mês de dezembro completo 70 anos. Pelas condições brasileiras, me torno oficialmente velho. Isso não significa que estou próximo da morte, porque esta pode ocorrer já no primeiro momento da vida. Mas é uma outra etapa da vida, a derradeira. Esta possui uma dimensão biológica, pois irrefreavelmente o capital vital se esgota, nos debilitamos, perdemos o vigor dos sentidos e nos despedimos lentamente de todas as coisas. De fato, ficamos mais esquecidos, quem sabe, impacientes e sensíveis a gestos de bondade que  nos levam facilmente às lágrimas,

 Mas há um outro lado, mais instigante. A velhice é a última etapa do crescimento humano. Nós nascemos inteiros. Mas nunca estamos prontos. Temos que completar nosso nascimento ao construir a existência, ao abrir caminhos, ao superar dificuldades e ao moldar o nosso destino. Estamos sempre em gênese. Começamos a nascer, vamos nascendo em prestações ao longo da vida até acabar de nascer. Então entramos no silêncio. E morremos.

 A velhice é a última chance que a vida nos oferece para acabar de crescer, madurar e finalmente terminar de nascer. Neste contexto, é iluminadora a palavra de São Paulo: ”na medida em que definha o homem exterior, nesta mesma medida rejuvenece o homem interior”(2Cor 4,16). A velhice é uma exigência do homem interior. Que é o homem interior? É o nosso eu profundo, o nosso modo singular de ser e de agir, a nossa marca registrada, a nossa identidade mais radical. Esta identidade devemos encará-la face a face.

 Ela é pessoalíssima e se esconde atrás de muitas máscaras que a vida nos impõe. Pois a vida é um teatro no qual  desempenhamos muitos papéis. Eu, por exemplo, fui franciscano, padre, agora leigo, teólogo, filósofo, professor, conferencista, escritor, editor, redator de algumas revistas, inquirido pelas autoridades doutrinais do Vaticano, submetido ao “silêncio obsequioso” e outros papéis mais. Mas há um momento em que tudo isso é relativizado e vira pura palha. Então deixamos o palco, tiramos as máscaras e nos perguntamos: Afinal, quem sou eu? Que sonhos me movem? Que anjos que habitam? Que demônios me atormentam? Qual é o meu lugar no desígnio do Mistério? Na medida em que tentamos, com temor e tremor, responder a estas indagações vem à lume o homem interior. A resposta nunca é conclusiva; perde-se para dentro do Inefável.

 Este é o desafio para a etapa da velhice. Então nos damos conta de que precisaríamos muitos anos de velhice para encontrar a palavra essencial que nos defina. Surpresos, descobrimos que não vivemos porque simplesmente não morremos, mas vivemos para pensar, meditar, rasgar novos horizontes e criar sentidos de vida. Especialmente para tentar fazer uma síntese final, integrando as sombras, realimentando os sonhos que nos sustentaram por toda uma vida, reconciliando-nos com os fracassos e buscando sabedoria. É ilusão pensar que esta vem com a velhice. Ela vem do espírito com o qual vivenciamos a velhice como a etapa final do crescimento e de nosso verdadeiro Natal.

 Por fim, importa preparar o grande Encontro. A vida não é estruturada para terminar na morte mas para se transfigurar através da morte. Morremos para viver mais e melhor, para mergulhar na eternidade e encontrar a Última Realidade, feita de amor e de misericórdia. Ai saberemos finalmente quem somos e qual é o nosso verdadeiro nome.

 Nutro o mesmo sentimento que o sábio do Antigo Testamento: ”contemplo os dias passados e tenho os olhos voltados para a eternidade”.

 Por fim, alimento dois sonhos, sonhos de um jovem ancião: o primeiro é escrever um livro só para Deus, se possível com o próprio sangue; e o segundo, impossível, mas bem expresso por Herzer, menina de rua e poetisa:”eu só queria nascer de novo, para me ensinar a viver”. Mas como isso é irrealizável, só me resta aprender na escola de Deus. Parafraseando Camões, completo: mais vivera se não fora, para tão longo ideal, tão curta a vida.
(Leonardo Boff)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

REALIDADE : EVOLUÇÃO DO ALZHEIMER

 


Quando vivenciamos o fascínio do amor... Fazemos da pessoa amada uma divindade, transformamos a dureza do trabalho numa prazerosa ocupação.”
(Leonardo Boff)

Algumas das descobertas mais incríveis do ser humano, como andar e falar, acontecem na infância, quando a cada dia algo novo é apresentado a alguém que está em processo de formação. Mas, ao longo da vida, surgem várias outras descobertas e redescobertas. Algumas pessoas até dizem que, quando o ser humano vai ficando velho, ele volta a ser criança, precisando de atenção e cuidado especial de indivíduos que estejam dispostos a ensiná-los, por mais difícil que seja, a lição. Contudo a idade, além de novas experiências, traz consigo consequências do tempo e, muitas vezes, da falta de cuidado com a saúde. Exemplo disso são as demências, com destaque o ALZHEIMER. 
 
O Alzheimer é uma doença silenciosa que compromete o desenvolvimento cognitivo e afeta os processos de raciocínio, percepção, memória, linguagem e atenção causando a perda da autonomia da pessoa. Sem memória, uma pessoa não se reconhece. Ela se despedaça … Deixa de existir. Neste sentido, toda pessoa é memória, embora, não seja, apenas memória. As lembranças que podemos invocar à vontade ou os restos registrados de nossas experiências vividas são a matéria-prima da memória humana. Tudo isto, é devastado pelo ALZHEIMER. 
 
Com a evolução do Alzheimer, faz-se necessário adaptações e modificações no ambiente de maneira a facilitar o cotidiano, como: o banho, o erguer, o alimentar, o vestir, entre outras, no entanto, a maior de todas as adaptações é a emocional. Manter o equilíbrio psicológico, quando você vê a sua mãe, aquela mulher, que foi o teu norte, que te ensinou a viver, que te ensinou os valores da vida, precisando ser amparada, não tendo mais controle de si mesma. É perder diariamente a consciência de quem foi, de quem é, de quem ama … é perder referências. 
 
Além destas adaptações, o tratamento do Alzheimer requer intervenções farmacológicas (medicamentosas) e não farmacológicas. É importante ressaltar que as medicações têm efeito sintomático e eficácia modesta, embora beneficiando uma parcela significativa dos pacientes. A participação de outros profissionais de saúde, particularmente aqueles que trabalham no campo da reabilitação, como Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional, é de grande importância. 
 
Se houver estimulação motora, haverá como consequência, uma melhora do quadro intelectual , mesmo que seja pouca a resposta é fundamental o estímulo continuado, realizado por um terapeuta ocupacional. O exercício físico é importante para esses pacientes, pois com a melhora da parte física, o psiquismo do doente também melhora, já que ele evita o recolhimento em si e continua a executar as atividades do mundo externo.

Em relação ao tratamento de minha amada mãe, conto com excelentes profissionais, Terapeuta Ocupacional e Fisioterapeuta. Referidos profissionais já fazem parte do nosso cotidiano familiar. 

Em função dos problemas familiares, em especial com a irmã que mora com a minha amada mãe, tive que contratar uma cuidadora, que após uma rejeição inicial, está em processo de adaptação, estando sob supervisão e acompanhamento de minha parte.
 
A solidariedade e o convívio da família são de fundamental importância para que o tratamento do paciente tenha um melhor efeito ajudando-o a ter uma melhor qualidade de vida. Acima de tudo, não esquecer também do fundamental : o AMOR, mesmo que o paciente em alguma fase da doença não reconheça algumas coisas ou pessoas, mas ele saberá diferenciar onde existe carinho e amor.

Enfim, é renovar o amor, a paciência, a tolerância a cada dia, a cada momento.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

REALIDADE - CUIDAR COM AMOR

Guia Do Cuidador ♿️👵🏻👴🏼 @guiadocuidador on Instagram photo 01/30/2015 15:50

O diagnóstico de demência traz uma realidade contundente que implica em muitas perdas envolvendo a autonomia do corpo e o afastamento do eu para o indivíduo, o que torna muito complexo o cuidado dispensado a esse idoso.

Todas as doenças degenerativas são cruéis; mas o mal de Alzheimer parece que ocupa o primeiro lugar no ranking das que devastam mais e rapidamente.  Nada pode ser pior para o ser humano que se vê condenado a perder aos poucos o léxico, a capacidade de nomear, também as emoções, todas as lembranças, o jeito de se vestir e o de comer, ou seja, a própria identidade. Na lousa da memória, o apagador funciona sem cessar; em consequência, junto com o paciente, a familia corre alto risco de se destabilizarr, pois todo um mundo organizado de repente cede lugar ao caos.

O Alzheimer é muito mais do que esquecer as coisas. Há uma visão muito simplista de que é só perder a memória. Não é só isso. As nossas memórias definem muito quem nós somos. E ao perdermos a nossa identidade e referências, deixamos de saber quem somos!

A minha amada mãe continua a ser ela. Um pouco diferente é certo ... Estou perdendo para o Alzheimer. Por vezes, sinto que é um luto em vida. A questão em jogo, no entanto, não é a morte que chega pela falência dos órgãos, mas a vida que se vai pela perda de si mesma, pela perda das referências, pelo fim da memória, por um presente que se torna uma espécie de corpo sem a sombra do passado. É TODA UMA EXISTÊNCIA QUE VAI DRAMATICAMENTE SILENCIANDO, CONSUMIDA PELO ALZHEIMER.

A capacidade de autodeterminação, se esvai na pessoa com Alzheimer. Na impossibilidade de exercer seu inalienável direito de autonomia, aqueles que cuidam assumem a responsabilidade de o fazer por ele - buscando ao máximo preservar sua invidividualidade e, assim, fazendo do cuidado a obra e a arte humana de prosseguir a construção do outro. 

Como filha, sinto que a minha estrutura emocional está ficando cada vez mais fragilizada com o avanço do Alzheimer em minha amada mãe. Alternância entre tristeza e depressão . Procuro no entanto, cumprir uma agenda voltada para outras atividades, tais como: academia, trabalho, lazer ...
Aquela pessoa ativa e determinada que conheci no passado recente, está perdendo-se de forma acelerada, restando apenas alguns fragmentos de que um dia ela foi. É o desaparecimento de si mesmo. Ao matar as células do cérebro, a doença assassina a memória, a ponto de aquele que é não se lembra mais de quem é.  Sem dúvida, é triste ter que lidar desta maneira com alguém que sempre foi meu porto seguro, meu alicerce familiar.

Não há como não se sensibilizar com cada rosto que cala uma dor, uma vontade, um grito de liberdade das amarras de uma doença cruel, que transforma, dia após dia, a vida de um idoso e de uma família inteira.  

A DA provoca a perda da identidade familiar e inversão de papéis, no qual o acometido pela doença torna-se cada vez mais dependente de cuidados, exigindo a dedicação constante de seus familiares. O papel de  "cuidadora", representa a partir daí um papel essencial na vida do portador de Alzheimer. É assim que o ritual de cuidadores se mostra no cotidiano dos cuidadores familiares: repletos de realidades, de sobrecargas, de lágrimas, de sorrisos, de gratidão, de obrigação, de esperança, de desvelo. Não há como não se fortalecer com isto.

Quando se fala em cuidar, é necessário um elemento essencial: o amor. Quando o amor explode no coração humano e se apossa da gente, nos elevamos acima da pequenez e das inquietações que assolam vidas marcadas por ressentimentos e inquietações. É quando sentimo-nos aquecidos pela centelha divina e deixamo-nos guiar pela luz do espírito para iluminar as trevas pelas quais muitas vezes vagamos, tateando em busca de caminho para a redenção.

O amor verdadeiro não descarta ninguém, muito menos nas horas mais difíceis. E, especialmente, no acaso da vida, quando os predicados físicos se vão e sobra a beleza que só é visível ao coração. Lembram do Pequeno Príncipe? "o essencial é invisível aos olhos".

" Vou caminhando sempre por estas praias, entre areias e a espuma, as ondas apagarão minhas pegadas, e o vento dissolverá a espuma, mas o mar e as praias ficarão para sempre". As palavras de Gibran, nos ajudam a ver a vida de outra dimensão, além da fugacidade do tempo e da transitoriedade e fragilidade das coisas terrenas. O poeta olha para o eterno: "o mar e as praias ficarão". Assim também, é a eternidade do amor verdadeiro, em que o sofrido coração humano pode abrigar-se em busca da paz e repousar da vicissitudes da vida.

Talvez seja este momento em que o ser humano alcança a plenitude existencial e reflete a luz da centelha divina.

Como te amo minha mãe

sábado, 7 de maio de 2016

POEMA "MINHA MÃE"


"Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Tenho medo da vida, minha mãe.
Canta a doce cantiga que cantavas
Quando eu corria doido ao teu regaço
Com medo dos fantasmas do telhado.
Nina o meu sono cheio de inquietude
Batendo de levinho no meu braço
Que estou com muito medo, minha mãe.
Repousa a luz amiga dos teus olhos
Nos meus olhos sem luz e sem repouso
Dize à dor que me espera eternamente
Para ir embora.  Expulsa a angústia imensa
Do meu ser que não quer e que não pode
Dá-me um beijo na fonte dolorida
Que ela arde de febre, minha mãe.

Aninha-me em teu colo como outrora
Dize-me bem baixo assim: — Filho, não temas
Dorme em sossego, que tua mãe não dorme.
Dorme. Os que de há muito te esperavam
Cansados já se foram para longe.
Perto de ti está tua mãezinha
Teu irmão. que o estudo adormeceu
Tuas irmãs pisando de levinho
Para não despertar o sono teu.
Dorme, meu filho, dorme no meu peito
Sonha a felicidade. Velo eu

Minha mãe, minha mãe, eu tenho medo
Me apavora a renúncia. Dize que eu fique
Afugenta este espaço que me prende
Afugenta o infinito que me chama
Que eu estou com muito medo, minha mãe. 
(Vinicius de Morais) 

FELIZ DIA DAS MÃES


Mensagens evangélicas - Mensagens do dia das maes evangelicas


OBRIGADO DEUS, POR COMEMORAR ESTA DATA TÃO ESPECIAL COM A MINHA AMADA MÃE. 

"  O verdadeiro amor não se reduz nem ao físico nem ao romântico. O verdadeiro amor é a aceitação de tudo o que o outro é ... do que foi ...do que será ... e do que já não é ..."