A
doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência, que se
caracteriza por uma diminuição das funções cognitivas
intelectuais podendo incluir perdas de memória, da abstração do
raciocínio, do senso crítico e da linguagem.
Os
distúrbios de memória, embora sejam os principais sintomas
apresentados pelo portador de Alzheimer, não ocorrem isoladamente.
Em sua maioria, o portador dessa doença encontra-se com duas ou mais
áreas cognitivas debilitadas, tais como: a linguagem, com uma
característica diminuição da fluência verbal; a função
visou-espacial, em que
o indivíduo encontra-se com uma desorientação geográfica,
marcante nas fases mais avançadas da doença; e uma exacerbação de
sua personalidade mostrando-se apático, desinteressado, com
desapego, inibido, desconfiado, agressivo, depressivo e paranoico.
À
medida que a doença progride, ocorrem regressões acentuadas do
indivíduo, que já não se torna capaz de realizar atividades
diárias simples, mostrando um acentuado grau de dependência por
parte de quem cuida, assim a sintomatologia apresentada é como um
furacão que invade o núcleo familiar diminuindo todas as certezas
anteriores e levando a uma necessidade de reorganização
O
tratamento desta enfermidade objetiva a lenta evolução da doença,
uma vez que não se conhece a cura. Deste modo, a doença de
Alzheimer causa profundas alterações no dia a dia das famílias,
além de trazer um abalo e sobrecarga emocional a todo núcleo, sendo
por isso, considerada uma doença familiar, deste modo se impõe à
necessidade de se programarem medidas de apoio, tanto para o doente
como para seus familiares.
Assim,
o cotidiano do núcleo familiar tem uma profunda mudança nos
hábitos, pois acompanhar a progressiva involução (intelectual,
afetiva e mais tarde física) de uma pessoa que se conviveu por
vários anos e que se tem algum afeto é, muitas vezes, permeado por
sentimentos diversos, oriundos de quem acompanha o processo, dentre
eles pode-se citar o abatimento, desespero, depressão, pena,
sobrecarga física e emocional, dentre tantos outros.
Muitos
familiares cuidadores que lidam diariamente com a doença de
Alzheimer – por não terem conhecimento sobre a doença ou por
muitas vezes não aceitarem que seu familiar foi acometido por tal
patologia – tornam-se deprimidos, angustiados, ao verem seus
familiares, pai e mãe em sua maioria, com esta doença incurável e
debilitante. Desta forma, são geradas, por parte do cuidador,
sentimentos e conflitos diários, vivenciados à medida que ocorre a
progressão da patologia.
Portanto
há, em meio a esse “amontoado” de emoções, uma família que
precisa ser tão assistida quanto o próprio doente, a qual passada a
fase inicial da doença não mais tem noção das suas perdas, sendo
a família nesse ponto a provedora de todos os cuidados de que
necessita. Considera-se que os familiares cuidadores quando
informados sobre a doença e sua evolução, possivelmente tem a
convivência facilitada, pois poderão, mesmo que minimamente,
preparar-se e reorganizar-se para as mudanças.
Na
doença de Alzheimer, assim como nas demais demências, o indivíduo
acometido apresenta perdas progressivas e irreversíveis assim como
diversas mudanças gerando muitas vezes situações inusitadas na
convivência com o doente. Este fato pode levar ao florecimento de
emoções, que “são sentimentos que se expressam em impulsos e em
uma vasta gama de intensidade, gerando idéias, condutas, ações e
reações”
Conforme
ocorre à mudança das fases da doença, as perdas vão se tornando
cada vez mais reais e palpáveis ocorrendo uma inversão de papéis,
isto é, o familiar cuidador passa a viver a vida do portador,
sobrevindo com isso sentimentos de raiva, tristeza, angústia, medo,
culpa e depressão. Isso ocorre, mesmo diante dos esclarecimentos
sobre as mudanças decorrentes da doença.
Assim,
pode-se constatar a gama de emoções geradas por essa convivência
que apresenta os mais diversos matizes e trazem consigo inúmeras
reações e adaptações que vão sendo aceitas progressivamente.
Portanto, os cuidadores necessitam de tempo suficiente para
reorganizar-se física e emocionalmente, para então se adaptar ao
novo cenário desenhado pela doença para sua vida.
Com
a evolução da doença, o paciente com Alzheimer não é mais capaz
de realizar atividades para sua sobrevivência, necessitando de um
cuidador presente em todos os momentos para o desempenho de tarefas
mais simples.
Essas
dificuldades após a doença se mostram relativamente amplas, pois
vão desde as dificuldades com os cuidados essenciais até as
mudanças que a doença provoca no doente, permeadas por diversas
agruras para a convivência com essa pessoa.
A
convivência com um paciente demenciado traz uma realidade que
implica em muitas perdas desde a autonomia do corpo ao afastamento do
eu para o indivíduo.
Além
da angústia, diversos sentimentos são gerados por essa convivência,
que emergem de forma rápida e mutável, pois ao tempo em que o
cuidador se vê imbuído de raiva, pela teimosia do doente, surge-lhe
a pena por ter um familiar acometido por uma doença progressiva.
Esta situação dificulta a elucidação dos mesmos, os quais fluem
naturalmente no cotidiano, pois as mudanças trazidas pela doença
são significativas e impactantes.
Portanto,
conviver com pacientes acometidos por Alzheimer é também ser
atingido de forma contundente, uma vez que o cuidador se torna o
mantenedor de todas as adaptações que a doença trouxe consigo.
Esse desgaste acontece à medida que a doença evolui e a necessidade
de cuidados aumenta, contribuindo para aumentar a sobrecarga dos
cuidadores e conseqüentemente o aumento do grau das dificuldades
percebidas por eles.
Como
consequência, a mudança no sistema familiar causa crises e
pode trazer rupturas, pois o ritmo de vida da família é
atropelado pela doença e a
adaptação a essa nova situação não se faz imediatamente.
Além disso, muitas
vezes o cuidador encontra enorme dificuldade para obter apoio na
divisão dos afazeres, o que pode
levar a uma crise, e na maioria das vezes, a uma desestruturação
familiar.
Pode-se
inferir que a convivência com o portador de Alzheimer, na sua
maioria, vem carregada
de situações estressantes, desgastantes e muitas vezes
adoecedoras para o cuidador.
Os
sentimentos gerados por essa convivência são dos mais diferentes
matizes, estando presente em seus discursos emoções, doenças,
dificuldades, desgaste, mas, sobretudo dedicação.
Na
maioria das vezes, a linha tênue de divisão entre a vida do
paciente e a do cuidador desaparece, pois o cuidador passa a
experimentar a vida de seu familiar doente intensamente, a fim de que
nada lhe falte.
Torna-se
urgente à atenção a essas pessoas que cuidam de seus familiares,
pois, se não se tratar à família de forma ímpar, teremos dois
pacientes: o idoso com Alzheimer e seu cuidador.
Conviver
com um familiar doente é abdicar de muitos pontos em sua vida em
prol do outro, o que leva a um risco substancial de adoecimento
pessoal e familiar, haja vista que conflitos são gerados nessa
convivência, evidenciando a pungente necessidade de profissionais
capacitados para lidar com famílias e não apenas com o paciente.
Tal
panorama gera a reflexão da necessidade de uma rede social que possa
proporcionar suporte à tão solitária tarefa que
é a de cuidar de um familiar com Alzheimer.
(Pesquisa: Revista Brasileira de Enfermagem)
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