segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

CARTA PARA UM FILHO


Quando a idade chega e aperta, o que resta é a espera. Espera do nada, ou espera do tudo. E no pensamento; “ Será que alguém ainda vai me notar?” Porque me vê desta maneira? Ora, pois esquece de que um dia eu já tive a sua idade?

Por quê?
Hoje minha companhia é o Alzheimer, que horas me faz esquecer as tristezas de minha vida, horas me faz lembrar as alegrias e silenciosamente acho que já me perdi dentro mim. A solidão não me consola, ela me corrói, estou esquecido e deixado no canto da uma sala, esperando a morte me levar.

Porque não me veem mais? Eu sinceramente não me sinto tão inútil assim, pois, levo a experiência dos meus erros e acertos por toda minha vida, e isso para mim na minha antiga idade valia ouro, assim como as nossas escolhas, embora eu não tenha escolhido o abandono.

Antes de partir só quero que saiba, de que um dia, a idade em você também vai chegar, e não pense que estará preparado, pois eu também me preparei.
Fazer planos contando com quem não conta mais com você não é uma boa ideia.

A idade vai chegar e vão te olhar com esse olhar que você me vê, e o que vai te levar deste mundo, não será a doença, será a dor do abandono, a dor de não poder ajudar, a dor de ser inútil, a dor de ter que suportar tudo e não poder contar nada, porque se contar não fará diferença alguma. 

Hoje minhas experiências, meus conselhos, meu sorriso e meu abraço pouco lhe importam, o que lhe importa agora é a sua liberdade, que de fato ela chegará, e depois te acorrentará quando os meus dias se tornarem seus dias.

Pensa bem meu filho, ainda somos quase todos iguais, pois a única diferença é a intensidade do Amor, leve como uma brisa, forte como o sol, e verdadeiro como nossa ida, portanto, ame enquanto há tempo, Ame com Alzheimer, com cardiopatias, com neoplasias, Ame em qualquer situação, pois a vida não espera e o tempo não nos perdoa, hoje ele é seu amigo, amanhã poderá ser seu castigo.
(De qualquer Idoso abandonado deste mundo)

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