Você
se vai no trem dos desmemoriados
Seu
trem se vai crescendo em força devagar
Leva
consigo qualquer coisa que você tenha pensado
Ou
quisesse dizer qualquer coisa que você
acaso
tenha desejado ao longo de sua vida
Ou
quiçá no fundo de sua vida antes do trem
Não
sabemos o que levam os trens nos seus binários
Binários
somos todos há a razão e o coração
Não
sabemos quê seria se as emoções falassem
Acaso
houve alguma emoção na sua vida?
Acaso
você amou as monjas os pedestres
Odiou
os limites a mãe a
incerteza
Terá
você sentido ciúmes repudiado os castigos
Acaso
amou a Deus? Ou o temeu como todos?
Como
é silencioso esse trem nem fumaças
Nem
os apitos densos nem
o sussurro elétrico
Como
é insidioso esse trem ele te leva
Devagar
e constante e negro e sem remédio
Não
há memória desse trem nos outros homens
Ninguém
sabe a que veio aonde
vai não sabe
Suspeita-se
que um dia há de levar a todos
Sepultando
as invejas e todas as paixões
Mas
a mim não me importam as centelhas
Nem
os fogos das máquinas nem os sinos dos chefes
Me
importa apenas a memória e ela está morta
Ninguém
responde às perguntas inúteis
No
trem dos desmemoriados Ninguém sabe
Qual
seria afinal o teor das palavras
Houve
alguma palavra? Disse algo? Falava?
Por
que o aceno ao longe das últimas janelas?
O
trem dos desmemoriados se estende como um bicho
Porque
ninguém jamais soube da sorte que lhe cabia
Essa
desordem murcha que atinge os desmemoriados
E
os desorienta essa fadiga das lembranças
Esse
medo ao passado não vivido
Será
essa afinal a causa da viagem
Razão
de ter você comprado o seu bilhete
De
ter por seu prazer
renunciado à consciência
Por
sua escolha ter desistido da vida?
Você
quis por acaso essa
viagem incurável?
(Renata Pallottini)
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