domingo, 28 de dezembro de 2014

A SEPARAÇÃO - FILME



Nader e Simin divergem sobre a possibilidade de deixar o Irã. Simin quer deixar o país para dar melhores oportunidades a sua filha, Termeh. Nader, no entanto, quer continuar no Irã para cuidar de seu pai, que sofre do Mal de Alzheimer. Chegam a conclusão de que devem se separar, mesmo ainda estando apaixonados. Sem uma esposa para cuidar da casa, Nader contrata uma empregada para ser responsável pelos afaseres domésticos e por tratar da rotina de seu pai. A empregada, que está grávida, aceita o trabalho sem avisar o seu marido.   Quando o filme começa, a câmera focaliza Simin e Nader tendo a discussão acima perante o que julgamos ser um juiz. O resultado é que a separação não é concedida mas Simin resolve ir para a casa dos pais. Termeh fica com Nader ajudando-o a cuidar do pai. No entanto, claro, a ausência de Simin é sentida e, a partir daí, o filme realmente começa.   Sem Simin, Nader tem que contratar alguém para cuidar da casa e, no mínimo, olhar por seu pai que piora a cada dia. Entra, então, Razieh (Sareh Bayat), mulher mais humilde e altamente religiosa que passa a cuidar da casa e, por consequência, do senhor idoso (apesar de sua enorme relutância nesse sentido, ligando até para um serviço telefônico de "disque-pecado" para saber se trocar as calças de um idoso com Alzheimer e que se urinou todo é ou não um ato pecaminoso).


Contar mais é estragar o filme mas basta dizer que, a partir daí, as coisas pioram muito para o casal Simin e Nader, especialmente para Nader. Grande parte do filme se passa em um tribunal mas não como estamos acostumados a ver em filmes hollywoodianos. No Irã, conforme mostra o filme (não saberia dizer se é assim mesmo ou se o diretor exagerou mas tenho para mim que é assim mesmo) a informalidade impera, com Juízes dando opiniões o tempo todo e pedindo depoimentos que poderiam ser facilmente alterados por alguém de má fé. Advogados basicamente não existem. O diretor e roteirista, Asghar Farhadi, navega por águas turbulentas e apresenta um filme brilhante, com caracterizações e atuações inesquecíveis. Tudo é muito intimista mas funciona para mostrar a sociedade iraniana com um todo, sem tomar partido. O grande ponto que, para mim, o diretor quis mostrar, porém, é o quanto a verdade é relativa. Há um acontecimento no filme que catalisa o julgamento que mencionei e que serve para mostrar a natureza humana (pouco importa se é um humano do Irã ou de um outro país) e as várias versões da verdade. Talvez seja o melhor trabalho nesse sentido depois de Rashomon, de Kurosawa. Quando Farhadi entra no aspecto religioso (novamente, sem julgar), ele o faz de maneira natural, sem chamar atenção para o fato e isso, de certa maneira, é que capaz de assombrar a nós, membros de sociedades em que a separação entre religião e estado é a norma (apesar de não haver a separação absoluta na prática). Eu, particularmente, fiquei de queixo caído com o quanto o "juramento sobre o Corão" é levado à sério. Tente contrastar isso com "juramentos sobre a Bíblia" para vocês perceberem o que estou falando.

Apesar de um roteiro incrível, bem amarrado e que não tem cenas irrelevantes, o que chama atenção mais ainda são as atuações. Peyman Maadi, Sareh Bayat e Shahab Hosseini (que faz Hadjat, o marido de Razieh) estão perfeitos em seus respectivos papéis. Leila Hatami está apenas correta, porém, sem comprometer o filme. Mas o grande destaque é mesmo Sarina Farhadi (no papel de Termeh, a filha do casal principal). Que coisa incrível. A garota passa o sentimento de angústia diretamente para nós, espectadores. Ela assiste a tudo o que está acontecendo quase sem poder fazer nada mas, ao mesmo tempo, suas ações demonstram uma monstruosa compreensão do que está ocorrendo. Seu mundo está desmoronando e ela sabe que talvez dependa dela a saída de tudo. Fico pensando se a atriz (filha do diretor, aliás) não tem uma maturidade que vai além de sua tenra idade. Se ela tem toda essa maturidade, fico por um lado feliz pois ela consegue nos brindar com uma atuação inesquecível mas, por outro, fico triste pois esse grau de sapiência me parece incompatível com uma infância que tenha sido realmente aproveitada. Mas quem sou eu para julgar? Fato é que Sarina Farhadi arrasa. Muitos reclamarão do final do filme e não vou dizer o porquê pois qualquer pista estragaria o prazer de ver o filme. Mas vão por mim: esse era o único final possível. Se o diretor tivesse ido além, o final não seria compatível com o resto do filme. Assistam e impressionem-se.
http://metidoacritico.blogspot.com.br


(adicionar legenda que fica na parte abaixo)

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