Se meu
cérebro for tomado
sorrateiramente pela doença de Alzheimer,
e então ela me levar a memória,
me trouxer confusão mental, me tirar a lucidez e me enviar
constantemente para o passado …
Lembrem-se
que:
Ainda
tenho a lembrança de quem eu sou, talvez vagamente e que gosto de
ser chamado pelo meu nome ou pelo nome carinhoso que costumam usar
para me chamar – vovô, papai …
Muitas
vezes pedirei para voltar para minha casa, aquela de anos passados;
talvez ela não mais exista, mas por favor, criem um espaço meu, com
minhas coisas, o sapato preferido, a camisa da minha cor preferida,
meus livros antigos, meus discos, fotos de tempos idos, meu perfume
preferido e coisas assim; não joguem fora coisas minhas, ainda que
velhas, pois elas podem me devolver alguns momentos fugazes de
lucidez e quem sabe, revivê-los, por instantes, as sensações e
lembranças associadas.
Sempre
gostei de música e muitos momentos felizes e marcantes de minha
vida, podem ter trilhas sonoras de alguma canção que me evoca o
clima de então, as pessoas que compartilharam aqueles momentos.
Então, deixem-me ouvir estas músicas (mas não se aborreçam se
pedir que as toquem repetidas vezes, pois não me lembrarei de que
acabo de ouvi-las).
Vou
gostar de receber visitas de meus amigos, meus filhos, meus netos;
receber abraços e beijos destas pessoas me farão sentir o calor do
afeto assim como me farão sentir ainda importante.
Se
eu não retribuir os abraços e os beijos com o mesmo carinho, é
porque meus braços e meus lábios não me obedecem como deveriam.
Se
eu não demonstrar gratidão pela sua dedicação, deixo desde já
aqui registrado, pois muito provavelmente não saberei mais como
fazê-lo.
A
minha falta de interesse, meu estado de alienação, meu
distanciamento, minhas confusões, não são intencionais – na
verdade, não tenho controle sobre estes estados.
Se
eu demonstrar irritação, inquietação ou ansiedade, talvez a causa
seja um ambiente ou um assunto que me traz sensações desagradáveis
de medo ou de insegurança; por favor, mudem de assunto, de ambiente,
falem ou mostrem coisas bonitas, mudem o foco.
Se
um dia eu não os reconhecer ou
tomá-los por outra pessoa, trocar nomes ou fatos, não se zanguem
comigo pois isso me deixará confuso e infeliz. Não é culpa minha,
é consequência da demência.
Se
eu acordar de madrugada e perambular pela casa à procura de algo
perdido, não se irrite, por favor, ajude-me a entender o que está
acontecendo e me tirar a ansiedade.
Não
quero ser tratado como uma criança. Trate-me como adulto que sou.
Não quero que me excluam das festas e encontros familiares.
Se
não puderem cuidar de mim o tempo inteiro, todos os dias, não se
sintam culpados; encontrem pessoas que possam lhes dar uma folga e,
se um dia precisarem me internar numa casa
de repouso, que seja
um lugar bom para viver e me visitem sempre.
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