sexta-feira, 28 de outubro de 2016

LIVRO : O TEMPO DA MEMÓRIA - NORBERTO BOBBIO



Sinopse:
Aos 87 anos, o filósofo e jurista Norberto Bobbio fala de si mesmo e de sua trajetória intelectual, em um ensaio que consiste em reflexões sobre o significado da vida e testemunhos autobiográficos. Representa um balanço definitivo de uma vida consagrada ao estudo dos grandes temas do direito e da política e constitui também um testemunho direto de mais de meio século de história da Itália e da Europa. A primeira parte é uma reflexão sobre o significado da velhice no mundo contemporâneo, de pessoas que estão, como Bobbio, com mais de 80 anos e se multiplicaram graças aos progressos da medicina e da saúde pública. A segunda parte é um conjunto de ensaios que representam um balanço e avaliação de sua vida, onde sua produção intelectual revela um intelectual inquieto, voltado para a análise e a reflexão, de enorme curiosidade e variados temas, que buscou com rigor conhecer e compreender o mundo através do diálogo com os conceitos e os homens. 

Destaques:
"Os pensamentos de um ancião tendem ao enrijecimento. Depois de certa idade, desistimos de mudar de opinião. Tornamo-nos cada vez mais obstinados em nossas convicções e mais indiferentes às dos outros. Os inovadores são vistos com desconfiança. Ficamos cada vez mais apegados às velhas idéias e, ao mesmo tempo, cada vez mais desconfiados das novas. O excessivo apego às próprias idéias nos torna mais facciosos. Eu mesmo percebo que preciso ficar alerta.

Sobre o pessimismo:... Que abismo de ignorância e de baixo egoísmo se esconde em quem pensa que o homem é o deus de si mesmo e que o seu futuro não pode deixar de ser triunfal. Concluo com este pensamento de Nicola Chiaromonte: “(...) acredito que, hoje mais do que nunca, o pior inimigo da humanidade é o otimismo, qualquer que seja sua forma. Ele, de fato, equivale pura e simplesmente à recusa de pensar, por medo das conclusões a que poderíamos chegar.”

Citando versos de Dario Bellezza: “Fugaz é a juventude, um suspiro a maturidade, avança terrível a velhice e dura uma eternidade”.

A velhice passa a ser então o momento em que temos plena consciência de que o caminho não apenas não está cumprido, mas também não há mais tempo para cumpri-lo, e devemos renunciar à realização da última etapa.

Pareto, iconoclasta, céptico apaixonado, ajudou-me a compreender os limites da razão e ao mesmo tempo o infinito da insensatez humana.

Em que é que o senhor deposita suas esperanças, professor? Eu lhe respondi: Não tenho esperança alguma. Como leigo vivo em um mundo onde a dimensão da esperança é desconhecida. Explico: a esperança é uma virtude teológica. As virtudes do leigo são outras: o rigor crítico, a dúvida metódica, a moderação, o não prevaricar, a tolerância, o respeito pelas idéias alheias; virtudes mundanas e civis.

A velhice é uma fortuna, não é uma virtude, ainda que possa ser uma virtude tentar tirar o melhor proveito da fortuna."

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