quarta-feira, 25 de junho de 2014
VOCÊ PODE ME OUVIR?
TEMPO PERDIDO - LEGIÃO URBANA
Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.
Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder".
Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem,
Selvagem;
Selvagem.
Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus
Olhos: castanhos.
Então me abraça forte e,
Me diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo,
Temos nosso próprio tempo,
Temos nosso próprio tempo.
Não tenho medo do escuro,
Mas deixe as luzes acesas agora,
O que foi escondido é o que se escondeu,
E o que foi prometido,
Ninguém prometeu.
Nem foi tempo perdido;
Somos tão jovens,
Tão jovens,
Tão jovens.
VIVENCIANDO AS PERDAS
Com o Alzheimer, conheci a impotência do ser humano diante de uma doença incurável. Surgem os momentos de revolta diante da progressão da degeneração física e mental, apesar dos cuidados e da assistência.
Minha mãe completará 80 anos em maio e o Alzheimer
foi diagnosticado há quatro anos. De repente, os papéis se inverteram:
perdi a posição de filha e assumi a de mãe. Perdi o abraço forte, o
afago terno e carinhoso. Perdi os meus parâmetros, os meus caminhos, o
ombro amigo, o meu modelo.
O afastamento da imagem que idealizei da minha mãe
quando ficasse velhinha é cada vez maior. Vieram as mudanças de
comportamento em forma de agitação, de agressividade, da perda da fala,
das boas maneiras, do controle motor. Ela passou a depender totalmente
de mim, até mesmo nas tarefas mais simples. Embora tenha perdido a
identidade, eu não posso permitir que ela perca a dignidade.
Com dificuldade, precisamos trabalhar as emoções:
dor, tristeza, angústia, insegurança, medo. As perdas vão se acumulando.
A cada momento, estabeleço um novo vínculo com ela e o perco em
seguida. Amanhã, terá mudado, hoje não sabe o que sabia ontem. É como se
ela se tornasse, a cada dia, uma nova pessoa ao mesmo tempo em que a
outra morre.
Ela não deixou de existir. Se despersonalizou.
Esqueceu sua história, perdi minha mãe, mas ela não morreu. Perdi o
papel de filha. Ela é minha mãe, mas eu não sou sua filha. Ela está para
mim, mas eu não estou para ela. Vivencio um luto diário.
Além de perder a relação com minha mãe, perdi
alguns amigos, o apoio de alguns parentes tão queridos, a qualidade de
vida, a oportunidade de “curtir” a expectativa da chegada do primeiro
neto. Acima de tudo, a fé é de grande ajuda. Sei que
Deus não permite um fardo maior do que eu possa suportar. Como disse
Madre Teresa de Calcutá, “apenas gostaria que ele não tivesse confiado
tanto em mim”.
Graças a Deus, existe a ABRAz que nos dá
informação sobre a Doença de Alzheimer e como cuidar. Os Grupos de Apoio
e, particularmente, o do Serviço de Psicologia e Higiene Mental do
Hospital São Cristóvão, onde encontrei as psicólogas Clara e Maristela
que, com seu profundo senso de amor ao próximo, juntamente com os amigos
familiares, nos ajudam a elaborar a aceitação da doença.
Lá aprendi a descobrir novos caminhos na vida, a
não me isolar, a estruturar a vida e reestruturar a escala de valores e a
repartir nossas dores e angústias. Pude entender que não podemos viver
só para o doente, que não podemos deixar de viver a nossa vida, de abrir
espaço para novos interesses. Aprendi que a maior arma contra a doença
são o carinho e o amor e encontrar o equilíbrio emocional para esse
cuidado.
Embora sofra com a perspectiva, aprendi a ver a
morte como um fato natural da vida. Ganhei muito amigos sinceros e o
maior aliado, meu marido. A ele, minha eterna gratidão pela paciência,
pelo carinho e amor que devota à minha mãe, me auxiliando a cuidar dela
em todos os momentos sem esmorecer e sempre me encorajando.
Com minha mãe, aprendemos a usufruir de momentos
indescritíveis. Temos a recompensa da alegria do brilho de seus olhos.
Ela não nos reconhece, mas nós ainda nos comunicamos. Acariciamos sua
face, beijamos seu rosto e ela beija nossa mão, mesmo não lembrando que
sou sua filha e nem de seu genro. Não entendemos mais sua fala, mas seu
sorriso é a linguagem que conforta nossa alma.
Yone de Moura Beraldo- Coordenadora GA Penha da ABRAz-SP
http://abraz.org.br/v
ALZHEIMER - ALERTA
terça-feira, 24 de junho de 2014
REALIDADE (08)
Sinto
a cada dia que estou perdendo a minha amada mãe para o Alzheimer.
Dificuldades de comunicação, passos lentos com pouco equilíbrio,
dificultados pela rigidez dos músculos, o silencio mais frequente,
dentre outras transformações observadas no dia a dia.
Perceber
que a memória está esvaziando, que está perdendo as recordações
mais importantes e a capacidade de interagir. Perder o contato com o
mundo e com os entes queridos enquanto o corpo permanece vivo é uma
dor sem tamanho. É uma assustadora perspectiva para os portadores do
mal de Alzheimer. Uma vida sem passado e sem presente.
"Percebo
com clareza que o portador do Alzheimer é um guerreiro solitário
travando uma luta constante e inglória contra o vazio do
esquecimento… No mundo das palavras, seu campo de ação torna-se
cada vez mais estreito e limitado para que possa dar vazão ao
império dos sentidos. Já no universo do sentir a vida pulsa
estrondosa e vibrante, sem subterfúgios nem fronteiras!"
A
DA nos causa medo porque atinge nosso fundamento e nosso indivíduo:
nosso espirito, nosso discernimento, nossa identidade. A doença se
nutre de tudo, engolindo com ela as lembranças de uma vida. Tudo se
torna diáfano : um esquecimento de si, uma dissolução existencial!.
Os
traços da doença de minha amada mãe, estão profundamente marcados
no seu rosto. Nota-se o cansaço e a inocência de cada expressão,
de cada palavra... Muitas vezes parece uma criança mais velha, se
perde na composição das frases, e a capacidade de pensamento é
mínima. Sinto perder-se no tempo, no espaço, no mundo, na vida.
Não
canso de falar: o Alzheimer é uma doença avassaladora e impiedosa,
cujo alvo não é somente o sujeito, mas todos aqueles que o cercam,
em um raio bastante amplo, alterando completamente a rotina familiar.
A doença vai modificando o humor, o comportamento e o tipo de
relação do enfermo com seu entorno social e seus familiares.
Quando
digo alteração na rotina familiar é no sentido de colaboração e
apoio de toda a família neste processo tão sofrido que a DA
produz. É no sentido de compartilhar com a família a dor e criar
juntos, possibilidades de outras pessoas participarem, oferecendo o
apoio e a troca entre os membros envolvidos.
“O
apoio neste momento é imprescindível, pois ajudará as famílias a
encontrar novas formas de enfrentamento, ao mesmo tempo em que,
cria-se um espaço para expressão da dor. A experiência de
compartilhar o medo e a insegurança, possibilita que os cuidadores e
familiares possam aproveitar melhor o tempo que ainda tem com seu
ente querido. O amor e o carinho são fundamentais neste momento de
resgate e despedida”.
Infelizmente,
a minha realidade é totalmente contrária ao que se espera. Intrigas
entre irmãos, total falta de compartilhar de dores e sentimentos.
Falta de colaboração nas divisões de atividades que produzam uma
melhor qualidade de vida para a minha amada mãe. Falta de confiança
e muitos outros sentimentos negativos. E acima de tudo, o que acho
mais sofrido, ausência de total manifestação de carinho com a
minha amada mãe, beijos, abraços, o “eu te amo”, nada... ,
tratando-se do comportamento da filha mais velha que mora com ela. É
uma pessoa fria, cristalizada em seus sentimentos.
Sinto
muitas vezes sem forças, com cansaço físico e acima de tudo
emocional. Muitas noites sozinha a chorar, a pedir a DEUS forças
para continuar com a minha missão junto com a minha amada mãe.
Quanto sofrimento, quanta dor. Sei que tenho uma “reserva de amor”
muito grande, isto é que me impulsiona a seguir em frente.
Procuro
a cada dia superar as dificuldades, acredito que tenho um poder de
resiliência, até então desconhecido. Tenho uma “energia
armazenada”, onde através de extrema dor e sofrimento, consigo
lançar mão de uma energia latente para superar cada dia as
dificuldades e tentar se preparar para os desafios que ainda virão.
Minha
amada mãe, continua sendo assistida por vários profissionais de
saúde. Sempre participando das datas comemorativas da família,
passeios nos shopping e outros tipos de lazer quando por ela
demandado. Conto com a minha irmã mais nova para compartilhar estas
atividades. O importante é não isolar, uma vez que ela sempre foi
comunicativa, gostava muito de viajar e participava inclusive de grupos da
Terceira Idade.
Apesar
de todo o sofrimento e dor ao observar a evolução da DA, é
importante enfrentar as tarefas menos estressante quando se busca
como grande aliado o AMOR.
Assim, quando o repertório
das palavras se evapora, voltamos a descobrir a forma única com a
qual todo o universo se comunica: as linguagens do corpo, da alma, do
coração!
O
verdadeiro amor não se resume ao físico, nem ao romântico, nem ao
bonito e muito menos ao que possuímos. O verdadeiro amor é
a aceitação de tudo que o outro é… suas qualidades e defeitos, o
inteiro que se torna metade de nós. O verdadeiro amor não se vale
de um momento de fraqueza ou de vangloria, mais sim de tudo que
foi um dia… do que será amanhã… e também daquilo que já não
é mais.. daquilo que deixou saudade, e faz a gente ter certeza de
que amor existe, mesmo quando já não existe mais..!!
“Quando
falo Amor, não é somente Amor de filha e sim um puro Amor
Consciente por um Ser Humano que você terá que dar banho, limpar e
lavar o bumbum; dar alimentação e remédios em horário certo; ser
firme na hora de dizer NÃO, quando na verdade está doida para ceder
e dizer SIM; dar uns gritos e ter aquela vontade de extravasar a sua
raiva dando umas boas palmadas e ter a consciência que não pode e
não deve fazer isso. Enfim, um Amor incondicional, independente de
ser filha/mãe, por um Ser Humano C O M P L E T A M E N T E
dependente de você. E você se emociona com esse Amor porque se vê,
apesar das cobranças de terceiros, com o seu espírito amadurecido,
a entender o porquê da sua existência. E chega a conclusão que
apesar de tudo, o Mal de Alzheimer é na verdade um veículo para
fazer você enxergar o poder desse Amor”.
As
emoções do doente de Alzheimer são um terreno ainda bastante
inexplorado. As pesquisas se preocupam muito com a cognição, mas
não com a emoção. É possível que para o doente de Alzheimer
alguns sentimentos, principalmente o carinho, sejam os únicos
vínculos que os mantêm ligados à realidade que os circunda.
O amor estimula a memória. Com uma vida afetiva ativa, a
doença progride mais lentamente.
E com certeza, é com este amor e carinho que continuarei minha missão junto a minha amada mãe. TE AMO
quinta-feira, 19 de junho de 2014
O VALOR DO SILÊNCIO
O silêncio ajuda a nossa procura de nós mesmos e orienta cada passo da nossa vida. Atualmente, o silêncio acaba por ser um bem extremamente precioso e pouco utilizado. As pessoas perderam a noção da relevância que tem silenciar.
Andamos atarefados na nossa vida, num
constante “inconstante”, sem parar, sem saber por onde e para onde ir.
Quantos questionamentos, quantas perguntas sem respostas que nos fazem sentir sozinhos, desalentados, sem rumo.
E acabamos por perder o sentido da nossa vida, o objetivo. Metas que
temos, mas que se vão desvanecendo e acabam por ser inalcançáveis e
ficamos perdidos, desnorteados.
O silêncio é a nossa chave! É a resposta a muitos questionamentos que carregamos. É a ferramenta para nos encontrarmos connosco e encontrarmos a nossa essência. Mas como? De que forma o silêncio é tão relevante para a nossa vida? O silêncio faz com que tudo o que nos
rodeia e inquieta, acalme.
Por mais preocupados que estejamos, por mais
dificuldades que nos abarquem, necessitamos silenciar! E o silêncio não é só calar,
não é só ir para um lugar quieto e sem barulho, porque até aí podemos
não estar em silêncio. Precisamos de silêncio interior. Até podemos
estar rodeados de pessoas, mas conseguimos silenciar o nosso pensamento e
organizarmos as nossas ideias, as nossas vontades, os nossos
objetivos. O silêncio vem reforçar o que temos cá dentro. Vem orientar-nos para a nossa meta.
Cada vez mais é necessário silenciar em
qualquer situação, parar antes de responder, antes mesmo de dizer algo
que vai ferir o outro, antes de dar uma ordem menos certa, ou com um tom
autoritário, antes de tomar uma decisão precipitada de que me vou arrepender. Vamos tentar silenciar mais e ouvir o interior de nós mesmos. Quantas decisões poderiam ter sido diferentes se silenciássemos antes.
Iremos perceber mudanças em nós, mesmo
que pequenas agora no início, e nos outros, igualmente. Iremos evitar
situações menos agradáveis para nós. Em última instância, iremos viver de modo mais completo e pleno! Vamos sentir que não somos ovelhas comandadas pelas outras a seguir o mesmo caminho, “só porque sim”! Vamos ter controlo em nós, nas nossas decisões, na nossa vida!
(Marta Faustino)
domingo, 15 de junho de 2014
DICAS PARA REDUZIR RISCOS DE DEMÊNCIA
sexta-feira, 13 de junho de 2014
VOCÊ NÃO ME ENSINOU A TE ESQUECER - CAETANO VELOSO
Não
vejo mais você faz tanto tempo
Que vontade que eu sinto
De
olhar em seus olhos, ganhar seus abraços
É verdade, eu não
minto
E
nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me
trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro
Você
bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo
agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la
Agora,
que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te
esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou
tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços
seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em
que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho
Agora,
que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te
esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou
tentando me encontrar
E
nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me
trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro
Você
bem que podia perdoar
E só mais uma vez me aceitar
Prometo
agora vou fazer por onde nunca mais perdê-la
Agora,
que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te
esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou
tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços
seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em
que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho
Agora,
que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te
esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou
tentando te encontrar
Vou me perdendo
Buscando em outros braços
seus abraços
Perdido no vazio de outros passos
Do abismo em
que você se retirou
E me atirou e me deixou aqui sozinho
Agora,
que faço eu da vida sem você?
Você não me ensinou a te
esquecer
Você só me ensinou a te querer
E te querendo eu vou
tentando me encontrar
quarta-feira, 11 de junho de 2014
A VOVÓ VIROU BEBÊ
A vovô virou bebê, da autora Renata Paiva, conta a
história de Sofia, de sete anos, que começa a perceber um comportamento
estranho de sua vó Dorinha. Ela abotoa a blusa errado, esquece das
coisas que estava fazendo e começa a precisar até de uma babá. Logo, a
menina descobre que a vó tem Alzheimer.
Sofia, logo, percebe que há algo errado acontecendo e fica cheia de medos e dúvidas. Com a ajuda de sua mãe, Sofia vai descobrir como cuidar de vovó Dorinha.
A VOVÓ VIROU BEBÊ -um livro cheio de amor e carinho, capaz de emocionar
crianças e adultos.
sexta-feira, 6 de junho de 2014
DEPOIS DA TEMPESTADE
Depois das grandes tempestades em nossas vidas, às vezes, ao invés da bonança esperada, costumamos fechar a alma para balanço. E por mais que digamos estar disponíveis ao diálogo, bem no fundo do nosso coração colocamos uma porta. E esta porta fica tão trancada, que se nós mesmos não a abrirmos, tornar-se-á quase que intransponível.
É
como se nossa casa tivesse sido saqueada e o medo de que fosse arrombada
de novo não nos deixasse viver sossegados. Visitantes cadastrados até
poderiam chegar ao jardim ...mas passar da soleira , quem disse? E
ficamos tantas vezes nos perguntando, o porque de ninguém se aproximar
muito de nós se pensamos, numa atitude de bloqueio à verdade, que
estamos dando espaço para que todos nos visitem.
Fingimos não enxergar o
letreiro luminoso de "passagem proibida" ou os cadeados enormes que
colocamos nos portões e nos muros que erguemos ao redor de nós, porque é
duro admitir que temos medo de mais experiências depois que uma, duas,
três ou mil delas não deram certo. Mas se só as pessoas sensíveis
enxergam esse bloqueio e elas são cada vez em número menor, as não tão
persistentes se afastam, com medo de que soltemos os cães bravos em cima
delas e as ponhamos para correr.
Assim
acabamos, por comodismo, ficando com as pessoas menos perigosas; com
aquelas com quem sabemos que nunca chegaremos a ter envolvimento maior,
até porque sua percepção não é tão aguçada para penetrar no nosso
interior. Ficamos com aquelas com quem temos menos afinidade e pouco
cumplicidade, principalmente aquela que vem do fundo da alma, porque não
queremos que ninguém invada a fortaleza inexpugnável dos nossos
segredos, onde guardamos as mágoas, os ódios não passados a limpo e os
amores mal sucedidos.
Não queremos saber de quem nos leia pensamentos e
não pretendemos nos prender a nada, embora digamos sempre o contrário e
saibamos que a falta das amarras num porto onde poderemos atracar quando
estamos à deriva, pode constituir uma bela teoria de liberdade, mas não
nos gratifica, pois o ser humano não nasceu para ficar só.
Nós,
hoje, mal ou bem podemos escolher nossos amores e amigos. E que
possamos escolher os melhores, e não os mais cômodos. E que possamos,
também, ter alguns inimigos e, entre os nossos conhecidos, pessoas
incompatíveis conosco, porque são eles que nos ajudam a superar os
nossos limites e nos botam para frente, nem que seja para que lhes
mostremos do que e o quanto somos capazes.
Precisamos ter histórias para
contar, sejam elas com finais tristes ou felizes. Precisamos passar por
experiências que nem sempre são gratificantes pois uma existência
passada em brancas nuvens, é uma existência sem frutos.
Um
dia, talvez, venhamos a entender melhor os mistérios da vida e que,
para chegarmos a um determinado ponto, muitas vezes teremos que passar
por vários obstáculos. Talvez entendamos que precisamos nos purificar
sofrendo várias provações até conseguir nossos objetivos e receber
alguma recompensa.
Algumas doutrinas religiosas e filosóficas tentam
explicar porque algumas pessoas sofrem e outras são poupadas e porque
alguns de nós encontram suas metades e outros passem a vida inteira a
procurá-las. Mas são explicações que talvez nós leigos, não consigamos
facilmente entender.
A única coisa que podemos arriscar , é que nada
acontece por acaso ( ou será que acontece?). Talvez, quando sofremos,
estejamos passando por um processo de purificação que nunca será
entendido ou aceito por nós enquanto estivermos vivendo a experiência.
Talvez, quando procuramos alguém ou alguma coisa, estejamos nos
informando; talvez quando encontramos tanta gente incompatível conosco é
porque, de alguma maneira, somos ou fomos as pessoas determinadas a
surgir em suas vidas, seja para suportá-la, ajudá-las ou para que,
através delas, aprendamos alguma lição importante: da serenidade à
perseverança, da paciência à fé.
Mas,
por mais que apanhemos, que nos escondamos para fugirmos da vida, de
nós mesmos, dos machucados e rejeições, tudo passa. O desespero nunca
foi solução para nada pois, afinal, não há mal que sempre dure e nem bem
que nunca acabe.
A vida sempre seguirá dando voltas. Tomara que
saibamos aproveitar as ascensões para levantar quem estiver próximo de
nós e as quedas para aprendermos a ser humildes.
http://leilareis.blogspot.com.br/
O MUNDO DA MENTIRA
Há
realidades difíceis de suportar. Há situações tão dolorosas e tão
irreais, embora cruelmente reais, que certas pessoas preferem negá-las,
como se com isso pudessem apagar sua existência. E para fugir desses
punhais que rasgam a alma com tanta violência é que muitos preferem se
refugiar num mundo invisível, sob uma redoma de proteção que as impedem
de ver de perto e enfrentar o que tanto faz mal.
Essas
pessoas, ao querer libertar-se de um peso, tornam-se escravas da
própria dor. Sem justificativas, justificam-se na recusa da cura, que é o
encarar a realidade e vê-la de maneira nova e diferente.
Essas
pessoas, julgadas doentes, loucas e insanas são apenas uma pequena
porcentagem de um mundo onde negar a realidade é a coisa mais banal que
existe. Viver no mundo da mentira não é apenas ter um comportamento
exclusivo dos que julgamos loucos.
Vive
na mentira quem não aceita o fim de qualquer situação: amores que se
desgastaram, filhos que cresceram, uma doença que chegou sem avisar,
alguém que foi embora, escolhas que não aprovamos e todas essas
pequeninas coisas do dia-a-dia que, pequenas, fazem parte da nossa vida.
Chorar
e ficar calado num canto não muda nada do que vivemos, a não ser nos
deixar à parte da vida que continua a correr do lado de fora. Fazer-se
de cego e surdo não modifica a realidade do que não podemos controlar,
nem o que os outros pensam e sentem.
Poderemos evitar os espelhos por algum tempo, mas não os evitaremos a vida toda.
Melhor que ignorar a realidade que nos machuca é pegar o que sobra dela e construir um novo mundo ou uma nova maneira de viver.
Se
a chuva nos pega de surpresa, que então nos molhe completamente, que o
sol nos seque, que o frio não nos impeça de sair de casa, que o calor
não nos impeça de dormir, que a dor doa e parta e que a vida seja
inteira, completa e real!
(Letícia Thompson) |
quinta-feira, 5 de junho de 2014
quarta-feira, 4 de junho de 2014
COLHENDO FLORES ENTRE ESPINHOS
A
felicidade, a eterna juventude e a imortalidade estão entre os sonhos
mais acalentados pelo ser humano. A procura dos fatores genéticos que
possam justificar um envelhecimento bem-sucedido é uma das investigações
do nosso tempo, mas tem-se revelado inconclusiva.
Para um filósofo ou um teólogo a felicidade não deve ser confundida
com momentos fugazes nem com meros sentimentos, só pode ser alcançada
por quem está disposto a assumir certos pressupostos. Obviamente que
para um cristão não há felicidade sem encontrar Deus, ele é a verdadeira
fonte de juventude, é ele que desperta as energias adormecidas, sem
prejuízo das esperanças revolucionárias que pomos na biogenética e na
biotecnologia.
Os autores
escrevem sem dar margem a equívocos: “A arte de ser feliz e a arte de
manter vivo o vigor da juventude estão intimamente ligadas à arte de
cultivar cuidadosamente as sementes da imortalidade”.
É bom ter sempre em conta que o estudo do envelhecimento como
processo existencial é relativamente recente, só nas últimas décadas se
começaram a dar passos gigantes na gerontologia (voltada para o
bem-estar integral das pessoas de idade) e da geriatria (mais preocupada
com as doenças. Hoje a gerontologia fala em velhice inicial e em
velhice avançada em terceira e quarta idades.
Graças à biogenética, os seres deixaram de ser identificados apenas
pelas aparências mas pelo que são na sua interioridade. Mais do que um
somatório de funções orgânicas bem ou mal organizadas, o grande desafio
de um sénior é saber administrar perdas e ganhos, estamos em permanente
evolução e interação com o meio circundante.
Há mesmo quem diga que não há continuidade dos processos existenciais
mas sim sucessivas mudanças. Quem busca novos ganhos mantém-se jovem,
rompe menos penosamente com rotinas, recupera mais facilmente de
eventuais fases depressivas. A chave do sucesso poderá passar por saber
cuidar-se e ser cuidado.
No envelhecimento bem sucedido a pessoa deve estar bem relacionada
consigo e saber defrontar o diferente – o envelhecimento é um processo
contínuo de transformação do humano como ser único em seu tempo vivido, e
esta consideração vale para a relação familiar, para quem se educa para
envelhecer, para quem sabe cultivar os seus dons e não ter medo de se
olhar ao espelho.
Noutra dimensão, os autores falam do corpo e da corporeidade. Há
diferentes maneiras de ver o corpo (higiene, moral, arte, beleza…), a
linguagem corporal é um verdadeiro livro aberto, no nosso tempo andamos
na busca do corpo perfeito; a corporeidade é uma nova maneira de
compreender os seres humanos, de analisar o seu lugar na família, na
sociedade, nas suas ligações com o transcendente. Nós refletimos no
espelho social mas o envelhecimento também faz parte de um processo
existencial, é uma caminhada. Porque envelhecer significa mudar sem
perder a identidade, conhecer o tempo e caminhar com ele, estar no tempo
e também contra o tempo, no fundo chegar ao alto da montanha, saber que
se subiu degrau a degrau.
A condição de bem viver passar por não ter medo de morrer, em aceitar que a vida
se constitui numa aventura, que o ser humano é grande e pequeno;
grande, quando se aceita alegremente ser gestor de si mesmo e
participante do que se passa nos outros seres à sua volta; pequeno,
aceitando, com deslumbramento, contemplar o céu e respeitar a obra do
criador, exaltando-a como a obra-prima absoluta.
No fundo, o
envelhecimento com qualidade é uma associação bem doseada entre o
progresso científico e a resposta pessoal à alegria de viver.
Extraído de: http://www.oribatejo.pt/2011/05/colhendo-flores-entre-espinhos/
domingo, 1 de junho de 2014
ALZHEIMER - O MAL DO SÉCULO
Meu pai está com
Alzheimer. Logo ele que durante toda vida, se dizia "o
Infalível". Logo ele, que um dia ao tentar me ensinar
matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que
batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos
de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando
tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: externocleidomastóideo.
O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas para mim, basta saber
que ele esquece o meu nome, mal anda, toma os líquidos de
canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais
suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios
paranóides comuns nas demências tipo Alzheimer.
Aliás, fico até mais tranqüilo diante do "eu não sei ao certo" dos
médicos, prefiro isso ao "estou absolutamente certo de que...",
frase que me dá arrepios.
Há trinta anos, não ouvia sequer uma menção a
essa doença maldita. Hoje, precisaria ter o triplo de dedos
nas mãos para contar os casos relatados por amigos e clientes
em suas famílias. O que está acontecendo? Estamos diante de um
surto de Alzheimer? Finalmente nossos hábitos de vida
"moderna" estão enviando a conta? O que os pesquisadores sabem de
verdade sobre a doença? Qual é o lado oculto dessa manifestação tão
dolorosa?
Esse estudo citado no livro A Saúde do Cérebro, Dr. Robert Goldman, Ed. Campus, foi feito pelo Dr. Snowdon, da Universidade de Kentucky. Eles estudaram 700 freiras do convento de Notre Dame. Na verdade, eles leram e analisaram as redações autobiográficas, que cada freira era obrigada a escrever logo ao entrar na ordem. Isso ocorria quando elas tinham em média 20 anos. Essas freiras (um dos grupos mais homogêneos possíveis, o que reduz muito as variáveis que deveriam ser controladas), foram examinadas regularmente e seus cérebros investigados após sua morte. O que se constatou foi surpreendente. As que melhor se saíram, nos testes cognitivos, e nas redações, em termos de clareza de raciocínio, objetividade, vocabulário,capacidade de expressar suas idéias; mesmo apresentando os acidentes neurológicos típicos do Alzheimer (placas e massas fibrosas de tecido morto) não desenvolveram a demência característica da doença. Ou seja, elas tinham as mesmas seqüelas que as outras freiras com Alzheimer diagnosticado, (e que tiveram baixos escores em testes cognitivos e na redação), mas não os sintomas clássicos, como os do meu pai.
A minha interpretação de
tudo isso: Não temos muito como controlar todos os fatores, de
risco apontados como vilões, alimentação, pressão alta,
contaminação ambiental, stress, e a genética (por enquanto). Mas
podemos colocar o nosso cérebro para trabalhar. Como?
Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, cirando novos circuitos neurais, que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida"bandida". Meu conselho: não sejam infalíveis como o meu pobre pai, não cheguem ao topo nunca, pois dali, só há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.
Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.
Não
existem estudos, provando que o Alzheimer é a moléstia
preferida dos arrogantes, autoritários e auto-suficientes,
mas a minha experiência mostra que pode haver alguma coisa
nesse mato.
Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades. Sete (7) de cada 10 doentes, nunca ligaram para essas "bobagens" e viveram vidas medíocres e infelizes. (muitos nem mesmo tinham consciência disso).
Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum.. preocupante).
Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade.
Parodiando Maiakovski ("melhor morrer de vodka do que de tédio"), digo: melhor morrer lutando o bom combate, que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer. Vamos nos cuidar...
http://www.sandraregina.med.br/
Assinar:
Postagens (Atom)