sexta-feira, 6 de junho de 2014

O MUNDO DA MENTIRA


Há realidades difíceis de suportar. Há situações tão dolorosas e tão irreais, embora cruelmente reais, que certas pessoas preferem negá-las, como se com isso pudessem apagar sua existência. E para fugir desses punhais que rasgam a alma com tanta violência é que muitos preferem se refugiar num mundo invisível, sob uma redoma de proteção que as impedem de ver de perto e enfrentar o que tanto faz mal.

Essas pessoas, ao querer libertar-se de um peso, tornam-se escravas da própria dor. Sem justificativas, justificam-se na recusa da cura, que é o encarar a realidade e vê-la de maneira nova e diferente. 

Essas pessoas, julgadas doentes, loucas e insanas são apenas uma pequena porcentagem de um mundo onde negar a realidade é a coisa mais banal que existe. Viver no mundo da mentira não é apenas ter um comportamento exclusivo dos que julgamos loucos. 

Vive na mentira quem não aceita o fim de qualquer situação: amores que se desgastaram, filhos que cresceram, uma doença que chegou sem avisar, alguém que foi embora, escolhas que não aprovamos e todas essas pequeninas coisas do dia-a-dia que, pequenas, fazem parte da nossa vida.

Chorar e ficar calado num canto não muda nada do que vivemos, a não ser nos deixar à parte da vida que continua a correr do lado de fora. Fazer-se de cego e surdo não modifica a realidade do que não podemos controlar, nem o que os outros pensam e sentem.

Poderemos evitar os espelhos por algum tempo, mas não os evitaremos a vida toda. 
Melhor que ignorar a realidade que nos machuca é pegar o que sobra dela e construir um novo mundo ou uma nova maneira de viver. 

Se a chuva nos pega de surpresa, que então nos molhe completamente, que o sol nos seque, que o frio não nos impeça de sair de casa, que o calor não nos impeça de dormir, que a dor doa e parta e que a vida seja inteira, completa e real!
(Letícia Thompson)

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