Há
realidades difíceis de suportar. Há situações tão dolorosas e tão
irreais, embora cruelmente reais, que certas pessoas preferem negá-las,
como se com isso pudessem apagar sua existência. E para fugir desses
punhais que rasgam a alma com tanta violência é que muitos preferem se
refugiar num mundo invisível, sob uma redoma de proteção que as impedem
de ver de perto e enfrentar o que tanto faz mal.
Essas
pessoas, ao querer libertar-se de um peso, tornam-se escravas da
própria dor. Sem justificativas, justificam-se na recusa da cura, que é o
encarar a realidade e vê-la de maneira nova e diferente.
Essas
pessoas, julgadas doentes, loucas e insanas são apenas uma pequena
porcentagem de um mundo onde negar a realidade é a coisa mais banal que
existe. Viver no mundo da mentira não é apenas ter um comportamento
exclusivo dos que julgamos loucos.
Vive
na mentira quem não aceita o fim de qualquer situação: amores que se
desgastaram, filhos que cresceram, uma doença que chegou sem avisar,
alguém que foi embora, escolhas que não aprovamos e todas essas
pequeninas coisas do dia-a-dia que, pequenas, fazem parte da nossa vida.
Chorar
e ficar calado num canto não muda nada do que vivemos, a não ser nos
deixar à parte da vida que continua a correr do lado de fora. Fazer-se
de cego e surdo não modifica a realidade do que não podemos controlar,
nem o que os outros pensam e sentem.
Poderemos evitar os espelhos por algum tempo, mas não os evitaremos a vida toda.
Melhor que ignorar a realidade que nos machuca é pegar o que sobra dela e construir um novo mundo ou uma nova maneira de viver.
Se
a chuva nos pega de surpresa, que então nos molhe completamente, que o
sol nos seque, que o frio não nos impeça de sair de casa, que o calor
não nos impeça de dormir, que a dor doa e parta e que a vida seja
inteira, completa e real!
(Letícia Thompson) |
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