quarta-feira, 4 de junho de 2014

COLHENDO FLORES ENTRE ESPINHOS

Colhendo flores entre espinhos Colhendo flores entre espinhos

A felicidade, a eterna juventude e a imortalidade estão entre os sonhos mais acalentados pelo ser humano. A procura dos fatores genéticos que possam justificar um envelhecimento bem-sucedido é uma das investigações do nosso tempo, mas tem-se revelado inconclusiva.

Para um filósofo ou um teólogo a felicidade não deve ser confundida com momentos fugazes nem com meros sentimentos, só pode ser alcançada por quem está disposto a assumir certos pressupostos. Obviamente que para um cristão não há felicidade sem encontrar Deus, ele é a verdadeira fonte de juventude, é ele que desperta as energias adormecidas, sem prejuízo das esperanças revolucionárias que pomos na biogenética e na biotecnologia.

Os autores escrevem sem dar margem a equívocos: “A arte de ser feliz e a arte de manter vivo o vigor da juventude estão intimamente ligadas à arte de cultivar cuidadosamente as sementes da imortalidade”.

É bom ter sempre em conta que o estudo do envelhecimento como processo existencial é relativamente recente, só nas últimas décadas se começaram a dar passos gigantes na gerontologia (voltada para o bem-estar integral das pessoas de idade) e da geriatria (mais preocupada com as doenças. Hoje a gerontologia fala em velhice inicial e em velhice avançada em terceira e quarta idades.

Graças à biogenética, os seres deixaram de ser identificados apenas pelas aparências mas pelo que são na sua interioridade. Mais do que um somatório de funções orgânicas bem ou mal organizadas, o grande desafio de um sénior é saber administrar perdas e ganhos, estamos em permanente evolução e interação com o meio circundante.

Há mesmo quem diga que não há continuidade dos processos existenciais mas sim sucessivas mudanças. Quem busca novos ganhos mantém-se jovem, rompe menos penosamente com rotinas, recupera mais facilmente de eventuais fases depressivas. A chave do sucesso poderá passar por saber cuidar-se e ser cuidado.

No envelhecimento bem sucedido a pessoa deve estar bem relacionada consigo e saber defrontar o diferente – o envelhecimento é um processo contínuo de transformação do humano como ser único em seu tempo vivido, e esta consideração vale para a relação familiar, para quem se educa para envelhecer, para quem sabe cultivar os seus dons e não ter medo de se olhar ao espelho.

Noutra dimensão, os autores falam do corpo e da corporeidade. Há diferentes maneiras de ver o corpo (higiene, moral, arte, beleza…), a linguagem corporal é um verdadeiro livro aberto, no nosso tempo andamos na busca do corpo perfeito; a corporeidade é uma nova maneira de compreender os seres humanos, de analisar o seu lugar na família, na sociedade, nas suas ligações com o transcendente. Nós refletimos no espelho social mas o envelhecimento também faz parte de um processo existencial, é uma caminhada. Porque envelhecer significa mudar sem perder a identidade, conhecer o tempo e caminhar com ele, estar no tempo e também contra o tempo, no fundo chegar ao alto da montanha, saber que se subiu degrau a degrau.

A condição de bem viver passar por não ter medo de morrer, em aceitar que a vida se constitui numa aventura, que o ser humano é grande e pequeno; grande, quando se aceita alegremente ser gestor de si mesmo e participante do que se passa nos outros seres à sua volta; pequeno, aceitando, com deslumbramento, contemplar o céu e respeitar a obra do criador, exaltando-a como a obra-prima absoluta. 

No fundo, o envelhecimento com qualidade é uma associação bem doseada entre o progresso científico e a resposta pessoal à alegria de viver.
Extraído de: http://www.oribatejo.pt/2011/05/colhendo-flores-entre-espinhos/

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