A
felicidade, a eterna juventude e a imortalidade estão entre os sonhos
mais acalentados pelo ser humano. A procura dos fatores genéticos que
possam justificar um envelhecimento bem-sucedido é uma das investigações
do nosso tempo, mas tem-se revelado inconclusiva.
Para um filósofo ou um teólogo a felicidade não deve ser confundida
com momentos fugazes nem com meros sentimentos, só pode ser alcançada
por quem está disposto a assumir certos pressupostos. Obviamente que
para um cristão não há felicidade sem encontrar Deus, ele é a verdadeira
fonte de juventude, é ele que desperta as energias adormecidas, sem
prejuízo das esperanças revolucionárias que pomos na biogenética e na
biotecnologia.
Os autores
escrevem sem dar margem a equívocos: “A arte de ser feliz e a arte de
manter vivo o vigor da juventude estão intimamente ligadas à arte de
cultivar cuidadosamente as sementes da imortalidade”.
É bom ter sempre em conta que o estudo do envelhecimento como
processo existencial é relativamente recente, só nas últimas décadas se
começaram a dar passos gigantes na gerontologia (voltada para o
bem-estar integral das pessoas de idade) e da geriatria (mais preocupada
com as doenças. Hoje a gerontologia fala em velhice inicial e em
velhice avançada em terceira e quarta idades.
Graças à biogenética, os seres deixaram de ser identificados apenas
pelas aparências mas pelo que são na sua interioridade. Mais do que um
somatório de funções orgânicas bem ou mal organizadas, o grande desafio
de um sénior é saber administrar perdas e ganhos, estamos em permanente
evolução e interação com o meio circundante.
Há mesmo quem diga que não há continuidade dos processos existenciais
mas sim sucessivas mudanças. Quem busca novos ganhos mantém-se jovem,
rompe menos penosamente com rotinas, recupera mais facilmente de
eventuais fases depressivas. A chave do sucesso poderá passar por saber
cuidar-se e ser cuidado.
No envelhecimento bem sucedido a pessoa deve estar bem relacionada
consigo e saber defrontar o diferente – o envelhecimento é um processo
contínuo de transformação do humano como ser único em seu tempo vivido, e
esta consideração vale para a relação familiar, para quem se educa para
envelhecer, para quem sabe cultivar os seus dons e não ter medo de se
olhar ao espelho.
Noutra dimensão, os autores falam do corpo e da corporeidade. Há
diferentes maneiras de ver o corpo (higiene, moral, arte, beleza…), a
linguagem corporal é um verdadeiro livro aberto, no nosso tempo andamos
na busca do corpo perfeito; a corporeidade é uma nova maneira de
compreender os seres humanos, de analisar o seu lugar na família, na
sociedade, nas suas ligações com o transcendente. Nós refletimos no
espelho social mas o envelhecimento também faz parte de um processo
existencial, é uma caminhada. Porque envelhecer significa mudar sem
perder a identidade, conhecer o tempo e caminhar com ele, estar no tempo
e também contra o tempo, no fundo chegar ao alto da montanha, saber que
se subiu degrau a degrau.
A condição de bem viver passar por não ter medo de morrer, em aceitar que a vida
se constitui numa aventura, que o ser humano é grande e pequeno;
grande, quando se aceita alegremente ser gestor de si mesmo e
participante do que se passa nos outros seres à sua volta; pequeno,
aceitando, com deslumbramento, contemplar o céu e respeitar a obra do
criador, exaltando-a como a obra-prima absoluta.
No fundo, o
envelhecimento com qualidade é uma associação bem doseada entre o
progresso científico e a resposta pessoal à alegria de viver.
Extraído de: http://www.oribatejo.pt/2011/05/colhendo-flores-entre-espinhos/
Nenhum comentário:
Postar um comentário