domingo, 1 de junho de 2014

ALZHEIMER - O MAL DO SÉCULO

Meu pai está com Alzheimer. Logo ele que durante toda vida, se dizia "o Infalível". Logo ele, que um dia ao tentar me ensinar matemática, disse que as minhas orelhas eram tão grandes que batiam no teto. Logo ele que repetiu, ao longo desses 54 anos de convivência, o nome do músculo do pescoço que aprendeu quando tinha treze anos e que nunca mais esqueceu: externocleidomastóideo.

O diagnóstico médico ainda não é conclusivo, mas para mim, basta saber que ele esquece o meu nome,  mal anda, toma os líquidos de canudinho, não consegue terminar uma frase, nem controla mais suas funções fisiológicas, e tem os famosos delírios paranóides comuns nas demências tipo Alzheimer.

Aliás, fico até mais tranqüilo diante do "eu não sei ao certo" dos médicos, prefiro isso ao "estou absolutamente certo de que...", frase que me dá arrepios.

Há trinta anos, não ouvia sequer uma menção a essa doença maldita. Hoje, precisaria ter o triplo de dedos nas mãos para contar os casos relatados por amigos e clientes em suas famílias. O que está acontecendo? Estamos diante de um surto de Alzheimer? Finalmente nossos hábitos de vida "moderna" estão enviando a conta? O que os pesquisadores sabem de verdade sobre a doença? Qual é o lado oculto dessa manifestação tão dolorosa?

Esse estudo citado no livro A Saúde do Cérebro, Dr. Robert Goldman, Ed. Campus, foi feito pelo Dr. Snowdon,  da Universidade de Kentucky. Eles estudaram 700 freiras do convento de Notre Dame. Na verdade, eles leram e analisaram as redações autobiográficas, que cada freira era obrigada a escrever logo ao entrar na ordem. Isso ocorria quando elas tinham em média 20 anos. Essas freiras (um dos grupos mais homogêneos possíveis, o que reduz muito as variáveis que deveriam ser controladas), foram examinadas regularmente e seus cérebros investigados após sua morte. O que se constatou foi surpreendente. As que melhor se saíram, nos testes cognitivos, e nas redações, em termos de clareza de raciocínio, objetividade, vocabulário,capacidade de expressar suas idéias; mesmo apresentando os acidentes neurológicos típicos do Alzheimer (placas e massas fibrosas de tecido morto) não desenvolveram a demência característica da doença. Ou seja, elas tinham as mesmas seqüelas que as outras freiras com Alzheimer diagnosticado, (e que tiveram baixos escores em testes cognitivos e na redação), mas não os sintomas clássicos, como os do meu pai.

A minha interpretação de tudo isso: Não temos muito como controlar todos os fatores, de risco apontados como vilões, alimentação, pressão alta, contaminação ambiental, stress, e a genética (por enquanto).  Mas podemos colocar o nosso cérebro para trabalhar. Como?

Lendo muito, escrevendo, buscando a clareza das idéias, cirando novos circuitos neurais, que venham a substituir os afetados pela idade e pela vida"bandida". Meu conselho: não sejam infalíveis como o meu pobre pai, não cheguem ao topo nunca, pois dali, só há um caminho: descer. Inventem novos desafios, façam palavras cruzadas, forcem a memória, não só com drogas (não nego a sua eficácia principalmente as nootrópicas), mas correndo atrás dos vazios e lapsos.

Eu não sossego enquanto não lembro do nome de algum velho conhecido, ou de uma localidade onde estive há trinta anos. Leiam e se empenhem em entender o que está escrito, e aprendam outra língua, mesmo aos sessenta anos.

Não existem estudos, provando que o Alzheimer é a moléstia preferida dos arrogantes,  autoritários e auto-suficientes, mas a minha experiência mostra que pode haver alguma coisa nesse mato.

Coloquem a palavra FELICIDADE no topo da sua lista de prioridades. Sete (7) de cada 10 doentes, nunca ligaram para essas "bobagens" e viveram vidas medíocres e infelizes. (muitos nem mesmo tinham consciência disso).

Mantenha-se interessado no mundo, nas pessoas, no futuro. Invente novas receitas, experimente (não gosta de ir para a cozinha? Hum.. preocupante).
Lute, lute sempre, por uma causa, por um ideal, pela felicidade.

Parodiando Maiakovski  ("melhor morrer de vodka do que de tédio"), digo: melhor morrer lutando o bom combate, que ter a personalidade roubada pelo Alzheimer. Vamos nos cuidar...
http://www.sandraregina.med.br/

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