“Um
problema de ser-se velho é o de julgarem que ainda devemos aprender
coisas quando, na verdade, estamos a desaprendê-las, e faz todo sentido
que assim seja para que nos afundemos inconscientemente na iminência do
desaparecimento.
A inconsciência apaga as dores, claro, e apaga as
alegrias, mas já não são muitas as alegrias e no resultado da conta é
bem visto que a cabeça dos velhos se destitua da razão para que, tão de
frente à morte, não entremos em pânico.
A repreensão contínua passa por
essa esperança imbecil de que amanhã estejamos mais espertos quando,
pelas leis mais definidoras da vida, devemos só perder capacidades.
A
esperança que se deposita na criança tem de ser inversa a que nos
dirige. E quando eu fico bloqueado, tão irritado com isso, sem dúvida,
não é por estar imaturo e esperar vir a ser melhor, é por estar maduro
de mais e como que apodrecendo, igual aos frutos.
Nós sabemos que
erramos e sabemos que, na distração cada vez maior, na perda de
reflexos e de agilidade mental, fazemos coisas sem saber e não as
fazemos por estupidez. Fazemos por descoordenação entre o que está certo
e o que nos parece certo e até sabemos que isso de certo ou errado é
muito relativo. É tudo mais forte do que nós.”
(Valter Hugo Mãe – A Máquina de Fazer Espanhóis)
Nenhum comentário:
Postar um comentário