sábado, 29 de novembro de 2014

ADEUS LUCIDEZ

Nono Paolo Simoni com o bisneto Arthur...

 “Um problema de ser-se velho é o de julgarem que ainda devemos aprender coisas quando, na verdade, estamos a desaprendê-las, e faz todo sentido que assim seja para que nos afundemos inconscientemente na iminência do desaparecimento.

A inconsciência apaga as dores, claro, e apaga as alegrias, mas já não são muitas as alegrias e no resultado da conta é bem visto que a cabeça dos velhos se destitua da razão para que, tão de frente à morte, não entremos em pânico.

A repreensão contínua passa por essa esperança imbecil de que amanhã estejamos mais espertos quando, pelas leis mais definidoras da vida, devemos só perder capacidades. 

A esperança que se deposita na criança tem de ser inversa a que nos dirige. E quando eu fico bloqueado, tão irritado com isso, sem dúvida, não é por estar imaturo e esperar vir a ser melhor, é por estar maduro de mais e como que apodrecendo, igual aos frutos.  

Nós sabemos que erramos e sabemos que,  na distração cada vez maior, na perda de reflexos e de agilidade mental, fazemos coisas sem saber e não as fazemos por estupidez. Fazemos por descoordenação entre o que está certo e o que nos parece certo e até sabemos que isso de certo ou errado é muito relativo. É tudo mais forte do que nós.”
(Valter Hugo Mãe – A Máquina de Fazer Espanhóis)

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