Neste livro Rubem Alves fala da velhice comparando-a ao crepúsculo. Segundo ele, a velhice é bela como a tarde imóvel
“Por
oposição aos gerontologistas, que analisam a velhice como um
processo biológico, eu estou interessado na velhice como um
acontecimento estético. A velhice tem a sua beleza, que é a beleza
do crepúsculo. A juventude eterna, que é o padrão estético
dominante em nossa sociedade, pertence à estética das manhãs. As
manhãs tem uma beleza única, que lhes é própria.
Mas
o crepúsculo tem um outro tipo de beleza, totalmente diferente da
beleza das manhãs. A beleza do crepúsculo é tranquila, silenciosa
– talvez
solitária. No crepúsculo tomamos consciência do tempo. Nas manhãs
o céu é como um mar azul, imóvel.
No
crepúsculo as cores se põem em movimento: o azul vira verde, o
verde vira amarelo, a amarelo vira abóbora, o abóbora vira
vermelho, o vermelho vira roxo – tudo
rapidamente.
Ao
sentir a passagem do tempo nós percebemos que é preciso viver o
momento intensamente.Tempus
fugit
– o
tempo foge – portanto,carpe
diem
– colha
o dia. No crepúsculo sabemos que a noite está chegando.
Na
velhice sabemos que a morte está chegando. E isso nos torna mais
sábios e nos faz degustar cada momento como uma alegria única. Quem
sabe que está vivendo a despedida olha para a vida com olhos mais
ternos...”
(Rubem
Alves)
Nenhum comentário:
Postar um comentário