Sento-me
na raiz grossa da árvore que irrompe pela calçada até chegar ao
degrau em que te sentaste. Vi-te de costas sentado, um cotovelo em
cada joelho, o olhar que poderia adivinhar estar meio despercebido,
com um sorriso inevitável debaixo do monte de barba de deixaste
crescer. Poderia adivinhar tudo isso só de te ver de costas.
Agora arranjaste uma nova, sacas do cigarro que escondes num frasco transparente e inspirar como se fosse ar do alto dos himalaias. O tempo para quando te posso olhar assim, certa de que sei o que se passa por detrás das tuas costas, incerta do que vai na tua cabeça.
"Se soubesses o que me vai na cabeça, não teria piada", outro daqueles momentos em que não consigo disfarçar o encanto que tem ver a luz a refletir os teus olhos que ninguém sabe se são verdes, se são mel, se o que dizem. Dizes isto com o teu típico sorriso de entrega imensa sem te entregares a ninguém e voltas à tua posição de homem que caminha sozinho na vida.
Estou aqui ao lado. A ver-te caminhar sozinho pela vida, e como gosto desse teu caminhar. Da paz que tinhas há dois anos quando eras inocente, com menos mágoas no coração, com mais certezas que agora, gosto da paz que ainda transmites agora quando consigo ouvir a música que passa na tua cabeça. O dia é feito disto.
Destes trinta minutos em que tentei abrir o coração sem saber para onde abria e destes trinta minutos que pude olhar para ti e viver a tua presença, a tua existência. O tempo é relativo quando existem forças mais pesadas que a gravidade que fazem o tempo mais pesado. Pesado porque fica marcado no coração e na memória.
Como se a memória tivesse alzheimer e resta apenas o peso das vivências mais significantes. E, ao fim de dois anos, quando me lembro das memórias do alzheimer, lembro-me de ti. Lembro-me do meu coração quente, das minhas mãos a tremer, do sorriso que tento forçar e os olhos que tento fazer não brilhar quando penso em ti.
Da alegria que me dá pensar que tive a oportunidade de estar contigo e ver-te crescer, ver que evoluis e não perdes a tua peculiar perfeição, não perfeição daquelas que são perfeitas, é uma perfeição à tua maneira. Porque perfeição que é perfeita não me faz amar-te e odiar-te ao mesmo tempo. Como me lembro de sentir o vento na cara e olhar para ti e estares pensativo, tinhas acabado de vir da terra, estavas tranquilo, encontrado contigo mesmo, sentado no sofá a aproveitar a brisa da noite como eu.
E também de quando consegues pegar em tudo o que tens e atirar ao ar como se fossem pedaços de papel rasgado, e consegues perder-te de ti próprio e afogares-te no teu riso viciado, aquele que te faz doer os abdominais mas nunca admitirias a ninguém porque não há abdominais mais fortes que os teus.
Lembro-me daquele em que estavas com as mãos roxas a morrer de frio como sempre estás e te puseste a dançar como quem quer conquistar todo o ar que o rodeia. São estas as minhas memórias de alzheimer. Cada vez mais longe, algumas cada vez mais perto. Que não sejam só memórias daqui para a frente. Que não precise ter alzheimer para me lembrar do peso do amor que tenho por ti e que seja no agora que o sinta. Quem sabe, contigo.
http://romeoejulieta.blogs.sapo.pt/o-peso-das-memorias-esquecidas-2401
Agora arranjaste uma nova, sacas do cigarro que escondes num frasco transparente e inspirar como se fosse ar do alto dos himalaias. O tempo para quando te posso olhar assim, certa de que sei o que se passa por detrás das tuas costas, incerta do que vai na tua cabeça.
"Se soubesses o que me vai na cabeça, não teria piada", outro daqueles momentos em que não consigo disfarçar o encanto que tem ver a luz a refletir os teus olhos que ninguém sabe se são verdes, se são mel, se o que dizem. Dizes isto com o teu típico sorriso de entrega imensa sem te entregares a ninguém e voltas à tua posição de homem que caminha sozinho na vida.
Estou aqui ao lado. A ver-te caminhar sozinho pela vida, e como gosto desse teu caminhar. Da paz que tinhas há dois anos quando eras inocente, com menos mágoas no coração, com mais certezas que agora, gosto da paz que ainda transmites agora quando consigo ouvir a música que passa na tua cabeça. O dia é feito disto.
Destes trinta minutos em que tentei abrir o coração sem saber para onde abria e destes trinta minutos que pude olhar para ti e viver a tua presença, a tua existência. O tempo é relativo quando existem forças mais pesadas que a gravidade que fazem o tempo mais pesado. Pesado porque fica marcado no coração e na memória.
Como se a memória tivesse alzheimer e resta apenas o peso das vivências mais significantes. E, ao fim de dois anos, quando me lembro das memórias do alzheimer, lembro-me de ti. Lembro-me do meu coração quente, das minhas mãos a tremer, do sorriso que tento forçar e os olhos que tento fazer não brilhar quando penso em ti.
Da alegria que me dá pensar que tive a oportunidade de estar contigo e ver-te crescer, ver que evoluis e não perdes a tua peculiar perfeição, não perfeição daquelas que são perfeitas, é uma perfeição à tua maneira. Porque perfeição que é perfeita não me faz amar-te e odiar-te ao mesmo tempo. Como me lembro de sentir o vento na cara e olhar para ti e estares pensativo, tinhas acabado de vir da terra, estavas tranquilo, encontrado contigo mesmo, sentado no sofá a aproveitar a brisa da noite como eu.
E também de quando consegues pegar em tudo o que tens e atirar ao ar como se fossem pedaços de papel rasgado, e consegues perder-te de ti próprio e afogares-te no teu riso viciado, aquele que te faz doer os abdominais mas nunca admitirias a ninguém porque não há abdominais mais fortes que os teus.
Lembro-me daquele em que estavas com as mãos roxas a morrer de frio como sempre estás e te puseste a dançar como quem quer conquistar todo o ar que o rodeia. São estas as minhas memórias de alzheimer. Cada vez mais longe, algumas cada vez mais perto. Que não sejam só memórias daqui para a frente. Que não precise ter alzheimer para me lembrar do peso do amor que tenho por ti e que seja no agora que o sinta. Quem sabe, contigo.
http://romeoejulieta.blogs.sapo.pt/o-peso-das-memorias-esquecidas-2401
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