quinta-feira, 28 de novembro de 2013

ENCONTRO DAS ÁGUAS - JORGE VERCILLO



Sem querer te perdi tentando te encontrar
por te amar demais sofri, amor
me senti traído e traidor
Fui cruel sem saber que entre o bem e o mal
Deus criou um laço forte, um nó
e quem viverá um lado só?
A paixão veio assim afluente sem fim
rio que não deságua
Aprendi com a dor nada mais é o amor
que o encontro das águas
Esse amor
hoje vai pra nunca mais voltar
como faz o velho pescador quando sabe que é a vez do mar
Qual de nós
foi buscar o que já viu partir, quis gritar, mas segurou a voz,
quis chorar, mas conseguiu sorrir?
Quem eu sou
pra querer
Entender

O amor

sábado, 16 de novembro de 2013

DOENÇA DE ALZHEIMER: ALTERAÇÕES COMPORTAMENTAIS


A doença de Alzheimer provoca várias alterações no comportamento e personalidade da pessoa, pois com o progredir da doença aumenta o número de morte neuronal e com isto diminuem as capacidades cerebrais. Tais alterações afetarão o comportamento do doente. Poderá, assim, notar que a pessoa a seu cuidado terá dias bons e dias maus.

 É comum estes doentes:
    • Ficarem facilmente irritados, preocupados ou zangados;
    • Permanecerem deprimidos ou perderem o interesse nas coisas;
    • Esconderem coisas ou acreditarem que outros lhe escondem coisas;
    • Imaginarem coisas que não existem;
    • Vaguearem;
    • Ficarem mais agitados;
    • Desenvolverem comportamentos sexuais anormais;
    • Agredirem pessoas com que se relacionam;
    • Incapacidade de compreender o que vêm ou ouvem.

Também é possível que o doente deixe de se preocupar com a sua aparência, de querer tomar banho, ou querer vestir a mesma roupa todos os dias. É no entanto importante distinguir se estas alterações são provocadas pela própria doença ou problemas associados (diminuição da acuidade auditiva ou visual, medicamentos, fadiga). Se for incapaz de identificar a causa de uma alteração consulte o seu médico.

Adicionalmente às alterações cerebrais, certas situações também podem influenciar a maneira como o doente se comporta :

Alterações de sentimentos:
- Tristeza, medo, ou sentimento de opressão;
- Stress, causado por alguma coisa ou por alguém;
- Confusão perante alterações das rotinas, nomeadamente viagens;
- ansiedade em deslocações.

Problemas de saúde:
- Doenças ou dores;
- Novas medicações;
- Falta de sono;
- Infecções, obstipação, fome, ou sede;
- Redução de visão e audição;
- Abuso de álcool;
- Excesso de cafeína.

Problemas no ambiente que o rodeia:
- Estar num local desconhecido;
- Ruídos e sons perturbadores;
- Alterações nas texturas de pavimentos;
- Má interpretação de sinais;
- Espelhos, uma vez que levam por vezes a que o doente pense que o seu reflexo é uma pessoa estranha.

Como pode lidar com estas alterações…
    • Simplificar! Perguntar ou dizer uma coisa de cada vez;
    • Criar uma rotina diária;
    • Relembrar o doente que está sempre presente para ajudar;
   • Focar nos sentimentos que o doente demonstra, dizendo, por exemplo, “Pareces preocupado”;
   • Não discutir com o doente nem mostrar raiva; se necessário sair da divisão durante alguns minutos e respirar fundo;
    • Usar humor sempre que possível;
    • Usar distrações, como música ou televisão;
    • Partilhar atividades, como caminhar e pequenos trabalhos domésticos

Alterações do sono
Muitos dos doentes de Alzheimer tornam-se facilmente irritáveis e inquietos à noite. Tornando-se assim complicado convencer a pessoa a deitar-se e a ficar na cama.

O que pode ajudar…
    • Exercício diário;
    • Limitar as sestas;
    • Limitar a quantidade de luzes acesas à noite;
    • Limitar a ingestão de cafeína;
    • Criar um ambiente noturno calmo e relaxante;
    • Criar uma rotina: ir para a cama sempre à mesma hora e, por exemplo, ler um capítulo de um livro antes de dormir.

Alucinações e ilusões
Com a progressão da doença a pessoa pode desenvolver alucinações. Durante uma alucinação, a pessoa pode ver, ouvir, cheirar, saborear ou sentir algo que não está presente nem é real. Por exemplo, o doente pode experienciar a visita de um ente já falecido. Adicionalmente podem experienciar ilusões que consistem em falsas crenças e que o doente pensa serem reais. Por exemplo, o doente pode pensar que a sua esposa/marido está apaixonada(o) por outra pessoa.

O que pode ser feito...
    • Alertar o médico da ocorrência de alucinações e/ou ilusões, uma vez que estes eventos podem ser provocados por certos medicamentos;
    • Evitar discutir com o doente acerca do que é real ou não;
    • Confortar o doente sempre que demonstre medo do que vê ou sente;
    • Usar distrações, como mudar de divisão ou sair para uma caminhada;
    • Mudar de canal quando surgirem cenas de violência na televisão, já que a pessoa pode pensar que tais acontecimentos estão mesmo a ocorrer na sua casa.

Paranóia
A paranóia é um tipo específico de ilusão na qual o doente, sem razão aparente, acredita que todas as pessoas à sua volta são más e injustas para com ele.

Como lidar com a paranóia...
    • Tentar não reagir quando o doente o acusa de algo;
    • Não discutir com o doente;
    • Convencer o doente de que está seguro;
   • Demonstrar afeto para com o doente de forma a mostrar que se preocupa;
    • Se necessário, explicar a quem o rodeia que o doente está a agir dessa forma porque tem doença de Alzheimer;
    • Ter sempre duplicados de chaves ou óculos no caso de se perderem.

Agitação e agressividade
Se um doente de Alzheimer estiver agitado é possível que se torne agressivo para aqueles que o rodeiam, tanto verbal como fisicamente. Na maioria das vezes, estes comportamentos ocorrem por uma razão:
    • Dor;
    • Depressão;
    • Stress;
    • Falta de descanso;
    • Obstipação;
    • Fralda (ou roupa interior) suja;
    • Alteração brusca de uma rotina;
    • Sentimentos de perda, como a inaptidão para conduzir;
    • Sentimentos de solidão;
    • Barulho excessivo ou muitas pessoas no mesmo espaço;
    • Ser forçado a fazer algo;
    • Interação entre medicamentos.

Como proceder de forma a controlar a agitação ou agressividade…
    • Estar atento a sinais precoces de agitação ou agressividade para poder resolver a situação antes dos problemas começarem;
    • Não ignorar o problema, uma vez que pode piorar o comportamento;
    • Tentar acalmar-se se julgar que as suas preocupações estão a afectar a pessoa;
    • Permitir que o doente tenha tanto controle quanto possível da sua própria vida;
    • Tentar distrair a pessoa com a sua atividade ou objeto preferido;
   • Demonstrar empatia com o doente, assegurando-se que ele se sente compreendido;
    • Limitar o barulho, a desarrumação ou o número de pessoas na casa;
    • Limitar a ingestão de cafeína, açúcar e doces;
    • Se a pessoa gostar, pôr música calma;
    • Sugerir uma caminhada ou leitura.

Deambulação
Vários doentes de Alzheimer afastam-se de casa e do seu cuidador. Assim é importante limitar a deambulação e prevenir que o doente se perca. Isto irá manter o doente seguro e a sua consciência tranquila.

O que pode fazer…
    • Assegurar-se que o doente possui identificação ou uma pulseira médica que indique que este tem doença de Alzheimer e a respectiva morada;
    • Alertar os vizinhos e autoridades para o facto de o doente ter tendência para deambular;
    • Ter sempre uma foto ou vídeo atualizado do doente para ajudar a polícia caso este se perca;
    • Manter as portas trancadas;
    • Instalar um sinal sonoro que toque sempre que as portas exteriores de casa forem abertas.

Remexer e ocultar objetos
Os doentes de Alzheimer podem desenvolver a necessidade de vasculhar armários, gavetas, cômodas e outros locais onde são guardados objetos. A este comportamento é normal encontrar-se associado um outro, o de esconder objetos. Em alguns casos pode haver explicação para estes comportamentos. Por exemplo, o doente pode estar à procura de algo específico mas não conseguir expressar o quê, pode estar com fome, ou aborrecido. O ideal é tentar perceber o que provocou o comportamento, para adequar a resposta à causa.

Como evitar ou resolver estas situações…
    • Remover do frigorífico ou da dispensa todos os alimentos fora do prazo;
    • Guardar fora do alcance do doente, objetos importantes ou valiosos;
  • Instalar uma caixa de correio com fechadura, para evitar que a correspondência desapareça;
    • Não permitir que o doente arrume os quartos  sem supervisão;
    • Procurar os esconderijos da pessoa e visitá-los frequentemente, mas não deixar que ele o veja a fazê-lo;
    • Manter os baldes do lixo fora do alcance do doente, uma vez que elas podem esquecer o seu propósito e vasculhá-los;
    • Verificar todo o lixo antes de ser esvaziado, já que pode ter sido utilizado como esconderijo;
    • Criar um espaço dedicado para o doente vasculhar, como por exemplo, uma cômoda com várias gavetas.

  http://cuidadores-alzheimer.web.ua.pt/

CUIDADORES


Cuidar de um doente de Alzheimer é uma tarefa difícil, que requer tempo e energia, e que muitas vezes recai sobre o familiar mais próximo. É assim uma responsabilidade que pode ter um enorme desgaste emocional e físico, especialmente se adicionado à angústia de ver alguém muito querido a perder as suas capacidades.

Enquanto que por um lado pode ser uma experiência muito recompensadora, por outro pode ser muito stressante e exigente. Novos desafios surgem à medida que o cuidador vai lidando com as alterações nas capacidades do doente e com novos padrões de comportamentos. Por exemplo, atividades básicas do dia-a-dia, como vestir, tomar banho e comer, tornam-se difíceis de gerir tanto para o doente como para o seu cuidador. Organizar e planear o dia-a-dia pode ajudar os cuidadores a lidarem com a situação.

O grande desafio do cuidador é desenvolver um ambiente capacitador, que suporte as rotinas de cuidados primários e minimize as perturbações do comportamento. Assim, é preciso reconhecer a importância e influência do cuidador na evolução da doença, particularmente na frequência e gravidade dos problemas comportamentais e deterioração das capacidades funcionais.

Os cuidadores podem então sentir uma diversidade enorme de emoções em resposta à doença, que são normais, mas podem conduzir a elevados níveis de stress. Estes têm assim um risco acrescido para desenvolver depressões e outras doenças, principalmente se não receberem apoio adequado por parte da família, amigos e até da própria comunidade. Por este fato, muitas vezes os cuidadores são referidos como sendo doentes secundários da doença de Alzheimer.

Conhecer e reconhecer os sinais de stress no cuidador tanto por parte deste, como de familiares e amigos é o primeiro passo para começar a tomar medidas, uma vez que um cuidador que está a atravessar por estes sintomas não consegue prestar os cuidados adequados ao doente. Ou seja, se o cuidador estiver a sentir alguns dos seguintes sintomas de stress deve procurar o bem estar tanto para seu próprio benefício como para o do doente ao seu cuidado.

Sinais de stress no cuidador:
Negação no que diz respeito à doença e aos seus efeitos no doente;
Raiva para com o doente, de si mesmo e até dos outros;
Isolamento - não quer mais estar com os amigos ou participar em atividades que antes apreciava;
Ansiedade em encarar cada dia e no que diz respeito ao futuro;
Depressão - sentir-se triste e sem esperança a maioria do tempo;
Exaustão - sentir-se sempre cansado e sem energias para enfrentar as tarefas do dia-a-dia.
Insonia - acordar a meio da noite, ter pesadelos, etc.
Reações emocionais, como por exemplo, chorar por questões mínimas ou estar sempre irritado;
Falta de concentração e dificuldade em acabar tarefas mais complexas;
Problemas de saúde como perder ou ganhar peso, ficar mais sujeito a gripes, etc.

Tomar algumas atitudes e levar a cabo algumas ações podem aliviar um pouco o cuidador de forma a prevenir estas situações frequentes de stress. Cuidar de si próprio é um dos aspectos mais importantes para conseguir desempenhar eficientemente o seu papel!

É normal que o cuidador se sinta culpado por não poder fazer mais pelo doente, mas deve ter sempre em mente que os cuidados que presta ao doente fazem a diferença e que acima de tudo está a dar o seu melhor. 

Quando já não conseguir mesmo lidar com a situação é provavelmente altura de ponderar a hipótese de recorrer a serviços de apoio ao domicílio, a centros de dia ou até mesmo à institucionalização do doente, tanto para o bem-estar do cuidador como do doente.

Atitudes a tomar que podem ajudar a reduzir o stress do cuidador:
- Apreender mais sobre a Doença de Alzheimer e tornar-se num cuidador informado:quanto mais souber sobre a doença, como esta afeta o doente, e estratégias para cuidar destes, mais preparado vai estar para compreender o doente e para enfrentar o seu dia-a-dia. Assim também vai conseguir ser mais realista quanto à doença de forma a ajustar as suas expectativas relativamente à evolução do doente.
- Ser realista:  quanto a si próprio e reconhecer as suas limitações como cuidador;
- Aceitar os seus sentimentos: o cuidador pode sofrer um misto de sentimentos no seu dia-a-dia e que podem ser confusos, mas é importante não esquecer que são reacções normais e que está a dar o seu melhor nos cuidados ao doente.
- Partilhar informações e sentimentos com familiares e amigos : se partilhar as informações acerca da doença bem como os seus sentimentos com familiares e amigos, contribuirá para uma maior compreensão por partes destes o que lhes permitirá prestar o apoio que tanto precisa.
- Ser positivo e manter o humor sempre que possível :  pensar no que pode fazer para ajudar o doente em vez de pensar no que não pode fazer, vai alterar a sua atitude no dia-a-dia.
- Cuidar de si próprio : a saúde do cuidador é um aspecto importante! Assim é essencial fazer uma alimentação saudável, praticar exercício físico regularmente, relaxar, tirar algum tempo para si todos os dias, estar com os amigos, manter os seus interesses e hobbies e visitar regularmente o seu médico.
Procurar ajuda : por vezes pode ser difícil pedir e aceitar ajuda, por pensarem que devem ser capazes de fazer tudo sozinhos. Contudo é importante saber que não precisa de fazer tudo e que pedir apoio não é um sinal de não ser um cuidador dedicado. Pode pedir apoio aos familiares e amigos, procurar apoio junto de profissionais ou até juntar-se a um grupo de apoio a cuidadores de doentes de Alzheimer (ver “Grupos de Apoio a Cuidadores de Doentes de Alzheimer”) onde pode partilhar os seus pensamentos e sentimentos. http://cuidadores-alzheimer.web.ua.pt/

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

ILEGAIS - VANESSA DA MATA



Desse jeito vão saber de nós dois
Dessa nossa vida
E será uma maldade veloz
Malignas línguas
Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais
Que não se consolam, clamam fugazes
Olhos que se entregam
Ilegais

Eu só sei que eu quero você
Pertinho de mim
Eu quero você
Dentro de mim
Eu quero você
Em cima de mim
Eu quero você

Desse jeito vão saber de nós dois
Dessa nossa farra
E será uma maldade voraz
Pura hipocrisia
Nossos corpos não conseguem ter paz
Em uma distância
Nossos olhos são dengosos demais
Que não se consolam, clamam fugazes
Olhos que se entregam
Olhos ilegais

Eu só sei que eu quero você
Pertinho de mim
Eu quero você
Dentro de mim
Eu quero você
Em cima de mim
Eu quero você

REFLEXÕES A PARTIR DO LIVRO " O LUGAR ESCURO"



O livro de Heloisa Seixas – O lugar Escuro, narra a história de vida da autora, a qual é envolvida em um pesadelo familiar – a convivência com a mãe, afetada pelo mal de Alzheimer. O livro expõe vários sintomas da doença de Alzheimer, alguns dos quais passaram despercebidos na vida de Heloisa. Até que um dia em casa, após uma viagem, sua mãe acredita ainda estar hospedada no hotel, essa confusão de localização deixa Heloísa muito preocupada. A partir disso, os vários outros sintomas tornam-se evidentes como:  esquecimentos, apatia, mudanças de personalidade…

No livro, Heloísa narra suas angústias de ver sua mãe apresentando mais dificuldades a cada dia e de se sentir impotente por não conseguir mudar isso. Além disso,  retrata também a relação mãe e filha antes e depois da doença.

No início do livro tive uma sensação não muito agradável, pois pensei “Será que um dia eu passarei por isso com meus pais?” ou “Será que eu mesma passarei por isso?”. Pois bem, eu tenho alta escolaridade, tenho uma alimentação saudável, acredito possuir uma saúde emocional, tudo isso são pontos positivos para eu não ter acometimento de uma demência no futuro, no entanto, nada é garantido. Tenho certeza que essa sensação não muito agradável apareceu, pois eu e a maioria das pessoas também não estamos preparados para lidar com esse tipo de adversidade na vida. E por isso mesmo que continuei a leitura e a recomendei pra minha mãe, pois a informação/aproximação de algo, fará que isso não seja tão ruim assim, além de nos preparar para isso.

Continuei a leitura (terminei o livro em dois dias, a sua leitura é fácil e envolvente), Heloisa menciona que em vários dias sua mãe a pedia para levar pra casa “Me leva embora?”, mas isso a deixava muito frustrada, pois onde estavam era a casa dela. E esses questionamento acontecia dias e dias. Esta passagem me fez recordar da minha avó – Verônica, que faleceu com seus 92 anos de idade e pelo seus comportamentos provavelmente estava com uma demência senil não diagnosticada.  Um dia meu pai a levou em um velório de uma pessoa distante da família, lá ele a deixou sozinha e com vários parentes que ela não via há um tempo, na chegada em casa, minha avó ficou bravíssima com meu pai, pois ele “não havia deixado em casa” e sim em “outro lugar”.  No dia seguinte, minha avó estava zangadíssima e culpava o meu pai, pois ele havia “levado para outra casa”. Até que minha avó decidiu colocar as coisas em uma sacola e pediu para o meu tio (sábio tio que morava com ela e que teve muita, muita, muita paciência nesse convívio) para levá-la para casa. Surpreendentemente, ele não ficou retrucando, dizendo que ali era a casa dela, dizendo que era pra ela se acalmar, ou enfim… falando essas coisas e ficando também estressado, ele pegou minha avó, colocou suas sacolas no carro e disse “Vamos mãe, vou te levar pra casa”. Os dois deram uma volta pela cidade e depois voltaram  para o mesmo lugar que estavam antes, a sua casa, e disse pra ela “Pronto mãe, agora você está em casa”. E as dúvidas dela acabaram, pois ela havia retornado para sua “casa”.

Essa passagem é uma dica valiossíma para os cuidadores e familiares, esse comportamento de não se sentir na casa certa é muito frequente nas demências e orientamos que, em alguns momentos,  é necessário se utilizar de uma “mentira boa” para amenizar toda essa confusão mental. Então, nessa parte do livro, que a mãe de Heloisa insistidamente pedia para ir pra casa, eu pensei, nossa, e se Heloisa pegasse sua mãe e desse uma volta de carro e depois a levasse para a mesma casa? Essa atitude poderia amenizar muitas coisas. Não estou dando uma receita de bolo, pois essa dica  pode ajudar vários outros cuidadores e familiares, como ajudou meu tio. No entanto, você vai percebendo se tal atitude pode ser eficaz ou não para você no cuidado.

Então, fica a recomendação para você ler o livro O lugar escuro e mergulhar no universo da filha de uma pessoa com doença de Alzheimer.
http://eisi.webnode.com.br/

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

INCLASSIFICÁVEIS - ARNALDO ANTUNES



que preto, que branco, que índio o quê?
que branco, que índio, que preto o quê?
que índio, que preto, que branco o quê?

que preto branco índio o quê?
branco índio preto o quê?
índio preto branco o quê?

aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos mamelucos sararás
crilouros guaranisseis e judárabes

orientupis orientupis
ameriquítalos luso nipo caboclos
orientupis orientupis
iberibárbaros indo ciganagôs

somos o que somos
inclassificáveis

não tem um, tem dois,
não tem dois, tem três,
não tem lei, tem leis,
não tem vez, tem vezes,
não tem deus, tem deuses,

não há sol a sós
aqui somos mestiços mulatos
cafuzos pardos tapuias tupinamboclos
americarataís yorubárbaros.

somos o que somos
inclassificáveis

que preto, que branco, que índio o quê?
que branco, que índio, que preto o quê?
que índio, que preto, que branco o quê?
não tem um, tem dois,
não tem dois, tem três,
não tem lei, tem leis,
não tem vez, tem vezes,
não tem deus, tem deuses,
não tem cor, tem cores,
não há sol a sós

egipciganos tupinamboclos
yorubárbaros carataís
caribocarijós orientapuias
mamemulatos tropicaburés
chibarrosados mesticigenados
oxigenados debaixo do sol

BELA, A VELHICE?


Lembrando a escritora e filósofa francesa Simone de Beauvoir e ilustres do mundo da arte brasileira, a antropóloga Miriam Goldenberg pensa sobre um tipo de envelhecer possível, “inclassificável”. 20/10/2012 - por Redação Portal na categoria “Velhices” na categoria 'Velhices'

Recentemente, mais uma vez, fomos brindamos com a matéria de Mirian Goldenberg – antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro – para o Caderno Equilíbrio da Folha de S.Paulo. Ela inicia sua reflexão, trazendo a escritora e filósofa francesa, célebre e ainda muito comentada na área da Gerontologia Social, Simone de Beauvoir (1908-1986): “No livro ‘A Velhice’, Simone de Beauvoir, após descrever o dramático quadro do processo de envelhecimento, aponta um possível caminho para a construção de uma ‘bela velhice’: ter um projeto de vida”.

Com essa ‘bela velhice’ vemos que até Simone esbarra nas classificações, tão em moda nos nossos dias. E por que usamos e abusamos de pequenas escapadelas do termo ‘velho’, usando termos mais gentis, graciosos e suaves? Ele só pode ser possível se precedido de novo ou de belo?

Beauvoir responde lembrando a difícil relação do ‘eu’ com esse ‘outro’, uma relação que imprime a letra escarlate no peito, uma marca registrada como criadora da identidade de velho: “É normal, uma vez que em nós é o outro que é velho, que a revelação de nossa idade venha dos outros. É o outro que nos classifica. Não consentimos nisso de boa vontade. Uma pessoa fica sempre sobressaltada quando a chamam de velho pela primeira vez” (Beauvoir, 1990: 353).

Subitamente, sem aviso prévio, sentimos a velhice através do corpo. Um corpo que, por si só, não revela a velhice, mas uma vez marcado ‘a ferro’, instalado está neste corpo que se surpreende com o envelhecer. E isto se amplia para além do corpo, sobre a personalidade, o papel social, econômico e cultural do idoso. Assim, a ideia de tempo: ‘de pouco tempo de vida’, ‘do tempo que passou’, ‘de que nada mais se deve esperar de um indivíduo que, com o passar do tempo, só deve recair’, é uma das fundamentais.

Mas Goldenberg, em seu texto prefere trilhar o caminho da ‘bela velhice’ – e sobre isso, nada contra – chamando os ilustres da música, da literatura e da ficção, exemplos de trajetórias que motivam qualquer um, encantam porque são indivíduos competentes, bem-cuidados, saudáveis, corajosos e, até que se diga o contrário, espiritualizados na medida. São eles, os ‘belos velhos’ da antropóloga: “Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Chico Buarque, Marieta Severo, Rita Lee, entre outros”.

Ela continua sua argumentação lembrando como essas pessoas são vistas, representadas e percebidas socialmente por nós, seres humanos ‘comuns’, os ‘não-famosos’, os anônimos: “Duvido que alguém consiga enxergar neles, que já chegaram ou estão chegando aos 70 anos, um retrato negativo do envelhecimento. São típicos exemplos de pessoas chamadas ageless ou sem idade”.

Diante de uma denominação insuportável, do pior e humilhante que a palavra ‘velho’ carrega, nega-se sempre, até a morte. “Fazem parte de uma geração que não aceitará o imperativo: ‘Seja um velho!’ ou qualquer outro rótulo que sempre contestaram”, completa Goldenberg.

Os exemplos em questão, de fato, são interessantes. Falamos de pessoas que ousaram, romperam regras e valores pré-estabelecidos por uma sociedade (na época?) castradora, onde a falsa moral imperava gloriosa pelos círculos políticos, sociais e familiares. Goldenberg aponta: “São de uma geração que transformou comportamentos e valores de homens e mulheres, que tornou a sexualidade mais livre e prazerosa, que inventou diferentes arranjos amorosos e conjugais, que legitimou novas formas de família e que ampliou as possibilidades de ser mãe, pai, avô e avó”.

A questão é que nem todas as pessoas conseguem ‘dar passos largos’, criar um ‘lugar especial’ no mundo para si ou simplesmente reinventar sua história. Muitas vezes, insistimos na derrota, procuramos o que não deve ser encontrado, talvez, porque, ele nem mesmo exista.

Acrescentando Paul McCartney à sua lista dos ‘belos velhos’ (incluir, também, o magistral Clint Eastwood), Goldenberg aponta que, principalmente eles, “estão rejeitando os estereótipos e criando novas possibilidades e significados para o envelhecimento”.

Sabiamente no trecho final de sua matéria a antropóloga ressalta: “Tenho investido em revelar aspectos positivos e belos da velhice, sem deixar de discutir os aspectos negativos”. E lembra os leitores que seu livro ‘Coroas’ também “é uma forma de militância lúdica na luta contra os preconceitos que cercam o envelhecimento”. E, claro, um deles é a idade.

Como esperado para os fiéis leitores da antropóloga, Goldenberg ‘chama’ o irreverente poeta pós-moderno Arnaldo Antunes com sua canção Inclassificáveis: “Que preto, que branco, que índio o quê?/Somos o que somos: inclassificáveis”. Ela brinca com as palavras e aposta na ousadia. Se nada resolver, a dica é ‘cantar’: “Que jovem, que adulto, que velho o quê?/ Somos o que somos: inclassificáveis”, repete Mirian Goldenberg.

Bela, a velhice? Para o inesquecível Adoniran Barbosa, que importa?, “Se envelhecer é uma arte”: “Velho amigo não chore/ Pra que chorar/ Por alguém te chamar de velho/ Não decola, não esquente a cachola./ Quando alguém lhe chamar de velho/ Sorria cantando assim:/ Sou velho e sou feliz/ Mas velho é quem me diz./ Comigo também acontece/ Gente que nem me conhece/ Gente que nunca me viu/ Quando passa por mim:/ - Alô velho! Alô tio!/ Eu não perco a estribeira/ Levo na brincadeira/ Saber envelhecer é uma arte/ Isso eu sei, modéstia à parte”.
 http://portaldoenvelhecimento.org.br/

A VELHICE - OLAVO BILAC

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

CUIDAR DE IDOSOS NÃO É PARA QUALQUER UM


Quem cuida de pacientes com doenças degenerativas convive diariamente com a dor e o sofrimento dos pacientes e da sua família. Por isso, além de ter vocação e paciência, é preciso saber cuidar de si próprio e preservar-se.

Um bom cuidador tem que se conhecer o suficiente para saber se conseguirá conviver com a dor, com o sofrimento de idosos com Alzheimer e outras demências. Deve saber se vai se adaptar, se terá paciência. Isso depende mais de suas características pessoais que de seu treinamento técnico. A capacitação técnica e o conhecimento são fundamentais, mas não são suficientes se o perfil do cuidador não for adequado.

Não é mera coincidência o fato de que a grande maioria dos cuidadores de idosos é do sexo feminino, acima dos 30 anos: são pessoas que já viveram tempo suficiente para saberem o que querem de suas vidas. Em geral não são pessoas oportunistas, não trabalham exclusivamente pelo dinheiro. Elas simplesmente gostam de idosos. Cuidar deles é sua vocação.

No entanto, nem a vocação mais profunda elimina a necessidade do cuidador preservar sua saúde, tanto física quanto mental. Atividades físicas são muito importantes, assim como suporte psicológico. A convivência com amigos e outras fontes de lazer deve ser sempre estimulada. Muitos cuidadores são pessoas de baixo poder aquisitivo e, às vezes, não podem fazer tudo isso. Nesses casos, a saída é conviver com pessoas de bom humor, visitar, ser visitado, praticar a religiosidade, qualquer atividade que o faça relaxar.

Cuidar de idosos tem grande impacto sobre a esfera emocional do cuidador. Faz com que ele se pergunte constantemente como será sua própria velhice, o que pode ser muito angustiante. A perspectiva da nossa própria finitude, o testemunho do abandono de familiares e o sofrimento causado pelas doenças associadas à idade podem provocar quadros depressivos profundos e até irreversíveis. Preservar a própria saúde mental é absolutamente essencial.

Outro ponto importante é a falta de profissionais capacitados no mercado. Hoje grande parte dos cuidados a idosos é prestado por profissionais de enfermagem, em geral técnicos. No entanto, embora tenham grande capacitação técnica, esses profissionais não costumam ter treinamento específico para as limitações da velhice, como as diversas maneiras de se lidar com demências, atividades de estímulo físico e mental e até mesmo medidas para prevenção de complicações. Muitos deles, inclusive, não têm nem mesmo o perfil de temperamento desejável para cuidar do idoso, e acabam se restringindo a mantê-los limpos, alimentados e seguros - o que é muito pouco perto do que seria um cuidado ideal. (Postado por : Ana Lucia Coradazzi)
http://www.homeangels.com.br/

terça-feira, 5 de novembro de 2013

NECESSIDADE DE REFLETIR SOBRE O ATO DE SE CUIDAR

Sei o quanto é difícil a convivência direta com o paciente familiar, sinto que muitos estão nesta fase de incertezas, estresse e desânimo. Estou sempre orando a cada um, assim como recebi forças e orações de muitas pessoas reconheço que me ajudou muito.

Não tinha conhecimentos de Internet quando me vi perante a uma mãe confusa, distante e ao mesmo tempo exigindo presença 24 horas, já ouvi do médico: senão fosse você sua mãe provavelmente não teria sobrevivido ao Alzheimer e doenças oportunistas variadas por tanto tempo.

O socorro é muito importante, o acompanhamento, mas a coragem vem de Deus, superei a desconfiança e perseguições de familiares, a indiferença e encontrei a coragem. Muitas vezes senti minhas forças diminuídas e nestes momentos nos tornamos suscetíveis as várias situações que provocam medo.

Um dia me falaram que minha mãe precisava de carinho, foi difícil ouvir isto de quem não entendia nada do que estava ocorrendo. Hoje percebo que aquela pessoa quase acertou pois não era falta de carinho físico, era falta de companhia de alguém , uma terceira pessoa que dividisse comigo os cuidados com ela e comigo mesmo. Alguém que me compreendesse que me amparava, que me fizesse companhia, que arrancasse do meu íntimo a solidão, o desamparo e que me desse compreensão de tudo que estava acontecendo.

Tentei várias vezes achar esta pessoa, foi complicada, a gente só conhece o pretendente a cuidador na convivência, e cada tentativa me fazia ficar mais distante da pessoa ideal, até acabar conhecendo em definitivo alguém que me ajudaria neste intento.

Por isto eu aconselho humildemente a evitar ficar sozinha durante muito tempo com o paciente familiar , trocar quem sabe uma faxineira por alguém que faça companhia ao paciente, o cuidador precisa respirar fora em outros ares.

O estresse nos acompanha no momento dos cuidados permanentes . Procurem médicos para acompanhar a sua saúde nestes momentos, alguém que cuide de você também.

Hoje sinto o reflexo de minha armadura, em querer ficar ao lado de minha mãe o tempo todo, viagem e férias uma vez por ano e rapidamente, mesmo apenas uma semana me ajudaram. Mas a saúde fica a dever, o comprometimento conosco mesmo fica sobrecarregado.

Espairecer talvez pareça impossível, mas é necessário, eliminem do seu íntimo mágoas, cobranças e culpas, tudo passa e não dê tanta ênfase a estes sentimentos que fluem dentro de nós, se vigie, você pode conseguir facilitar estes momentos do cuidar de alguém, faça isto, tudo o que for possível para amenizar a dor em prol de si mesmo, é necessário, Deus nos dá o discernimento, pratique a piedade consigo mesmo.
http://alzheimernafamilia.blogspot.com.br/

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

DOENÇA DE ALZHEIMER : FACILITANDO O DIA-A-DIA DO PORTADOR E DO CUIDADOR

Família

A família tem um papel fundamental para a boa ou má evolução do paciente com Demência. Por esta razão, reúna a família, discuta as possibilidades de participação de cada um na divisão de tarefas. Não exclua o paciente das reuniões festivas como Natal, aniversários, etc. Conscientize a todos, principalmente os netos. Nunca isole o paciente, trate-o sempre com carinho e respeito. Sua presença e amor são medidas eficientes que associadas ao tratamento farmacológico podem controlar muitas alterações apresentadas pelo paciente no curso da Demência.



Os passeios ao ar livre são aconselháveis e para isso dê preferência a roupas e calçados confortáveis de acordo com as condições climáticas. Evite sair com o paciente se ele estiver agitado ou agressivo. Preferencialmente, saia com dois acompanhantes. Evite ainda terrenos tortuosos, subidas ou descidas, prefira terrenos planos. Observe sinais de cansaço, suor intenso, falta de ar, e se presentes, peça ajuda imediata.





Atividades de lazer sempre são importantes. Se o paciente apreciava ir à praia, é possível manter esta atividade por um longo período. Mas, leve-o para a praia nos horários adequados para o banho de sol, entre 7h e 10h da manhã e após às 16h. Use protetor ou bloqueador solar e mantenha-o protegido sob o guarda-sol. Lembre-se, a pele merece muitos cuidados, em qualquer idade, especialmente nos indivíduos idosos quando a sensibilidade às agressões externas aumenta.


A situação exemplificada pela figura ao lado é extremamente conflitante para a família. De um lado, vê-se uma cuidadora solitária estressada, cansada pelos cuidados diuturnos dispensados ao paciente. De outro lado, observam-se outros membros da família descansados, bem trajados, que apenas “passam” para ver como o pacientes está. É muito comum, que com o passar do tempo e repetição desta situação, a família enfrente importantes conflitos entre seus membros, podendo chegar a rupturas em sua estrutura . Neste caso, é importante que todos os membros da família sejam envolvidos com os cuidados. A divisão de tarefas é uma alternativa possível e bastante funcional, caso a família se disponha a adotar este método.

Atividade/Lazer


Os contatos com plantas, flores, pequenos animais de estimação, entre outras atividades lúdicas, têm sido referidos por diversos pesquisadores como benéficos para portadores de Demência, especialmente aqueles que apresentam alterações de comportamento como agitação e agressividade. Estas atividades podem ser incentivadas, porém, não se esqueça, elas devem ser supervisionadas. Molhar plantas e mexer com a terra, pode ser muito bom, mas você precisa garantir que o terreno apresenta segurança. Cuidado com tábuas, pregos, vasos pesados, pesticidas e adubos químicos. Em relação aos animais, converse com um veterinário para saber qual porte, raça e temperamento de cachorro ideal para o paciente. Mantenha vacinação atualizada.



Pacientes que ficaram viúvos, ou que passaram a viver longe de pessoas queridas precisam de atenção especial para evitar quadros depressivos. Ver fotos de pessoas queridas é um excelente passatempo, mas escolha fotos que marcaram eventos felizes para evocar lembranças agradáveis. Lembre-se que a memória remota está preservada, e por isso o paciente pode passar agradáveis momentos revendo momentos marcantes da sua vida.




Na Doença de Alzheimer, a memória mais prejudicada inicialmente é a memória recente. Por esta razão, álbuns com fotos de família, amigos, viagens, etc. costumam ser uma atividade extremamente prazerosa para o paciente, que ao observar alguns registros reconhece a situação e faz comentários sobre eles. Contudo, selecione as fotos que trazem pessoas e lembranças agradáveis. Os filmes antigos também costumam ser bem vindos para aqueles pacientes que gostavam de cinema. Fitas de vídeo, portanto, podem ser excelentes opções de lazer.




Alguns cuidadores têm a falsa impressão de que ao reunir amigos que costumavam bater longos papos, ou jogar cartas com o paciente estarão promovendo bons momentos de lazer. É preciso atentar para alguns detalhes e tomar certos cuidados. Por exemplo: pacientes que têm dificuldades com a linguagem, esquecem palavras, etc. podem ficar expostos a situações constrangedoras, especialmente diante de amigos que não entendem bem o que está acontecendo com eles. Jogar cartas envolve habilidades de raciocínio e planejamento que podem estar comprometidas. Pense que as perdas são graduais, e por isso, você deve observar para qual atividade o paciente ainda tem independência. Selecione os amigos que podem participar com ele, cada falha cometida deve ser encarada com naturalidade.



Pacientes bem alimentados, com atividades regulares durante o dia, não costumam “assaltar a geladeira” à noite. O paciente deve receber seis refeições diárias e a dieta leve e fracionada, ou seja, pequenas quantidades de cada vez. Os pacientes com voracidade, que é uma perda da saciedade que alguns pacientes apresentam ao longo da doença, e que faz com que a pessoa queira alimentar-se a todo momento, devem ter todas as suas refeições fracionadas (divididas) em pequenas porções. Por exemplo: café da manhã dividido em duas partes, lanche da manhã também, e assim por diante. Esta estratégia permite que o paciente voraz tenha a sensação de estar sendo atendido em sua necessidade de mais refeições, quando na verdade, ele estará recebendo a mesma quantidade de alimentos, o que para ele é o ideal. Retire os estímulos visuais, como fruteira, baleiros, potes de biscoitos, etc. e mantenha a geladeira limpa.


Algumas alterações de comportamento são bastante comuns no curso das Demências. A falta de iniciativa, ou apatia, representada pela ilustração ao lado, está presente quando o paciente, especialmente nas fases iniciais da Doença de Alzheimer, pode passar horas sentado, sem manifestar nenhuma iniciativa. É preciso que ele receba estímulos de sua família para envolver-se em alguma atividade para a qual ele ainda tenha competência. Convide-o para auxiliar em alguma tarefa, leve-o para passear, mantenha o diálogo, e evite comentários com amigos ou outras pessoas da família sobre a doença e sua evolução.




A figura sugere o paciente que apresenta o falso reconhecimento de que os personagens que está vendo nos programas de TV estão na realidade em sua casa conversando com ele. Delírio este, que o faz conversar com o personagem como se ele estivesse em sua frente. É preciso lidar com muito respeito com esta situação. Deve-se pensar que, para o paciente, a impressão é bastante real. Portanto, não o corrija, explique o que acontece às pessoas da casa e por mais engraçada que seja a situação, não permita que o paciente seja motivo de risos e comentários.



Tente conversar com o médico que acompanhará o paciente antecipadamente. Aproveite para relatar-lhe todos os déficits e dificuldades apresentadas pelo paciente. Evite falar sobre elas diante dele (a). É preciso levar em consideração o fenômeno conhecido como anosognosia, presente nas fases iniciais da doença, que se refere a falta de percepção que a pessoa com demência tem do próprio déficit, assim, no momento em que você relata ao médico alguma falha que ela tenha cometido, por não se lembrar do que fez, pode se magoar ou até mesmo tornar-se agressiva.



As figuras ao lado apresentam situações que devem ser evitadas, pois, freqüentemente desencadeiam alterações de humor e comportamento, como por exemplo, irritabilidade, agitação ou agressividade. Diante disso, é oportuno considerar que pacientes que apreciavam almoçar ou jantar fora com seus amigos e familiares podem continuar a fazê-lo, porém, é fundamental a criteriosa escolha do local. Evite restaurantes sofisticados, superlotados, barulhentos, mesas postas com vários tipos de talheres e copos, pois mesmo aqueles pacientes acostumados a freqüentar este tipo de ambiente, podem não se lembrar de como usar adequadamente talheres de peixe, cálices de vinho, etc. Prefira restaurantes calmos, bem iluminados e espaçosos. Que a música ambiente, se houver, seja da preferência do paciente. 


Alimentos pesados, bebidas alcoólicas, refrigerantes, precisam ser evitados mesmo quando o paciente está fora de casa. Tente manter o padrão da dieta recebida por ele diariamente, que deve ser leve com tempero suave em pouca quantidade. Procure sentar-se longe dos estímulos visuais, como doces, chocolates, sorvetes, tortas, etc.


Pacientes com diagnóstico de Demência não devem jamais sair sozinhos. A desorientação espacial é um fenômeno comum e você precisa considerar que mesmo nos itinerários “familiares”, ou seja, aqueles que por toda a vida o paciente fez, podem se tornar absolutamente estranhos a ele. Por esta razão, quando você perceber que já existe esta desorientação, mantenha as portas de casa que dão acesso à rua fechadas. E para não precisar retirar as chaves da fechadura, o que poderia causar agitação no paciente, instale uma fechadura adicional na parte inferior ou superior na porta, e esta chave sim, retire-a e guarde-a com você. Não permita que o paciente saia sozinho.



Evite que o paciente saia de casa acompanhado apenas por um amigo. É impossível afirmar se ele permanecerá calmo e orientado por todo o tempo que estiver fora. A desorientação espacial, por exemplo, é uma ocorrência comum e pode gerar para o acompanhante muita dificuldade para fazer o paciente aceitar o itinerário certo para retornar a sua casa. Estes pacientes são muito especiais, e levando-se em consideração, horário e tipo da atividade, ambiente, e abordagem correta do cuidador, é possível manter quase todas as atividades que ele fazia anteriormente a doença.



Esteja sempre atento ao atravessar a rua com alguém que tem Demência, é um conselho que precisa ser adotado. Dê-lhe o braço ou a mão, não exerça muita pressão, mas segure firme para que ao tentar se soltar, ele não consiga. Lembre-se, as ruas de tráfego intenso oferecem grande perigo para pessoas com marcha lentificada, deficiências físicas ou mentais, e por isso, devem ser evitadas. No caso do paciente encontrar-se muito agitado, saia de casa apenas se necessário, e neste caso, solicite que mais uma pessoa da família ou conhecida os acompanhe.



Sair para passear, ir à praia etc, são oportunidades de socialização. Pense, no entanto, que um minuto de distração do cuidador pode se transformar em grande transtorno para todos. É necessário considerar que estes pacientes apresentam desorientação espacial e facilmente se perdem, por isso não os deixe sozinhos. Providencie que estejam identificados com nome, endereço e telefone que podem ser gravados em pulseiras e pingentes.

Situações de risco


Para garantir a tranquilidade e principalmente a segurança do paciente confuso, é preciso que sejam colocadas telas de proteção nas janelas, especialmente nos ambientes de apartamentos localizados em andares altos. Se necessário, use como argumento a “presença de insetos” no ambiente.





É possível levá-lo ao supermercado, desde que para pequenas compras. Nunca deixe que ele pegue algo em uma prateleira enquanto você vai a outro setor, não o deixe só. Evite cansá-lo, não o deixe carregar sacolas, empurrar carrinhos, etc. Lembre-se, o paciente pode estar confuso, desorientado, e por isso, ficar alterado. Todas as atividades precisam ser supervisionadas.






Caso o paciente esteja apresentando um comportamento desinibido, com palavras e atitudes maldosas, evite levá-lo a passear por locais movimentados ou frequentados por estranhos. Lembrese, muitas vezes o paciente aparentemente não está doente, e para quem desconhece o que está acontecendo com ele, uma palavra ou gestos inadequados podem gerar reações violentas naquele que se sentiu ofendido ou desrespeitado, trazendo conseqüências bastante nocivas para o paciente.



Caminhadas regulares costumam ser prazerosas e propiciar um condicionamento físico bastante satisfatório. Porém, antes de iniciar qualquer atividade física, é necessária uma avaliação médica, para que seja determinado o tipo e o tempo gasto com cada atividade. Isto varia de pessoa a pessoa. Além disso, recomenda-se fazer sempre uma refeição leve antes da atividade. Levar água.




Os horários de refeições podem ser extremamente prazerosos para todos que convivem com o paciente. Acompanhe-o durante as refeições, sente-se à mesa com ele, inicie uma conversa simples, bem humorada. Evite que as medicações fiquem visíveis sobre a mesa. Após a refeição, ofereça o medicamento que já foi previamente separado por você. Supervisione sempre, tenha certeza de que a medicação foi ingerida.




Medicamentos e produtos tóxicos devem ser acondicionados em locais inacessíveis ao paciente. Alguns cuidados, porém, devem ser tomados. Os armários devem ser fechados, possuir ventilação, e as chaves devem igualmente ser inacessíveis ao paciente. Acidentes podem acontecer, e é preciso que o cuidador esteja atento para evitá-los. Você já deve ter percebido que as medidas que o auxiliam a prevenir acidentes são muito simples e fáceis de serem colocadas em prática.





A situação exemplificada pela figura ao lado é bastante comum entre idosos. É preciso levar em consideração que as avaliações médica, oftalmológica e odontológica fazem parte do contexto dos cuidados que deve ser dispensado a pessoa idosa com ou sem Demência. As próteses dentárias mal adaptadas costumam ficar frouxas na boca, o que dificulta a mastigação, deglutição e a comunicação. Além disso, podem causar para o paciente e sua família uma situação de grande constrangimento e lesões na mucosa oral ocasionando dor. Providencie para que o paciente visite o dentista uma vez por ano.



Nas fases iniciais da doença, os déficits com as atividades profissionais podem estar presentes. Pacientes que aparentemente são independentes para continuar exercendo suas atividades no trabalho costumam cometer falhas importantes, especialmente aquelas que envolvem finanças, documentação, etc. Sempre que possível, dê ao paciente a sensação de que ele continua exercendo suas atividades no trabalho com a mesma eficiência de antes. Isto é possível permitindo que ele execute sua atividade normalmente, mas que seu trabalho, sem que ele saiba, seja avaliado por outra pessoa, e se necessário refeito.



Adaptar o ambiente pode, às vezes, ser fundamental para manter a segurança pessoal e evitar acidentes como os representados pelas figuras. Tente manter o ambiente o menos poluído possível. Evite muitas peças de mobiliário, como por exemplo, mesas de centro, objetos de decoração espalhados, tapetes soltos, animais de estimação nas áreas de circulação do paciente, etc. Procure manter boa iluminação e peças na decoração que sejam familiares ao paciente, isto permite que não haja uma descaracterização do ambiente, o que o tornaria estranho. Muitos acidentes ocorrem devido a um simples tropeço, e caso haja uma queda, é importante que você busque ajuda, não levante o paciente do chão sem ter certeza de que não houve nenhuma fratura.


Os perigos que uma escada pode representar para um idoso com Demência são ilustrados ao lado. Porém, não se assuste, lembre-se de que o objetivo aqui é prevenir acidentes, e que algumas adaptações muito simples podem permitir maior segurança, especialmente entre aqueles pacientes que perambulam. Para manter a segurança é preciso que você dificulte o acesso do paciente às escadas, desencorajando-o assim a subir e descer desnecessariamente. Instale portões nos dois acessos, superiores e inferiores; mantenha iluminação adequada e se a escada for carpetada, certifique-se de que o carpete esteja bem preso e sem rugas; instale nos degraus faixas adesivas antiderrapantes coloridas e facilmente visíveis, e corrimões nos dois lados da escada.



A partir do momento do diagnóstico de Demência, é conveniente que todas as atividades desenvolvidas pelo paciente sejam supervisionadas. Especialmente as atividades instrumentais, que são aquelas que envolvem capacidade de planejamento e execução de uma tarefa mais complexa, podem estar comprometidas, e o que acontece é um verdadeiro desastre. Os eletrodomésticos, utensílios de cozinha, alimentos perecíveis, podem se constituir em diferentes perigos para o paciente, como por exemplo, incêndios, intoxicações, queimaduras, inundações, quedas, fraturas, ferimentos cortantes, entre outros. Não deixe que o paciente trabalhe sozinho na cozinha, oriente (enquanto possível), supervisione, auxilie.



Faça sempre um reforço positivo, elogie-o com frases do tipo “Olhe como você ficou bem, barbeado. O que você acha?” ou “Esta roupa ficou muito linda em você”. Prefira usar, sempre que possível barbeador elétrico, as lâminas podem causar acidentes e neste caso, é necessária sua supervisão direta. Mesmo que haja no ambiente certa desorganização dos objetos utilizados pelo paciente, evite comentários. Posteriormente, guarde tudo nos locais apropriados.



Explique ao paciente antecipadamente que você o levará ao médico para uma avaliação da sua saúde. Faça isso usando palavras calmas, em tom de voz baixo e suave, tente tranquilizá-lo. Evite palavras com tom ameaçador como: “Se você não for ao médico, eu...”; Prefira: “Quando sairmos do consultório médico, nós vamos à casa de...”; ou qualquer outra atividade que você sabe, será bem vinda pelo paciente. É importante que embora você tenha tempo apenas para um pequeno passeio, cumpra a promessa.




Procure, na medida do possível, frequentar ambulatórios médicos ou consultórios especializados no atendimento ao portador de Demência e sua família. Os profissionais que atendem neste locais e os outros familiares que lá estão são conhecedores das alterações apresentadas no curso das Demências, e, portanto, como bem ilustrado pela figura ao lado, o paciente não será repreendido pelo seu comportamento e você não se sentirá constrangido (a). Lembre-se, o paciente que perambula precisa de espaço livre e seguro para caminhar. 

Vestuário


Auxiliar o paciente com a escolha adequada das peças do vestuário pode evitar situações como a exemplificada pela ilustração ao lado. Observe quando o paciente apresenta dificuldades para fazer suas escolhas independentemente, e comece a auxiliá-lo. É importante que todas as pessoas da família sejam bem informadas do que acontece com o paciente, especialmente os netos, que por desconhecerem o que está acontecendo com o avô ou avó, podem inconscientemente causar situações de constrangimento, depressão, irritabilidade e agressividade.



Talvez você já tenha vivenciado situações deste tipo. Embora ela possa causar irritação para o cuidador, é preciso que haja entendimento de que para o paciente está tudo certo. Gradativamente, esta pessoa perde a capacidade de crítica e julgamento, e por esta razão, não consegue diferenciar o que está certo e o que está errado. Tente resolver este problema, escolhendo previamente três mudas de roupa, e apresente-as para o paciente perguntando-lhe qual das três ele gostaria de usar. Além de o vestuário ser adequado ao clima e grau de dependência apresentado, dá ao paciente uma sensação de independência, pois a escolha final é dele.



Estimular o vestuário independente é ideal, mas... Pense que prevenir acidentes também! Observe a figura ao lado e veja como pode ser difícil para alguém que está perdendo sua habilidade de executar tarefas familiares, como vestir-se. Em alguns momentos, apenas orientar e observar pode não ser suficiente, e neste caso, o auxílio do cuidador(a) é indispensável.
(http://www.doencadealzheimer.com.br/)

Créditos


Texto
Dra. Ceres Eloah Lucena Ferretti
Enfermeira da SPDM-HSP – Setor de
Neurologia do Comportamento
Doutora em Ciências pela UNIFESP-EPM

Colaboração
Dr. Ivan Hideyo Okamoto
Neurologista, Coordenador do NUDEC –
Núcleo de Envelhecimento Cerebral
Doutor em Medicina pela UNIFESP-EPM

Ilustrações
Edgar Osterroht
Empresário e Artísta Plástico

Elaboração