O livro de Heloisa
Seixas – O lugar Escuro, narra a história de vida da autora, a qual é envolvida
em um pesadelo familiar – a convivência com a mãe, afetada pelo mal de
Alzheimer. O livro expõe vários sintomas da doença de Alzheimer, alguns dos
quais passaram despercebidos na vida de Heloisa. Até que um dia em casa, após
uma viagem, sua mãe acredita ainda estar hospedada no hotel, essa confusão de
localização deixa Heloísa muito preocupada. A partir disso, os vários outros
sintomas tornam-se evidentes como:
esquecimentos, apatia, mudanças de personalidade…
No livro, Heloísa
narra suas angústias de ver sua mãe apresentando mais dificuldades a cada dia e
de se sentir impotente por não conseguir mudar isso. Além disso, retrata também a relação mãe e filha antes e
depois da doença.
No início do livro
tive uma sensação não muito agradável, pois pensei “Será que um dia eu passarei
por isso com meus pais?” ou “Será que eu mesma passarei por isso?”. Pois bem,
eu tenho alta escolaridade, tenho uma alimentação saudável, acredito possuir
uma saúde emocional, tudo isso são pontos positivos para eu não ter acometimento
de uma demência no futuro, no entanto, nada é garantido. Tenho certeza que essa
sensação não muito agradável apareceu, pois eu e a maioria das pessoas também
não estamos preparados para lidar com esse tipo de adversidade na vida. E por
isso mesmo que continuei a leitura e a recomendei pra minha mãe, pois a
informação/aproximação de algo, fará que isso não seja tão ruim assim, além de
nos preparar para isso.
Continuei a
leitura (terminei o livro em dois dias, a sua leitura é fácil e envolvente),
Heloisa menciona que em vários dias sua mãe a pedia para levar pra casa “Me
leva embora?”, mas isso a deixava muito frustrada, pois onde estavam era a casa
dela. E esses questionamento acontecia dias e dias. Esta passagem me fez
recordar da minha avó – Verônica, que faleceu com seus 92 anos de idade e pelo
seus comportamentos provavelmente estava com uma demência senil não
diagnosticada. Um dia meu pai a levou em
um velório de uma pessoa distante da família, lá ele a deixou sozinha e com
vários parentes que ela não via há um tempo, na chegada em casa, minha avó
ficou bravíssima com meu pai, pois ele “não havia deixado em casa” e sim em
“outro lugar”. No dia seguinte, minha
avó estava zangadíssima e culpava o meu pai, pois ele havia “levado para outra
casa”. Até que minha avó decidiu colocar as coisas em uma sacola e pediu para o
meu tio (sábio tio que morava com ela e que teve muita, muita, muita paciência
nesse convívio) para levá-la para casa. Surpreendentemente, ele não ficou
retrucando, dizendo que ali era a casa dela, dizendo que era pra ela se
acalmar, ou enfim… falando essas coisas e ficando também estressado, ele pegou
minha avó, colocou suas sacolas no carro e disse “Vamos mãe, vou te levar pra
casa”. Os dois deram uma volta pela cidade e depois voltaram para o mesmo lugar que estavam antes, a sua
casa, e disse pra ela “Pronto mãe, agora você está em casa”. E as dúvidas dela
acabaram, pois ela havia retornado para sua “casa”.
Essa passagem é
uma dica valiossíma para os cuidadores e familiares, esse comportamento de não
se sentir na casa certa é muito frequente nas demências e orientamos que, em
alguns momentos, é necessário se
utilizar de uma “mentira boa” para amenizar toda essa confusão mental. Então,
nessa parte do livro, que a mãe de Heloisa insistidamente pedia para ir pra
casa, eu pensei, nossa, e se Heloisa pegasse sua mãe e desse uma volta de carro
e depois a levasse para a mesma casa? Essa atitude poderia amenizar muitas
coisas. Não estou dando uma receita de bolo, pois essa dica pode ajudar vários outros cuidadores e
familiares, como ajudou meu tio. No entanto, você vai percebendo se tal atitude
pode ser eficaz ou não para você no cuidado.
Então, fica a
recomendação para você ler o livro O lugar escuro e mergulhar no universo da
filha de uma pessoa com doença de Alzheimer.
http://eisi.webnode.com.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário