sexta-feira, 15 de novembro de 2013

REFLEXÕES A PARTIR DO LIVRO " O LUGAR ESCURO"



O livro de Heloisa Seixas – O lugar Escuro, narra a história de vida da autora, a qual é envolvida em um pesadelo familiar – a convivência com a mãe, afetada pelo mal de Alzheimer. O livro expõe vários sintomas da doença de Alzheimer, alguns dos quais passaram despercebidos na vida de Heloisa. Até que um dia em casa, após uma viagem, sua mãe acredita ainda estar hospedada no hotel, essa confusão de localização deixa Heloísa muito preocupada. A partir disso, os vários outros sintomas tornam-se evidentes como:  esquecimentos, apatia, mudanças de personalidade…

No livro, Heloísa narra suas angústias de ver sua mãe apresentando mais dificuldades a cada dia e de se sentir impotente por não conseguir mudar isso. Além disso,  retrata também a relação mãe e filha antes e depois da doença.

No início do livro tive uma sensação não muito agradável, pois pensei “Será que um dia eu passarei por isso com meus pais?” ou “Será que eu mesma passarei por isso?”. Pois bem, eu tenho alta escolaridade, tenho uma alimentação saudável, acredito possuir uma saúde emocional, tudo isso são pontos positivos para eu não ter acometimento de uma demência no futuro, no entanto, nada é garantido. Tenho certeza que essa sensação não muito agradável apareceu, pois eu e a maioria das pessoas também não estamos preparados para lidar com esse tipo de adversidade na vida. E por isso mesmo que continuei a leitura e a recomendei pra minha mãe, pois a informação/aproximação de algo, fará que isso não seja tão ruim assim, além de nos preparar para isso.

Continuei a leitura (terminei o livro em dois dias, a sua leitura é fácil e envolvente), Heloisa menciona que em vários dias sua mãe a pedia para levar pra casa “Me leva embora?”, mas isso a deixava muito frustrada, pois onde estavam era a casa dela. E esses questionamento acontecia dias e dias. Esta passagem me fez recordar da minha avó – Verônica, que faleceu com seus 92 anos de idade e pelo seus comportamentos provavelmente estava com uma demência senil não diagnosticada.  Um dia meu pai a levou em um velório de uma pessoa distante da família, lá ele a deixou sozinha e com vários parentes que ela não via há um tempo, na chegada em casa, minha avó ficou bravíssima com meu pai, pois ele “não havia deixado em casa” e sim em “outro lugar”.  No dia seguinte, minha avó estava zangadíssima e culpava o meu pai, pois ele havia “levado para outra casa”. Até que minha avó decidiu colocar as coisas em uma sacola e pediu para o meu tio (sábio tio que morava com ela e que teve muita, muita, muita paciência nesse convívio) para levá-la para casa. Surpreendentemente, ele não ficou retrucando, dizendo que ali era a casa dela, dizendo que era pra ela se acalmar, ou enfim… falando essas coisas e ficando também estressado, ele pegou minha avó, colocou suas sacolas no carro e disse “Vamos mãe, vou te levar pra casa”. Os dois deram uma volta pela cidade e depois voltaram  para o mesmo lugar que estavam antes, a sua casa, e disse pra ela “Pronto mãe, agora você está em casa”. E as dúvidas dela acabaram, pois ela havia retornado para sua “casa”.

Essa passagem é uma dica valiossíma para os cuidadores e familiares, esse comportamento de não se sentir na casa certa é muito frequente nas demências e orientamos que, em alguns momentos,  é necessário se utilizar de uma “mentira boa” para amenizar toda essa confusão mental. Então, nessa parte do livro, que a mãe de Heloisa insistidamente pedia para ir pra casa, eu pensei, nossa, e se Heloisa pegasse sua mãe e desse uma volta de carro e depois a levasse para a mesma casa? Essa atitude poderia amenizar muitas coisas. Não estou dando uma receita de bolo, pois essa dica  pode ajudar vários outros cuidadores e familiares, como ajudou meu tio. No entanto, você vai percebendo se tal atitude pode ser eficaz ou não para você no cuidado.

Então, fica a recomendação para você ler o livro O lugar escuro e mergulhar no universo da filha de uma pessoa com doença de Alzheimer.
http://eisi.webnode.com.br/

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