segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

VIDA E SAÚDE


Tudo tem inicio, meio e fim. Tanto o livro como a vida. Mas um livro você folheia antes de comprar, vê se gosta do estilo,escolhe o assunto que interessa dependendo do seu momento,desejo ou objetivo. A vida não.
Meu filho me surpreendeu um dia com a pergunta “... mãe, qual é o sentido da vida?”. Você, leitor, sabe a resposta? Nem eu. A angústia metafísica não existiria se soubéssemos responder a esta única pergunta. A religião preenche a lacuna e a fé substitui a angústia. Um objetivo de vida perseguido anos e anos também. Cabe a cada um de nós a escolha de um, de outro ou ambos.
Seja como for, existir ou não, a opção inicial não é nossa. Escolhemos dar vida a nossos filhos, mas não temos nenhum arbítrio sobre o nosso nascimento. E a vida simplesmente acontece a nós sem que possamos escolher nossos genes, características físicas e tipo de personalidade. Também não determinamos a área geográfica em que vamos viver, nem nosso núcleo familiar. Ela, a vida, simplesmente acontece. E vamos vivendo. No melhor cenário, conseguimos identificar um objetivo e fortalecidos, seguimos em frente sem (quase) nunca parar para pensar nela... vida.
E viver sem saúde é bem mais difícil. Isso é senso comum. Mas o que precisa ser discutido é como fazer para ter saúde. Não temos um manual à nossa disposição. Será que não? Nas escolas se discute sexo, existe consenso em relação à necessidade de educação para o sexo fora do ambiente familiar. A função de alerta em relação à procriação não consciente e às doenças sexualmente transmissíveis, foi assumida pelo poder público para minimizar os danos que viriam, com a evolução natural para o caos em saúde, acelerada pela pandemia da Aids (Sida).
Hoje vemos crescer a prevalência de doenças ligadas à opção equivocada que fizemos pelo fast-food e pelo sedentarismo conseqüente ao ritmo desenfreado da era pós-industrial. Não podemos “perder tempo”. Vivemos uma era “acelerada” em que tudo nos é facilitado. Dos shakes e sanduíches que substituem a refeição aos carros, controles remotos e facilidades eletrônicas. As anunciadas epidemias de obesidade, câncer e dia- betes tipo 2 sobrecarregam cada vez mais as unidades de saúde ( publicas e privadas ). Tornamo-nos cada vez mais, doentes crônicos, reféns de nós mesmos.
Mas você sabe que depende somente de nós a iniciativa de mudar o cenário?
A mesma estratégia em relação às doenças sexualmente transmissíveis deveria ser usada para ensinar a ser saudável. Em alguns países, faz parte da grade curricular a matéria “economia doméstica”, preparando o jovem para a vida adulta. Assim deveria ser com a orientação para a saúde, que deveria estar presente desde a infância. Em todas as fases do desenvolvimento do individuo. Este aprendizado é lento e deve ser contínuo. Não é matéria para um período único.
Até agora o que vejo são ações voltadas para saúde sim, mas pontuais. Relacionadas às epidemias de gripe e outras doenças infecciosas. É verdade também que campanhas a respeito de hipertensão arterial, diabetes e glaucoma, volta e meia estão na mí- dia, mas a forma de apresentar a doença ao individuo não é a ideal. Falam em prevenção quando se referem, na verdade, à detecção precoce da doença. Não é apenas esse aspecto que precisa ser divulgado.
O que nos mata mais e nos tira a dignidade no envelhecimento são as doenças crônicas degenerativas. E essas, quando chegam a ser diagnosticadas são tratadas pelo resto da vida. A prevenção real é fazer o leigo entender o que leva o organismo a desenvolver essas doenças crônicas. E ele se sentir motivado a evitá-las. A conscientização para a senilidade responsável e de qualidade, não move um mundo voltado para a beleza, juventude e o prazer acima de tudo, aqui e agora!
Sem falar na falta de interesse em promover a prevenção. A demanda cada vez maior pelos serviços e produtos relacionados à assistência médica e à industria farmacêutica é um indicador de que o cuidado em relação à saúde tem sido avaliado de forma equivocada. No aspecto econômico-financeiro, o tratamento da doença é mais interessante do que a promoção da saúde.

Mas voltando a falar em saúde, uma vez me surpreendi, positivamente, ao ler a receita que um médico clínico havia fornecido a uma paciente minha. Era uma prescrição simples, apenas uma suplementação de cálcio, devido a historia familiar de osteoporose e a alterações discretas na densitometria óssea. A verdadeira receita estava no verso da folha: listados, um após o outro, itens dos quais ela deveria se ocupar se quisesse ter uma vida melhor,em todos os aspectos.
Eram uns oito itens. Não me recordo de todos agora, mas assistir ao por do sol pelo menos uma vez por semana, caminhar por 40 minutos, três a quatro dias na sema- na, encontrar algo que a fizesse feliz e se permitir ocupar uma hora de cada dia com esta atividade. Além das óbvias instruções sobre alimentação, água e sono reparador. Aquele médico nunca soube, mas fez diferença na minha vida.
Já naquela época eu acreditava no organismo e na homeostasia contínua da qual ele se encarregava. Falava aqui e ali com alguns pacientes, em determinados momentos em que sabia que poderia ser entendida e que minhas observações teriam eco. Mas acho que me “envergonhava” da atitude tão simplista, tão pouco “médica” ou profissional, talvez. E estava totalmente equivocada!
Num primeiro momento, a receita do médico me fez reconhecer a atitude pouco generosa que eu vinha tendo em relação à minha forma de fazer medicina. Se eu já tinha este conhecimento, porque não compartilhar?
O médico clínico teve a percepção que eu não tive. Ele mostrou ser um médico interessado na saúde de quem cuida e apaixonado pelo que faz; uma pessoa que adquiriu uma experiência de vida que autorizava os conselhos que deu à nossa paciente em comum.
A senhora X, como a chamarei aqui, era cuidadora de uma mãe com síndrome de Alzheimer, mas eu nunca havia percebido traços de depressão nela. Do ponto de vista emocional eu a considerava uma pessoa forte e segura. Fora a hipotensão arterial (que não é tida como doença, mas é um fator de risco em relação ao glaucoma),ela podia ser considerada saudável. Na juventude tinha tido muita enxaqueca, que com a idade não a importunou mais. A mãe, além da doença neurodegenerativa, era cega por glaucoma e havia sido portadora de enxaqueca quando jovem também. Ao longo da vida da sra. X, nenhum médico comentara com ela a respeito de estratégias para evitar ou retardar as doenças que ela poderia vir a ter, embora não desconhecessem a historia familiar de glaucoma de pressão normal, cegueira e demência. Todas elas eram doenças referentes à mãe, mas que posteriormente foram diagnosticadas nela, filha, uma a uma, e na mesma seqüência, como era de se esperar. Eu mesma, quando diagnostiquei o glaucoma de pressão normal não valorizei como poderia o aspecto disfuncional vascular que ela apresentava desde cedo.
O que eu não vi e o clinico percebeu? No perfil emocional do migranoso, a ansiedade e muitas vezes a angústia não faltam. Eu não havia conhecido a Sra. X antes da meia idade. Hoje ela conseguia passar a imagem de uma pessoa em paz consigo mesma, ciente da responsabilidade de cuidar da mãe doente, sem que isso a transformasse numa queixosa crônica ou triste. Mas era apenas aparência. Ela não havia conseguido encontrar equilíbrio na forma de sentir a própria vida e o mundo à sua volta. E estava agora, literalmente, implodindo. Seguia para seu destino ( ela pensava que não poderia ser diferente do da mãe), sem sequer se permitir tentar mudá-lo.
Eu não consegui perceber que ela precisava de ajuda. Mais do que aumentar a medicação para tentar estabilizar o glaucoma, eu deveria tentar fazê-la se dar conta de que precisava se ajudar. Não é fácil de repente se dar conta de que é a forma como você vê (e age) em relação ao mundo à sua volta que altera as rotas de expressão genética e bioquímica que trazemos desde o nascimento. Todos nós deveríamos ter esse conhecimento. O que fazemos depois com ele cabe a cada um de nós.
(http://luizmeira.com/saude.html)

PROMETO FALHAR

 

Fiz ontem as contas e foram mais de trinta mil os dias em que adormecemos e acordámos juntos, na cama onde agora te escrevo e de onde espero sair para ir de novo até ti. Trinta mil dias a olhar-te dormir, a saber o frio ou o calor do teu corpo, a perceber o que te doía por dentro, a amar cada ruga a mais que ia aparecendo. Trinta mil dias de eu e tu, desta casa que um dia dissemos que seria a nossa (que será de uma casa que nos conhece tão bem quando já aqui não estivermos para a ocupar?), das dificuldades e dos anseios, dos nossos meninos a correr pelo corredor, da saudade de nos sabermos sempre a caminho de sermos só nós. Trinta mil dias em que tudo mudou e nada nos mudou, das tuas lágrimas tão bonitas e tão tristes, das poucas vezes em que a vida nos obrigou a separar (e bastava uma tarde longe de ti para nem a casa nem a vida continuarem iguais). Trinta mil dias, minha velha resmungona e adorável. Eu e tu e o mundo, e todos os velhos que um dia conhecemos já se foram com a velhice. Nós ainda aqui estamos, trinta mil dias depois, juntos como sempre. Juntos para sempre. Trinta mil dias em que desaprendi tanta coisa, meu amor. Menos a amar-te. (Pedro Chagas Freitas).

VIVER COM ALZHEIMER - LIVRO




 

Sinopse:
Este livro destina-se a servir de apoio a todas as pessoas que têm a seu cuidado familiares ou entes queridos que padecem da doença de Alzheimer. Ou seja, é uma obra destinada a todos aqueles que estão a viver um «luto em vida»: um luto, devido à sensação constante de perda que a progressão da doença causa; e «vivo» porque implica cuidar de uma pessoa que está em constante mudança.

A relação entre o paciente e o prestador de cuidados é sempre complexa e de difícil equilíbrio; quando o prestador de cuidados é um familiar, esta complexidade torna-se ainda maior. Viver com Alzheimer ajuda a compreender esta dinâmica e a criar uma relação mais equilibrada, potenciando as vantagens da intimidade criada entre ambos e ajudando a proteger a sua vulnerabilidade.

Ao longo destas páginas, encontrará esclarecimentos práticos e acessíveis acerca da natureza, da sintomatologia e da progressão da doença de Alzheimer. Este conhecimento permitir-lhe-á fazer uma gestão mais adequada das suas expectativas, comunicar de forma mais eficaz tanto com a pessoa afetada pela doença como com os restantes familiares ou amigos e, sobretudo, adquirir ferramentas para se adaptar da melhor maneira possível a uma realidade em constante mudança.
(Autor:Jose Luis Molinuevo)

sábado, 21 de fevereiro de 2015

QUANDO FORMOS IDOSOS ...

MEMÓRIA - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



  

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.


Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.


As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.


Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.


Esses são versos do poema Memória, de Carlos Drummond de Andrade. Com a devida licença poética, podem ser referência para a Doença de Alzheimer. Gente que gradativamente perde a memória. Com a destruição dos neurônios, apagam-se lembranças e referências. O perto fica longe. O próximo, distante. O que era caseiro, doméstico e familiar é esquecido, apagado, devastado. O paciente não sabe quem é, onde mora, desconhece aqueles que o rodeiam. Parece perder tudo. Menos o sentido do carinho que recebe.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

VOCÊ É LINDA. OBRIGADA. EU TE AMO


Alguns anos atrás, para ser mais precisa oito, minha mãe começou a agir de maneira estranha e confusa. Minha irmã, que convivia mais com ela, foi a primeira a notar. Com o tempo também comecei a reparar que minha mãe andava muito confusa. Esse foi o começo de uma longa dura jornada ao desconhecido mundo da neurociência. Eu digo desconhecido porque o que aprendi nesse tempo é que, apesar de tantos estudos envolvendo o funcionamento do cérebro humano, ele ainda é território misterioso. Claro, tivemos muitos avanços, mas muita coisa permanece ainda inexplicável e isso torna qualquer doença nessa área mais complicada.

A primeira dificuldade já veio de cara em encontrar um diagnóstico convincente. Levamos minha mãe em muitos psicólogos, psiquiatras e neurologistas, todos admitiam que o comportamento dela era anormal, mas nenhum soube diagnosticar o que acontecia. Afinal ela tinha 55 anos e uma saúde física impecável sem nenhum histórico aparente de doenças neurológicas na família. Como ela continuava confusa, continuamos fazendo exames. Até que nos indicaram um médico conceituado que só atendia via particular, após alguns exames de cintilografia o médico renomado sem nos decepcionar, deu o diagnóstico: demência no lobo fronto temporal, mais conhecida como demência frontotemporal e usou a palavra degenerativa.

Eu lembro que sai do médico bem atordoada, parecia que tinha levado uma pancada na cabeça. Não lembro exatamente se minha mãe, que estava comigo, se deu conta. A verdade é que eu não tinha entendido a magnitude do que exatamente isso implicaria na sua vida e na minha e pelo visto, os médicos também não. Quando você recebe uma notícia dessas passa mil coisas pela cabeça, na verdade vai um bom tempo para digeri-la, para falar a verdade, dez anos se passaram e acho que até hoje ainda não digeri tudo.

Uma rápida pesquisa na internet e descobri que a demência frontotemporal tem causas desconhecidas e sintomas muito parecidos com Alzheimer, é também uma doença degenerativa que afeta a memória, entre outras coisas, por isso o tratamento é o mesmo. Eu nunca convivi com pacientes de Alzheimer, mas pelo pouco que sei, apesar de ser parecida é diferente e acho que deveria ser melhor estudada e entendida. De lá para cá trocamos de médicos muitas vezes, o coquetel de remédios não parece fazer muito efeito, mas segundo o médico se ela não tomar a doença terá progressão mais rápida ainda e eu não quero fazer esse teste. Então sigo à risca o que os médicos falam.

Existe muita, mas muita desinformação nessa área e informação “torta”, existe também, no meu leigo entendimento, um certo comodismo da medicina e dos médicos, eles dizem é esse o tratamento e pronto. “Não há o que fazer”, dizem eles em unanimidade. E há dez anos seguimos o mesmo tratamento. E ninguém tenta nada diferente e ninguém dá soluções práticas para te ajudar no dia-a-dia. Então tive que me virar sozinha.  Porque isso eu aprendi, dar nome para doença não quer dizer que você vai receber também uma cartilha de como lidar com ela. O que sei, aprendi no dia-a-dia, na base de (muito) erro e acerto. O problema é que fazer isso com a tua própria vida até dá para encarar, fazer isso com a vida da sua mãe é um pouco mais difícil.

Então se não havia o que fazer me concentrei em fazer com que ela tivesse qualidade de vida. E graças ao trabalho duro do meu avô, na medida do possível, nós podemos proporcionar isso à ela. Nesse momento eu penso  e sinto pelas famílias e pacientes economicamente menos favorecidos, sim porque doença é igual para o pobre e para o rico. O governo dá um dos remédios que é caro para Alzheimer. Todos os outros, também caros, nós compramos. Equipe de cuidadores, tudo isso tem um custo alto.

Eu escrevo esse relato porque tudo que aprendi, aprendi sozinha sem muita orientação. O que os médicos não souberam explicar nem orientar eu fui fazendo por instinto. Porque todos nós temos esse instinto de cuidar do outro. E sei que nem sempre acertei. Então quem sabe minha história (e meus erros) ajude quem também está passando por isso, segue alguns sinceros conselhos:

1. Não subestime a doença:
Qualquer doença que acomete a mente é difícil de entender, mas deve ser levada a sério. A gente se engana com uma aparência saudável. Então tome as devidas providências para evitar acidentes. Um dos meus erros foi ter sido reativa, tomar atitudes só quando a “água batia na bunda” e tentar sempre escutar e respeitar a vontade da minha mãe. Ela morava sozinha, eu sabia que não era bom, mas ela não queria ninguém e eu não soube insistir. O problema é que ela já não tinha total consciência do que era bom ou não. Um dia me ligaram do hospital dizendo que minha mãe havia sido atropelada. Do caminho de casa até o hospital eu sofri muito, eu senti culpa, muita culpa. Esse erro poderia ter lhe custado a vida, felizmente foi apenas um braço quebrado e mais alguns arranhões. A partir desse dia ela nunca mais ficou sozinha. Então não espere para sentir culpa por algo que você poderia ter antecipado e feito, quando achar que tem que fazer, não procrastine, não titubeie, apenas  faça.

2. Você vai sentir raiva, tudo bem, sinta raiva.
Você sentirá raiva e se você é capaz de sentir empatia, você também sentirá culpa, muita culpa. Aprenda a conviver pacificamente com elas (acho que quem é mãe entende melhor isso). Viva isso porque faz parte. Se conseguir, seja mais gentil consigo mesmo, perdoe-se. Tente ser paciente, a falta de paciência gera mais culpa. Eu me arrependo de não ter tido mais paciência com minha mãe quando ela esquecia as coisas, quando ela demorava para contar algo e trocava tudo, enfim, em vários momentos. Mas eu sentia raiva, raiva de Deus, raiva dela, raiva de mim porque não conseguia ser melhor e mais paciente com ela. E daí com a raiva vinha a culpa. Enquanto eu lutava contra a raiva e a culpa, elas ganhavam mais força e era uma bola de neve, porque quanto mais raiva eu sentia, menos paciência eu tinha. Então permita-se sentir raiva, sentir culpa e entenda de onde elas vêm. Quando nos permitimos sentir qualquer sentimento mesmo que “ruins”, os sentimentos perdem força. Tome cuidado para não descontar em ninguém e para que esses sentimentos não tomem conta de você. Se fizer, ou melhor, quando fizer, perdoe-se e peça perdão. Respire. Espere. Com o tempo a raiva não passa, mas ela diminui até o ponto de ficar bem mais fácil de conviver com ela e controlá-la.

3. Viva a sua vida.
Essa parte é difícil, porque as pessoas julgam e muito. Porque você se julga, muito. Um paciente com demência não conhece mais limites. E a impressão que tenho é que quanto mais você dá, mais você precisa dar e esse espiral não tem fim. As pessoas olham de fora e pensam que talvez algumas atitudes tuas são egoístas ou injustas. Seja egoísta. Coloque sua vida em primeiro lugar. A pergunta que eu me faço é longa, porém simples: quem está vivendo a minha vida por mim enquanto eu preencho a minha vida com a vida da minha mãe? Então na medida do possível e com amor, coloque limites. E esses limites machucam, mas são necessários. Saiba assumir suas fraquezas e conhecer seus limites, ninguém é super-herói. Aprenda a perder batalhas pelo outro em seu prol. Também aprenda a delegar. Eu levei tempo para fazer isso, com isso sofri mais do que devia, passei mais tempo com raiva do que devia. Quando aprendi, resolvi encerrar essa jornada com minha mãe, por agora. Então minha irmã vai cuidar dela. Quando consegui assumir que cheguei no meu limite sem me sentir derrotada, pude finalizar essa etapa com o coração tranquilo. E quando você não conseguir fazer algo que a “sociedade” acha certo fazer, não se sinta tão culpado, sempre vai ter alguém para apontar seus atos falhos, mas a verdade é que ninguém sabe exatamente o que se passa no seu coração.

4. Para todos e para a vida: não julgue uma batalha que você não está lutando.
Muita gente acha cruel que eu tenha pensado em um lar para minha mãe. Ou que eu não vá visitá-la todos os dias. Moro perto, ligo sempre, vou quando posso. Hoje sei que o maior presente que posso dar para ela é viver minha vida e ser feliz, só assim também valerá a pena o sofrimento dela. Tenho uma consciência tranquila de que fiz o melhor que pude com os recursos que tinha. Algumas vezes não era muita coisa, mas foi o que consegui fazer. Hoje não julgo ninguém que tenha que deixar um parente em um lar. Porque não é uma decisão fácil. Mas independente de idade e em qual momento da vida alguém está, ninguém deve ser privado de viver sua própria vida. E cuidar de alguém com demência toma tempo e dedicação, além de muita paciência. E requer amor, muito amor, um amor incondicional diariamente, coisa que nem sempre estamos bem e somos capazes de dar.

 5. As pessoas se vão. Poucos são os que ficam. Não julgue.
Muita gente não sabe lidar com a dor do outro. O que me faz não contar sobre a minha mãe para muita gente é o olhar de pena dos outros. Ninguém sabe validar a dor do outro nem como agir diante de momentos difíceis, o que sabemos é sentir pena e a pena não constrói ninguém, nem quem sente, nem por quem é sentida. Eu falo isso porque comprei esse “papo” e também tive pena de mim, até que entendi que me fazer de vítima não ia curar minha mãe e nem me fazer feliz, porque felicidade é um propósito de vida, é uma escolha que fazemos todos os dias, independente do que está acontecendo em nossas vidas. Então aceite o que a vida lhe traz e na medida do possível viva bem com isso. Não dá para entender o sentido de tudo racionalmente. É triste? Sim. Como muitas outras histórias também são. O que é, é. E o melhor que podemos fazer quando nos deparamos com a dor de outro é dizer: “não posso fazer muito para diminuir sua dor, mas obrigada por compartilhar isso comigo, estou aqui”. O amor deve ser espontâneo e mora nos pequenos gestos, como em um abraço ou no silêncio. O que aprendi com minha mãe é que a maior prova de amor que damos é conseguir amar alguém que não pode lhe dar nada (ou quase nada) em troca. E apesar de parecer que não existe troca hoje, um dia ela existiu. Entre muitas outras coisas, a minha mãe me deu a vida.

 6. Cuide de você e viva sua vida com amor.
O Budismo fala muito sobre a impermanência da vida. Aprenda a enxergar a beleza nisso e a aceitar o que lhe é ofertado. É clichê, mas a gente esquece. Não sabemos o dia de amanhã, nem quando um médico vai te dar um diagnóstico que mudará sua vida, nem a vida de quem você ama. Esteja presente e aceite o presente que é a vida. Cuide bem de sua saúde e de sua cabeça. Eu levei tempo para aprender isso.

 7. Guarde e conte as boas histórias.
 “Malba Tahan conta que dois amigos, Salim e Fahid, viajavam numa caravana para a Pérsia.  Ao cruzarem um rio, Salim foi pego na correnteza, e teria morrido se o amigo não o ajudasse. Agradecido, pediu que seus empregados gravassem numa rocha que ficava na margem do rio: “Aqui, Fahid salvou a vida de seu amigo”. Quando voltavam da Pérsia, depois de atravessarem o mesmo rio, uma discussão tola fez com que os dois brigassem.  Fahid puxou uma espada, e quase mata o amigo a quem havia salvo meses antes.  Depois que os ânimos serenaram, Salim chamou de novo seus empregados e pediu que escrevessem na areia: “Aqui, Fahid tentou matar seu amigo”. “Quando o salvei, você gravou meu gesto numa rocha.  Agora, que quase o matei, você escreve na areia.  Não vê que o vento logo apagará?”, perguntou Fahid. “Esta é a sabedoria”, respondeu Salim,  “Escrever as boas coisas na rocha, e as coisas negativas na areia”.
Como na história, tente guardar os bons feitos e qualidades. Esforce-se para esquecer as historias ruins. Minha mãe nem sempre foi boa para mim, reclamei disso por muito tempo. Hoje nem sempre consigo ser uma boa filha para ela. Porque ser bom o tempo todo é difícil mesmo. Então nós precisamos aprender a guardar as coisas boas e com o tempo isso vai acontecendo naturalmente, hoje lembro com muita clareza de como ela era bela e valente, vaidosa, honesta e de como gostava de fazer caridade.

 8. Cada paciente é diferente.
Com o tempo aprendi a entender os médicos, realmente não existe uma receita pronta que vai te ajudar a lidar com a doença. É puro instinto e bom senso. Porque mesmo que a doença seja uma ela se manifesta de algumas maneiras diferentes de acordo com o paciente. Minha mãe apresenta sintomas que os médicos não sabem explicar. Por exemplo, mesmo em estágio mais avançado da doença, ela se alimenta bem, faz tudo sozinha (claro, com orientação) e é extremamente carinhosa, não tem nenhum traço de agressividade.
 9. Conte com a ajuda de profissionais.
Se você tiver condições financeiras contrate profissionais para te ajudar. Os familiares têm uma relação diferente com o paciente e carregam uma carga emocional muito grande. Cuidadores profissionais podem ter paciência e calma que nem sempre nós familiares temos. E o paciente precisa de pessoas pacientes e calmas. Eu tive muita sorte com todas as cuidadoras e só tenho boas histórias. Elas amam minha mãe e cuidam com muito cuidado dela.

 10. Aprenda o valor das palavras “mágicas” e use-as.
Palavras que aprendemos desde criança e que fazem diferença em nosso dia-a-dia. Não as esqueça, pois minha mãe não as esqueceu. Hoje ela não fala mais nada com coerência, ou melhor, quase nada. Existem três frases que ela usa com muita coerência: todos os dias que ela me vê ela me olha e repete “Você é linda. Obrigada. Eu te amo”. (Por Tatiana Nicz)
 http://www.contioutra.com/

O CAMINHO FLORIDO: CONVIVÊNCIA COM O ALZHEIMER

O testemunho, que se tornou livro, de uma poetisa e enfermeira da Coréia do Sul. O livro recebeu um prêmio do Ministério da Saúde e do Bem-estar, na Coréia.



“Minha mãe, octogenária, iniciou os primeiros passos no caminho florido: aos poucos deixou de usar a razão e olhava as coisas com o coração! Mais tarde, deixou de lado o coração e permaneceram somente os seus olhos puros!

Frequentemente ela torna-se uma criança de seis ou sete anos e pede notícias das suas amiguinhas,

Vez ou outra ela chora, porque deseja encontrar a sua mãe ou o seu pai; mas, sorri ingenuamente alternando a entrada e a saída do caminho florido! Algumas vezes, seguindo a mamãe, eu também passeio pelo caminho florido e os pesos angustiantes do mundo tornam-se nuvens do céu, eu também me torno somente uma flor, no campo tranquilo de minha mãe!”

Assim começa o prefácio de “O caminho florido de minha mãe”, um livro que recolhe alguns episódios que enternecem o coração, da autora coreana Maria Goretti Jeung Ae Jang, poetisa e enfermeira. Esta obra narra o tempo vivido ao lado da própria mãe que contraíra Alzheimer.

O livro-testemunho recebeu o Prêmio Nacional 2013: um reconhecimento conferido pelo Ministério da Saúde e do Bem-estar da Coréia do Sul pela boa práxis no acompanhamento de pessoas com a doença de Alzheimer. A entrega do prêmio foi realizada no dia 16 de outubro na Sala de Conferências de Coex, em Seul, pelo próprio ministro.

“Quando eu escrevia os episódios vividos com minha mãe – nos conta a autora, demonstrando certa surpresa – eu nem sabia da existência de um prêmio deste gênero. A única coisa que eu desejava é que pudesse tornar-se uma pequena contribuição para as famílias nas quais algum membro tenha esta mesma grave doença. Foi uma dádiva que jamais imaginara recebê-la.

A única coisa que eu fiz foi amar a minha mãe que contraiu a doença de Alzheimer e, depois, eu pensei em partilhar esta experiência com outras pessoas. Mas eu estou muito feliz porque esta é uma ocasião para que este livro seja conhecido pelo maior número possível de pessoas as quais poderão refletir sobre o fato de que nenhuma doença pode excluir a dignidade humana.”

“A doença de Alzheimer – continua a autora coreana – é um caminho cansativo tanto para a pessoa que o vive quanto para a família. Mas, eu tenho a convicção de que o sofrimento nos purifica. Eu gostaria de sugerir que não se tenha medo do Alzheimer, mas, aceitá-lo como uma doença a qual toda e qualquer pessoa está sujeita a contraí-la, encará-la e procurar o tratamento adequado e olhar esta situação com os olhos das pessoas que estão doentes.”

E conclui, com a força e a convicção que resultam de uma experiência vivida: “Tiremos do nosso coração os pensamentos negativos e cuidemos destes doentes com amor. Deste modo o Alzheimer torna-se um aspecto da vida com o qual é possível conviver!”

“Agradeço com todo coração a Chiara Lubich, que considero a minha mãe espiritual – declara Maria Goretti – porque ela me ensinou como amar. A espiritualidade da unidade, de fato, ajudou-me a treinar para ver o semblante de Jesus que sofre na minha mãe, olhando para além da doença que, aos poucos, a debilitou. Foi o segredo que me fez reconhecer nela uma pessoa realmente preciosa e que conservava a sua plena dignidade. Ressoavam em mim as palavras fortes de Chiara, que ouvi há anos: ‘Vocês devem ser mães da vossa própria mãe…’: para mim foi um real e verdadeiro mandato.”

O ESTILO DE VIDA INFLUENCIA A PERDA DE MEMORIA

 

Quando temos que preservar as nossas memórias, podemos ser os nossos piores inimigos. Os tipos de vida que levamos muitas vezes sabotam o processo complexo de criar e recuperar memórias. E podem aumentar as hipóteses de desenvolvermos doenças - incluindo a de Alzheimer - que destroem ainda mais os mecanismos de memória do cérebro. Aqui estão os fatores que, afirma a ciência, colocam os maiores riscos para as nossas memórias. Conhecê-los, afirma o doutor Gary Small, neurologista da Universidade da Califórnia em Los Angeles, poderá permitir-nos "agir bem cedo, e assim prevenir".

Medicamentos
Muitos medicamentos largamente receitados nos Estados Unidos podem provocar problemas de memória. Entre os que mais provavelmente influirão na memória incluem-se as benzodiazepinas (incluindo o Ativan, o Valium e o Xanax). Qualquer substância que cause sonolência pode perturbar a concentração e a absorção de novos fatos - e existem muitas substâncias destas, incluindo os anti-histamínicos que são vendidos em qualquer balcão.

Descobriu-se acidentalmente que algumas substâncias possuem características destruidoras de memória, e têm sido consideradas como passíveis de serem utilizadas em pessoas com sintomas de "stress" pós-traumático. Os beta-bloqueadores, largamente receitados, têm demonstrado que reduzem o poder emocional de determinadas memórias e estão a ser investigados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos. O Propofol, um sedativo usualmente conhecido como "leite de amnésia", consegue também apagar alguns minutos de memória.

Doenças cardíacas não tratadas
A pressão arterial elevada, o colesterol alto, a diabetes de tipo 2 e a obesidade aumentam o risco de ataque cardíaco, que pode afetar profundamente a nossa memória. Alguns estudos também descobriram que os doentes com diabetes de tipo 2 correm três vezes mais riscos de contrair a doença de Alzheimer do que a população em geral. Os que apresentam colesterol alto e pressão arterial elevada na meia-idade estão também em maior risco. E a obesidade (nomeadamente a gordura à volta da cintura) tem sido relacionada com níveis de demência mais elevados 30 anos mais tarde.

Stress
Os investigadores já sabem que as grandes emoções que rodeiam um acontecimento asseguram que este ficará marcado na memória. À medida que o cérebro é inundado com adrenalina e norepinefrina, os mecanismos de memória ficam mais ativos. Episódios de elevado "stress", intensa felicidade, amor ou tristeza podem preservar uma boa memória. Mas quando o "stress" é constante e o cérebro é cronicamente invadido por hormonas stressantes como o cortisol, a atenção fica mais fraca e os acontecimentos são intermitentemente armazenados na memória de curto prazo e registados, da mesma forma, na memória longínqua. As memórias consolidadas são dificilmente recuperáveis.

Um excesso de cortisol causará um abaixamento de potência de muitas dos neurónios que possuem funções de memória. E com o passar do tempo, o "stress" crónico degradará as comunicações entre células em regiões cerebrais importantes para a aprendizagem e a memória. Bastam algumas horas de contínuo "stress" para inundar o cérebro com hormonas que afetam a memória, segundo um relatório publicado em Março por investigadores da Universidade da Califórnia em Irvine no "Journal of Neuroscience".

Álcool
O alcoolismo provoca um progressivo encolhimento cerebral e afeta as comunicações entre regiões envolvidas no armazenamento e recuperação de memórias. No limite, um alcoólico pode exibir uma total perda de memórias a longo prazo. Mas os investigadores descobriram que "blackouts" de memória e lembranças fragmentadas são comuns mesmo em pessoas que bebem apenas de maneira regular. O consumo excessivo de álcool pode também causar deficiências de vitamina B1, o que, juntamente com a falta a vitamina B12, pode afectar negativamente a memória.

Depressão
Sabota a concentração e, assim, também a memória. Imagens computorizadas do cérebro revelam que a depressão diminui a actividade nos lobos frontais do cérebro, fundamentais para a criação de memórias.
Um estudo publicado em 2006 por Mark Mapstone, investigador da Universidade de Rochester, concluiu que as mulheres de meia-idade com sintomas depressivos apresentavam mais queixas de lapsos de memória e pior "performance" no registo de novas informações do que aquelas que não mostravam alterações de humor. Mapstone descobriu que estas mulheres não tinham mostrado problemas cognitivos em testes neuropsicológicos. Com a sua capacidade de atenção diminuída por exigências contraditórias e com as alterações de humor a afectar a concentração, muitas receiam ter a doença de Alzheimer quando surgem dificuldades em colocar informação na corrente da memória, mais do que em a armazenar ou recuperar. Pensa-se que os distúrbios de falta de atenção e de falta de sono podem ter efeitos semelhantes.

Vida sedentária
O exercício físico e o exercício mental são essenciais para manter a memória a funcionar - a falta de qualquer deles está associada a problemas de memória, especialmente à medida que vamos envelhecendo. O cérebro, tal como qualquer outro órgão do nosso corpo, beneficia do aumento de fluxo sanguíneo que provém de atividade aeróbica. E os seus tecidos ficam mais fortes quanto mais são usados. Para além disso, estudos mostram que as pessoas com níveis de escolaridade mais avançados e hábitos de estímulos mentais constroem uma "reserva cognitiva" que reduz o rigor dos sintomas quando os seus cérebros estão a ser atacados pela doença de Alzheimer. "É uma expressão do senso comum, mas parece ser verdade: uma grande quantidade de dados tem que ser usada ou então perde-se", afirma o neurologista James McGaugh, da Universidade da Califórnia em Irvine.

Minutos depois já não me lembro do seu nome. Será que tenho a doença de Alzheimer?
Esquecer coisas que aprendemos recentemente é um sinal de aviso do início da doença de Alzheimer, afirmam os nossos três especialistas. "A capacidade de consolidar e armazenar novas memórias é a primeira coisa que desaparece", diz McGaugh. "As memórias mais antigas mantêm-se durante muito tempo." Os doentes com Alzheimer podem continuar a ter recordações muito ricas das memórias de infância, de canções que adoram e de atividades complexas, como jogar ténis, mas não se lembram do nome do seu neto. Mas a importância destes lapsos de memória depende de quão esquecido você sempre tenha sido, e se concentrava e prestava atenção quando aprendia o nome de alguém ou se preparava para ir buscar alguma coisa à sala ao lado. A distração muitas vezes causa lapsos em pessoas .
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O CUIDADOR PRINCIPAL


Una cuidadora realizando ejercicios con un enfermo
O Cuidador principal, suas características, sua importância e a sua relação com os demais cuidadores familiares.
Na realidade nada prepara uma família para o aparecimento de um agressor como demência (Alzheimer ou doença similar) que penetra sutilmente em seu meio, lentamente roubando da pessoa idosa as suas memórias preciosas, seus conhecimentos e finalmente a sua independência.
Muitas vezes, mesmo percebendo mudanças de comportamento ao longo do tempo, a família se assusta com o diagnóstico.  Cada familiar reage do seu jeito às palavras do médico, que fala de uma doença neurológica progressiva, sem cura, que irá causar total dependência.
Nas famílias mais antigas o pai era o provedor e a mãe cuidava dos afazeres domésticos. Apesar das modificações ocorridas hoje nesses papéis, cada membro continua com atribuições determinadas em função do seu lugar na família e de suas características pessoais. Quando um dos familiares adoece e não pode mais cumprir o seu papel, há um desequilíbrio que desencadeia uma crise, obrigando a uma reorganização familiar.
SURGE O CUIDADOR PRINCIPAL
É aquele que fica responsável por quase todo o trabalho diário com o familiar doente. O papel de Cuidador é de suprir as necessidades deste familiar durante o período de doença ou incapacidade. O seu principal objetivo será assegurar, na medida do possível, o conforto físico e segurança do doente. Será também de ajudá-lo a preservar a sua calma emocional e auto-estima.  
CARACTERISTICAS DO CUIDADOR PRINCIPAL
Por causa da sua aptidão para cuidar, a maioria daqueles que assume este lugar é de mulheres, geralmente uma filha e às vezes uma nora. Grande parte dos cuidadores está na faixa dos 45 a 50 anos, tem filhos adultos ou quase adultos, é aposentado – ou um dos cônjuges é aposentado, ou ambos estão prestes a aposentar-se (Neri, 1994).
No caso de demência uma palavra que aparece sempre é “dedicação” - um conceito que pode ser interpretado de varias maneiras, porém essencialmente significa expressões de amor, gratidão, apoio e obrigação para com alguém.  É muito fácil as pessoas dedicadas se tornarem “escravizadas” pelo conceito da dedicação e é comum ver cuidadores se esforçando e trabalhando além dos limites aceitáveis em nome da dedicação. 
São comuns as reclamações do cuidador principal de frustração, decepção, culpa, raiva, cansaço, falta de tempo para si, além de ansiedade, depressão e outros problemas de saúde. Falam também da perda da liberdade, perda da mãe ou pai causada pela inversão de papeis, perda do companheiro, perda financeira, perda da privacidade se o idoso for morar com o cuidador, perda de tempo para si mesma, além de brigas com irmãos.
Porém, resiliência é freqüentemente uma forte característica deste cuidador e existem possíveis ganhos relacionados com o “cuidar” do seu familiar, como: uma experiência rica de vida, crescimento pessoal, o amadurecimento dos filhos, se sentir mais forte como pessoa, uma mudança de valores, tornar-se mais humana, e aprender a conhecer os seus próprios limites.
O avanço da demência é medido em estágios e para o planejamento de cuidados diários, é comum combinar estes estágios, determinados pelo nível de perda funcional:
  1. ESQUECIMENTO – Leve perda de memória - nenhuma perda funcional
  2. CONFUSIONAL – Perda das Atividades de Vida Diária instrumentais
  3. DEMENCIAL – Perda das Atividades de Vida Diária básicas
  4. FINAL – Não consegue movimentar-se sozinho para realizar um propósito.
Durante o ESTÁGIO DO ESQUECIMENTO, o idoso sofre mudanças na memória de curto prazo, sente frustração com as suas próprias falhas, porém procura mostrar a todos que está bem e que mantém a autonomia. Acontece um “conflito interno” porque a pessoa não reconhece as mudanças como sinais de doença e é comum apresentar Depressão. Em geral recusa a buscar ajuda ou tratamento nesta fase.
O marido reclama que a Esposa Cuidadora “pega no meu pé” e “me controla o tempo todo” e para os filhos estes conflitos podem parecer problemas conjugais.  A verdade é que o parceiro sadio que convive 24 horas com a Pessoa percebe que ela/ele comete erros e que a sua memória de curto prazo não é a mesma.  Mudanças de humor e afetividade podem ser confundidas com desinteresse pelo cônjuge e os sintomas serem vistos como sendo propositais.
São tarefas do Cuidador neste estágio:
  1. Reconhecer as mudanças de personalidade
  2. Reconhecer o esquecimento
  3. Conversar com a Pessoa sobre o problema
  4. Consultar profissionais de saúde
  5. Administrar os medicamentos
  6. Oferecer apoio emocional
  7. Supervisionar as compras
  8. Aos poucos – assumir a direção do carro
  9. Remover perigos da casa
  10. Pensar em informar os amigos
  11. Se identificar como Cuidador. 
Ao longo do ESTÁGIO CONFUSIONAL o sentido de tempo é diminuído, a Pessoa não consegue lidar bem com dinheiro ou fazer compras de maneira adequada. Caso tenha automóvel, pequenos acidentes são comuns e dirigir não é mais recomendável.
A participação social pode ficar prejudicada - ou porque a pessoa idosa não quer que os amigos percebam as suas falhas e se recolhe em casa, ou porque amigos e familiares não entendem os seus comentários jocosos ou indecorosos e os convites para participar de eventos diminuem. No caso do casal, isto pode gerar conflitos, pois o cônjuge sadio vê estes comportamentos como sendo propositais e egoístas.
O cuidador deve:
  1. Reconhecer as perdas na pessoa idosa
  2. Procurar um diagnóstico formal
  3. Fazer planejamento legal e financeiro
  4. Procurar informações sobre a doença
  5. Informar o resto da família
  6. Procurar formas de descansar
  7. Procurar compreender o que provoca certos comportamentos
  8. Estruturar o ambiente
  9. Aprender técnicas de comunicação na demência
  10. Administrar os medicamentos
  11. Oferecer apoio emocional
  12. Supervisionar as compras
  13. Aos poucos – assumir a direção do carro
  14. Remover perigos da casa
  15. Pensar em informar os amigos
  16. Se identificar como Cuidador. 
Podem ressurgir velhos conflitos entre o idoso e o seu Cuidador, causados pela mudança de papeis especialmente quando este Cuidador era quem recebia antes os cuidados, como no caso da esposa do marido autoritário, dominador. O idoso recusa a entregar responsabilidades que não mais sabe cumprir com medo do estigma e perda de prestigio e vê o seu Cuidador como “controlador”.    
Dica para o Cuidador: buscar o apoio dos filhos (caso seja cônjuge cuidador) para que eles participem mais e assumam algumas destas responsabilidades.
Surgem também conflitos entre o Cuidador Principal e outros familiares neste estágio. Alguns negam que os sintomas indicam demência. Outros não concordam com o tratamento dispensado e querem levá-lo a outro médico. Uns acreditam que seja hora de contratar um acompanhante, outros discordam. Há discussões principalmente entre filhos sobre dinheiro e herança.   
Dica para o Cuidador: marcar reuniões regulares dos membros da família, com a presença de um moderador, para planejar os cuidados.
Por muitas razões o ESTÁGIO DEMÊNCIAL é o mais trabalhoso e o mais difícil. A pessoa idosa já com maior grau de dependência requer ajuda para a sua higiene e cuidados pessoais, porém muitas vezes recusa e resiste agressivamente ao auxílio do cuidador.  O aumento do egoísmo faz com que ela considere cada vez menos o outro. O medo faz com que o portador de demência se apega ao cuidador, solicitando atenção a toda hora.
Surgem idéias de institucionalização que alguns familiares vêm como “falhar”, ou “vergonha” e ainda outros como “impensável”.  Pode haver uma sensação de perda de controle da situação causada pelo desgaste. Pesquisas mostram que mais de 10 horas por dia são dedicados aos cuidados, sem remuneração, sem folga ou férias, o que obviamente terá um efeito negativo na saúde e bem-estar do Cuidador Principal.
Como agir:
  1. Contratar acompanhantes se possível – dividir o papel de Cuidador
  2. Cuidar da própria saúde.
  3. Insistir na divisão das tarefas com outros familiares
  4. Desenvolver atividades independentes
  5. Usar serviços de um Centro de Convivência se possível
  6. Atenção aos gatilhos de distúrbios de comportamento
  7. Aprender mais sobre a progressão da doença
  8. Administrar todos os medicamentos
  9. Ser o elo entre a Pessoa e os familiares e profissionais de saúde.
O declínio na linguagem verbal, especialmente no caso da demência frontotemporal requer muita paciência e boa vontade do cuidador para interpretar as necessidades da pessoa. O cônjuge sadio percebe uma resistência à intimidade conjugal. Os familiares se encontram em fases diferentes de compreensão e dor causada pela doença no seu meio há vários anos e o esgotamento do Cuidador Principal se torna um problema serio. 
O ESTAGIO FINAL é caracterizado por:
  1. Perda da capacidade de movimentar-se sozinho para realizar algum proposito
  2. Perda da comunicação verbal
  3. Dependência total nas atividades de vida diária
  4. Não reconhecer familiares
  5. Imobilidade
  6. Complicações clínicas
  7. Perda de peso
  8. Irritações de pele
  9. Infecções repetidas
  10. Aspiração – podendo levar à pneumonia
  11. Volta aos reflexos primitivos de sugar, andar sem parar, distúrbios de sono com aumento de atividades noturnas, e também por um estado vegetativo. 
Dicas para o Cuidador: oferecer muito amor e carinho e procurar satisfazer a necessidade espiritual da pessoa idosa. Preferir a comunicação não verbal através do toque. Manter o ambiente calmo e harmonioso.  Dividir as tarefas com outras pessoas e insistir que o idoso neste estágio continua necessitando da presença regular de familiares, mesmo que não possa reconhecê-los. 
(Judy Robbe (Manual do Cuidador da Pessoa Idosa, organizador - Tomiko Born)
http://www.harmoniadeviver.net.br/

12 COISAS ESSENCIAIS PARA TER NO QUARTO DE UM IDOSO OU DOENTE

 

Para garantir que o quarto da pessoa de quem cuida seja um espaço de conforto e bem-estar para o idoso ou doente,  saiba quais as 12 coisas que não devem faltar.
  1. Cama articulada: uma cama articulada é um dos melhores equipamentos para ter no quarto de um idoso ou doente, facilitando a vida de quem dela precisa, mas também do cuidador. No caso de não poder adquirir ou não haver necessidade de ter uma cama articulada, a cama existente no quarto do idoso ou doente deve ser preferencialmente baixa, uma vez que confere uma maior segurança aos atos de levantar e deitar. Adicionalmente, o quarto deve estar equipado com uma barra de apoio na cama, que é uma ajuda adicional para o idoso ou pessoa doente se levantar e deitar. 

  2. Mesa de cama: se o idoso ou doente passar muito tempo na cama ou se estiver confinado a ela 24 horas por dia, uma mesa de cama é essencial para facilitar momentos tão simples como o das refeições. Para além disso, uma mesa de cama é ainda um excelente aliado para atividades como a leitura, a escrita ou os jogos. 

  3. Poltrona: para além da cama, uma poltrona é a segunda peça de mobília mais importante no quarto de um idoso ou pessoa doente. A poltrona ou cadeirão, que deve ter apoios para os braços e um assento alto, serve para a pessoa se sentar na hora de vestir e calçar, para receber visitas ou para aguardar depois se ter retirado da sua cama e enquanto esta é mudada.  
     
  4. Detetor de fumo: por um motivo de segurança, principalmente se o idoso ou a pessoa doente passa algumas horas por dia em casa sozinha, aconselha-se a instalação de um detetor de fumo no quarto de dormir. 

  5. Copo/garrafa com água: assegurar a alimentação saudável de um idoso ou doente é crucial e, nesse campo, é importante que essa pessoa se mantenha hidratada. Para facilitar o consumo diário recomendado de água, mantenha sempre um copo/garrafa com água na mesa-de-cabeceira do quarto. Para evitar acidentes ou vidros partidos, opte por copos, garrafas ou jarras de água mais resistentes, em plástico, por exemplo.  
     
  6. Luz de presença: uma luz de presença é outro objeto que se recomenda ter sempre no quarto de um idoso ou doente, nomeadamente para ficar ligada durante a noite, facilitando assim os movimentos da pessoa no casa de ela ter de se levantar, querer beber água ou chamar por alguém.
  1. Relógio digital: com o envelhecimento e/ou o estado de doença da pessoa de quem está a cuidar, a visão é um dos sentidos mais rapidamente afetados, assim como as capacidades cognitivas. De forma a não alienar o idoso ou doente, certifique que ele tenha um relógio no seu quarto, preferencialmente um relógio digital, que é de mais fácil leitura. 

  2. Telefone e/ou campainha: para assegurar a comodidade e o acesso ao mundo exterior por parte de quem passa muito tempo no quarto, aconselha-se a colocação estratégica de um telefone, telemóvel e/ou campainha na mesa-de-cabeceira do idoso ou pessoa doente, para ser facilmente atingível numa emergência ou sempre que a pessoa necessitar. 

  3. Arrastadeira: extremamente útil para as pessoas acamadas, uma arrastadeira também facilita as idas ao banheiro por parte dos idosos durante a noite, sendo um dos equipamentos mais importantes a ter no quarto da pessoa que tem a seu cuidado.
  1. Televisão e/ou outras distrações: uma pessoa que esteja confinada ao quarto, quer por doença temporária, quer por ser acamado, não deve viver de forma enclausurada. Se está a cuidar de alguém nesta situação, faça questão de encher o quarto com todo o tipo de distrações – televisão, rádio, MP3, jornais, revistas, livros, palavras cruzadas, baralho de cartas, jogos de tabuleiro, ou seja, tudo aquilo que a pessoa aprecie e que a vai ajudar a passar o tempo de forma mais agradável. 

  2. Equipamentos anti-escara: para um idoso que passe grande parte do seu dia na cama ou no caso de um doente acamado, as escaras são uma realidade e precisam de ser prevenidas. Nesse sentido, no quarto da pessoa a ser cuidada deve constar algum equipamento anti-escara, nomeadamente, as almofadas anti-escara, os colchões anti-escara e os diferentes apoios localizados anti-escara. Estes equipamentos foram especificamente concebidos para reduzir ou eliminar a pressão das zonas mais suscetíveis à formação de escaras, assim como para o alívio de escaras já existentes. 

  3. Rampa de acesso: se a pessoa de quem cuida necessitar de uma cadeira de rodas para se deslocar, será aconselhável instalar uma rampa de acesso no seu quarto uma vez que, para além de permitir que ela aceda ao seu quarto e desfruta da sua privacidade sempre que entender, também facilita as tarefas do cuidador em termos de logística.
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