Apesar
da evoluçao da DA em minha amada mãe, encontro-me em um continuo
processo de metamorfose, onde a revolta e a impotencia até então
acentuadas, estão sendo substituidas por um estado de serenidade, de
“aceitação”, de amor sublime, sentimentos estes, importantes
para fortalecimento de minha trajetória.
Para
chegar a este momento, tive que fazer um “up grade” em
minha vida, uma vez que estava em um processo acelerado de
“adoecimento”. Depressão, aumento excessivo de peso,
ausencia total de socialização, total falta de cuidado comigo
mesmo, sem vaidade, sem nenhum estimulo para melhorar o meu “modus
operandi”.
Precisamos
enquanto cuidadora de tempo suficiente para reorganizar-mos
física e emocionalmente, para então adaptarmos ao novo cenário
desenhado pela doença para nossas vidas.
Dentro
desse processo de “adoecimento”,
contei e conto com uma pessoa muito especial na minha vida, que fez
despertar da importância de estar bem. Procurar
viver mais fora da esfera da doença de minha amada mãe, o
que não significa abondonar a minha trajetória.
Dentre as iniciativas, busquei frequentar uma academia onde pratico
todos os dias musculação e aeróbica, com o acompanhamento de um
“personal”, cujos resultados apresentam-se bastante
satisfatórios: redução de peso, diminuição do stress, tensão,
auto
estima mais elavada e
socialização.
Optei também para tirar um dia na semana para conviver comigo mesmo,
tipo : idas aos shopping, cinemas, leituras, idas a restaurantes,
etc, ou
seja, medidas simples, mais com resultados bastante satisfatórios. A
partir destas mudanças, tenho tido
a
possibilidade de “Permitir”,
pequenos momentos de felicidade em minha vida.
“Mesmo
que a realidade seja tão escura como a noite, sempre haverá uma luz
no final do túnel para um recomeçar”.
Tenho
a clareza que os sentimentos negativos de revolta, impotencia,
dentre outros estão em estado “latente”, podendo suplantar em
qualquer momento o meu estado atual. Este fato pode levar ao
florecimento de emoções, que são sentimentos que se
expressam em impulsos e em uma vasta gama de intensidade, gerando
idéias, condutas, ações e reações.
A
convivência com a minha amada mãe traz uma realidade que implica em
muitas perdas desde a autonomia do corpo ao afastamento do eu para o
indivíduo. Conforme ocorre a mudança das fases da
doença, as perdas vão se tornando cada vez mais reais e palpaveis,
ocorrendo por conseguinte, uma inversão de papéis, isto é, o
familiar cuidador passa a viver a vida do portador. Esta doença
devora a memória e as possibilidades de pensamento lógico e
abstrato da pessoa, deixando verdadeiros buracos negros em sua
existência.
À
medida que a doença progride, tenho observado regressões
acentuadas em minha amada mãe, que já não se torna capaz de
realizar atividades diárias simples, mostrando um acentuado grau de
dependência, apresentando perdas progressivas e irreversíveis
assim como diversas mudanças gerando muitas vezes situações
inusitadas com a sua convivência.
Com a
evolução da doença, e a rejeição em fazer as fisioterapias em
cliníca especializada, fez-se necessário a contratação de uma
Fisioterapeuta domiciliar, que realiza as sessões 01 vez por semana,
com uma duração de 01 hora. Destaco a competencia e a empatia entre
o profissional e minha amada mãe. Continuidade nas consultas médicas
com vários profissionais de saúde e Terapia Ocupacional Domiciliar.
Devido
a problemas de locomoção, a minha amada mãe, simplesmente decidiu
não mais sair para o shopping, um dos lazeres preferidos dela. Como
alternativa, mostramos que isto não seria motivo para inviabilizar
as suas saídas, sugerimos a utilização de uma cadeira de rodas,
que seria conduzida pelas filhas e/ou netos. Após uma rejeição
inicial, atualmente ela voltou a sair e aproveitar bem os passeios
nos shopping, com a maior alegria. Tal
decisão nos trouxe inicialmente muita tristeza, logo compensada pela
aceitação e alegria dela. São as adaptações necessárias
decorrentes da evolução da DA.
A
doença de Alzheimer é como um furacão que causa profundas
alterações no cotidiano do núclo familiar, pois acompanhar a
progressiva involução (intelectual, afetiva e mais tarde física)
de uma pessoa que se conviveu por vários anos e que se tem afeto é,
muitas vezes, permeado por sentimentos diversos, oriundos de quem
acompanha o processo, dentre eles pode-se citar o abatimento,
desespero, depressão, pena, sobrecarga física e emocional, dentre
tantos outros.
Portanto, há, em meio a esse “amontoado” de emoções, uma família que precisa ser tão assistida quanto o próprio doente, a qual passada a fase inicial da doença não mais tem noção das suas perdas, sendo a família nesse ponto a provedora de todos os cuidados de que necessita.
Portanto, há, em meio a esse “amontoado” de emoções, uma família que precisa ser tão assistida quanto o próprio doente, a qual passada a fase inicial da doença não mais tem noção das suas perdas, sendo a família nesse ponto a provedora de todos os cuidados de que necessita.
Em se
tratando das relações familiares, infelizmente, com crises
constantes e rupturas. Pode-se constatar a gama de emoções geradas
por essa convivencia que apresenta os mais diversos matizes e trazem
junto inúmeras reações negativas. Os Ressentimentos, frustrações
e sentimento de culpa que não foram elaboradas no passado passam
a ocupar um lugar no presente, porém, o doente não terá mais
recursos para resgatar estes momentos, ao contrário, ele necessitará
de atenção e cuidado e estes sentimentos precisarão encontrar
outro espaço para a expressão.
Ruptura
com a irmã mais velha que mora com ela, tornando-se o cotidiano
muitas vezes em “nuvens pesadas”, em função dos sarcasmos,
ironias e desconfiança, tão presentes. Ressalte-se que conforme
orientação do neurologista, faz-se necessário urgentemente o
acompanhamento junto a um profissional para trabalhar estas relações
desgastadas, o que foi negado veementemente pela irmã, cuja
resposta, mostra o grau de adoecimento : “eu não estou doida, e
sim ela (no caso eu)”.
Na
maioria das vezes, a linha tênue de divisão entre a vida do
paciente e a do cuidador desaparece, pois o cuidador passa a
experimentar a vida de seu familiar doente intensamente, a fim de que
nada lhe falte. É o iníco do processo de “adoecimento”.
O
apoio e a união da família são essenciais para a obtenção de
bons resultados no tratamento. Essa é uma doença cruel porque
afeta toda a família. Todos devem estar preparados para um grande
impacto emocional, físico e até financeiro. É doloroso ver a
pessoa amada se deteriorando. Por isso a família também tem que se
tratar. Deve haver união e compartilhamento dos cuidados com o
doente. Geralmente essa responsabilidade recai sobre uma única
pessoa, o que não é o ideal, porque se ela não tiver um suporte
emocional corre o risco de adoecer junto com o paciente.
Cuidar
de uma pessoa portadora de DA pode ser difícil em alguns momentos.
Requer principalmente amor, solidariedade e tudo que estas duas
palavras englobam: paciência, dedicação e, sobretudo, uma
assistência que merece a divisão de tarefas entre os familiares,
visto que os cuidados exigem atenção diuturna, gerando grande
desgaste físico e emocional para aqueles que lidam diretamente com o
portador.
É
a vida que se segue …, vou enquanto isto tentando
suplantar os sentimentos gerados por essa convivência com as mais diferentes matizes, estanto presente em seus discursos
emoções, doenças, dificuldades, desgaste, mas, sobretudo
dedicação e muito AMOR.
Como te amo, amada mãe.
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