terça-feira, 30 de julho de 2013

DESCONFIANÇA E ALUCINAÇÕES


Com a evolução da doença, o estado de confusão à sua volta aumenta e ele pode começar a fazer-lhe acusações infundadas ou a ter problemas de percepção em geral.
1) Por exemplo, pode acusá-lo de roubas as coisas dele, de tentar envenená-lo ou de não o ajudar. Em terminologia psiquiátrica, esta perturbação é designada como delírio.
2) Também pode parecer ver ou ouvir coisas e pessoas que não estão presentes. A esta perturbação dá-se o nome de alucinação.
Ambas as perturbações podem causar reações violentas. Da sua parte, porque está ofendido com o comportamento dele e, da parte dele, porque estes fenômenos geram frequentemente incerteza e medo.

Se isto acontecer
1) Não questione a veracidade das suas afirmações.
2) Não levante a voz e procure tranquilizá-lo.
3) Tente desviar a atenção do problema e fazê-lo pensar noutra coisa.
4) Nunca perca a paciência e não se ofenda com as suas acusações infundadas. Tem de ser muito paciente.
http://www.alzheimerportugal.org/

Não confrontar a pessoa ou tentar discutir o comportamento agressivo. A pessoa com demência não pode refletir sobre seu comportamento inaceitável e não pode aprender a controlá-lo.
- Não inicie o contato físico durante a explosão de raiva. Muitas vezes, o contato físico desencadeia violência física no paciente.
- Proporcionar a pessoa “tempo” longe de você. Deixe-os ter espaço de estar com raiva. Retira-se na direção de uma saída segura.
- Distraia a pessoa com um tema ou atividade mais prazerosa.
- Procure por padrões na agressão. Considere os fatores como privacidade, independência, tédio, dor ou fadiga. Evite as atividades e temas que desencadeie a raiva da pessoa. Para ajudar a encontrar quaisquer padrões, você pode manter um registro de quando os episódios agressivos ocorreram. Se a pessoa fica com raiva quando as tarefas são muito difíceis para eles, quebrar as tarefas em partes menores, por exemplo.
- Deixe a pessoa colocar para fora a raiva. Só não se esqueça de que todos em volta e ele devem estar seguros.
- Obtenha ajuda de outras pessoas durante as atividades que são inevitáveis e que podem desencadear ira no paciente.
- Não tome a agressividade como algo pessoal.

Dicas para gerenciamento de alucinações e suspeita
As alucinações podem ser o resultado de falência dos sentidos. Manter a tranqüilidade e sem mudanças no ambiente pode ajudar a reduzir alucinações. Além disso, filmes violentos ou televisão pode contribuir para a paranoia  evite que o paciente assistam a programas perturbadores.

Quando alucinações ou ilusões ocorrerem:
- Não discuta sobre o que é real e o que é fantasia.
- Converse sobre os sentimentos do paciente em relação ao que eles imaginam que vêem.
- Responda ao conteúdo emocional do que a pessoa está dizendo, ao invés de o conteúdo factual / ficcional.
- Procure orientação profissional, se você está preocupado com este problema. Medicamentos, por vezes, pode ajudar a reduzir alucinações.
http://longevidade-silvia.blogspot.com

sábado, 27 de julho de 2013

A VELHICE NO SÉCULO XXI


Considerações preliminares sobre os desafios dos velhos no século XXI para o reconhecimento de sua dignidade e garantia de seus direitos

1. A CONSTRUÇÃO DA IDÉIA DE VELHICE: refletindo sobre o passado para compreender o presente
Nestes mais de dez anos de atuação na defesa dos direitos das pessoas idosas pude constatar o quanto o ser velho é alvo de preconceitos e discriminações, muitos dos quais alimentados pelas próprias pessoas de idade avançada, que, não raras vezes, negam a sua condição, especialmente quando isso convém, fazendo com que se torne recorrente a expressão consoante a qual “todos querem viver muito, mas ninguém quer ser velho”.

Esse tipo de comportamento possui origem nos momentos iniciais de articulação da consolidação do modelo de sociedade capitalista, dentro da qual as condições para o envelhecimento se apresentaram, a exemplo da idéia de higiene, saneamento básico, tecnologia médica, especialmente por meio das vacinas, porquanto as pessoas que passaram a apresentar certo acúmulo de anos começaram a ser vistas como incompatíveis com essa nova engenharia social, já que esta passou a exigir do ser humano vigor físico e muita disposição para o trabalho extenuante, a ser desempenhado nos primeiros momentos do processo de industrialização.

Assim, incapazes de participar desse processo por conta de suas condições de saúde e, nessas condições, dependentes dos outros familiares, especialmente as mulheres, as quais precisavam sair de suas casas para trabalhar nas indústrias, situaram-se numa condição de fardo familiar e social, já que obstaculizavam novas relações sociais que precisavam ser consolidadas por meio de um novo modelo de organização doméstica, exigência de uma nova sociedade em formatação.

Sem pessoas para ampará-los em seus lares e representando um estorvo ao deslocamento de mão-de-obra feminina necessária às indústrias, foram entregues a asilos, instituições que abrigavam todos os indivíduos considerados sem utilidade social, a exemplo dos mendigos, deficientes mentais e físicos e doentes incuráveis.

Por óbvio que essa condição inicial dos velhos na modernidade não lhes asseguraria a construção de um imaginário positivo. É por isso que, ainda hoje, associamos a idéia do velho àquilo que não tem valor, que tem pouca ou nenhuma utilidade e que, portanto, pode ser descartado. Tanto que nos discursos cotidianos, a todo instante, existe o desejo inconsciente e, muitas vezes, até mesmo consciente de descartar e desvalorizar o velho, favorecendo sempre o novo como algo melhor.

É para enfrentar essa idéia, fortemente enraizada na história, que se deve concentrar forças no sentido de sua superação, de modo que principalmente as pessoas, e não propriamente as coisas, pois não são delas que se está falando, passem a ter um novo valor na sociedade. Como, então, assegurar aos velhos algum valor no momento atual em que o conhecimento é tão dinâmico e provisório, o que torna a experiência, algo que muitos velhos possuem de sobra, algo completamente descartável?

2. RESSIGNIFICANDO A VELHICE: os direitos fundamentais como estratégia para superação do velho como ser do passado
Até hoje a velhice é associada à experiência. Poucas pessoas não fazem essa ligação imediata. Quando se pergunta o que a velhice traz de bom ao ser humano, porque o que traz de ruim todos sabem e são capazes de arrolar um verdadeiro rosário, respondem de forma envergonhada: a experiência. Contudo, atualmente, a experiência realmente significa um ganho para a pessoa idosa?

É um contexto de grande dinâmica social, as coisas e as pessoas mudam a cada dia. As idéias e as visões de mundo tornaram-se praticamente descartáveis. Formas de organização social, até então alimentadoras de esperanças, desaparecem no ar, como em um passe de mágica. Nesse contexto, é essencial discutir se realmente a experiência ainda pode ser traduzida como um ganho para a pessoa idosa.

Ora, se nem mais a experiência resta como um consolo para a velhice, o que fazer para tornar essa etapa da vida uma fase em que efetivamente valha a pena viver e usufruir? (há alguma coisa a ser usufruída, ainda?). Pois é, a velhice, por incrível que pareça, ainda é uma fase da vida e, portanto, necessita ser vivida com dignidade.

A alternativa por meio da qual é possível tirar a velhice desse impasse, quer dizer, de ser vista como uma fase da vida de desvalorização do ser humano, em que só há praticamente perdas (doenças de toda ordem, fragilidade, abandono, discriminação, desrespeito) e a percepção de que apenas a experiência é agregada como algo positivo, a qual, inclusive, na sociedade contemporânea corre o risco de perder esse status em razão de a inovação e a mudança terem mais valor, é reconhecer a velhice como a própria garantia do direito à vida, como a afirmação do ser humano como um ser moral, do qual não podem ser retiradas as condições essenciais de existência eliminadoras de situações de sofrimento.

Pois bem. Os velhos têm direito a não sofrer, ou sendo o sofrimento inevitável, a sofrerem o mínimo possível. Para isso existem as tecnologias, as instituições, as quais devem garantir os direitos essenciais e permitir que as pessoas tenham acesso ao melhor sistema de saúde possível, ao melhor tratamento existente, a relações familiares livres de violência, a serviços públicos eficientes e racionais.

Somente com o reconhecimento de que o ser humano durante toda a sua existência é titular de direitos fundamentais será possível reverter o processo consoante o qual os velhos são percebidos como seres inúteis, não importantes.

Esse é o caminho para construir um novo velho, um velho que não traz no acúmulo de anos a idéia de que seu tempo já passou, pois apesar de muito tempo vivido, continua vivo e participando do aqui e do agora, tendo, portanto, direito a todos os bens e benefícios gerados pelo tempo histórico de sua existência.

3. O RISCO DE SER VELHO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: não há velhice, há velhices.
Ora, se se pretende privilegiar uma concepção diferente do envelhecimento, a de reconhecimento de direitos fundamentais como atributo inerente a todo o ser humano, necessita-se criar as condições para que todo o ser humano possa usufruir os direitos dos quais são titulares, porquanto apenas o discurso, pelo menos no sentido raso que costumeiramente é entendido, é insuficiente para assegurar aos seres humanos essa nova condição.

É preciso ter essa cautela em virtude do fato de as pessoas serem diferentes e se encontrarem, também, em situações muito díspares, tanto que, em relação ao processo de envelhecimento, não é correto falar em velhice, mas sim em velhices.

A velhice é um fenômeno heterogêneo por excelência. Basta analisar o cenário que circunda o observador para se constatar que há velhos ricos e velhos pobres; velhos com família e velhos sem família; velhos com poucos problemas de saúde e velhos com muitos problemas de saúde; velhos vítimas de violência e velhos que não são vítimas de violência; velhos que vivem com suas famílias e velhos que vivem em instituições asilares e, muitas vezes, até nas ruas pedindo esmolas; velhos com idade muito avançada e velhos ainda mais jovens, se comparados aos que já acumulam muitos anos, enfim, a velhice propõe um cenário de grande riqueza de percepção.

Todas essas condições em que se encontram as pessoas com muitos anos acumulados impõem formas diferentes de vida, decorrentes de dificuldades muitos específicas. Em sendo assim, as ações da sociedade e do Estado devem ser desenvolvidas no sentido de ajudar os velhos a enfrentarem de modo adequado essas dificuldades.

Para que serve um tipo de política voltada para idosos na família em que a família desse idoso é completamente desestruturada? De pouco adiantarão as ações desenvolvidas se a sociedade e o Estado não colocarem à disposição desses velhos os serviços, os equipamentos e os recursos humanos para atender eventuais necessidades não albergadas pela família. A própria Constituição Federal de 1988, quanto a esse ponto, foi sabiamente redigida. Nela é possível encontrar dispositivo no qual fica estabelecido que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, garantindo-lhes o direito à vida.

Não há disposição mais categórica na Constituição de 1988 quanto à necessidade de comprometimento simultâneo da família, da sociedade e do Estado no desenvolvimento de ações voltadas à garantia da dignidade da pessoa idosa. Em não tendo uma dessas instituições condições de sozinha garantir os direitos das pessoas idosas, as outras devem agir disponibilizando os recursos que estão sob seu alcance para atender as necessidades reais das pessoas idosas.

No cotidiano, entretanto, essas ações compartilhadas ainda não são freqüentemente experimentadas, uma vez que determinados atores estatais, especialmente, colocam obstáculos ao exercício de sua responsabilidade em relação à pessoa idosa.

Muito recentemente houve um caso em que a filha de uma senhora com mal de Alzheimer vinha enfrentando muitas dificuldades para cuidar da sua mãe, a qual, em razão de sua doença, ficou completamente dependente. Buscando apoio da Promotoria de Justiça para que obrigasse o Poder Público a ajudá-la, através da contratação de um cuidador e de outros profissionais, porquanto não mais conseguia trabalhar e nem mesmo dormir, na medida em que sua mãe não permitia em razão da doença, não teve seu pleito atendido por parte do Poder Público, por conta de uma série de desculpas de falta de recursos. Tão-logo uma ação civil pública para obrigar o poder público a disponibilizar os recursos humanos e materiais foi ajuizada, e concedida a liminar para garantir o direito da filha de ser amparada pelo Estado para melhor cuidar de sua mãe, a idosa veio a óbito, o que revela a falta de compromisso dos atores estatais com a dignidade da pessoa humana, apesar do que está estabelecido na Constituição Federal.

Situações como essa tendem a aumentar, na medida em que o número de pessoas velhas no Brasil é cada vez maior e, com ele, as conseqüências típicas do processo de envelhecimento, dentre as quais doenças como Alzheimer e Parkinson, que comprometem gravemente a lucidez das pessoas que acumulam muitos anos, deixando-as em situações de grande vulnerabilidade, especialmente quando não possuem famílias estruturadas ou, mesmo as tendo, não dispondo essas de estrutura adequada para ampará-las adequadamente.

4. POLÍTICAS PÚBLICAS E ENVELHECIMENTO: sem ações estatais racionais todos os direitos estão ameaçados
Como foi possível perceber, envelhecer na sociedade brasileira ainda é um grande risco. Mesmo analisando o envelhecimento como uma grande vitória, no Brasil, ainda possui sabor de fracasso, de acordo com o confirmado no exemplo mencionado no item anterior.

Quando se registra que o envelhecimento é uma grande vitória da humanidade e, conseqüentemente, da sociedade brasileira, tem-se em mente que, há pouco mais de um século a expectativa média de vida da população mundial e brasileira, da mesma forma, não ultrapassava os trinta e cinco anos, quer dizer, as pessoas que nasciam nesse período esperavam viver em média trinta e cinco anos, de modo que alcançar essa idade era ser velho. Hoje, diferentemente desse período, a expectativa de vida já se aproxima, mesmo no Brasil, dos oitenta anos, o que quer dizer que as pessoas possuem mais tempo de realizar os seus projetos de vida, desde, é claro, que tenham recursos adequados, dos quais, lamentavelmente, a maioria não dispõe.

Esse quadro nos impõe um grande desafio: exigir das agências estatais a implementação de políticas públicas para o atendimento das necessidades específicas dos idosos, seja por meio de oferta de instituições de longa permanência devidamente humanizadas, ainda chamadas asilos, para pessoas velhas vítimas de violência na família ou pessoas velhas sem família que não tenham condições de conviver em outros espaços institucionais ou mesmo sozinhas; seja por meio da criação de outras modalidades de atendimento, como casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho, serviços de atendimento domiciliar, casas de passagens, dentre tantos outros.

Portanto, como se percebe, a qualidade do envelhecimento de uma população significativamente heterogênea como a brasileira, depende de políticas públicas, quer dizer, de ações estatais voltadas ao atendimento das demandas do segmento envelhecido da população, o qual necessita de serviços muito específicos, principalmente na área de saúde.

5. A VELHICE E O AMBIENTE FAMILIAR: o sofrimento é o que há de comum em todas as fases da existência
No Brasil a grande maioria dos idosos vive com a sua família. Contudo, é justamente nesse espaço em que são mais atingidos em sua dignidade por meio de todas as formas de violência, as quais podem ser, em rápida síntese, classificadas em psicológica, financeira e física.

Os filhos, genros, noras e netos, principalmente, e não somente os que são dependentes de álcool e outras drogas, costumeiramente, muitas vezes para garantir seus padrões de vida ou mesmo sustentar suas famílias, apropriam-se dos rendimentos dos idosos e de seus bens, deixando-os em situação de grandes dificuldades. São muitos os idosos que têm suas aposentadorias e pensões atingidas por empréstimos não autorizados por eles, mas contraídos por seus familiares, em flagrante abuso de confiança. E, mesmo diante dessas situações, as próprias vítimas não denunciam aqueles que subtraem suas rendas em razão dos vínculos afetivos, os quais são completamente ignorados pelos seus familiares.

Não bastasse a violência financeira dos quais são vítimas, os idosos são intimidados a entregar os seus bens aos seus descendentes ou mesmo a estranhos, por meio de várias formas de chantagens, caracterizando um tipo de violência que chamamos de psicológica.

Ademais, a violência física também faz parte do cotidiano de muitos velhos, principalmente dos acometidos por alguma espécie de dependência física ou mental, decorrente do Alzheimer, Parkinson, dentre outras. A própria imprensa constantemente exibe situações de grande covardia praticadas ou por familiares ou por pessoas contratadas para cuidar de pessoas idosas.

Trata-se de um cenário relativamente novo em razão da grande quantidade de pessoas muito velhas hoje presentes na sociedade brasileira e de sua incapacidade de esta sociedade, até o presente momento, de oferecer recursos e um imaginário adequado para lidar com esse novo contingente populacional bastante heterogêneo.

6. A VELHICE NO SÉCULO XXI: assegurando direitos para todas as idades
Em virtude das grandes desigualdades, principalmente sociais e econômicas, com as quais o Brasil ainda se depara, a Constituição Federal de 1988, tradutora do grande pacto com os direitos fundamentais, ainda não se fez valer suficientemente. Entretanto, com o aprimoramento democrático, a percepção consoante a qual o ser humano é um ser de direitos, independentemente de sua faixa etária, contribuirá para que, nos próximos anos, a percepção sobre o processo de envelhecimento comece a mudar para uma compreensão cada vez mais próxima da vontade constitucional.

Não se está impondo uma visão otimista sobre o processo de envelhecimento, até mesmo porque ninguém, em pleno gozo de suas faculdades mentais, pode dizer que é agradável ter osteoporose, câncer, pressão alta, diabetes, Alzheimer, Parkinson, dentre tantas outras enfermidades especialmente presentes na velhice.

Esses problemas irão se acentuar na medida em que um número cada vez maior de pessoas alcançarem índices etários cada vez mais elevados, mesmo diante da oferta de inúmeros medicamentos, decorrentes dos avanços das tecnologias médicas, disponíveis para a diminuição do sofrimento dessas pessoas.

Com um acentuado envelhecimento da população, inevitavelmente, novos paradigmas surgirão, na medida em que os velhos se tornarão atores políticos cada vez mais importantes e influentes na sociedade.

O envelhecimento populacional está preparando o terreno para uma verdadeira revolução dos idosos, a qual já está transformando radicalmente o modelo de sociedade em que se vive. Basta observar que estão surgindo novas perspectivas de organização da arquitetura das cidades, voltados a derrubar barreiras arquitetônicas que representam grande obstáculo à locomoção das pessoas com mobilidade reduzida, novos sistemas de atendimento de saúde, os quais já estão a exigir novos profissionais, novas tecnologias e medicamentos para fazer frente às doenças que atingem principalmente as pessoas velhas.

Não bastasse isso, há toda uma reflexão sobre o sistema previdenciário, o qual necessitará ser repensado diante da situação inevitável de brevemente a sociedade apresentar mais pessoas jubiladas que na ativa. Mesmo que medidas paliativas comecem a ser pensadas, como o aumento da idade para aposentadoria, medidas mais definitivas precisam ser articuladas, de modo a que sociedade não perca a sua funcionalidade.

Somente esses fenômenos já seriam suficientes para demonstrar o poder transformador do processo de envelhecimento populacional. Mas ele não para por aí. Quem cuidará dos idosos daqui a cinqüenta anos se os jovens hoje e velhos de amanhã não quiserem mais ter filhos e, quando os têm, não ultrapassam de dois? Por outro lado, com a mudança do papel da mulher na sociedade a chamada cuidadora natural desaparecerá, o que implicará no surgimento em grande escala de instituições para atendimento dos idosos.

O perfil do idoso brasileiro no século XXI cambiará significativamente, tanto mais porque a população envelhecida deste século será muito mais velha, mais informada e mais dependente por acumular mais anos, contudo, deixará, paradoxalmente, o legado de uma sociedade mais estruturada e racional, o que não quer dizer mais afetiva, tudo decorrência de uma nova reengenharia social. (Por Paulo Roberto Barbosa Ramos).
Fonte: A Voz do Cidadão. Acesso em 20/2/2010.
http://www.portaldoenvelhecimento.org.br/

segunda-feira, 22 de julho de 2013

domingo, 21 de julho de 2013

QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL


Já não sei em que data estamos, Lá em casa não há calendários e na minha memória as datas estão todas misturadas. Me recordo daquelas folhinhas grandes, uns primores, ilustradas com imagens dos santos que colocávamos no lado da penteadeira .Já não há nada disso. Todas as coisas antigas foram desaparecendo. E sem que ninguém desse conta, eu me fui apagando também...Primeiro me trocaram de quarto, pois a família cresceu. Depois me passaram para outro menor ainda com a companhia de minhas bisnetas. Agora ocupo um desvão, que está no pátio de trás.

Prometeram trocar o vidro quebrado da janela, porém se esqueceram, e todas as noites por ali circula um ar gelado que aumenta minhas dores reumáticas. Mas tudo bem...

Desde há muito tempo tinha intenção de escrever, porém passava semanas procurando um lápis. E quando o encontrava, eu mesma voltava a esquecer onde o tinha posto. Na minha idade as coisas se perdem facilmente: claro, não é uma enfermidade delas, das coisas, porque estou segura de tê-las, porém sempre desaparecem.

Noutra tarde dei-me conta que minha voz também tinha desaparecido. Quando eu falo com meus netos ou com meus filhos não me respondem. Todos falam sem me olhar, como se eu não estivesse com eles, escutando atenta o que dizem. Às vezes intervenho na conversação, segura de que o que vou lhes dizer não ocorrera a nenhum deles, e de que lhes vai ser de grande utilidade. Porém não me ouvem, não me olham, não me respondem. Então cheia de tristeza me retiro para meu quarto e vou beber minha xícara de café. E faço assim, de propósito, para que compreendam que estou aborrecida, para que se deem conta que me entristecem e venham buscar-me e me peçam perdão …Porém ninguém vem....

Quando meu genro ficou doente, pensei ter a oportunidade de ser-lhe útil, lhe levei um chá especial que eu mesma preparei. Coloquei-o na mesinha e me sentei a esperar que o tomasse só que ele estava vendo televisão e nem um só movimento me indicou que se dera conta da minha presença. O chá pouco a pouco foi esfriando… e junto com ele, meu coração...

Então noutro dia lhes disse que quando eu morresse todos iriam se arrepender. Meu neto menor disse: “Ainda estás viva vovó? “.Eles acharam tanta graça, que não pararam de rir. Três dias estive chorando no meu quarto, até que numa manhã entrou um dos rapazes para retirar umas rodas velhas e nem o bom dia me deu. Foi então quando me convence de que sou invisível...
Parei no meio da sala para ver, se me tornando um estorvo me olhava. Porém minha filha seguiu varrendo sem me tocar, os meninos correram em minha volta, de um lado para o outro, sem tropeçar em mim.

Um dia se agitaram os meninos, e me vieram dizer que no dia seguinte nós iríamos todos passar um dia no campo. Fiquei muito contente. Fazia tanto tempo que não saía e mais ainda ia ao campo! No sábado fui a primeira a levantar-me. Quis arrumar as coisas com calma. Nós os velhos tardamos muito em fazer qualquer coisa, assim que adiantei meu tempo para não atrasá-los. Rápidos entravam e saíam da casa correndo e levavam as bolsas e brinquedos para o carro. Eu já estava pronta e muito alegre, permaneci no saguão a esperá-los. Quando me dei conta eles já tinham partido e o auto desapareceu envolto em algazarra, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não coubesse no carro... ...Ou porque meus passos tão lentos impediriam que todos os demais caminhassem a seu gosto pelo bosque. Senti claro como meu coração se encolheu e a minha face ficou tremendo como quando a gente tem que engolir a vontade de chorar. Eu os entendo, eles vivem o mundo deles. Ríem, gritam, sonham, choram, se abraçam, se beijam. E eu, já nem sinto mais o gosto de um beijo.

Antes beijava os pequeninos, era um prazer enorme tê-los em meus braços, como se fossem meus. Sentia sua pele tenrinha e sua respiração doce bem perto de mim. A vida nova me produzia um alento e até me dava vontade de cantar canções que nunca acreditara me lembrar. Porém um dia minha neta Laura, que acabava de ter um bebê disse que não era bom que os anciãos beijassem aos bebês, por questões de saúde... Desde então já não me aproximo deles, não quero lhes passar algo mal por minhas imprudências. Tenho tanto medo de contagiá los !

Eu os bendigo a todos e lhes perdôo, porque... “Que culpa eles têm de que eu tenha me tornado invisível?”

http://respeiteoidoso.blogspot.com.br/

TEMPO SENHOR DA RAZÃO

quinta-feira, 18 de julho de 2013

CAÇADOR DE MIM - MILTON NASCIMENTO

Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir

Eu, caçador de mim


" PESCADOR DE TI "


Sempre atual, destacamos um texto do jornalista Gilberto Dimenstein escrito especialmente para o livreto do CD ao vivo "Amigo" de Milton Nascimento. Impossível não refletir.

Sentados à beira do rio, dois pescadores seguram suas varas à espera de um peixe. De repente, gritos de crianças trincam o silêncio. Assustam-se. Olham para frente, olham para trás. Nada. Os berros continuam e vêm de onde menos esperam. A correnteza trazia duas crianças, pedindo socorro. Os pescadores pulam na água. Mal conseguem salvá-las com muito esforço, eles ouvem mais berros e notam mais quatro crianças debatendo-se na água. Desta vez, apenas duas são resgatadas. Aturdidos, os dois ouvem uma gritaria ainda maior. Dessa vez, oito seres vivos vindo correnteza abaixo.

Um dos pescadores vira as costas ao rio e começa a ir embora. O amigo exclama:
- Você está louco, não vai ajudar?
Sem deter o passo ele responde:
- Faça o que puder. Vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.

Essa antiga lenda indiana retrata como nos sentimos no Brasil. Temos poucos braços para tantos afogados. Mal salvamos um, vários descem rio abaixo, numa corrente incessante de apelos e mãos estendidas. Somos obrigados a cair na água e, ao mesmo tempo, sair à procura de quem joga as crianças.

Incrível como os homens às margens do rio conseguem conviver com os berros. E até dormir sem sobressaltos. É como se não ouvissem. Se o pior cego é aquele que não quer ver, o pior surdo é aquele que não quer escutar. Descobrimos que os responsáveis pelos afogados não estão escondidos rio acima. Estão do nosso lado - e, muitas vezes, somos nós mesmos. São os afogados morais, gente que não conhece o prazer infinito da solidariedade. Não conhece o encanto de estender poucos centímetros de braço e encostar os dedos nas estrelas. Tão fácil agarrar uma estrela, refletida no brilho de quem salvamos por falta de ar.

Veio da Índia a frase do célebre poeta Rabindranath Tagore sobre por que existiam as crianças. "São a eterna esperança de Deus nos homens".
É preciso mesmo infinita paciência, renovada a cada nascimento, para que se possa conviver com a apatia cúmplice. Por sorte temos pescadores que, dia após dia, mostram como as crianças sobrevivem nos homens. E como é doloroso o parto de um homem precoce no corpo de um menino.

A voz de Milton é a própria síntese do menino perdido no adulto; e do adulto perdido no menino. É a síntese de quem se viu obrigado a pular na água para pescar a si mesmo. E nunca se esqueceu e, por isso, não consegue tirar de seus ouvidos a sensação de que crianças na água pedindo socorro, são a última voz de quem quase nunca tem voz.
Gilberto Dimenstein
http://www.percepcoes.org.br/

TUDO PASSA NA DOENÇA DE ALZHEIMER COMO NA VIDA

Você já prestou atenção na letra desta música "Como uma onda ? “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”…“Tudo passa, tudo sempre passará”…”A vida vem em ondas como o mar, num indo e vindo infinito“…

Se na vida tudo muda o tempo todo, na doença de Alzheimer as mudanças são, muitas vezes, rápidas e assustadoras tanto para o doente como para o familiar cuidador que com ele convive. O doente com Alzheimer, na fase inicial da doença, pode desenvolver depressão porque não entende as mudanças que estão acontecendo com ele, fica confuso e perdido.

Mas, e nós que não estamos doentes, por que resistimos tanto a perceber as mudanças tanto na vida como na doença do nosso familiar querido? Por que sofremos a tentação de repetir o que já sabemos, em vez de tentar aprender e enfrentar o que é desconhecido?

Já ouvimos tantas vezes, “ele sempre foi assim, desligado”…ou “é a idade que faz com que esqueça as coisas”…”ela não tem nada, está melhor do que eu”…
Será que temos MEDO de olhar de perto? As mudanças produzem ansiedade. É perturbador sair do habitual, seja bom ou ruim.

“Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo”…
Como enfrentar as mudanças? Como dar conta da ansiedade?
“Há tanta vida lá fora e aqui dentro”…

Para perceber as mudanças é preciso VONTADE, CORAGEM e HUMILDADE. Também é preciso vencer nosso ORGULHO! Olhar pra dentro de si em primeiro lugar, perceber tudo que está dentro de você  toda a vida e energia, todos os recursos que irão fazer com que possa SE CUIDAR, SE AUTOCONHECER, para poder dar conta de cuidar do seu familiar com Alzheimer.

Aprender a viver cada dia de uma vez. “TUDO PASSA, TUDO SEMPRE PASSARÁ”. E tudo, se refere tanto às coisas boas, aos bons momentos, os carinhos e afetos vivenciados, como também se refere às coisas difíceis, aos maus momentos, aos conflitos.

Faça o melhor que voce pode em cada momento, respeitando os seus limites, sem deixar de viver a sua vida. Sem culpa! E mude, transforme  se abra ao que a vida te apresenta, ao diferente, ao novo. Aceite o que não pode mudar! (Tania Scripilliti)

http://www.taniascripilliti.com.br/

quinta-feira, 11 de julho de 2013

QUEM SABE ISSO QUER DIZER AMOR - MILTON NASCIMENTO


Cheguei a tempo de te ver acordar
Eu vim correndo à frente do sol
Abri a porta e antes de entrar
Revi a vida inteira

Pensei em tudo que é possível falar
Que sirva apenas para nós dois
Sinais de bem, desejos vitais
Pequenos fragmentos de luz

Falar da cor dos temporais
Do céu azul, das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor,
Estrada de fazer o sonho acontecer

Pensei no tempo e era tempo demais
Você olhou sorrindo pra mim
Me acenou um beijo de paz
Virou minha cabeça

Eu simplesmente não consigo parar

Lá fora o dia já clareou


quarta-feira, 10 de julho de 2013

A DIFICULDADE DA FLOR DA IDADE

Ao passar pela porta avisto uma pessoa frágil sentada na cadeira. Tão solitária. Tive a impressão de que naquela casa havia sempre muitas pessoas e risos, mas hoje já não era igual. Aquela pessoa estava completamente só. Ao ver-me, sorriu como se eu fosse algum parente ou uma pessoa que ela tinha muita adoração.

Fui chegando mais perto, era uma senhora de cabelo grisalho e pele pálida. Perguntei-lhe se precisava de algo e, após muito esforço para falar, ela disse que estava na hora dos remédios e pediu-me que os pegasse. Fui aflita pegar o remédio daquela jovem senhora, fazendo movimentos leves para que ela não percebesse meu nervosismo.

Ao dar os remédios, perguntei-lhe se gostaria de algo mais. Ela fez um não com a cabeça e eu me movi calmamente em direção à porta. Antes de sair, olhei novamente para aquela senhora e percebi sua tristeza ao ver-me partir. Quase avisto uma lágrima caindo de seu rosto pálido.

Ao sair da casa, bateu-me uma tristeza e sensação de que eu não poderia ajudá-la. Muitas perguntas passavam pela minha cabeça: como pode aquela senhora ficar ali sozinha, sem ao menos ter forca para pegar seus remédios? Como ela iria fazer quando passasse mal? Iria ficar ali esperando que alguém ouvisse seus gritos silenciosos?

Realmente, fiquei chocada e o que mais me incomodava é que esta cena se repetia com muitos idosos. Uma coisa é certa: nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos, este é o ciclo da vida. Passamos a vida inteira em busca de algo, de reconhecimento profissional, de felicidade, de uma família, de soluções e de independência.

O despreparo para viver as diferentes etapas da vida mostra a falta de conhecimento. A falta de compreensão indica que nem sempre temos condições de entender e acompanhar essas mudanças que nos são impostas. Cada etapa representa algo novo e devemos saber que o modo como agimos, os hábitos que adquirimos e os cuidados que temos são decisivos para cada etapa da vida.

No entanto, parece que ao envelhecermos voltamos à estaca zero e temos que recomeçar. Nessa fase nossas estruturas já não são as mesmas devido aos desgastes que passamos durante a vida: o corpo fica mais lento, a saúde mais precária, menos força física, perda de massa muscular, os ossos diminuem e os sentidos não são mais tão aguçados como antes. Nosso organismo passa a ter diversas limitações. E este é um processo que se torna um fardo para muitos.

Independentemente do idoso, muitos necessitam de cuidadores, pois podem ter problemas como: estresse emocional e psicológico, desgaste físico, doenças e dependência a remédios.

A dificuldade financeira e emocional impede que idosos tenham um tratamento adequado, preocupando familiares e profissionais. Por isso, os idosos permanecem em casa, com ou sem ninguém que possa lhe auxiliar, e em outras situações vão morar em instituições ou asilos. Porém, muitas vezes, as entidades são caras, levando as famílias a procurarem alternativas que sejam acessíveis ao seu nível econômico, como os chamados “cuidadores”.


O valor da família

Antigamente, o papel da família era cuidar do idoso, porém os filhos adultos estão cada vez mais sem tempo para viver e cuidar de seus pais por trabalharem ou não quererem, podendo levar os pais idosos ao asilamento ou abandono.

Na velhice, enquanto há saúde, há maior independência e autonomia. O idoso possui mais facilidade e disposição para preencher seu tempo, mantendo relações sociais e realizando atividades pessoais, fazendo com que seu sentimento de tristeza e abandono fique mais distante.

Por outro lado, a fragilidade das relações, negligência, perdas afetivas, ausência de trabalho e doenças trazem sofrimento e faz com que o idoso perca seu status de trabalhador, significando estado de dependência e inutilidade. Sendo assim, a necessidade de cuidados pode fazer com que ele se sinta excluído da família, desvalorizado, tratado com desrespeito.

Para isso, é necessário que a família esteja fortalecida, sendo por convivência e pelos laços afetivos, pois a doença e dificuldades provocam diversas sensações no idoso, fazendo com que ele fique sem apoio, passando por necessidades e precisando de alguém que cuide dele.

Na visão dos idosos, o abandono na velhice se dá em sentimentos de tristeza e solidão, por circunstâncias relativas às perdas, as quais se refletem em deficiências funcionais do organismo e na fragilidade de relações afetivas e sociais.

Estar indefeso, a ausência de afetos e de comunicação, conduzem o idoso a um distanciamento, mudando seus estímulos de interação social e de interesse pela própria vida. Sente-se abandonado, triste, amargurado, angustiado, desanimado e melancólico.

Em muitos casos, a família é a solução para se evitar o sentimento de abandono. Porém, depende do vínculo estabelecido e da força dessas relações. Para o idoso, a família é a esperança: espera-se o acolhimento, a presença e o carinho. A família é o grupo social que insere o idoso no mundo, representando o vínculo do ser humano com a sociedade e carrega os valores que sustentam a relação social, evitando-se o isolamento.

O idoso crê que a família seja seu alicerce e que possa lhe dar a atenção necessária para enfrentar os problemas. Espera o retorno do que já fizeram por ela. Espera compartilhar suas experiências e conhecimentos obtidos ao longo de sua vida, busca entender o motivo da distância emocional entre as pessoas e seus sentimentos, e o que o separa dos outros seres humanos no momento em que precisa ser apoiado. (Fabiana Pardini Blanco)

O MUNDO É UM MOINHO - NEY MATOGROSSO


Ainda é cedo, amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora de partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar
Preste atenção, querida
Embora eu saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és
Ouça-me bem, amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho
Vai reduzir as ilusões a pó
Preste atenção, querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás à beira do abismo
Abismo que cavaste com os teus pés

A IMPORTÂNCIA DO CUIDADOR NO TRATAMENTO DO PACIENTE IDOSO

No contexto brasileiro, a existência de um familiar que se responsabiliza pelos cuidados a um idoso dependente é ainda muito frequente. As famílias constituem-se no primeiro recurso do qual se vale a sociedade para dar atendimento e acolher os seus membros idosos, principalmente nos casos que demandam cuidados prolongados decorrentes de processos mórbidos incapacitantes. As necessidades de cuidado extrapolam, muitas vezes, as capacidades das famílias.

Cresce, portanto, a necessidade de cuidadores formais, com capacitação profissional para o cuidado ao idoso. Para cuidar de idosos, espera-se que haja alguém capaz de desenvolver ações de ajuda naquilo que estes não podem mais fazer por si sós; essa pessoa assume a responsabilidade de dar apoio e ajuda para satisfazer às suas necessidades, visando à melhoria da condição de vida. Não se pode esquecer que, em muitas situações, o "cuidador" nem sempre é um ente da família e que introduzir pessoas externas ao contexto familiar implica reconhecer valores de respeito e discrição, para não interferir na dinâmica familiar.

O cuidado humano, ou "cuidar de si", representa a essência do viver humano. Assim, exercer o autocuidado é uma condição humana. E ainda "cuidar do outro" sempre representa uma condição temporária e circunstancial, na medida em que o "outro" está impossibilitado de se cuidar.

Na maioria das vezes, o cuidador familiar desempenha seu papel sozinho, sem ajuda de outros familiares ou de profissionais. Nesse caso, ele se configura como cuidador principal e representa o elo entre o idoso a família e a equipe de saúde. O cuidador deve possuir habilidades e qualidades imprescindíveis para o atendimento aos pacientes crônicos, como: conhecimentos teóricos e práticos, adquiridos por meio de profissionais especializados; qualidades éticas e morais para permitir uma relação de confiança, dignidade e respeito; domínio e equilíbrio emocional; facilidade de relacionamento humano; capacidade de compreender os momentos difíceis vividos pelo idoso; saúde física, incluindo força e energia, condições essenciais nas situações em que haja necessidade de carregar o idoso ou lhe dar apoio para se vestir e cuidar da higiene pessoal.

O cuidador de idosos dependentes deve organizar suas tarefas de cuidado de modo a ter oportunidades de se autocuidar. Muitas vezes, o cuidador se sobrecarrega nas suas atividades e se esquece de que é uma pessoa que também necessita de cuidados. A família deve avaliar esse trabalho em conjunto com profissionais e planejar atividades para idosos e cuidadores. Cursos são necessários, visando à orientação aos cuidadores do cuidado com o outro e consigo mesmo. Como minimizar os riscos de quedas A alta incidência e prevalência de quedas em idosos decorrem de alterações intrínsecas e extrínsecas. Dentre os fatores intrínsecos, destacam-se as alterações sensórias motoras inerentes ao processo de envelhecimento (alterações visuais, parestesias, paresias, diminuição de flexibilidade e de mobilidade e declínio cognitivo).

Os fatores extrínsecos, fortemente associados às dificuldades propiciadas pelo ambiente (buracos, escadas e terrenos irregulares), constituem também grandes riscos de quedas. Alterações fisiopatológicas características de algumas doenças também são responsáveis por quedas na população idosa. A incidência de quedas em idosos e suas consequências na qualidade de vida do indivíduo explicam claramente a necessidade da prevenção, que é possível através de medidas simples, como: mudanças na alimentação, adaptações no domicílio, revisão nas medicações, promoção de segurança no domicílio e fora do domicílio. Esse fenômeno impõe a necessidade de preparação e adequação dos serviços de saúde, incluindo capacitação e formação dos profissionais dessa área. Sendo assim, as quedas são umas das maiores preocupações, devido à ocorrência e às consequências em relação à qualidade de vida do idoso. Muitas quedas resultam de fatores pessoais ou de estilo de vida, que podem ser mudados. 
Algumas mudanças que você pode tomar para prevenir quedas:
• Ficar fisicamente ativo.
• Rever sua medicação.
• Checar a pressão sanguínea quando estiver deitado e em pé.
• Remover ou evitar objetos perigosos.
• Melhorar a iluminação.
• Instalar parapeito nas escadas e barras para segurar no banheiro.
• Mover itens para tornar mais fácil alcançá-los.
• Uma alimentação equilibrada. O envelhecimento traz perda de equilíbrio e alterações na massa muscular e óssea, aumentando o risco de quedas.
• Usar sapatos bem ajustados, com solas antiderrapantes.
• Dispor os móveis da casa de maneira prudente.
• Utilizar tapetes de borracha antiderrapantes no chuveiro e na banheira.
• Na rua: o relvado, o jardim, o pátio, as passagens para carros e passeios devem estar desimpedidas, sem buracos, fendas ou outras irregularidades.
• Não ter vergonha de pedir ajuda para atravessar a rua.
• Não ficar sozinho. Não se isolar, pois isso pode atrasar a chegada de ajuda do exterior no caso de acidente.

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O CUIDADOR E A PESSOA CUIDADA


O ato de cuidar é complexo. O cuidador e a pessoa a ser cuidada podem apresentar sentimentos diversos e contraditórios, tais como: raiva, culpa, medo, angústia, confusão, cansaço, estresse, tristeza, nervosismo, irritação, choro, medo da morte e da invalidez. Esses sentimentos podem aparecer juntos na mesma pessoa, o que é bastante normal nessa situação. Por isso precisam ser compreendidos, pois fazem parte da relação do cuidador com a pessoa cuidada. É importante que o cuidador perceba as reações e os sentimentos que afloram, para que possa cuidar da pessoa da melhor maneira possível. O cuidador deve compreender que a pessoa cuidada tem reações e comportamentos que podem dificultar o cuidado prestado, como quando o cuidador vai alimentar a pessoa e essa se nega a comer ou não quer tomar banho. É importante que o cuidador reconheça as dificuldades em prestar o cuidado quando a pessoa cuidada não se disponibiliza para o cuidado e trabalhe seus sentimentos de frustração sem culpar-se.

 O estresse pessoal e emocional do cuidador imediato é enorme. Esse cuidador necessita manter sua integridade física e emocional para planejar maneiras de convivência. Entender os próprios sentimentos e aceitá-los, como um processo normal de crescimento psicológico, talvez seja o primeiro passo para a manutenção de uma boa qualidade de vida. É importante que o cuidador, a família e a pessoa a ser cuidada façam alguns acordos de modo a garantir uma certa independência tanto a quem cuida como para quem é cuidado. Por isso, o cuidador e a família devem reconhecer quais as atividades que a pessoa cuidada pode fazer e quais as decisões que ela pode tomar sem prejudicar os cuidados. Incentive-a a cuidar de si e de suas coisas. Negociar é a chave para se ter uma relação de qualidade entre o cuidador, a pessoa cuidada e sua família. O “não”, “não quero” ou “não posso”, pode indicar várias coisas, como por exemplo: não quero ou não gosto de como isso é feito, ou agora não quero, vamos deixar para depois? O cuidador precisa ir aprendendo a entender o que essas respostas significam e quando se sentir impotente ou desanimado, diante de uma resposta negativa, é bom conversar com a pessoa, com a família, com a equipe de saúde. Também é importante conversar com outros cuidadores para trocar experiências e buscar alternativas para resolver essas questões. Procure se informar sobre grupos de cuidadores.

É importante tratar a pessoa a ser cuidada de acordo com sua idade. Os adultos e idosos não gostam quando os tratam como crianças. Mesmo doente ou com limitações, a pessoa a ser cuidada precisa e tem direito de saber o que está acontecendo ao seu redor e de ser incluída nas conversas. Por isso é importante que a família e o cuidador continuem compartilhando os momentos de suas vidas, demonstrem o quanto a estimam, falem de suas emoções e sobre as atividades que fazem, mas acima de tudo, é muito importante escutar e valorizar o que a pessoa fala. Cada pessoa tem uma história que lhe é particular e intransferível, e que deve ser respeitada e valorizada. Muitas vezes, a pessoa cuidada parece estar dormindo, mas pode estar ouvindo o que falam a seu redor. Por isso, é fundamental respeitar a dignidade da pessoa cuidada e não discutir em sua presença, fatos relacionados com ela, agindo como se ela não entendesse, não existisse, ou não estivesse presente. Isso vale tanto para o cuidador e família como para os amigos e profissionais de saúde. Encoraje o riso. O bom humor é uma boa maneira de contornar confusões e mal entendidos.
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domingo, 7 de julho de 2013

10 DICAS PARA LIDAR COM UM IDOSO COM PERDA DE MEMÓRIA

A idade avançada e doenças como o Alzheimer podem levar à perda de memória por parte de muitos idosos – algo que pode acontecer de um dia para o outro e que pode deixar quem cuida ou lida com esses idosos, sem saber o que fazer.


1.  O passado no presente. A maior parte dos doentes com Alzheimer passa a viver no passado, ou seja, a sua memória de longa duração substitui a memória de curto prazo. Isto significa que, embora possam lembrar-se nitidamente do que aconteceu há 30 anos atrás, não se conseguem recordar daquilo que almoçaram há 2 horas atrás. Como contornar esta situação? Não contornando, ou seja, deve-se aproveitar para conversar com o idoso sempre que ele quiser, sobre aquilo que ele quiser.

2. Curto e simples. Quando comunicar com um idoso que sofre de perda de memória, faça-o com frases curtas e simples, ou seja, de muito fácil compreensão. Utilize um vocabulário direto, evitando expressões e eufemismos que podem apenas confundir o idoso. Para além disso, faça apenas uma pergunta ou solicitação de cada vez.

3. Tempo de resposta. Mesmo com uma comunicação simples, direta e curta, quem vive com a perda de memória necessita de tempo para responder àquilo que lhe foi perguntado ou pedido. Dê ao idoso todo o tempo que precisar para pensar no que lhe foi dito e formular a sua resposta, sem o apressar ou interromper o seu raciocínio. Se vir que pode ser útil, repita o pedido ou a questão.

4.  Repetições, repetições, repetições. A comunicação com um idoso com perda de memória vai certamente estar recheada de frases e perguntas repetidas. Embora possa ser frustrante para quem está a ouvir, em vez de dizer “ainda agora acabei de te dizer”, tenha paciência e volte a repetir a resposta ou a pergunta, de preferência igual ou muito parecido com a resposta anterior, para evitar confundir o idoso.

5. Outras formas de comunicação. Infelizmente, a perda de memória pode afetar a comunicação verbal de um idoso, que pode ter dificuldade em expressar os seus pensamentos ou formular frases completas e coerentes – algumas pessoas até deixam de falar. Se a fala representa um obstáculo na comunicação com um idoso com perda de memória, mune-se de outras formas de comunicar: esteja atento à linguagem corporal e às expressões faciais, tanto do idoso como as suas – evite movimentos bruscos e revirar os olhos, por exemplo. Por vezes, apontar para algum objeto pode facilitar a comunicação, por isso, peça ao idoso para fazer o mesmo quando estiver com dificuldades em transmitir alguma ideia.

6. Erros e desentendimentos. Quem sofre de perda de memória nem sempre encontra as palavras certas para comunicar o que pretende, podendo substitui-las por outras que nada têm a ver com o assunto em questão. Esteja sempre muito atento ao desenrolar de qualquer conversa, procurando entender, mesmo por meias palavras, aquilo que o idoso está a tentar comunicar. Recorra a outras formas de comunicação – caso da gestual – se for necessário, mas evite chamar a atenção do idoso ou rir-se dele porque utilizou a palavra errada ou trocou o sentido a uma frase. Fazer isso pode levar a sentimentos de frustração, raiva, tristeza, falta de confiança e dignidade. O que importa é o significado daquilo que está a ser dito e não a forma como é dito: focalize-se nisso.

7.  Mimos e carinhos. A perda de memória não significa a perda de emoção, por isso, mime o idoso com carinhos especiais. O esquecimento e a dificuldade em comunicar pode frustrar o idoso, levando-o à depressão e ao isolamento, o que significa que precisa, mais do que nunca, do sentimento de pertença e de segurança. Faça-lhe companhia numa das suas atividades preferidas, segure-lhe na mão, faça-lhe uma carícia no rosto ou dê-lhe um abraço forte – são gestos tão ou mais poderosos do que as palavras.

8.  Vigilância atenta. Cerca de 60% dos doentes com Alzheimer acabam por se perder, vagueando sem sentido e sem conseguir voltar ao seu ponto de partida, devido à perda de memória. Para evitar situações como esta, assegure que não deixa as portas e/ou janelas da casa abertas; se tem receio que o idoso possa vaguear, não lhe peça para ir buscar o correio ou levar o lixo sozinho; não deixe o idoso conduzir ou andar de transportes públicos sozinho.

9. Personalidade própria. Apesar da perda de memória, o idoso continua, no fundo, a ser a mesma pessoa, com os mesmos gostos. Só porque a sua memória já não é o que era, não significa que não possa desfrutar de atividades e momentos de lazer que sempre apreciou. Você, melhor do que ninguém, conhece essa pessoa, por isso, faça por honrar a sua personalidade: se o idoso gosta de passear, acompanhe-o; se gosta particularmente de determinado programa televisivo, faça questão de ligar a TV na hora da sua emissão.

10. Paciência e disponibilidade. Se cuidar de um idoso já é exigente, lidar de perto com um idoso que sofre de perda de memória pode ser um desafio ainda maior. Depois de uma vida longa e preenchida, a terceira idade, com todos os seus obstáculos, pode ser fonte de depressão e desânimo para muitos idosos, os quais contam com os seus familiares e amigos diretos para os acompanhar nos últimos anos de vida. Esse acompanhamento requer, acima de tudo, disponibilidade e paciência, duas preciosidades para quem luta contra a velhice e as suas vicissitudes. Nunca é demais lembrar que, para conseguir isso com sucesso e saúde, quem cuida de alguém também tem de cuidar de si.
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