..."Velhice não é castigo
É apenas o epílogo
Dos tropeços desta vida"...
Myriam Peres
Velhice é apenas um estado de
espírito, jamais um enrugar, um embaçar, um deteriorar, um despencar de vida
que tanto nos aterroriza pela incógnita do futuro que está se avizinhando,
inexoravelmente. Nos ciclos que temos que passar, que nos obrigam a vivenciar,
torna-se às vezes um silenciar momentâneo de sensações, de ilusões, uma perda
de entusiasmo, um amanhã que não consta, ou se consta, está ameaçado pelo medo,
pela incerteza daquilo que esperamos ansiosos que se realize.
Velhice não é um amontoado de dores,
ora aqui, ora acolá, que desperta na gente a sensação, a noção de que os anos
se passaram, lentos ou rápidos talvez até demais não demos conta, mas que
ficaram registradas nas poeiras levantadas das nossas caminhadas, vigorosas ou
relutantes, nesta nossa jornada terrena, poeiras estas que ainda não se
assentaram no chão definitivamente. Registradas, também, nas partículas de
vida, as células que nos formaram e deram origem e composição ao nosso corpo,
ainda se dividindo na formação e continuidade de nossos tecidos, nossos órgãos,
nossos organismos que nos permitem viver.
Nos desgastes normais, nas passagens
dos anos através de nós, podemos constatar que deslizamos que patinamos e que
também tropeçamos nas pedras de acidentes de percurso, das vielas, das
cancelas, dos caminhos e atalhos que temos que percorrer ainda, capengando nos
exemplos que se insinuam e aparecem. É apenas um desgaste natural da matéria,
um envelhecimento das artérias e diminuição dos movimentos comuns aos passares
dos anos. Isso não é velhice, é apenas o
término da validade inerente às nossas jornadas, à nossa vida material, dando
mostras do que soubemos ou tivemos que percorrer ao longo de nossas vidas.
Sentimos a velhice realmente chegar,
quando as emoções não nos fustigarem mais a alma, quando as saudades
tornarem-se companheiras diletas e persistentes, nos fazendo curvar de apatia,
de fraqueza, na depressão da desilusão e do desestímulo. Quando não soubermos
mais amar, nos doar na felicidade da entrega total e absoluta, nos soares de
nossas campânulas de emoções e sensações, que já residiram em nossos sonhos e
anseios e já não nos interessarem mais, quando os amanhãs já tiverem sido ontem
e se calarem no vazio e nada mais nos importar, deixando-nos sem ter amor e as
lembranças doerem demais, aí sim estamos envelhecendo, estamos naufragando...
Quando aqueles sininhos, que batem
nos nossos corações, ficarem mudos e que não ressoarem mais aquelas melodias de
esperanças no amor, aí envelhecemos mesmo, sem dúvidas ou interrogações...
Começa, então o nosso adeus à magia da vida, aos lenços acenantes dos nossos
anseios e felicidades. Isso se chama o recolher dos remos dos barcos dos nossos
destinos, os sem sabor dos nossos ideais, nas águas dos "deixa pra
lá" de uma vida insossa e desagradável nas âncoras dos nossos desencantos
e desencontros.
Velhice é isso e não as rugas que vêm
embelezar nossos cabelos brancos, nos desgastes próprios da matéria, nas
jornadas e escalares de intensos viveres e morreres... Deixemos as rugas
aparecerem, os cabelos embranquecerem, as peles tornarem-se secas, ásperas e
opacas, porque isso é o normal, o esperado através dos anos de tanta labuta
física e emocional. Mesmo que as transformações físicas vierem a nos coroar,
vivamos com o que resta dos nossos corações repletos ainda de amor pra dar,
doar e se transformar em dádivas divinas nos protegendo e abençoando e dando
sentido a nós, seres humanos.
Vivamos a plenitude que ainda está
presente, com as miçangas do nosso amor, calor e anseios ainda restantes de
nossas sensações íntimas e avassaladoras, de afeto e carinho. Mas o manancial
de lições que aprendemos, nos dá aquela sensação de vitória e felicidade
eternas.
Deus, Onipotente Pai, dai-nos apenas
a certeza do dever cumprido para a nossa salvação e, se valeu mesmo a pena, a
nossa tão pequena colaboração à Sua Maravilhosa Criação!!! (Maria Myriam Freire Peres).
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