quarta-feira, 10 de julho de 2013

A DIFICULDADE DA FLOR DA IDADE

Ao passar pela porta avisto uma pessoa frágil sentada na cadeira. Tão solitária. Tive a impressão de que naquela casa havia sempre muitas pessoas e risos, mas hoje já não era igual. Aquela pessoa estava completamente só. Ao ver-me, sorriu como se eu fosse algum parente ou uma pessoa que ela tinha muita adoração.

Fui chegando mais perto, era uma senhora de cabelo grisalho e pele pálida. Perguntei-lhe se precisava de algo e, após muito esforço para falar, ela disse que estava na hora dos remédios e pediu-me que os pegasse. Fui aflita pegar o remédio daquela jovem senhora, fazendo movimentos leves para que ela não percebesse meu nervosismo.

Ao dar os remédios, perguntei-lhe se gostaria de algo mais. Ela fez um não com a cabeça e eu me movi calmamente em direção à porta. Antes de sair, olhei novamente para aquela senhora e percebi sua tristeza ao ver-me partir. Quase avisto uma lágrima caindo de seu rosto pálido.

Ao sair da casa, bateu-me uma tristeza e sensação de que eu não poderia ajudá-la. Muitas perguntas passavam pela minha cabeça: como pode aquela senhora ficar ali sozinha, sem ao menos ter forca para pegar seus remédios? Como ela iria fazer quando passasse mal? Iria ficar ali esperando que alguém ouvisse seus gritos silenciosos?

Realmente, fiquei chocada e o que mais me incomodava é que esta cena se repetia com muitos idosos. Uma coisa é certa: nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos, este é o ciclo da vida. Passamos a vida inteira em busca de algo, de reconhecimento profissional, de felicidade, de uma família, de soluções e de independência.

O despreparo para viver as diferentes etapas da vida mostra a falta de conhecimento. A falta de compreensão indica que nem sempre temos condições de entender e acompanhar essas mudanças que nos são impostas. Cada etapa representa algo novo e devemos saber que o modo como agimos, os hábitos que adquirimos e os cuidados que temos são decisivos para cada etapa da vida.

No entanto, parece que ao envelhecermos voltamos à estaca zero e temos que recomeçar. Nessa fase nossas estruturas já não são as mesmas devido aos desgastes que passamos durante a vida: o corpo fica mais lento, a saúde mais precária, menos força física, perda de massa muscular, os ossos diminuem e os sentidos não são mais tão aguçados como antes. Nosso organismo passa a ter diversas limitações. E este é um processo que se torna um fardo para muitos.

Independentemente do idoso, muitos necessitam de cuidadores, pois podem ter problemas como: estresse emocional e psicológico, desgaste físico, doenças e dependência a remédios.

A dificuldade financeira e emocional impede que idosos tenham um tratamento adequado, preocupando familiares e profissionais. Por isso, os idosos permanecem em casa, com ou sem ninguém que possa lhe auxiliar, e em outras situações vão morar em instituições ou asilos. Porém, muitas vezes, as entidades são caras, levando as famílias a procurarem alternativas que sejam acessíveis ao seu nível econômico, como os chamados “cuidadores”.


O valor da família

Antigamente, o papel da família era cuidar do idoso, porém os filhos adultos estão cada vez mais sem tempo para viver e cuidar de seus pais por trabalharem ou não quererem, podendo levar os pais idosos ao asilamento ou abandono.

Na velhice, enquanto há saúde, há maior independência e autonomia. O idoso possui mais facilidade e disposição para preencher seu tempo, mantendo relações sociais e realizando atividades pessoais, fazendo com que seu sentimento de tristeza e abandono fique mais distante.

Por outro lado, a fragilidade das relações, negligência, perdas afetivas, ausência de trabalho e doenças trazem sofrimento e faz com que o idoso perca seu status de trabalhador, significando estado de dependência e inutilidade. Sendo assim, a necessidade de cuidados pode fazer com que ele se sinta excluído da família, desvalorizado, tratado com desrespeito.

Para isso, é necessário que a família esteja fortalecida, sendo por convivência e pelos laços afetivos, pois a doença e dificuldades provocam diversas sensações no idoso, fazendo com que ele fique sem apoio, passando por necessidades e precisando de alguém que cuide dele.

Na visão dos idosos, o abandono na velhice se dá em sentimentos de tristeza e solidão, por circunstâncias relativas às perdas, as quais se refletem em deficiências funcionais do organismo e na fragilidade de relações afetivas e sociais.

Estar indefeso, a ausência de afetos e de comunicação, conduzem o idoso a um distanciamento, mudando seus estímulos de interação social e de interesse pela própria vida. Sente-se abandonado, triste, amargurado, angustiado, desanimado e melancólico.

Em muitos casos, a família é a solução para se evitar o sentimento de abandono. Porém, depende do vínculo estabelecido e da força dessas relações. Para o idoso, a família é a esperança: espera-se o acolhimento, a presença e o carinho. A família é o grupo social que insere o idoso no mundo, representando o vínculo do ser humano com a sociedade e carrega os valores que sustentam a relação social, evitando-se o isolamento.

O idoso crê que a família seja seu alicerce e que possa lhe dar a atenção necessária para enfrentar os problemas. Espera o retorno do que já fizeram por ela. Espera compartilhar suas experiências e conhecimentos obtidos ao longo de sua vida, busca entender o motivo da distância emocional entre as pessoas e seus sentimentos, e o que o separa dos outros seres humanos no momento em que precisa ser apoiado. (Fabiana Pardini Blanco)

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