Ao
passar pela porta avisto uma pessoa frágil sentada na cadeira. Tão solitária.
Tive a impressão de que naquela casa havia sempre muitas pessoas e risos, mas
hoje já não era igual. Aquela pessoa estava completamente só. Ao ver-me, sorriu
como se eu fosse algum parente ou uma pessoa que ela tinha muita adoração.
Fui
chegando mais perto, era uma senhora de cabelo grisalho e pele pálida.
Perguntei-lhe se precisava de algo e, após muito esforço para falar, ela disse
que estava na hora dos remédios e pediu-me que os pegasse. Fui aflita pegar o
remédio daquela jovem senhora, fazendo movimentos leves para que ela não
percebesse meu nervosismo.
Ao
dar os remédios, perguntei-lhe se gostaria de algo mais. Ela fez um não com a
cabeça e eu me movi calmamente em direção à porta. Antes de sair, olhei
novamente para aquela senhora e percebi sua tristeza ao ver-me partir. Quase
avisto uma lágrima caindo de seu rosto pálido.
Ao
sair da casa, bateu-me uma tristeza e sensação de que eu não poderia ajudá-la.
Muitas perguntas passavam pela minha cabeça: como pode aquela senhora ficar ali
sozinha, sem ao menos ter forca para pegar seus remédios? Como ela iria fazer
quando passasse mal? Iria ficar ali esperando que alguém ouvisse seus gritos
silenciosos?
Realmente,
fiquei chocada e o que mais me incomodava é que esta cena se repetia com muitos
idosos. Uma coisa é certa: nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos, este é
o ciclo da vida. Passamos a vida inteira em busca de algo, de reconhecimento profissional,
de felicidade, de uma família, de soluções e de independência.
O
despreparo para viver as diferentes etapas da vida mostra a falta de
conhecimento. A falta de compreensão indica que nem sempre temos condições de
entender e acompanhar essas mudanças que nos são impostas. Cada etapa
representa algo novo e devemos saber que o modo como agimos, os hábitos que
adquirimos e os cuidados que temos são decisivos para cada etapa da vida.
No
entanto, parece que ao envelhecermos voltamos à estaca zero e temos que
recomeçar. Nessa fase nossas estruturas já não são as mesmas devido aos
desgastes que passamos durante a vida: o corpo fica mais lento, a saúde mais
precária, menos força física, perda de massa muscular, os ossos diminuem e os
sentidos não são mais tão aguçados como antes. Nosso organismo passa a ter
diversas limitações. E este é um processo que se torna um fardo para muitos.
Independentemente
do idoso, muitos necessitam de cuidadores, pois podem ter problemas como:
estresse emocional e psicológico, desgaste físico, doenças e dependência a
remédios.
A
dificuldade financeira e emocional impede que idosos tenham um tratamento adequado,
preocupando familiares e profissionais. Por isso, os idosos permanecem em casa,
com ou sem ninguém que possa lhe auxiliar, e em outras situações vão morar em
instituições ou asilos. Porém, muitas vezes, as entidades são caras, levando as
famílias a procurarem alternativas que sejam acessíveis ao seu nível econômico,
como os chamados “cuidadores”.
O valor da família
Antigamente, o papel da família era
cuidar do idoso, porém os filhos adultos estão cada vez mais sem tempo para
viver e cuidar de seus pais por trabalharem ou não quererem, podendo levar os
pais idosos ao asilamento ou abandono.
Na velhice, enquanto há saúde, há maior
independência e autonomia. O idoso possui mais facilidade e disposição para
preencher seu tempo, mantendo relações sociais e realizando atividades
pessoais, fazendo com que seu sentimento de tristeza e abandono fique mais
distante.
Por outro lado, a fragilidade das
relações, negligência, perdas afetivas, ausência de trabalho e doenças trazem
sofrimento e faz com que o idoso perca seu status de trabalhador, significando
estado de dependência e inutilidade. Sendo assim, a necessidade de cuidados
pode fazer com que ele se sinta excluído da família, desvalorizado, tratado com
desrespeito.
Para isso, é necessário que a família
esteja fortalecida, sendo por convivência e pelos laços afetivos, pois a doença
e dificuldades provocam diversas sensações no idoso, fazendo com que ele fique
sem apoio, passando por necessidades e precisando de alguém que cuide dele.
Na visão dos idosos, o abandono na
velhice se dá em sentimentos de tristeza e solidão, por circunstâncias
relativas às perdas, as quais se refletem em deficiências funcionais do
organismo e na fragilidade de relações afetivas e sociais.
Estar indefeso, a ausência de afetos e
de comunicação, conduzem o idoso a um distanciamento, mudando seus estímulos de
interação social e de interesse pela própria vida. Sente-se abandonado, triste,
amargurado, angustiado, desanimado e melancólico.
Em muitos casos, a família é a solução
para se evitar o sentimento de abandono. Porém, depende do vínculo estabelecido
e da força dessas relações. Para o idoso, a família é a esperança: espera-se o
acolhimento, a presença e o carinho. A família é o grupo social que insere o
idoso no mundo, representando o vínculo do ser humano com a sociedade e carrega
os valores que sustentam a relação social, evitando-se o isolamento.
O idoso crê que a família seja seu
alicerce e que possa lhe dar a atenção necessária para enfrentar os problemas.
Espera o retorno do que já fizeram por ela. Espera compartilhar suas
experiências e conhecimentos obtidos ao longo de sua vida, busca entender o
motivo da distância emocional entre as pessoas e seus sentimentos, e o que o
separa dos outros seres humanos no momento em que precisa ser apoiado. ( Fabiana Pardini Blanco)
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