A velhice pode ser vivida de duas
maneiras. E é sempre você mesmo quem decide qual será a sua maneira.
1º maneira
– Você fica depressivo e rabugento. Acha que a vida perdeu a graça. Tem uma
autoimagem negativa, pois considera que a velhice é um problema. Às vezes,
veste-se como os adolescentes e faz coisas como se fosse um deles, não por
opção natural de um estilo de vida, mas como fuga de uma autoimagem contra a
qual luta desesperadamente. Assim, nunca consegue ser feliz, pois a juventude é
uma realidade que, efetivamente, não existe mais. A neurótica dependência de
uma juventude perdida faz a vida esvaziar-se de sentido, tira-lhe o brilho e a
alegria. A velhice é, assim, um estágio em que você só experimenta frustrações
e nostalgias.
2º maneira – Você fica mais feliz e cheio de gratidão. Primeiro
porque se você está velho é porque você viveu até aí, e não existe bem mais
precioso do que o fato de estar vivo, participando da cena do mundo. Segundo,
porque você chega à conclusão de que somente a experiência de muitos anos pode
ensinar uma pessoa a valorizar as coisas realmente boas da vida.
A filosofia budista
ensina que o homem só será verdadeiramente feliz quando aprender a se livrar de
todas as ilusões, e você sabe que estar velho pode significar estar mais perto
dessa felicidade, pois é nessa época da vida que você já poderá ter-se livrado
de muitas das ilusões nas quais a juventude está mergulhada. Você começa a
lembrar-se de que, quando era jovem, nunca tinha tempo para enxergar a
felicidade, pois ela deveria ser encontrada de flagrante entre as coisas
simples e pequenas da vida. Você, porém, estava sempre muito ocupado para
perceber isso, atarefado, assoberbado, correndo atrás do pão de cada dia,
correndo atrás do vento, estressado com as contas, com os estudos, com o
patrão, com os filhos, com o trânsito, com a inflação, enfim, com os problemas
do dia a dia.
É só na velhice que você se dá conta do quanto existe de
felicidades falsas no mundo dos homens, e descobre, de repente, que não são as
tristezas da vida que nos afastam da verdadeira felicidade, mas, sim, as
felicidades falsas, pois essas é que nos ludibriam o pensamento, distraem-nos
aproveitando-se de nossa ingenuidade e, capciosamente, ocupam o nosso precioso
tempo e desgastam a nossa saúde física e mental com toda sorte de ilusões das
quais nos arrependemos depois.
Então, na velhice você deixa de levar tão a
sério muitas coisas que, no fundo, não valem a pena. Você começa a se tornar
menino de novo e reinterpreta de um modo nada convencional, porém muito
interessante, o fato de Jesus ter dito que o “reino dos céus” pertence às
crianças, ao mesmo tempo em que o Mestre dissera, também, que esse “reino dos
céus” está dentro de nós.
A felicidade é um estado interior que o homem só
adquire depois de haver-se tornado criança. Ora, você conclui, é muito difícil
tornar-se criança antes de ter se envelhecido. Você sente uma perene gratidão.
Viver é tão bom! Que privilégio maior do que esse um homem poderia desejar? Por
que será que Nelson Rodrigues disse, certa vez: “Jovens, envelheçam!”? É porque
ele encontrava mais lucidez na velhice do que na juventude; ele via nesse
estágio crepuscular da vida uma espécie de nível consciencial que a juventude
não só não possui, como também não faz ideia do que seja. Somente aí, na
velhice, você descobre que a verdadeira felicidade é uma magia fugaz, que se
encontra apenas no momento presente. É aí que você deixa de temer o giro
inexorável dos ponteiros do relógio, pois a suprema meta da vida é ser feliz, e
a verdadeira felicidade não tem duração, apenas intensidade.
Fonte: Recanto das
Letras
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