sábado, 12 de outubro de 2013

UM NOVO JEITO DE ENVELHECER


Já dizia um antigo provérbio alemão: quando o ser humano é jovem, tem tempo e saúde, mas não tem dinheiro. Quando é adulto, tem dinheiro e saúde, mas não tem tempo. Quando se torna idoso, tem tempo e dinheiro, mas não tem saúde. No entanto, as mais recentes pesquisas no campo da neurologia têm demonstrado que é possível envelhecer sem perder saúde mental. Pelo contrário, hoje se sabe que uma pessoa pode ganhar capacidade cognitiva à medida que a idade chega.

O psiquiatra George Vaillaint, da Universidade de Harvard, descobriu, em 2002, que a lucidez em idade avançada está diretamente relacionada ao tipo de personalidade que uma pessoa mantém ao longo da vida. Quanto maior o nível de tranquilidade diante dos problemas do dia-a-dia, maior a chance de se passar dos 80 com o raciocínio lógico e a memória em plena forma. Segundo o neurologista e professor da Unifesp, Cícero Galli, o segredo é não se deixar abalar diante das dificuldades e não se angustiar ou sofrer por antecipação. Mas ele alerta que a tranquilidade a que Vaillaint se refere não é apenas uma questão de aparência, trata-se de uma atitude interna que algumas pessoas assumem, uma verdadeira paz de espírito.

Entre aqueles que mantêm essa tranquilidade, há três características decisivas para que os idosos tenham um desempenho mental ainda melhor do que tinham quando eram mais jovens. São elas: altruísmo, capacidade de não guardar ressentimentos e capacidade de guardar gratidão. “Essas pessoas conseguem acumular experiências de vida e são consideradas sábias na comunidade onde vivem”, diz Cícero.

A tranquilidade também é responsável pela produção de neurônios novos – sim, ao contrário do que se imaginava até o final da década de 90, somos capazes de fazer nascer novas células nervosas. E as áreas do cérebro que mais exercitamos são as que recebem maior quantidade delas. Por outro lado, os pensamentos negativos liberam toxinas no organismo e provocam a morte precoce de neurônio.

Por isso, o neurologista diz que a chave para um envelhecimento saudável está na mudança da sintonia mental de negativa para mais positiva e a percepção de que se aposentar e envelhecer não devem ser sinônimo de inatividade. Cícero alerta que, para a maioria das pessoas que se aposenta, a ilusão de que viveriam férias permanentes se perde rapidamente e elas começam a se incomodar com o fato de quase ninguém lhes pedir que solucionem problemas, como costumavam fazer enquanto tinham uma vida profissional ativa.

Quando mantemos uma área do cérebro inativa, ela começa a deletar neurônios não utilizados. É aí que muitos idosos percebem que não conseguem desempenhar mais certas atividades com a mesma desenvoltura de antes. Eles perdem o sentimento de utilidade e, com isso, vêm sentimentos de baixa autoestima e depressão, que bloqueiam a produção de novos neurônios e provoca a degeneração de antigos. Pronto, está formatado um ciclo vicioso. “Pessoas que sofrem de Mal de Parkinson, por exemplo, normalmente sustentaram muita preocupação e ansiedade a vida toda. São pessoas que sofrem por tudo e por nada. Elas são muito responsáveis, mas não aprenderam que podem fazer a coisa certa sem sofrimento, sem se cobrar demais”.


Para não entrar nessa bola de neve, é bom começarmos o quanto antes a preservar os fatores detectados na pesquisa de Harvard – tranquilidade, altruísmo, capacidade de não guardar ressentimentos e capacidade de guardar gratidão. Fazem parte dessa receita manter o bom humor, cultivar sonhos e novos objetivos e olhar mais para o que desejamos do que para aquilo que não saiu como desejávamos. Cícero Galli sintetiza: “é viver sintonizado com o lado luminoso da vida”. E claro, não se esquecer de que uma mente sã só pode existir em um corpo são.
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