Já não sei quem sou, nem me lembro de quem fui...
Na tela da minha memória apenas resquícios de um passado
remoto, mas que pra mim, hoje, é meu presente...
É como se o relógio do tempo tivesse parado ali ou lá, já
não sei, eternizando apenas uma fração da minha existência. Minha infância,
talvez, ou minha mocidade, sabe-se lá...quem poderá compreender a incógnita da
minha memória, que se esvai como a água que corre para o ralo?
Não há como deter qualquer tipo de informação, ou imagem, ou
lembrança, ou sentimento...nada! No minuto seguinte se foi, se apagou sem
deixar rastro.
Meu olhar se perde no vazio, minha vitalidade dá lugar à
lentidão, meu vocabulário se escasseia dia-a-dia e falo coisas sem pé nem
cabeça com tanta naturalidade, como se tivesse algum sentido ou lógica.
Todos os rostos que vejo têm a mesma identidade. A daquela
pessoa cuja imagem e o nome ficaram gravados na minha memória. Ela é meu elo de
ligação com o que fui e a minha atual realidade. É meu porto seguro, minha
referência. Com ela, e só com ela, troco carícias e confidências, mesmo que
ininteligíveis.
Vivo aqui, vivo lá, vivo acolá...tenho meu próprio universo.
Tenho meus amigos imaginários (ou não) e teço com eles as tramas do meu enredo
como uma colcha de retalhos. Fragmentos
do que fui e sou, lembranças em desalinho, nenhuma conexão.
Nos lampejos de consciência, cada vez menos frequentes,
sinto saudades de mim mesma e de tudo que deixei para trás... minha família,
meus filhos e netos, meu bichinho de estimação, meu trabalho, tudo enfim! Sinto
saudades da minha vida, saúde, eloquência, viço, lucidez...
Mas o jogo da minha vida tem cartas marcadas e o final
sabemos bem... Ganho eu, ganha você, porque não desperdiçamos a oportunidade de
crescimento que nos foi dada nesta existência.
Um dia, tenho certeza, nos
reencontraremos em algum lugar e vamos reunir todos os retalhos da colcha que
tecemos, rir e chorar de nossas lembranças e finalmente daremos ,juntas, o
ponto final que nos libertará.
http://quandoamentesilencia.blogspot.com.br/
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