As plásticas realizadas como
solução para diminuir as angústias causadas pelo processo de envelhecimento
causam doenças como: depressão, síndrome do pânico, entre outras.
A condição feminina no
enfretamento do processo de envelhecimento é diferenciada em relação ao sexo
masculino. Para as mulheres, na sociedade atual, é muito mais difícil
envelhecer. As cobranças sociais chegam a ser desumanas, trazendo como
conseqüências medo dos riscos de perder o seu espaço no meio social, perder a
capacidade de ser desejada e até de desejar e risco de perder o seu lugar de
esposa. Estas questões são validadas de uma forma explícita e até, muitas
vezes, vergonhosa quando assistimos manifestações deliberadas deste
preconceito, que coloca a mulher na condição de não poder envelhecer de maneira
natural. Como exemplo destas manifestações, podemos descrever casos de
numerosos homens que trocam suas esposas por meninas mais jovens ou na supervalorização
da estética feminina sem rugas, sem sinais algum da idade, o que coloca a
mulher, muitas vezes, numa corrida desenfreada para apagar vestígios do
envelhecimento.
A decisão de realizar plásticas
ou procedimentos de rejuvenescimento, não deve ocorrer como solução para
aliviar as angústias do envelhecimento ou como processo de negação do mesmo.
Quando estas decisões estão ligadas às questões emocionais menos conscientes,
os resultados podem ser catastróficos e, ao invés de beleza e satisfação, pode
ser um fator motivador de doenças como depressão ou distúrbio de
auto-percepção, ou seja, a pessoa não se reconhece como sendo a mesma pessoa
pós-cirurgia e as conseqüências deste processo podem ser o isolamento, o
sentimento de culpa, o sentimento de raiva em relação ao cirurgião, irritação
entre outros sentimentos negativos e, em alguns casos, há a necessidade de
medicamentos e psicoterapia para que a pessoa possa voltar a ter uma vida
normal.
O melhor caminho para lidar com o
processo de envelhecimento, que é inerente não só ao seres humanos mas, também,
a tudo que tem vida, assim como os objetos que estão em uso entram em processo
de desgaste é, em primeiro lugar, a conscientização e aceitação como fato que
vai ocorrer independente de nossa vontade.
A palavra processo nos permite a
possibilidade do auto cuidado e preparação para o envelhecimento que devem ser
pensados e colocados em prática, durante toda uma vida. Não se dorme jovem e se acorda velho. É muito
comum o jovem olhar para a velhice como algo que está muito distante dele, o
que dificulta uma preparação para o mesmo.
A preparação para o
envelhecimento deve ocorrer em vários setores de sua vida, no que se refere à
importância das atividades físicas e de uma boa alimentação. Já é comprovada a eficácia, dessa
atitude, em relação à diminuição dos efeitos do envelhecimento e na qualidade
de vida. No âmbito emocional, o individuo precisa trabalhar para adquirir bases
seguras no enfretamento de preconceitos sociais, com espelho e as limitações,
para continuar vivendo feliz mesmo envelhecendo.
A aceitação deste novo momento de
vida, sem significado de castigo, permite uma convivência plena com a velhice.
Os setores relacionais e financeiros também necessitam de um olhar, ao longo do
tempo, para que se obtenha resultados satisfatórios, ou seja, manter as
relações de amizades que possam servir de bases para os relacionamentos
interpessoais e, a financeira, que vai trazer sustentação para um momento, no
qual, os custos são maiores e os recursos são menores. Esta também é uma
questão Importante para ser pensada no processo de envelhecimento que é
inevitável e intransferível e único para cada individuo.
O envelhecimento é percebido
desde as mais remotas civilizações como um mal a ser combatido ferozmente, e
este sentimento é expresso através dos esforços da ciência na busca do antídoto
que faça parar este processo e, quem sabe, ganhamos de brinde a imortalidade.
De preferência, se permanecermos jovens.
A mídia, atendendo a um desejo
social, contribui supervalorizando a juventude como a única forma de
felicidade, atitude que reforça o sentimento de medo e angústia no enfretamento
da velhice como sendo um castigo. É comum a seguinte colocação dos mais jovens:
“prefiro morrer a ficar velho”.
Na cultura ocidental, percebemos,
de forma mais clara a fragilidade que cerca as questões ligadas ao
envelhecimento, sendo ela um veículo que contribui na formação da estrutura que
ajudará o indivíduo a aceitar ou, até, a construir uma maneira de envelhecer
com qualidade de vida, mesmo mediante às limitações impostas nesta fase da
vida. O sentimento de afastamento e, até mesmo de repugnância ao velho, ainda é
cultivado pela sociedade formadora de opinião.
Rosilene Alves de Souza Lima
*Psicóloga Clínica, Mestre em
Gerontologia Social pela PUC/SP. Diretora das clínicas geriátricas – New
heaven e Saúde integral. Diretora da
Associação Brasileira de Alzheimer.
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