O papel do treinamento da memória
Como a população sexagenária
aumenta em todo o mundo, a perspectiva para o Brasil é que venha a ser o sexto
país com maior número de idosos em 2025. A explosão da terceira idade, como não
é difícil se concluir, favorece o aumento de doenças freqüentes da população
nesta faixa etária, dentre elas o mal de Alzheimer. Segundo estatística
recente, 1,2 milhão de pessoas já sofrem com o mal no Brasil. E, em 2025, este
número poderá chegar a mais que o dobro. A menos que os meios médicos,
científicos e de administração pública encontrem novos caminhos para o combate
à doença que surge como o mal crônico mais característico do século XXI. Uma
dessas formas de prevenção a serem incrementadas poderia ser a expansão do treinamento
da memória.
Em nosso meio a doença atinge em
média 10% da população acima dos 65 anos e estudos recentes demonstram que o
número tende a dobrar a cada cinco anos. Esta triste projeção nos diz,
teoricamente, que 70% dos idosos com 95 anos de idade sofrerão com o mal. A
idade é, portanto, o principal fator de risco para o Alzheimer.
O Alzheimer é uma desordem
neurodegenerativa, progressiva e fatal. Necessita desta forma, de diagnóstico e
intervenções precoces no sentido de retardar o seu agravamento. O mal, que é a
principal forma de demência (de=perda, mentis=mente), tem como queixas
principais as seguintes características:
1. O surgimento de esquecimento
gradual, principalmente para fatos recentes; com o agravamento da doença o
esquecimento passa a ser global (memória para fatos recentes e antigos) e
outras funções mentais superiores passam a ser comprometidas;
2. A fala fica titubeante, pois a
pessoa não se recorda da palavra a ser dita; a mesma dificuldade vai
interrompendo a escrita; ao final, a linguagem se torna esteriotipada,
repetitiva e inflexível, podendo até mesmo ficar ausente; e a habilidade para
cálculos sofre deterioração semelhante;
3. A orientação visuo-espacial
torna-se deficiente; dirigir, encontrar o caminho de volta para casa passam a
ser tarefas
4. Mais tardiamente, funções
simples, como vestir-se, usar adequadamente objetos como talheres, e a marcha
ou o andar também são esquecidos;
5. Alterações de personalidade,
depressão, inércia, apatia, confusão mental, agressividade e alucinações também
são comuns; ou seja, alterações ocorrem no campo da memória, linguagem,
reconhecimento, habilidades motoras e função psiquica.
Importa dizer, porém, que ter
esquecimento não significa ter Alzheimer. Muitas pessoas com depressão, por exemplo,
apresentam importantes falhas na memória.
E há aqueles que, por força da
sociedade moderna, estão cronicamente privados de sono, exibindo, por isso,
perda de memória. Ademais, há casos sem qualquer déficit objetivo de memória
que freqüentemente procuram atendimento médico com o objetivo de melhorar o
desempenho cerebral sem qualquer relação, mesmo precoce, com o mal de
Alzheimer.
Na doença de Alzheimer alterações
anatomopatológicas características também são descritas, como a chamada
degeneração neurofibrilar, que acarreta disfunção de células nervosas e morte
de certas populações de neurônios e depósito das chamadas placas senis. A causa
deste “suicídio em massa” de neurônios e depósitos dessas substâncias permanece
desconhecida, mas em alguns casos é associada a um gene defeituoso chamado
APOE. Sabe-se que as alterações ocorrem inicialmente na região do hipocampo,
importante local de armazenamento da memória e que a população de neurônios
doentes tem como neurotransmissor a acetil-colina, daí a estratégia terapêutica
basear-se principalmente em medicamentos que aumentem a disponibilidade desse
neurotransmissor.
Com a evolução da doença, todo o
cérebro vai perdendo neurônios, que podem chegar a diminuir 20% do seu peso
original. O que se vê, ante a ressonância magnética do crânio, em fases
avançadas da doença, são cérebros difusamente atrofiados.
Inúmeras drogas (estatina,
antiinflamatório, selegilina, tabaco), vitaminas (vitamina B e E), substâncias
(gingko biloba), dietas (mediterrâneo), hormônios (estrogênio) e álcool (vinho
tinto) têm sido testadas com o objetivo de prevenir a doença de Alzheimer.
Nenhuma delas, porém, mostrou-se clinicamente suficiente, até a presente data,
capaz de sugerir prescrição específica na doença.
Uma vida socialmente ativa após
os 60 anos, busca de atividade intelectual continuamente, treinamento
cognitivo, realização de exercícios físicos regulares e uma dieta balanceada
parecem diminuir o risco para Alzheimer. E, em caso de diagnóstico definitivo,
a reabilitação cognitiva ou o treinamento cognitivo associado ao tratamento
medicamentoso têm sempre uma resposta melhor que o medicamento isolado.
Os treinamentos ocorrem em
sessões regulares com psicólogos, onde são exercitadas funções como orientação
no tempo e no espaço, atenção, memória, linguagem, juízo crítico, abstração,
cálculo, habilidades visuo-motoras e reconhecimento entre outras.
Não obstante, a doença de
Alzheimer ainda permanece incurável. E as medidas preventivas parecem apenas
retardar seu aparecimento, sendo da maior importância a realização de diagnóstico
precoce que, associado à instituição de medidas de tratamento farmacológico e
reabilitação cognitiva, seja capaz desacelerar seu avanço. ( Dr. Oscar Bacelar)
http://www.bacelar.com.br/
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