quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

APRENDA A ENXERGAR A BELEZA DAS RUGAS

 idosos

As pessoas parecem estar perdendo a sensibilidade ao belo. A maioria só considera belo aquilo que se conforma com os padrões estéticos propagados pela mídia. E estes padrões têm insistentemente cultuado a juventude, como se não houvesse beleza na velhice. E há tanta exuberância num rosto marcado pelo tempo! Ele registra em si uma história de vida. É uma escultura viva, modelada por emoções, sensações, pensamentos, atitudes. 

Mas se hoje percebemos a velhice como fase de declínio e decadência, isto não foi sempre assim na história da humanidade. A própria bíblia contêm passagens nas quais a velhice é retratada com vigor e força. O gênesis, por exemplo, nos diz: "Eis a duração da vida de Abraão: Ele viveu 175 anos e entregou sua alma movendo numa ditosa velhice, em idade avançada e cheio de dias". Entre outras, há também uma referência ao livro de Jô que nos diz: "em robusta velhice e entrará para o sepulcro como um feixe de trigo que se recolhe ao seu tempo". 

Percebemos então, que velhice não é uma verdade absoluta, mas uma concepção que pode variar conforme a cultura, a época e, principalmente, de acordo com os valores que uma sociedade dá aos seus participantes.

Uma sociedade que marginaliza o velho, o excepcional, o louco, o pobre, é violenta e irresponsável. A exclusão social representa talvez um dos maiores equívocos dos homens, porque desconsidera a semelhança que compartilhamos com todos os seres humanos. A velhice não é uma falha da condição humana, muito menos uma doença. Ela revela, apenas, uma fase da existência.

A forma de percebê-la, sim, é que pode ser falha, doentia e violenta. "Eu valho aquilo que sou a cada instante. Se o fruto desprezar qualquer trâmite na sua evolução, acabará por não nascer", nos diz Exupéry. Negar, desconsiderar ou desvalorizar qualquer fase da vida do homem, é ameaçar a própria condição humana. John Donne expressou este pensamento quando afirmou que "a morte de qualquer homem me diminui porque sou parte do gênero humano. Por isso não me perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti."

Mas o que determinará este estilo de envelhecer e a qualidade de vida na terceira idade? A velhice não é uma fase desassociada do restante da história de sujeito. Portanto, pensar na terceira idade significa pensar toda a história de vida de uma pessoa. Uma velhice saudável implica em uma postura existencial, na qual o sujeito tenha buscado o desenvolvimento de suas potencialidades e se dirigido de acordo com seus desejos, suas perguntas e seus próprios projetos. Não quero dizer que isto não possa ser feito, às vezes tardiamente. É sempre tempo de despertar. A velhice significou para muitos um período de intensa criação. A história nos mostra que ela pode ser extremamente rica, expressiva e criativa aos 60, 70, 80, 90 anos de idade. Picasso, por exemplo, produziu freneticamente aos 90. Goeth concluiu o Fausto com mais de 80; Freud foi criativo até o seu último ano de vida, quando contava com 83 anos; Verdi escreveu uma de suas maiores óperas aos 80; Michelangelo projeto a cúpula da Basílica de São Pedro na sua nona década de vida. E assim muitos outros deram ao mundo patrimônios grandiosos, frutos de suas realizações 'crepusculares'. 

É possível envelhecer 'docemente', com serenidade, elegância e saúde, desde que se permita viver a potencialidade e a riqueza que a idade madura do homem lhe permite. As pessoas longevas têm normalmente, um forte desejo de viver, de criar, de desfrutar do mundo e dos próprios sentimentos. Elas fazem da vida uma festa em que comemoram a sua digna idade. Viver a juventude presente em cada fase da vida; ser suficientemente jovem para querer; viver o futuro como possibilidade; e acreditar que sempre há algo a desejar, a realizar e a criar. Estes parecem ser os ingredientes necessários para se envelhecer com dignidade.


E agora, sinto-me mais à vontade para dizer que envelhecer não é caminhar no tempo, mas estacionar nele, pois na verdade 'as pessoas não ficam velhas. Quando param de crescer é que envelhecem.’ (Lenize Bahia Chaves)

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