As pessoas parecem estar perdendo
a sensibilidade ao belo. A maioria só considera belo aquilo que se conforma com
os padrões estéticos propagados pela mídia. E estes padrões têm insistentemente
cultuado a juventude, como se não houvesse beleza na velhice. E há tanta
exuberância num rosto marcado pelo tempo! Ele registra em si uma história de
vida. É uma escultura viva, modelada por emoções, sensações, pensamentos,
atitudes.
Mas se hoje percebemos a velhice como fase de declínio e decadência,
isto não foi sempre assim na história da humanidade. A própria bíblia contêm
passagens nas quais a velhice é retratada com vigor e força. O gênesis, por
exemplo, nos diz: "Eis a duração da vida de Abraão: Ele viveu 175 anos e
entregou sua alma movendo numa ditosa velhice, em idade avançada e cheio de
dias". Entre outras, há também uma referência ao livro de Jô que nos diz:
"em robusta velhice e entrará para o sepulcro como um feixe de trigo que
se recolhe ao seu tempo".
Percebemos então, que velhice não é uma verdade
absoluta, mas uma concepção que pode variar conforme a cultura, a época e,
principalmente, de acordo com os valores que uma sociedade dá aos seus
participantes.
Uma sociedade que marginaliza o
velho, o excepcional, o louco, o pobre, é violenta e irresponsável. A exclusão social representa
talvez um dos maiores equívocos dos homens, porque desconsidera a semelhança
que compartilhamos com todos os seres humanos. A velhice não é uma falha da
condição humana, muito menos uma doença. Ela revela, apenas, uma fase da
existência.
A forma de percebê-la, sim, é que
pode ser falha, doentia e violenta. "Eu valho aquilo que sou a cada
instante. Se o fruto desprezar qualquer trâmite na sua evolução, acabará por
não nascer", nos diz Exupéry. Negar, desconsiderar ou desvalorizar
qualquer fase da vida do homem, é ameaçar a própria condição humana. John Donne
expressou este pensamento quando afirmou que "a morte de qualquer homem me
diminui porque sou parte do gênero humano. Por isso não me perguntes por quem
os sinos dobram; eles dobram por ti."
Mas o que determinará este estilo
de envelhecer e a qualidade de vida na terceira idade? A velhice não é uma fase
desassociada do restante da história de sujeito. Portanto, pensar na terceira
idade significa pensar toda a história de vida de uma pessoa. Uma velhice
saudável implica em uma postura existencial, na qual o sujeito tenha buscado o
desenvolvimento de suas potencialidades e se dirigido de acordo com seus
desejos, suas perguntas e seus próprios projetos. Não quero dizer que isto não
possa ser feito, às vezes tardiamente. É sempre tempo de despertar. A velhice
significou para muitos um período de intensa criação. A história nos mostra que
ela pode ser extremamente rica, expressiva e criativa aos 60, 70, 80, 90 anos
de idade. Picasso, por exemplo, produziu freneticamente aos 90. Goeth concluiu
o Fausto com mais de 80; Freud foi criativo até o seu último ano de vida,
quando contava com 83 anos; Verdi escreveu uma de suas maiores óperas aos 80;
Michelangelo projeto a cúpula da Basílica de São Pedro na sua nona década de
vida. E assim muitos outros deram ao mundo patrimônios grandiosos, frutos de
suas realizações 'crepusculares'.
É possível envelhecer 'docemente', com
serenidade, elegância e saúde, desde que se permita viver a potencialidade e a
riqueza que a idade madura do homem lhe permite. As pessoas longevas têm
normalmente, um forte desejo de viver, de criar, de desfrutar do mundo e dos
próprios sentimentos. Elas fazem da vida uma festa em que comemoram a sua digna
idade. Viver a juventude presente em cada fase da vida; ser suficientemente
jovem para querer; viver o futuro como possibilidade; e acreditar que sempre há
algo a desejar, a realizar e a criar. Estes parecem ser os ingredientes
necessários para se envelhecer com dignidade.
E agora, sinto-me mais à vontade
para dizer que envelhecer não é caminhar no tempo, mas estacionar nele, pois na
verdade 'as pessoas não ficam velhas. Quando param de crescer é que
envelhecem.’ ( Lenize Bahia Chaves)
Nenhum comentário:
Postar um comentário