O ladrão de almas é uma expressão
usada por cientistas e leigos para nomear uma das doenças mais conhecidas que
acomete pessoas em idade avançada, a doença de Alzheimer (DA).
Esta expressão
retrata uma doença que se apodera da mente humana e tira sua sanidade como se
estivesse roubando o que se tem de mais precioso na vida: a consciência de si
próprio, a identidade e a memória.
Na perspectiva da DA, ser um
ladrão significa que ele rouba de suas vitimas a possibilidade de se articularem
com uma realidade interna e externa; rouba-lhes aos poucos uma vida construída;
afana-lhes o direito de permanecer entre os entes queridos, que aos poucos não
lhes reconhecem mais e vice-versa. Como credor, a DA cobra de suas vitimas
débitos que eles próprios desconhecem. Esse credor invisível se apropria de sua
mente e corpo e leva para um labirinto sem volta.
Este credor escuro e invisível
desfila suas preferências por pessoas de idade avançada; ele reconhece que, com
o acúmulo de anos, mais rico de experiências e sabedoria fica seu devedor,
justamente quando este tem suas forças físicas dissipadas pelo tempo.
A luta
parece injusta, mas a teia em que é envolvido o sujeito demenciado, parece fazer
parte de uma trama que ele fez e refez e perdeu o ponto. Agora, numa tentativa
de tecer novamente, ele não reconhece o tear de sua vida, e os que estão
próximos também não o reconhecem. Ele só, num funil sem volta, parece ser em
outro tempo, o único conhecedor da chave do enigma.
"E eu tenho
tentado me enfurecer contra a morte da luz, amigos. Mas agora, já faz tempo que
minha fúria se esgotou. Não foi dissipada ou derrubada orgulhosamente pela
justiça.Mas abatida relutantemente por um credor escuro e invisível. Que me
arrasta para a escuridão para pagar débitos... de que não me lembro. Dia após
dia sinto-me descendo lentamente pelo funil de um ciclone silencioso que sempre
gira quando tento sair dele. Assim por mais que eu tente, não consigo sair dele.
Nem gritar, ou me imaginar fora dele. Receio que vocês tenham me perdido, já
que eu perdi a mim mesma. Mesmo assim, eu tenho sorte. Pois não conhecerei o
final mesmo quando este chegar. Assim, vocês sofrerão por mim, ninguém jamais
disse que a vida era justa.” ( Dylan Thomas)
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