A rotina traz a depressão, o
vazio e a tristeza, fracassando a capacidade de iniciativa e submergindo a
pessoa no marasmo do tédio e na desconfortável sensação de inutilidade.
Aproveita-se o tempo fugindo dela, rompendo com os hábitos, as mesmices, os
preconceitos; ganhar tempo é ganhar vida pela renovação.
Ao agir mecânica e rotineiramente, não se pensa no que se
faz, vive-se distraída e esquecidamente.
É necessário criar o hábito de pensar, aperfeiçoar o que se faz e colocar novas
atividades na vida. Não sejamos como Sísifo, o trágico herói mitológico
condenado a realizar por toda a eternidade um trabalho inútil e sem esperança.
Ele fora condenado pelos deuses a empurrar sem descanso uma enorme pedra até o
alto de uma montanha de onde ela rolaria encosta abaixo para que o absurdo
herói descesse em seguida até o sopé e empurrasse novamente o rochedo até o
alto, indefinidamente, numa repetição monótona através dos tempos. O inferno de
Sísifo é a trágica condenação de estar empregado em algo que a nada leva. Ele
amara a vida e menosprezara os deuses e a morte. Por tal insolência fora
castigado a realizar aquele trabalho inútil. Sua rebeldia poderia ter sido
motivo de admiração pela insurgência contra o espectro da morte e o poder dos
deuses, mas foi castigado por uma justiça duvidosa.
Não seríamos todos Sísifos? Não estaríamos empenhados num grande esforço
e sacrifício que poderiam não estar levando a nada como o sisifismo mitológico?
Talvez nosso trabalho seja uma condenação e a vida uma tragédia rotineira, e
Sísifo, num lampejo de consciência, tivesse reconhecido o peso de seu
infortúnio representado pelo enorme rochedo da materialidade e da inutilidade;
considerado que se assemelhara ao rochedo, e que seria necessário reverter
aquele processo monótono, mudando a rotina absurda de dias, anos e séculos.
Preso, no entanto, à mitologia, criado que fora para cumprir aquela finalidade
pedagógica, nada pudera fazer. Ele prosseguiu no seu tormento para que
pudéssemos superar o nosso. É um herói trágico e absurdo.
Para o homem existe a
possibilidade de modificar a rotina tediosa e lançar ao longe o rochedo das
misérias, da ignorância e da inconsciência; deixar de repetir os dias, os anos
e as vidas sem variação alguma para construir um destino renovado. A pedra de
Sísifo tem hoje outros nomes e é inútil o trabalho de erguê-la. Deixemos que o
rochedo role ladeira abaixo e que ele prossiga como mito. Pensemos que
poderemos superar aquele trabalho rotineiro modificando a vida, o presente, o
passado e o futuro. Transformemos a vida renovando e aperfeiçoando os
pensamentos, criando novas atividades e superando as condições pessoais.
Tudo deve mudar na vida, e mudar
para melhor. Se não se pode alterar os desígnios de uma Vontade superior que
determina um tempo para ela, a trajetória dos astros e o ritmo do Universo, há
um amplo espaço de liberdade para se movimentar, desde os obscuros níveis da
ignorância até as alturas inefáveis do conhecimento. Para mudar é necessário
querer. E saber aonde se quer chegar. Querer é poder, literalmente, pode nada
significar. Saber é poder.(Nagib Anderáos Neto).
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