sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

LUTANDO CONTRA A DEPRESSÃO

Lutando contra a depressão

Recentes pesquisas relacionam senilidade com vida rotineira. Fazer tudo sempre da mesma maneira entorpece a livre manifestação da inteligência tornando os movimentos mentais muito lentos pelo desuso, da mesma forma que o sedentarismo leva às restrições físicas. A mente, como o corpo, deve exercitar-se fugindo da rotina, criando novas atividades.

A rotina traz a depressão, o vazio e a tristeza, fracassando a capacidade de iniciativa e submergindo a pessoa no marasmo do tédio e na desconfortável sensação de inutilidade. Aproveita-se o tempo fugindo dela, rompendo com os hábitos, as mesmices, os preconceitos; ganhar tempo é ganhar vida pela renovação.

Ao agir mecânica  e rotineiramente, não se pensa no que se faz,  vive-se distraída e esquecidamente. É necessário criar o hábito de pensar, aperfeiçoar o que se faz e colocar novas atividades na vida. Não sejamos como Sísifo, o trágico herói mitológico condenado a realizar por toda a eternidade um trabalho inútil e sem esperança. Ele fora condenado pelos deuses a empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha de onde ela rolaria encosta abaixo para que o absurdo herói descesse em seguida até o sopé e empurrasse novamente o rochedo até o alto, indefinidamente, numa repetição monótona através dos tempos. O inferno de Sísifo é a trágica condenação de estar empregado em algo que a nada leva. Ele amara a vida e menosprezara os deuses e a morte. Por tal insolência fora castigado a realizar aquele trabalho inútil. Sua rebeldia poderia ter sido motivo de admiração pela insurgência contra o espectro da morte e o poder dos deuses, mas foi castigado por uma justiça duvidosa.

Não seríamos todos Sísifos?  Não estaríamos empenhados num grande esforço e sacrifício que poderiam não estar levando a nada como o sisifismo mitológico? Talvez nosso trabalho seja uma condenação e a vida uma tragédia rotineira, e Sísifo, num lampejo de consciência, tivesse reconhecido o peso de seu infortúnio representado pelo enorme rochedo da materialidade e da inutilidade; considerado que se assemelhara ao rochedo, e que seria necessário reverter aquele processo monótono, mudando a rotina absurda de dias, anos e séculos. Preso, no entanto, à mitologia, criado que fora para cumprir aquela finalidade pedagógica, nada pudera fazer. Ele prosseguiu no seu tormento para que pudéssemos superar o nosso. É um herói trágico e absurdo.

Para o homem existe a possibilidade de modificar a rotina tediosa e lançar ao longe o rochedo das misérias, da ignorância e da inconsciência; deixar de repetir os dias, os anos e as vidas sem variação alguma para construir um destino renovado. A pedra de Sísifo tem hoje outros nomes e é inútil o trabalho de erguê-la. Deixemos que o rochedo role ladeira abaixo e que ele prossiga como mito. Pensemos que poderemos superar aquele trabalho rotineiro modificando a vida, o presente, o passado e o futuro. Transformemos a vida renovando e aperfeiçoando os pensamentos, criando novas atividades e superando as condições pessoais.

Tudo deve mudar na vida, e mudar para melhor. Se não se pode alterar os desígnios de uma Vontade superior que determina um tempo para ela, a trajetória dos astros e o ritmo do Universo, há um amplo espaço de liberdade para se movimentar, desde os obscuros níveis da ignorância até as alturas inefáveis do conhecimento. Para mudar é necessário querer. E saber aonde se quer chegar. Querer é poder, literalmente, pode nada significar. Saber é poder.(Nagib Anderáos Neto).

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