domingo, 2 de fevereiro de 2014

ALZHEIMER

A medicina busca respostas para a deterioração mental que atinge parte dos idosos. Vai-se enfrentando o mal que se amplia, em vista do envelhecimento da população, sem compreendê-lo, estudando a doença aos sustos, como se fosse possível aprender a pilotar lendo um manual em pleno ar. O desapontamento de um filho ao ver a mãe ou pai ir embora mentalmente enquanto seu corpo permanece vivo é uma dor sem tamanho. Embora muitos façam graça ou até tentem rir quando um idoso doente fala uma impropriedade, a dor está presente, e é intensa. Um velho pode olhar a sua imagem no espelho, ao ser levado para o banho e falar algo como: “quem é aquele velho que está me olhando ali?”. Dói demais!

A demência é o declínio geral da cognição com prejuízo social, funcional e profissional, e está se disseminando em todo o mundo, sendo um imenso problema social e de altos custos. À medida que a doença vai avançando, sente-se como se fosse feito um adeus sem despedida. Simplesmente a pessoa querida se vai, enquanto as finanças da família se deterioram, pois além do doente precisar de medicação, parar de produzir, ainda prende alguém da família para cuidar dele, ou precisa pagar quem cuide. Entre os vários tipos de demências, o mais comum é o Mal de Alzheimer, descrito em 1906 e tendo suas bases histológicas firmadas em 1909 pelo neuropatologista alemão Alois Alzheimer. A segunda causa mais comum é a de origem vascular, sendo que podem coexistir. Como as mulheres têm vivido mais em todo o mundo, o Mal de Alzheimer parece ser mais comum nelas, e a vascular neles.

A perda da memória, inicialmente recente, e depois toda ela, e da linguagem, seguida da incapacidade de planejar, de se orientar no tempo e espaço, deMara-alzheimer-cuidar 2 cuidar de si, com perdas motoras, e tendência a piora do quadro, caracteriza esse mal, que é progressivo e tende a durar de oito a dez anos, até levar a morte, frequentemente por pneumonia. Trata-se de uma doença degenerativa com atrofia cerebral acentuada das áreas da memória, fala e motora. Nas diversas fases que vão se instalando, a frustração maior é quando a pessoa passa a desconhecer os familiares. Aos poucos vão se perdendo a semântica, o controle fecal e urinário, e a autocrítica. Pode haver dificuldade de deglutição.

Nos casos de base genética pode se manifestar de forma mais precoce, antes dos 50 anos, sendo que nos outros casos é mais comum surgir após os 65 anos de idade. Os custos da velhice estão assombrando o mundo e exigindo a preparação de pessoas para cuidar do idoso dependente. É preciso estar preparado para tomar conta de uma pessoa que pode não reconhecer, por impossibilidade, os esforços de quem cuida dele. Cada evolução é única, podendo haver bom vocabulário em alguém que já não se locomove só, ou perda global da memória em alguém que tenha perdido totalmente a sua capacidade de se comunicar, mas que anda com desenvoltura.

Mara-alzheimer-cerebro atrofiado
A família angustiada, que vê seu ente querido transformar-se, também precisa de tratamento, assim, além de cursos, o cuidador precisa de apoio psicológico para os duros dias que virão. A perda da paciência é comum, em vista de o portador do Mal de Alzheimer repetir dezenas de vezes a mesma pergunta, enquanto vai perdendo suas capacidades intelectuais, esquecendo até de que tenha terminado de almoçar, e peça comida novamente.

Os filhos costumam esconder do doente o nome do seu mal, talvez para evitar impressioná-lo, ao pensar que perderá totalmente a memória. E, ainda que não haja como deter a doença, os tratamentos propostos tentam atrasar sua evolução. A cada dia, mirabolantes buscas são feitas a procura de caminhos. Remédios para uma coisa são usados para outra, sendo que alguns doentes têm a sua doença retardada, enquanto em outros não há efeito algum.

Os neurônios juntam a proteína beta-amilóide em profusão, substância tóxica para eles, e vão dando nós emMara-alzheimer-cuidar 1 suas conexões, causando a morte dessas células, enquanto o cérebro reduz de tamanho, com atrofia preferencial do hipocampo (emoções, aprendizado e memória), e das áreas parietal, occipital e frontal. Junto pode haver alterações isquêmicas, com deterioração da circulação cerebral. Essas alterações levam a progressiva incapacidade para o convívio social e de fixar algo novo.

Mara-alzheimer-cuidar 4Observou-se que a maior incidência do Mal de Alzheimer se dá entre europeus, nos mais velhos e naqueles que não frequentaram a escola (zona rural). Dez por cento dos diagnósticos do Mal de Alzheimer estão equivocados. É preciso seguir os critérios padronizados, para corrigir condutas e usar os medicamentos certos.

É natural que a decepção seja grande, dada a inutilidade do que é feito, sendo um desafio diário o enfrentamento da irritabilidade, agressividade, mudança de humor e de comportamento dos afetados. Os cuidados devem ser os mesmos que se tem com crianças, mas evitando-se fazer deles velhos infantis. A tentativa de segurar o tempo de progressão da doença, claro, é infrutífera, mas o andar das décadas, como noutras patologias, fará, quem sabe, encontrar a cura.

 O portador do Mal de Alzheimer vai se esquecer de quem você é, mas você não pode se esquecer de quem é ele, e mesmo sem haver um bom tratamento para esta doença, o doente sempre deverá ser bem tratado. (Mara Narciso)         
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