A
medicina busca respostas para a deterioração mental que atinge parte
dos idosos. Vai-se enfrentando o mal que se amplia, em vista do
envelhecimento da população, sem compreendê-lo, estudando a doença aos
sustos, como se fosse possível aprender a pilotar lendo um manual em
pleno ar. O desapontamento de um filho ao ver a mãe ou pai ir embora
mentalmente enquanto seu corpo permanece vivo é uma dor sem tamanho.
Embora muitos façam graça ou até tentem rir quando um idoso doente fala
uma impropriedade, a dor está presente, e é intensa. Um velho pode olhar
a sua imagem no espelho, ao ser levado para o banho e falar algo como:
“quem é aquele velho que está me olhando ali?”. Dói demais!
A
demência é o declínio geral da cognição com prejuízo social, funcional e
profissional, e está se disseminando em todo o mundo, sendo um imenso
problema social e de altos custos. À medida que a doença vai avançando,
sente-se como se fosse feito um adeus sem despedida. Simplesmente a
pessoa querida se vai, enquanto as finanças da família se deterioram,
pois além do doente precisar de medicação, parar de produzir, ainda
prende alguém da família para cuidar dele, ou precisa pagar quem cuide.
Entre os vários tipos de demências, o mais comum é o Mal de Alzheimer,
descrito em 1906 e tendo suas bases histológicas firmadas em 1909 pelo
neuropatologista alemão Alois Alzheimer. A segunda causa mais comum é a
de origem vascular, sendo que podem coexistir. Como as mulheres têm
vivido mais em todo o mundo, o Mal de Alzheimer parece ser mais comum
nelas, e a vascular neles.
A
perda da memória, inicialmente recente, e depois toda ela, e da
linguagem, seguida da incapacidade de planejar, de se orientar no tempo e
espaço, de
cuidar de si, com perdas motoras, e tendência a piora do quadro,
caracteriza esse mal, que é progressivo e tende a durar de oito a dez
anos, até levar a morte, frequentemente por pneumonia. Trata-se de uma
doença degenerativa com atrofia cerebral acentuada das áreas da memória,
fala e motora. Nas diversas fases que vão se instalando, a frustração
maior é quando a pessoa passa a desconhecer os familiares. Aos poucos
vão se perdendo a semântica, o controle fecal e urinário, e a
autocrítica. Pode haver dificuldade de deglutição.
Nos
casos de base genética pode se manifestar de forma mais precoce, antes
dos 50 anos, sendo que nos outros casos é mais comum surgir após os 65
anos de idade. Os custos da velhice estão assombrando o mundo e exigindo
a preparação de pessoas para cuidar do idoso dependente. É preciso
estar preparado para tomar conta de uma pessoa que pode não reconhecer,
por impossibilidade, os esforços de quem cuida dele. Cada evolução é
única, podendo haver bom vocabulário em alguém que já não se locomove
só, ou perda global da memória em alguém que tenha perdido totalmente a
sua capacidade de se comunicar, mas que anda com desenvoltura.
A
família angustiada, que vê seu ente querido transformar-se, também
precisa de tratamento, assim, além de cursos, o cuidador precisa de
apoio psicológico para os duros dias que virão. A perda da paciência é
comum, em vista de o portador do Mal de Alzheimer repetir dezenas de
vezes a mesma pergunta, enquanto vai perdendo suas capacidades
intelectuais, esquecendo até de que tenha terminado de almoçar, e peça
comida novamente.
Os
filhos costumam esconder do doente o nome do seu mal, talvez para
evitar impressioná-lo, ao pensar que perderá totalmente a memória. E,
ainda que não haja como deter a doença, os tratamentos propostos tentam
atrasar sua evolução. A cada dia, mirabolantes buscas são feitas a
procura de caminhos. Remédios para uma coisa são usados para outra,
sendo que alguns doentes têm a sua doença retardada, enquanto em outros
não há efeito algum.
Os neurônios juntam a proteína beta-amilóide em profusão, substância tóxica para eles, e vão dando nós em
suas conexões, causando a morte dessas células, enquanto o cérebro
reduz de tamanho, com atrofia preferencial do hipocampo (emoções,
aprendizado e memória), e das áreas parietal, occipital e frontal. Junto
pode haver alterações isquêmicas, com deterioração da circulação
cerebral. Essas alterações levam a progressiva incapacidade para o
convívio social e de fixar algo novo.
Observou-se
que a maior incidência do Mal de Alzheimer se dá entre europeus, nos
mais velhos e naqueles que não frequentaram a escola (zona rural). Dez
por cento dos diagnósticos do Mal de Alzheimer estão equivocados. É
preciso seguir os critérios padronizados, para corrigir condutas e usar
os medicamentos certos.
É natural que a decepção seja grande, dada a inutilidade do que é feito, sendo um desafio diário o enfrentamento da irritabilidade, agressividade, mudança de humor e de comportamento dos afetados. Os cuidados devem ser os mesmos que se tem com crianças, mas evitando-se fazer deles velhos infantis. A tentativa de segurar o tempo de progressão da doença, claro, é infrutífera, mas o andar das décadas, como noutras patologias, fará, quem sabe, encontrar a cura.
O
portador do Mal de Alzheimer vai se esquecer de quem você é, mas você
não pode se esquecer de quem é ele, e mesmo sem haver um bom tratamento
para esta doença, o doente sempre deverá ser bem tratado. (Mara Narciso)
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