Dizem que saber envelhecer é o
mesmo que produzir uma obra de arte no dia-a-dia. E verdade, pois as coisas não
acontecem da noite para o dia. De forma natural, no decorrer da vida, vamos nos
encaixando a elas e modificando nosso modo de ser, mesmo sem querer. Entender
que a velhice está implícita na juventude, da mesma forma que a morte na vida,
é uma maneira de aceitar os aspectos opostos da existência. O segredo do saber
envelhecer é conservar a auto-estima, continuando a ser interessante para si
próprio e para os outros. Amar a vida, as pessoas, alimentar sonhos, ocupar a
mente com alguma atividade são excelentes formas de manter-se emocionalmente
equilibrado.
Dizem os geriatras que as pessoas
devem fazer exercícios físicos e mentais em todas as fases da vida, cuidando do
corpo com uma alimentação sadia, sem excessos, sem abusos, exercitando-se com
algum trabalho, mesmo quando aposentadas. Assim, é evidente que com a idade
deve haver uma evolução: mudança de hábitos, formas de se comportar, se vestir
etc.
É importante, ainda, cultivar as
amizades, acompanhar o crescimento e a mudança dos jovens, sem o isolamento
próprio de quem se acha fora de época. O elemento fundamental para isso é
manter o interesse pela vida e continuar amando. Raramente quem teve muitos
amigos, doou muito de si e se preocupou com os outros termina sua vida sozinho.
Por isso, buscar novas amizades, inclusive jovens, permite um contínuo
renovar-se. O mundo de hoje é muito agressivo e, se a pessoa não se coloca
dentro dele, acaba marginalizada por seu próprio modo de vida.
A maior sabedoria não está em
saber envelhecer, mas em como viver, de forma sábia, o dia-a-dia. É uma
decorrência natural, pois geralmente não sentimos que estamos envelhecendo e
não nos consideramos velhos quando atingimos uma idade mais madura.
O ser humano normal gosta de
viver, de participar, de trocar experiências, enriquecendo a si e aos outros. O
importante é não julgar que já não se pode curtir as coisas boas que a vida
oferece, porque a velhice chegou. À medida que a pessoa caminha em idade, não
apenas enriquece a cabeça, o espírito. De certa forma, construiu alguma coisa.
É hora, então, de curtir suas realizações. Como? Sendo o mais natural possível.
As pessoas excessivamente
vaidosas, quando envelhecem, não querem fazer mais nada, porque se julgam
velhas. Outras, por pequenos achaques físicos, se acham no fim. Há também as
que se refugiam atrás das dores para justificar seu afastamento social. Quem,
sem causa justificada, se deixa abater quando envelhece jamais viveu com garra
e entusiasmo a própria vida.
A preparação para a velhice
acontece ao longo da vida: vivendo. Ninguém pára para dizer que fez 50, 60 ou
70 anos. Os anos vão se sucedendo no nosso fazer, descobrir, curtir, viver. Na
terceira idade, a pessoa ama da mesma forma, só que valoriza bem mais a
qualidade do que a quantidade das coisas. Por isso é possível curtir tudo com
mais intensidade.
Da mesma forma que se educa uma
criança desde o dia em que nasce para ser honesta, equilibrada e trabalhadora,
educamo-nos diariamente para a velhice, conhecendo-nos melhor, usando como
bandeira as próprias qualidades, discernindo os atos pessoais, e tentando ver
onde estão as falhas para corrigi-las, sem lhes passar um spray. Ávida se
renova a cada dia, e é preciso acompanhá-la. Quem não se interessa por isso é
velho, mesmo que tenha 20 anos de idade.
A pessoa envelhece mantendo e
acentuando suas próprias características. Quem normalmente é neurastênico, será
um velho chato e insuportável, pois sem as censuras normais das outras idades,
mostrará com mais naturalidade sua irritabilidade. Ao contrário, quem é dócil,
manso, será um velhinho doce, que agrada a todo mundo. Basta observar as
pessoas que vivem ao nosso lado. Nesse particular, entra muito, também, a forma
como a pessoa aceitou as oportunidades de crescimento que a vida lhe ofereceu.
A idade madura e a velhice
evidenciam a experiência. Saliento a sabedoria de minha mãe ao dizer que ela
não é velha, é antiga. O antigo tem valor cultural, de conhecimento, experiência,
beleza, sabedoria, história. Assim deveriam ser considerados os nossos velhos,
por nós e pela sociedade.
( Maria Helena Brito Izzo )
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