"Desabafar mágoa e ser sincero consigo mesmo é sempre a
melhor saída para vive bem"
Muita gente fica remoendo a mágoa
e prefere reprimir a dor por medo de expor os sentimentos ou por não conseguir
colocar para fora toda a angústia que está ali martelando sem parar e acaba não
percebendo que estocar mágoas e sofrimentos faz mal para a saúde e para o
coração.
"Nosso organismo não foi feito para guardar mágoas e
sentimentos ruins. Tanto o corpo quanto a mente vão pesando na medida em que
eles se acumulam e uma hora a panela de pressão transborda na tentativa de
aliviar o sofrimento. É um processo natural", explica a psicóloga e
coordenadora do Setor de Gerenciamento de Qualidade de Vida da Unifesp, Denise
Diniz.
"O grande problema é que na hora da explosão, a pessoa
se sente tão sufocada que sai atirando para todos os lados magoando as pessoas
que estão ao seu redor sem perceber. É preciso tempo e paciência para aprender
a lidar com os sentimentos sem ferir as pessoas e nem a si mesmo",
continua.
Estocar mágoas e
sofrimentos faz mal para a saúde e para o coração.
Quem cala consente a dor
Os sentimentos ruins são frutos de expectativas frustradas.
Colocamos no outro ou naquela oportunidade a responsabilidade de resolver
nossos problemas como se eles não fossem consequências dos nossos próprios
atos, daí a mágoa e o ressentimento.
Na medida em que não extravasamos este sentimento e vamos
dando a ele uma conotação negativa maior do que de fato ele deveria ter,
sufocamos nossos limites emocionais e daí aparecem os sintomas físicos.
"Todos nós criamos expectativas sobre a vida e toleramos até certo limite
algumas frustrações. Quando elas extrapolam este limite, que é pessoal, e nos
fazem sofrer, significa que algo está em desequilíbrio e é preciso
resolver", explica Denise.
"O problema é que a maioria das pessoas acha que
resolver os ressentimentos é resolver com o outro aquilo que está pendente, o
que deve ser feito mesmo, porém, antes disso, é preciso entender o que te de
fato te fez mal e porque ganhou tamanha dimensão na sua vida para daí buscar o
equilíbrio", afirma a especialista da Unifesp.
mágoa
Por que não consigo expressar meus sentimentos?
Muita gente costuma guardar a mágoa e os sentimentos ruins
por não conseguir extravasar, daí vem à tristeza e a angústia. Isso acontece
porque temos temperamentos e limites diferentes fazendo com que alguns levem sem
traumas as decepções do dia a dia, enquanto outros guardem e fiquem remoendo as
dores.
"É algo muito pessoal a forma que cada um reage às
adversidades. Se você é tímido, reage de um jeito; se é inseguro, age de outra
maneira. O importante nesta questão é perceber que quem cria a conotação
negativa que gera a mágoa e o ressentimento somos nós. A pessoa pode até ter
errado com você, mas a intensidade disso na sua vida quem dá é você
mesmo", explica a psicóloga.
Sentimento reprimido = saúde em perigo
Segundo a psicóloga da Unifesp, a dor emocional se torna
física quando a intensidade que damos ao fato que nos magoa chega a interferir
na atividade cerebral de modo a dificultar o envio de estímulos nervosos
responsáveis pela execução de algumas funções de nosso organismo. "O
cérebro deixa de comandar alguma função e o corpo reage sinalizando onde está o
problema", explica.
"A gente se adapta as novas situações, isso é um
processo natural, porém, quando algo nos machuca a ponto de extrapolar nossos
limites, a dor emocional bloqueia alguma função física que já é propensa a ter
problemas ou intensifica os sintomas de alguma doença já existente",
explica Denise.
Para ela, os sintomas emocionais podem acometer três áreas
interdependentes das nossas vidas de modo a influenciar umas as outras de
acordo com a origem do problema emocional. "Quando a pessoa tem uma doença
que tem origem emocional, dificilmente consegue desempenhar com total
desenvoltura suas atividades sociais e começa a dar sinais físicos. É um conjunto
de fatores que se somam e vão se acumulando. Quando o corpo reage com sintomas
de alguma doença é porque a pessoa extrapolou seu limite emocional e o
organismo responde tentando eliminar a dor", explica.
mágoa
Sintomas que podem estar relacionados à dor reprimida:
-Físicos: úlcera, hipertensão, alergias, asma, estresse, e a
longo prazo, câncer.
-Psíquicos: irritabilidade, ansiedade, agressividade,
nervosismo.
-Sociais: queda de desempenho no trabalho, tendência ao
isolamento, apatia, conflitos domésticos, dentre outros.
Colocar em pratos limpos
É muito comum ouvirmos as pessoas dizendo que se temos um
problema com alguém é melhor resolver e conversar para não guardar mágoa porque
isso faz mal, porém, esta máxima nem sempre é a melhor opção para quem sofre
com problema.
De acordo com Denise Diniz nem sempre as pessoas conseguem
lidar com a dor que sentem. "Além disso, conversar com o outro que os
magoou significa trair seus valores morais e isso as maltrata mais do que a
mágoa ou a dor reprimida", explica ela. Nestes casos, é melhor trabalhar
para que ela supere a dor e siga em frente.
Extravasar sim! Magoar não
Uma hora você estoura! Pois é, isso não é o problema, o
grave é quando você o faz e desconta nos outros as dores que são suas, magoando
as pessoas ao seu redor. Para evitar que isso aconteça e te ajudar a
extravasar, a psicóloga dá algumas dicas:
1.Aceite que algo lhe incomoda sem medo de expor seus
sentimentos, assim você não intensifica a dor remoendo mágoa dos outros.
2. Detecte o que de fato lhe fez mal para não sair atirando
para todos os lados.
3. Não crie expectativas em relação ao outro para não se
decepcionar depois. "Só você pode curar sua dor, não adianta achar que o
outro vai te livrar do sofrimento", diz Denise.
4.Busque em você e na sua vida todos os recursos que podem
te ajudar a superar esta dor: amigos, praticar esportes, terapia, entre outros.
"Se pergunte quais destas possibilidades fariam mais efeito na hora de
trabalhar a dor que está te maltratando e corra atrás dela. Nem sempre o que
lhe indicam é o melhor para você e, às vezes, uma conversa franca é mais útil
do que uma consulta", explica.
5-Trabalhe sua autoestima: "As pessoas te maltratam se
você deixa que isso aconteça. É você quem escolhe as relações que quer
estabelecer com as pessoas, por isso, em vez de culpar o outro pelo seu
sofrimento, olhe para si mesmo e se ajude", afirma Denise.
6-Perdoe. A psicóloga lembra que perdoar não é esquecer o
que te fez mal e sim superar e se libertar daquele sentimento ruim: "só
nos curamos quando viramos a página e, para isso, é preciso disposição e
paciência. Não dá para achar que superou só porque você quer se sentir assim,
tem que ser sincero para ser verdadeiro".
(Por Natalia do Vale)
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