quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

CUIDANDO DE IDOSOS COM ALZHEIMER: A VIVÊNCIA DE CUIDADORES FAMILIARES


Com a evolução da doença, aumenta a dependência dos idosos. As alterações de comportamento por parte do idoso causam grande impacto emocional nos cuidadores. Vivenciar a situação de cuidar de um idoso com Alzheimer é uma experiência que depende da fase da doença, da rede de suporte familiar e da história de cada família.

A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência no idoso. É consenso na literatura que a Doença de Alzheimer (DA) é a responsável por 50 a 60% dos casos de demência na população de idosos. Trata-se de uma doença neurodegenerativa que se inicia geralmente com a perda de memória, acompanhada de outros sintomas cognitivos como afasia, apraxia e agnosia.

A demência, considerada uma síndrome, caracteriza-se pelo comprometimento cognitivo e que traz como conseqüência a perda da capacidade funcional, aumentando a demanda por cuidados, que geralmente são cada vez mais complexos. Causa um ônus crescente sobre o idoso e a família e um enorme custo financeiro para o sistema de saúde.

A Doença de Alzheimer é apontada pelo relatório sobre a saúde mental no mundo, como um dos transtornos mentais de grande impacto negativo para a qualidade de vida dos indivíduos e famílias e que traz forte impacto econômico direto e indireto nas sociedades, incluindo o custo dos serviços.

A presença de um parente com Doença de Alzheimer no meio familiar é uma situação potencialmente conflituosa e impulsionadora de tensões constantes, afetando diretamente o cuidador e a dinâmica familiar.

O cuidar de um idoso com doença de Alzheimer acarreta sobrecarga física e emocional à vida do cuidador, associadas ao comprometimento das atividades da vida diária do idoso, principalmente no estágio grave.

A sobrecarga emocional vivenciada pelo cuidador pode interferir no cuidado prestado ao paciente, sendo inclusive fator preditor de maior número de hospitalizações entre os pacientes, aumento de institucionalizações e maior mortalidade entre os cuidadores.

Cuidar de um familiar com Alzheimer por vários anos é um processo que traz como conseqüência o desgaste físico e emocional para o cuidador principal e para toda a família. Trata- se de uma experiência muito particular que provavelmente depende da história e da dinâmica de cada família.

Vivenciar o cuidado ao idoso com Alzheimer é um processo longo e que se diferencia em cada fase da doença. No início ela é, para a maioria dos cuidadores familiares, confundida com o próprio processo de envelhecimento. As alterações de memória vão se tornando cada vez mais evidentes. A família passa a perceber que se trata de um processo crônico, degenerativo e que tende a piorar. Na fase intermediária da doença, as alterações de comportamento apresentadas pelos idosos causam grande impacto emocional aos cuidadores. Com a evolução do quadro, aumenta a dificuldade no desempenho das atividades de vida diária, e aumenta consequentemente a dependência dos idosos. 

Cuidar de idosos dependentes pode causar impacto emocional e uma sobrecarga para os cuidadores. Esse impacto ou sobrecarga é definido como problemas físicos, psicológicos ou emocionais, sociais e financeiros que familiares apresentam como conseqüência de cuidar de idosos doentes Relatos de estresse, afastamento da vida social e do trabalho, além dos transtornos físicos ou psicológicos estão presentes no discurso dos cuidadores.

Analisando as relações familiares, observamos que todos os membros da família são afetados pela D.A., por mais distantes que estejam geograficamente, devido a enorme demanda de reestruturação e cuidado que o portador despende ao longo do desenvolvimento da doença. O cuidador, muitas vezes, tem que lidar com o medo, a insegurança, a intromissão e a rejeição vinda de outros membros da família que, de uma forma ou de outra estão envolvidos com o portador. O relacionamento conjugal entra em desequilíbrio. A relação com os filhos e netos fica mais vulnerável a discussões.

A impaciência e a intolerância diante de atitudes incoerentes do doente são algumas das dificuldades mais comuns que observamos na dinâmica destas famílias. Quando o doente é um dos cônjuges, o outro geralmente se encontra na terceira idade também, neste caso a situação é mais complexa, pois o cuidador terá que lidar com seu próprio envelhecimento, muitas vezes, antecipando o adoecimento e a dependência devido o stress. Entre o casal, questões mal resolvidas ressurgem nos momentos de conflito e desapontamento. Ressentimentos, frustrações e sentimento de culpa que não foram elaboradas no passado passam a ocupar um lugar no presente, porém, o doente não terá mais recursos para resgatar estes momentos, ao contrário, ele necessitará de atenção e cuidado e estes sentimentos precisarão encontrar outro espaço para a expressão.

Entre os filhos, os primeiros impasses consistem na decisão sobre institucionalizar o doente ou mantê-lo em casa e quem irá se responsabilizar pelos cuidados. Em relação à internação, há uma crença de que ao fazê-lo, alguns filhos acham que estarão abandonando ou mesmo punindo o doente. Porém, mesmo optando por colocá-lo numa clínica especializada, estes precisarão de supervisão e cuidado. Em muitos casos, é necessária a presença de um cuidador particular para viabilizar maior atenção aos sintomas associados ao D.A. 

Por outro lado, mantê-lo em casa, demanda que um dos filhos assuma o cuidado e, com as complicações que a doença acarreta, o cuidador entra em conflito com os irmãos por não suportar o cansaço e o sofrimento. Questionamentos sobre a expectativa de vida, medo de desenvolver a doença, são as preocupações mais freqüentes que notamos no relato dos familiares. A angústia ao sentir a perda do ente querido a cada dia mobiliza sentimentos intensos que, se não compartilhados, podem levar o cuidador ao adoecimento. Outra questão que percebemos no discurso dos cuidadores é sobre a inversão de papeis. Sabemos que num certo momento o portador de D.A. estará totalmente dependente dos cuidados de outra pessoa. Aquele que um dia foi provedor, o cuidador dos filhos, agora necessita de cuidados.

Na Doença de Alzheimer, também acompanhamos cuidadores e familiares que conseguem se reestruturar após o impacto do diagnóstico. Desta forma, com o alívio da angústia, transformam o convívio com a doença em aprendizado e uma última chance de aproveitarem cada momento com o portador. Esta mudança reflete também nas relações familiares favorecendo a compreensão e participação dos demais membros. Nos grupos de apoio, os participantes compartilham, aprendem e discutem situações que lhe acarretaram angústia e sofrimento. Acreditamos que é esta a força que une e potencializa os recursos de cada participante, na incessante luta com a complexidade da Doença de Alzheimer.
http://www.fen.ufg.br/revista/

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