“Aquele
que envelhece e que segue atentamente esse processo poderá observar como,
apesar de as forças falharem e as potencialidades deixarem de ser as que eram,
a vida pode, até bastante tarde, ano após ano e até ao fim, ainda ser capaz de
aumentar e multiplicar a interminável rede das suas relações e
interdependências e como, desde que a memória se mantenha desperta, nada
daquilo que é transitório e já se passou se perde.” (Hermann Hesse).
A
população brasileira envelhece e com isso aumenta a demanda por pessoas
capacitadas para exercer a função de cuidador de idosos, por esse motivo vamos
falar um pouco do papel deste profissional em instituições asilares e nas
famílias. Cuidar é um termo que logo nos remete a dedicação, cautela, atenção,
carinho e responsabilidade para com o outro, portanto é um ato de amor.
De
acordo com a classificação brasileira de ocupações, o cuidador é alguém que
“cuida a partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou
responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene
pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida” (Guia
Prático do Cuidador, 2008). Deste modo, não é apenas cuidar da saúde física e
das necessidades básicas, ser cuidador implica estar atento às necessidades,
inclusive emocionais, daqueles que, em muitos casos, mal podem se comunicar. É
estar disponível e atento a falas e gestos, é aceitar o outro como ele é com
suas dores e limitações.
Não
são todas as pessoas aptas para desempenhar o papel de cuidador. Um bom
cuidador não faz para o idoso, faz com o idoso, e está sempre pronto para
identificar o que ele consegue realizar sozinho em matéria de autocuidado, isso
é importante para não atropelar o idoso e para estimular a sua autonomia e
autoestima. Ser carinhoso é desejável, pessoas idosas se beneficiam de afeto em
forma de contato físico, mas não se deve esquecer que estamos diante de uma
pessoa idosa e não de uma criança, a “infantilização” provoca dependência,
regressão e desqualifica o idoso, preconceitos como: “depois de velho voltamos
a ser crianças” devem ser desfeitos, os idosos são pessoas adultas como nós,
porém um pouco mais envelhecidas. É importante também incluir a pessoa idosa
nas conversas, não é porque ele possui limitações físicas ou mentais que não
possua nenhuma compreensão.
Algumas
das funções dos cuidadores de idosos de acordo com o Guia Práttico do Cuidador
distribuído pelo Ministério da Saúde são: atuar como elo entre a pessoa
cuidada, a família e a equipe de saúde; escutar, estar atento e ser solidário
com a pessoa cuidada; ajudar nos cuidados de higiene; estimular e ajudar na
alimentação; ajudar na locomoção e atividades físicas, tais como: andar, tomar
sol e exercícios físicos; estimular atividades de lazer e ocupacionais;
realizar mudanças de posição na cama e na cadeira, e massagens de conforto;
administrar as medicações, conforme a prescrição e orientação da equipe de
saúde; comunicar à equipe de saúde sobre mudanças no estado de saúde da pessoa
cuidada; além de outras situações que se fizerem necessárias para a melhoria da
qualidade de vida e recuperação da saúde dessa pessoa.
Exercer
a função de cuidador pode fazer emergir sentimentos contraditórios decorrentes
da relação do cuidador com a pessoa cuidada como, por exemplo: raiva, culpa,
cansaço, estresse, irritação, tristeza, medo da morte e da invalidez. È
importante que o cuidador procure aceitar e entender seus sentimentos para que
então possa se automonitorar, no sentido de não deixar que interfiram negativamente
no serviço prestado.
Algumas
situações podem surgir e dificultar o trabalho do cuidador, quando um idoso se
recusa a comer ou a tomar banho, por exemplo, neste caso é importante saber
lidar com frustrações e procurar entender o que leva o idoso a este
comportamento, também é preciso estar disposto à negociação como mesmo.
“O
“não”, “não quero” ou “não posso”, pode indicar várias coisas, como por
exemplo: não quero ou não gosto de como isso é feito, ou agora não quero, vamos
deixar para depois? O cuidador precisa ir aprendendo a entender o que essas
respostas significam e quando se sentir impotente ou desanimado, diante de uma
resposta negativa, é bom conversar com a pessoa, com a família, com a equipe de
saúde. Também é importante conversar com outros cuidadores para trocar
experiências e buscar alternativas para resolver essas questões.”
Geralmente,
nas famílias, a responsabilidade para com o idoso que necessita de cuidado
recai sobre um dos membros, ocorrem mudanças na dinâmica familiar que podem
provocar desentendimentos, para evitar o estresse e cansaço é importante que
outras pessoas da família participem deste processo. O cuidador sobrecarregado
pode sofrer com o cansaço físico, com a depressão, o abandono do trabalho e com
alterações de sua vida conjugal e familiar, ele necessita de tempo para se
cuidar e por esse motivo precisa contar com a ajuda de outras pessoas.
Com
relação aos dispositivos sociais para o auxilio do cuidador de idosos, estes
podem promover e participar de grupos com outros cuidadores para a troca de
experiências. Os indivíduos ou as famílias que estão em situação de risco ou
vulnerabilidade social devem contar com o Centro de Referência de Assistência
Social (CRAS), aqueles que tiveram seus direitos violados como: ocorrência de
abandono, maus tratos físicos, e/ou psíquicos, abuso sexual, pessoas em
situação de rua, dentre outras, devem contar com o CREAS ( Centro de Referência
Especializado de Assistência Social) que auxilia na eliminação das infrações aos
direitos humanos e busca ampliar a autonomia e a capacidade de enfrentamento
das pessoas que procuram o serviço.
As
pessoas idosas que não possuem rendimento mínimo para arcar com a sua
sobrevivência possuem o direito a Proteção Social Básica, isto é, um salário
mínimo por mês a ser requerido nas agências do INSS, possui esse direito às
pessoas 65 anos ou mais e pessoas com deficiência, quem não tem direito à
previdência social, pessoa com deficiência que não pode trabalhar e levar uma
vida independente e renda familiar inferior a 1/4 do salário mínimo. Além
disso, o idoso não necessita de intermediário para requerer e receber o
benefício e é importante ressaltar que tanto as pessoas idosas quanto os
cuidadores devem procurar conhecer o Estatuto do Idoso que foi instituído em
2003 e regula os direitos das pessoas com mais de 60 anos.
http://sociedaderacionalista.org/
Nenhum comentário:
Postar um comentário