Diante da condição do
envelhecimento humano acompanha o medo de ser inútil, de se tornar um peso, de
viver abandonado, na solidão das ausências daqueles que amamos. Nada mais
decepcionante do que chegar ao fim e ter a sensação de que não valeu a pena ter
vivido. A vida é um jogo de amor e dor.
Ninguém vive sem amar. Amando
fazemos da vida uma constante superação do humano, inclusive da dor, que amada
e assumida como própria, se transforma em amor. Como se preparar para viver a
complicada sensação de inutilidade? Não existe receita pronta e sim caminhos
que durante o passar dos anos vamos aprendendo a percorrer. Nesta escola da
vida nem sempre estamos preparados para aprender as lições que a inutilidade
nos prepara.
É difícil aceitar o delicado
tempo da inutilidade. É preciso viver com dignidade esse terreno perigoso, mas
necessário de sentir-se inútil. Uma graça a pedir a Deus é que, quando chegar a
velhice e perdermos a utilidade, que tenhamos alguém ao nosso lado que nos ame
de verdade.
Só será capaz de amar aquele
que depois da inutilidade descobrir o valor da velhice. Nunca seremos
valorizados pelo que fazemos e sim pelos que somos. Ninguém, mesmo que tenha
construído os mais belos edifícios, escrito as mais belas obras literárias, ter
deixado o acervo cultural mais importante, vai ser amado pelo que fez e sim por
aquilo que é. O valor não se conquista, ele existe, e por ele vale apena viver.
Quanto tempo perdido atrás de
coisas, de superficialidades, de aparências e máscaras acobertando o que de
mais belo possuímos: a capacidade de amar, mesmo na inutilidade da vida. “A
cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor
que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada
arrisca” (Carlos Drumond de Andrade).
De que adianta ganhar o
mundo, quando perdemos a eternidade. O eterno só existirá se formos abertos em
acolher no difícil terreno da vida, o valor e não utilidade. Será digno da eternidade
aquele que for capaz de dizer: “Você não serve para nada, mas eu não sei viver
sem você” (Padre Fábio de Melo).
O Mestre Jesus em tom de
despedida entrega uma nova lei, resumo de todas as leis: “Eu dou a vocês um
mandamento novo: amem-se uns aos outros. Assim como eu amei a vocês, vocês
devem amar uns aos outros. Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos
reconhecerão que vocês são meus discípulos” (Jo 13,34-35).
Queira Deus de que ao chegar
ao fim, sem ser útil e completamente alheio do momento presente, tenha alguém
que seja capaz de nos olhar e dizer: Eu te amo, conte comigo, não sei viver sem
você. Envelhecer sim, mas nunca perder o valor.
(Dom Anuar Battisti - Arcebispo de Maringá (PR)
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