O
envelhecimento faz parte do curso natural da vida. Ele começa com a fecundação
e termina no ato da morte. Mesmo que adiado, com tratamento medicamentoso, o
seu processo é irreversível. Fazem parte desta última etapa do desenvolvimento
humano as profundas alterações no sistema nervoso, musculoesquelético e
cardiorrespiratório. Também é percebível o comprometimento das funções motoras,
afetivas, visuais e cognitivas do organismo. Atividades que eram feitas com
facilidade, agora são dificílimas ou impossíveis de se realizar.
O
mais triste não é tanto a perda do equilíbrio ou da coordenação. Isso se
resolve com exercício físico e qualidade de vida. O que espanta é o preconceito
de uma sociedade que valoriza, em demasia, a saúde e a força física,
menosprezando os mais velhos, aos considerá-los doentes, quando não, inválidos.
Quem
associa a velhice à inutilidade empurra a vida a um estado de vazio, como se ao
idoso só competisse aguardar a morte. É por este motivo que muitos sentem
pânico e fazem o impossível para não envelhecer. Realmente, não conseguem
enxergar, na terceira idade, um período de síntese e de acúmulo de sabedoria.
Quem olha para o idoso com vergonha também contribui com o preconceito. Certas
pessoas ainda têm a lamentável postura de conceber a juventude como a fase mais
gloriosa da vida, sem entender que ao ser ultrapassada, ela não passa de um
simples mito. A melhor fase é sempre a que estamos vivendo.
Enfocar
o preconceito que subjuga os idosos à reclusão parece muito evidente. Só que a
obviedade sai de cena no exato momento em que aparece a base que o sustenta. Em
seu fundamento está uma modalidade, pouco percebível, pronta a cultuar o corpo
belo e saudável como garantias de vida plena. Muitos não percebem o que têm
feito ao esquecer a dimensão de cuidado para assumirem a obstinação pelo físico
perfeito. A existência fica autocentrada, enquanto o corpo transforma-se em um
ídolo sem alma.
Além
do preconceito, os idosos também sofrem com a solidão. Se antes a casa era
cheia, acontece, cá, de ficar vazia, com os filhos e netos se reunindo, dentro
do possível, aos fins de semana ou em ocasiões especiais, como por exemplo, em
datas comemorativas. A maioria dos idosos sente falta de conversar, de
partilhar suas experiências, de narrar fatos do passado, mesmo que repetidas
vezes. Não é tanto a fadiga ou o cansaço físico que causam sofrimento ao idoso,
mas a constatação de estarem sozinhos. Salva as exceções, é difícil ficar
confinado em asilos, aguardando por anos afins a visita de algum familiar. Os
que depreciam os idosos hoje se esquecem de que o serão amanhã.
Outro
fenômeno é a violência perpetrada contra os mais velhos. Há familiares que os
reverenciam, no entanto uma minoria ainda os agride, com extremos maus-tratos.
Pesquisa recente, realizada por discentes do Mestrado da Universidade Federal
de Goiás (UFG), indicam que, dessas agressões, 31,2% são geradas pelos filhos,
12,5% pelo esposo, 25% por vizinhos e os demais 31,2% por outros correlatados.
Sendo
que em outras sociedades o idoso é considerado o ‘guardião da herança
coletiva’, no Brasil, há uma ênfase exagerada na jovialidade. Para mudar tal
realidade, necessitamos, sim, defender que toda pessoa, na terceira idade, em
qualquer tempo e lugar, deve ser tratada como um sujeito de direitos sociais e
dotado de plena cidadania. Não pode ser confinado a uma vida de isolamento, sem
amigos ou proibido de exercer o turismo, ir ao baile, praticar esportes e
demais atividades de lazer.
Sendo
eles os símbolos da cultura de um povo, sejamos nós os seus especiais
cuidadores, amando seus corpos franzinos que acumulam tanta sabedoria. Sem
preconceito e discriminação, mas com afeto, protejamos aqueles que um dia
também foram como nós jovens. É tempo de deixar de estigmatizar os mais velhos.
Basta somente respeitá-los com a devida ternura, que os compreende por inteiro
e não na perspectiva barata da utilidade-inutilidade.
(Tayrone
Di Martino, jornalista e vereador de Goiânia)
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