sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

MAIS AMOR E MENOS PRECONCEITO AOS IDOSOS


O envelhecimento faz parte do curso natural da vida. Ele começa com a fecundação e termina no ato da morte. Mesmo que adiado, com tratamento medicamentoso, o seu processo é irreversível. Fazem parte desta última etapa do desenvolvimento humano as profundas alterações no sistema nervoso, musculoesquelético e cardiorrespiratório. Também é percebível o comprometimento das funções motoras, afetivas, visuais e cognitivas do organismo. Atividades que eram feitas com facilidade, agora são dificílimas ou impossíveis de se realizar.

O mais triste não é tanto a perda do equilíbrio ou da coordenação. Isso se resolve com exercício físico e qualidade de vida. O que espanta é o preconceito de uma sociedade que valoriza, em demasia, a saúde e a força física, menosprezando os mais velhos, aos considerá-los doentes, quando não, inválidos.

Quem associa a velhice à inutilidade empurra a vida a um estado de vazio, como se ao idoso só competisse aguardar a morte. É por este motivo que muitos sentem pânico e fazem o impossível para não envelhecer. Realmente, não conseguem enxergar, na terceira idade, um período de síntese e de acúmulo de sabedoria. Quem olha para o idoso com vergonha também contribui com o preconceito. Certas pessoas ainda têm a lamentável postura de conceber a juventude como a fase mais gloriosa da vida, sem entender que ao ser ultrapassada, ela não passa de um simples mito. A melhor fase é sempre a que estamos vivendo.

Enfocar o preconceito que subjuga os idosos à reclusão parece muito evidente. Só que a obviedade sai de cena no exato momento em que aparece a base que o sustenta. Em seu fundamento está uma modalidade, pouco percebível, pronta a cultuar o corpo belo e saudável como garantias de vida plena. Muitos não percebem o que têm feito ao esquecer a dimensão de cuidado para assumirem a obstinação pelo físico perfeito. A existência fica autocentrada, enquanto o corpo transforma-se em um ídolo sem alma.

Além do preconceito, os idosos também sofrem com a solidão. Se antes a casa era cheia, acontece, cá, de ficar vazia, com os filhos e netos se reunindo, dentro do possível, aos fins de semana ou em ocasiões especiais, como por exemplo, em datas comemorativas. A maioria dos idosos sente falta de conversar, de partilhar suas experiências, de narrar fatos do passado, mesmo que repetidas vezes. Não é tanto a fadiga ou o cansaço físico que causam sofrimento ao idoso, mas a constatação de estarem sozinhos. Salva as exceções, é difícil ficar confinado em asilos, aguardando por anos afins a visita de algum familiar. Os que depreciam os idosos hoje se esquecem de que o serão amanhã.

Outro fenômeno é a violência perpetrada contra os mais velhos. Há familiares que os reverenciam, no entanto uma minoria ainda os agride, com extremos maus-tratos. Pesquisa recente, realizada por discentes do Mestrado da Universidade Federal de Goiás (UFG), indicam que, dessas agressões, 31,2% são geradas pelos filhos, 12,5% pelo esposo, 25% por vizinhos e os demais 31,2% por outros correlatados.

Sendo que em outras sociedades o idoso é considerado o ‘guardião da herança coletiva’, no Brasil, há uma ênfase exagerada na jovialidade. Para mudar tal realidade, necessitamos, sim, defender que toda pessoa, na terceira idade, em qualquer tempo e lugar, deve ser tratada como um sujeito de direitos sociais e dotado de plena cidadania. Não pode ser confinado a uma vida de isolamento, sem amigos ou proibido de exercer o turismo, ir ao baile, praticar esportes e demais atividades de lazer.

Sendo eles os símbolos da cultura de um povo, sejamos nós os seus especiais cuidadores, amando seus corpos franzinos que acumulam tanta sabedoria. Sem preconceito e discriminação, mas com afeto, protejamos aqueles que um dia também foram como nós jovens. É tempo de deixar de estigmatizar os mais velhos. Basta somente respeitá-los com a devida ternura, que os compreende por inteiro e não na perspectiva barata da utilidade-inutilidade.

(Tayrone Di Martino, jornalista e vereador de Goiânia)

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