quarta-feira, 9 de abril de 2014

ABORDAGEM NÃO-FARMACOLÓGICA

Contribuir para o direito à dignidade, satisfação pessoal, participação, independência e cuidado
 

As abordagens não farmacológicas à demência abrangem as intervenções comportamentais, comunicacionais e criativas, o design de ambientes apropriados, e as ferramentas tecnológicas que cativam o interesse das pessoas com demência, facilitam a sua participação ativa na sociedade, melhoram o seu dia a dia e qualidade de vida e desenvolvem a sua criatividade. Em suma, estas intervenções contribuem para o seu direito à dignidade, satisfação pessoal, participação, independência e cuidado.

As abordagens não farmacológicas à demência estão gradualmente a ocupar um lugar de destaque nos sistemas de prestação de cuidados um pouco por todo o mundo, contribuindo claramente para promover a qualidade de vida e reduzindo visivelmente aquilo que habitualmente se designa por problemas comportamentais, independentemente do local onde a pessoa vive ou passa o seu dia – em casa, num centro de dia, num contexto residencial para a terceira idade, num lar, num hospital ou em qualquer outra instituição de prestação de cuidados.

No cerne dos tratamentos não farmacológicos está a neurociência que revela que o cérebro de uma pessoa com demência ainda tem muita atividade. Muitos dos 100 mil milhões de neurónios e das capacidades gravadas nos cérebros das pessoas continuam saudáveis e acessíveis durante vários anos de vida com demência. As intervenções não farmacológicas têm essas capacidades como ponto de partida. As intervenções sociais, criativas e do ambiente ativam as partes do cérebro que permitem às pessoas que vivem com Alzheimer terem uma vida mais participativa do que aquilo que se assume como possível. Estas intervenções concentram-se mais no interesse individual, capacidades, competências, insuficiências e desejos do que nas características demográficas gerais ou padronizadas que retiram a pessoa com demência da equação do cuidado a ser prestado.

O estigma da demência existente na maioria das sociedades atuais é o resultado das generalizações sobre este grupo de pessoas, não apenas porque o público utiliza os sintomas e condições gerais para rotular as pessoas com demência, mas também porque a própria pessoa utiliza essa informação para se definir a si própria – o que resulta num maior isolamento, depressão e apatia. Os rótulos têm frequentemente um efeito nefasto que ocorre quando as próprias práticas de prestação de cuidados conduzem ao aumento dos sintomas que o cuidador pretende reduzir.

As abordagens médicas e não farmacológicas são agentes indissociáveis no cuidado às pessoas que vivem com demência – não são antagónicas. Quando os profissionais de saúde sentem que devem fazer a distinção entre as pessoas que requerem uma intervenção médica e aquelas para as quais será mais indicado utilizar uma abordagem não farmacológica, eles forçam uma opção baseada nessa falsa distinção. Estes dois termos não são necessariamente opostos apesar de convencionalmente serem considerados como tal. Cada modelo tem o seu distinto valor e aplicação em cada condição de saúde e de doença: diabetes, VIH/SIDA, depressão, doença mental, obesidade, adição, entre outras. Estas doenças e condições são tratadas regularmente com intervenções tanto médicas como não farmacológicas – uma abordagem mais holística, autêntica e eficaz do que aplicar apenas um desses métodos – porque não fazer o mesmo no caso da demência?

As pessoas com diabetes são aconselhadas a praticar exercício regularmente de modo a reduzir os seus níveis de glicose e diminuir o seu consumo de açúcar e a prescrição de insulina. Para combater a atual epidemia da obesidade são prescritas mudanças no estilo de vida, restrições alimentares e exercício físico. Por outro lado, há quem opte pela cirurgia, ou ingestão de medicamentos. Todas essas abordagens aos cuidados de saúde podem ser vistas como parte de um modelo combinado de cuidados de saúde mais abrangente – mais holístico, autêntico e mais eficaz do que a aplicação de apenas uma abordagem.

É necessária a criação de um novo paradigma que inclua a aplicação de intervenções não farmacológicas na redução dos sintomas da doença de Alzheimer e demências relacionadas com os mínimos efeitos secundários possíveis, em vez de nos concentrarmos apenas na pesquisa de agentes farmacológicos para controlar esses sintomas e encontrar uma cura. Em vez de estabelecermos um confronto artificial entre os tratamentos farmacológicos e não farmacológicos, é possível definir um conceito abrangente que inclua e coordene ambas as perspetivas, o que provavelmente terá como consequência a melhoria dos resultados obtidos.

Um conceito com essas características suportará as necessidades humanas independentemente da doença ou tipo de sintomas em tratamento e aplicará todas as abordagens terapêuticas, incluindo o modelo farmacológico, desde que o enfoque seja a humanização do doente. Os impactos associados às intervenções não farmacológicas, de acordo com as investigações, estão tendencialmente associados à atitude, desempenho de funções, sentido de dignidade, propósito, utilidade, qualidade de vida, capacidade de fazer escolhas conscientes, entre outros. Alguns desses efeitos são requisitos necessários para se verificarem melhorias, enquanto outros são melhorias por si só, que contribuem para o aumento real da qualidade de vida das pessoas com demência. 

Os resultados mais visíveis de todas as intervenções – farmacológicas ou não – são aqueles que claramente representam os direitos e as necessidades básicas dos doentes: dignidade, independência, participação, satisfação pessoal e cuidado em todas as ações.
http://www.wisdem.org/

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