Contribuir para o direito à dignidade, satisfação pessoal, participação, independência e cuidado
As
abordagens não farmacológicas à demência abrangem as intervenções
comportamentais, comunicacionais e criativas, o design de ambientes
apropriados, e as ferramentas tecnológicas que cativam o interesse das
pessoas com demência, facilitam a sua participação ativa na sociedade,
melhoram o seu dia a dia e qualidade de vida e desenvolvem a sua
criatividade. Em suma, estas intervenções contribuem para o seu direito à
dignidade, satisfação pessoal, participação, independência e cuidado.
As
abordagens não farmacológicas à demência estão gradualmente a ocupar um
lugar de destaque nos sistemas de prestação de cuidados um pouco por
todo o mundo, contribuindo claramente para promover a qualidade de vida e
reduzindo visivelmente aquilo que habitualmente se designa por problemas comportamentais,
independentemente do local onde a pessoa vive ou passa o seu dia – em
casa, num centro de dia, num contexto residencial para a terceira idade,
num lar, num hospital ou em qualquer outra instituição de prestação de
cuidados.
No cerne dos tratamentos não farmacológicos está a
neurociência que revela que o cérebro de uma pessoa com demência ainda
tem muita atividade. Muitos dos 100 mil milhões de neurónios e das
capacidades gravadas nos cérebros das pessoas continuam saudáveis e
acessíveis durante vários anos de vida com demência. As intervenções não
farmacológicas têm essas capacidades como ponto de partida. As
intervenções sociais, criativas e do ambiente ativam as partes do
cérebro que permitem às pessoas que vivem com Alzheimer terem uma vida
mais participativa do que aquilo que se assume como possível. Estas
intervenções concentram-se mais no interesse individual, capacidades,
competências, insuficiências e desejos do que nas características
demográficas gerais ou padronizadas que retiram a pessoa com demência da
equação do cuidado a ser prestado.
O estigma da demência
existente na maioria das sociedades atuais é o resultado das
generalizações sobre este grupo de pessoas, não apenas porque o público
utiliza os sintomas e condições gerais para rotular as pessoas com
demência, mas também porque a própria pessoa utiliza essa informação
para se definir a si própria – o que resulta num maior isolamento,
depressão e apatia. Os rótulos têm frequentemente um efeito nefasto que
ocorre quando as próprias práticas de prestação de cuidados conduzem ao
aumento dos sintomas que o cuidador pretende reduzir.
As
abordagens médicas e não farmacológicas são agentes indissociáveis no
cuidado às pessoas que vivem com demência – não são antagónicas. Quando
os profissionais de saúde sentem que devem fazer a distinção entre as
pessoas que requerem uma intervenção médica e aquelas para as quais será
mais indicado utilizar uma abordagem não farmacológica, eles forçam uma
opção baseada nessa falsa distinção. Estes dois termos não são
necessariamente opostos apesar de convencionalmente serem considerados
como tal. Cada modelo tem o seu distinto valor e aplicação em cada
condição de saúde e de doença: diabetes, VIH/SIDA, depressão, doença
mental, obesidade, adição, entre outras. Estas doenças e condições são
tratadas regularmente com intervenções tanto médicas como não
farmacológicas – uma abordagem mais holística, autêntica e eficaz do que
aplicar apenas um desses métodos – porque não fazer o mesmo no caso da
demência?
As pessoas com diabetes são aconselhadas a praticar
exercício regularmente de modo a reduzir os seus níveis de glicose e
diminuir o seu consumo de açúcar e a prescrição de insulina. Para
combater a atual epidemia da obesidade são prescritas mudanças no estilo
de vida, restrições alimentares e exercício físico. Por outro lado, há
quem opte pela cirurgia, ou ingestão de medicamentos. Todas essas
abordagens aos cuidados de saúde podem ser vistas como parte de um
modelo combinado de cuidados de saúde mais abrangente – mais holístico,
autêntico e mais eficaz do que a aplicação de apenas uma abordagem.
É
necessária a criação de um novo paradigma que inclua a aplicação de
intervenções não farmacológicas na redução dos sintomas da doença de
Alzheimer e demências relacionadas com os mínimos efeitos secundários
possíveis, em vez de nos concentrarmos apenas na pesquisa de agentes
farmacológicos para controlar esses sintomas e encontrar uma cura. Em
vez de estabelecermos um confronto artificial entre os tratamentos
farmacológicos e não farmacológicos, é possível definir um conceito
abrangente que inclua e coordene ambas as perspetivas, o que
provavelmente terá como consequência a melhoria dos resultados obtidos.
Um
conceito com essas características suportará as necessidades humanas
independentemente da doença ou tipo de sintomas em tratamento e aplicará
todas as abordagens terapêuticas, incluindo o modelo farmacológico,
desde que o enfoque seja a humanização do doente. Os impactos associados
às intervenções não farmacológicas, de acordo com as investigações,
estão tendencialmente associados à atitude, desempenho de funções,
sentido de dignidade, propósito, utilidade, qualidade de vida,
capacidade de fazer escolhas conscientes, entre outros. Alguns desses
efeitos são requisitos necessários para se verificarem melhorias,
enquanto outros são melhorias por si só, que contribuem para o aumento
real da qualidade de vida das pessoas com demência.
Os resultados mais
visíveis de todas as intervenções – farmacológicas ou não – são aqueles
que claramente representam os direitos e as necessidades básicas dos
doentes: dignidade, independência, participação, satisfação pessoal e
cuidado em todas as ações.
http://www.wisdem.org/
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