Será
a velhice um "detalhe" biológico inevitável a todo ser
vivo? Uma metáfora que indica o final do túnel? Iluminado apenas
por uma luz tênue, ao contrário de uma fulgurante, intensa,
semelhante aos flashes pirotécnicos dos fogos de artifícios na
passagem de Ano Novo? Um indicativo de uma trajetória coroada pelos
feitos de um dever cumprido? Até mesmo sendo uma simples lembrança
de um quadro na parede desgastado pelo tempo? Ou seria uma carta há
muito guardada na gaveta do esquecimento?
A
ideia não é restringir o tema em questão, observando somente o
sentido da ocasião. Ao contrário, é tornar evidente e real, uma
recordação feliz muitas vezes compartilhada por momentos de
angústia, outras nem tanto. O que se pretende de fato é ampliar os
canais de entendimentos entre as várias fases e vertentes da
longevidade humana. Fecundando essencialmente à vida e seus
benefícios. Através desse assunto, você tomará o trem do
meio-dia, numa viagem de reflexão no tempo: Destino, a velhice.
A
velhice não é mais que um estágio definitivo (?) da vida terrena
que chega a todos. Para alguns, a velhice é ceifada com antecedência
pelos mais negligentes, ou por males inoportunos, independente do que
é mais sagrado na existência humana. Não prestigia status. A
velhice é taxativa e impiedosa. Faz parte da evolução da
civilização e suas transformações, como o sol é para o esplendor
do nascimento de um novo dia; para a lua e as estrelas que encantam e
iluminam as noites servindo como fonte de inspiração aos poetas, ao
lirismo da sua obra, enfim concretizada.
Da
mesma forma que é o apogeu de uma conquista que todos nós
pretendemos atingir, mesmo trazendo no cerne, circunstâncias
desagradáveis. Tendo como causas doenças inerentes e insólitas
dessa fase, como debilitações orgânicas provocadas pelo cansaço e
morte das células do nosso corpo. Por que elas morrem? Mais uma vez
o tempo se encarrega deste estágio. Estão impregnadas de seres
microscópicos nocivos e atípicos, adquiridos naturalmente durante o
período existencial.
O
entendimento sobre a velhice mudou muito nos últimos tempos. Hoje a
perspectiva de vida chegou aos 75 anos, com expectativa de se atingir
com um pouco de sorte os cem. Em compensação a caracterização dos
estereótipos, melhor idade ou terceira idade, ficaram tão evidentes
quanto o aparecimento dos remédios genéricos, que ostentam a mesma
fórmula, porém com um design e preços diferenciados.
Segundo
relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde, dados IBGE),
divulgado em 2005, o Brasil já pode ser considerado um país
envelhecido, com mais de 7% de sua população composta de idosos, e
que, até 2025, será o sexto no mundo. A Constituição de 1988
coloca no seu texto essa questão, abrindo prioridades mais
abrangentes na proteção dos nossos anciãos.
Mas
foi a partir da Política Nacional do Idoso, estabelecida em 1994
(Lei 8.842), que foram criadas normas para os direitos sociais,
garantindo autonomia, integração e participação nas bases
conjunturais de cidadania. Que determina espaços ou filas exclusivas
nos estabelecimentos bancários, órgãos públicos, ônibus, metrô
e em diferentes lugares frequentados pelos velhinhos.
Algumas
pessoas ainda não tomaram consciência de que esse é o seu futuro
inadiável e irreversível. Um exemplo claro e comum é o
comportamento de algumas pessoas, principalmente os mais jovens, ou
mesmo, de adultos com aparência saudável, resguardada por uma
alimentação baseada em diferentes tendências dietéticas (moda na
sociedade). Seria esta a fórmula perfeita para a longevidade? Ou
apenas mais uma enganação capaz de iludir até os mais sensatos,
que num dia, não muito distante, serão os protagonistas desse
contexto?
É
preciso dar um basta. Parar com o preconceito e rotular os idosos
como inúteis, ociosos, vencidos pelo prazo de validade. Disponíveis
apenas para gastar seu tempo útil com o lazer: jogos de damas,
dominó, xadrez, bingo, cartas e outras atividades reconhecidas
apenas dos aposentados, ou portadores de alguma deficiência
especial.
Concorrem
nesta mesma questão, aqueles que ficam sentados em bancos de praças,
admirando os pássaros; curtindo o dia que parte abrindo as portas
para um novo alvorecer; ou debruçados no peitoril das janelas, tão
antigas quanto eles, mirando o pôr do sol no horizonte com toda sua
majestosa beleza. Uns poucos procuram a felicidade aderindo-se a
exemplos calcados nos modelos de liberdade, participando de festas e
espaços reservados para a dança de salão.
São
merecedores sim, de considerações dignas e relevantes. Quantos
suportaram ou carregaram nos ombros um fardo superior às suas
condições, numa época onde o serviço era quase que totalmente
manual e braçal? Não se conhecia horários
preestabalecidos, as tarefas se faziam necessárias, portanto, assim
eram feitas, independente das condições meteorológicas, de horário
e disposição física.
Para
os países orientais a velhice é objeto de adoração e
respeito. No Egito por volta do século 3 mil a.C. há registros
da obrigação dos filhos cuidarem dos seus idosos; em Israel o
Sinédrio era composto por 70 anciãos do povo; os índios cultuam os
mais velhos, como exemplo de sabedoria e mensageiros vivos de suas
tradições. E no mundo animal essa prática também e respeitada,
obedecendo a princípios herdados do processo evolutivo, até na
instauração do domínio de seu habitat.
Somente
na sociedade atual, o descaso com a comunidade idosa, está relegado
ao abandono, jogadas e entregues à toda sorte, nos asilos, albergues
e invisíveis pelos olhos de grande parte dos que habitam o nosso
planeta. Chegam a provocar em alguns o desconforto de suas
aproximações, temerosos de ter que servi-los a contragosto. Ceder
uma poltrona no ônibus, acompanhá-lo na travessia de uma rua,
ajudá-lo a subir uma escadaria, uma calçada, e outras tantas
situações nas quais se encontram desfavoráveis.
Na
comunidade dos elefantes a liderança é conduzida pela elefanta mais
velha - a matriarca. O comportamento da espécie quando a velhice
severa chega e, se faz sentir como resultado do declínio físico
próprio da idade, eles se unem protegendo um ao outro. Como meio de
antecipar os efeitos da morte, esses grandes animais, abandonam a
manada e se refugia no seu último suspiro de vida, próximo do seu
cemitério e última morada terrena. Evitando quem sabe, que os mais
jovens presenciem aquele momento de desilusão e tristeza.
Na
sociedade humana, o desfecho da vida, obedece a critérios baseados
nas condições físicas do portador. Àqueles que concluem
sua existência de maneira saudável, são privilegiados pela
ausência da dor, do sofrimento. Enquanto que, outros terminam os
seus dias num leito de hospital ou residência, sofrendo e fazendo
sofrer familiares e amigos. Deixando claro que a manifestação do
carma do sofrimento é vital e insubstituível.
Quando
a condição socioeconômica fica a desejar, o peso da cruz é
insuportável. Falta assistência nos mais diferentes níveis. Em
determinada circunstância, alguém da família é convocado a tomar
decisões mais drásticas, tornando-se obrigado a se afastar
provisória ou definitivamente de sua obrigação trabalhista e
profissional para ficar à disposição do seu idoso, numa atitude
voluntária, com a finalidade de resgatar o bem estar do dependente.
Enquanto os mais abastados, além dos inúmeros benefícios que o
dinheiro proporciona, ainda recebem como bônus a proteção de
excelentes planos de saúde com atendimento especializado em
domicílio.
E
os portadores do mal de Parkinson, Alzheimer, chagas, desnutrição
crônica, câncer e outras tantas doenças consideradas incuráveis?
Só mesmo o amparo de Deus para trazer o conforto espiritual
desejado, através da fé e da expectativa do Paraíso segundo a
crença de cada um. Mário Quintana, num de seus versos relativo ao
assunto define: "Que importa restarem cinzas se a chama foi bela
e alta".
Considerando
a fator educação, a velhice sem o estudo, é inegável que se
sujeita a um futuro penoso, que pode ser uma consequência adquirida
lá na juventude, focada mais precisamente no trabalho árduo, do que
na formação educacional tanto dos filhos, quanto da sua própria.
Enquanto o outro lado da moeda - quem estudou e se preparou - deixa
um legado consistente, visivelmente manifestado nas suas ações
cultivadas perante a sociedade e aplaudida pela maioria.
O
que é Gerontologia? Segundo o Dicionário Aurélio, esta palavra
estranha, é a ciência que estuda os problemas do velho sob os
aspectos: biológico, clínico, histórico, econômico e social. É
inteligente já ir familiarizando-se com o significado dessa ciência.
Ela será o ombro amigo amanhã. O nosso próprio destino,
numa estação do tempo chamada velhice.
"Afinal,
o que é a vida senão longo ato de sairmos de um berço, evoluindo
na caminhada por diferentes estradas, vivenciando inusitadas
situações e depois, com passos arrastados, tomar o caminho
inexorável do eterno?"
http://bussolaliteraria.blogspot.com.br
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