As pessoas costumam ficar tristes. É um
sentimento colado à vida. Entretanto, no momento em que essa tristeza se
torna persistente e passa a interferir na vida do ser humano, poderemos
estar diante de um quadro de depressão, uma condição médica tratável.
Ao contrário do que se pensa na nossa cultura brasileira, a depressão não é parte integrante do envelhecimento normal. A depressão iniciada tardiamente (após
os 60 anos) pode representar a recorrência de uma depressão prévia.
Outras vezes, quando ocorre pela primeira vez após os 60 anos, pode
estar associada a uma outra condição médica.
O reconhecimento da depressão no idoso
nem sempre é fácil, porque amiúde é penoso para o idoso deprimido
descrever como ele está se sentindo. Além disso, a atual população de
pessoas mais antigas em nosso meio são de uma geração onde não se
considerava a depressão como um transtorno biológico ou uma condição
médica (além, é claro, de ser uma condição psicológica, emocional e
social). Alguns idosos receiam o estigma dos transtornos mentais e de
que sua condição seja vista como um sinal de fraqueza.
Pacientes deprimidos e seus familiares
podem pensar que uma mudança no humor ou comportamento é apenas um
estado passageiro, postergando o tratamento. Se não tratada, a depressão
pode durar meses ou anos, podendo levar à incapacidade para as
atividades da vida diária, piora dos sintomas de outras doenças, à morte
prematura e, nos casos mais graves, ao suicídio. Quando tratados e diagnosticados
adequadamente, mais de 80% dos pacientes com depressão se recuperam e
retornam a uma vida normal.
Os sintomas mais comuns de depressão
tardia incluem: tristeza persistente (duração maior do que duas
semanas), choro frequente, inquietação, desânimo, sentimento de
inutilidade ou desamparo, dificuldade de concentração, alteração de
apetite, insônia, sintomas físicos (tais como dores ou sintomas
gastrintestinais).
Um sinal de depressão que deve ser
vigiado é quando o sujeito começa a se afastar das atividades sociais,
fornecendo desculpas como “eu não tenho energia”, “eu não me sinto muito
bem” ou “é muito problema”. Existem diferentes graus de depressão de
acordo com a sua intensidade, classificando-as em leve, moderada ou
grave. Uma pessoa pode não estar classicamente triste, e ainda assim
estar deprimida, revelando-se através da dificuldade em dormir, se
alimentar e queixas físicas (corporais) sem razão aparente.
Depressão pode acontecer com qualquer
indivíduo e, muitas vezes, sem nenhuma causa verificável. Em outras
palavras, nenhum evento estressor precisa obrigatoriamente acontecer
para que a pessoa desenvolva uma depressão. Ela pode acontecer devido a
simples alterações biológicas no cérebro (embora, na maioria dos casos,
existam razões compreensíveis para a depressão). Conforme o cérebro e
corpo avançam no tempo, várias mudanças bioquímicas começam a ocupar a
cena. Mudanças resultantes do envelhecimento, doenças médicas ou
predisposição genética podem colocar o idoso em um risco maior para o
desenvolvimento da depressão.
Devemos ficar muito atentos aos nossos
parentes, lembrando que “esta vilã mora nos detalhes” e se disfarça de
múltiplas maneiras. A depressão é uma inimiga tão silenciosa que chega
devagar e se instala na nossa volta, que corremos o risco de achar
natural. Olhos alertados e busca de informação é um bom começo para
enfrentar essa ambulante discreta que incomoda. (dr. Ziyad Hadi).
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